Primavera

Eu sei que a minha missão na Akatsuki era muito maior do que somente irritar o Deidara e ser companheiro de equipe dele depois que Sasori morreu. Apesar de muitas pessoas não acreditarem e também não entenderem, tudo era muito maior, tudo o que eu fazia era por algo que eu não poderia explicar ou até, quem sabe, entender.

Estávamos em missão, Deidara e eu. Mas já era hora de dormir. O meu colchonete já estava arrumado na barraca, ao lado do loiro que roncava como uma motosserra. E, finalmente, eu poderia tirar a máscara de Tobi.

Deidara não sabia, mas todas as noites eu me juntava à fogueira que fazíamos para nos aquecer e ficava olhando as estrelas. Na verdade, eu olhava a minha pequena estrela que estava no céu.

Hoje era um dia especial. Fiquei pensando nela todo o tempo que fiquei em missão. A verdade é que aquele personagem que eu vestia todos os dias de manhã mostrava o que eu não era. Não sou alegre, não depois que ela virou uma estrela. Mas, finalmente, depois de um dia cansativo, pude dedicar um pouco do meu tempo para ela.

Rin era apaixonada pela primavera, e hoje é o início dessa estação. Ela adorava o Festival das Flores de Pessegueiro. Todos os anos chamava Kakashi para ir com ela, mas aquele mal-humorado não ligava muito para esse tipo de comemoração. Então eu sempre me oferecia para ir junto. E Rin aceitava com um sorriso enorme no rosto.

Eu me sentia completo com ela, mesmo sabendo que ela era apaixonada pelo Hatake. Sinceramente, aquilo, naquela hora, não importava. Ela estava feliz comigo, e isso enchia meu coração de alegria.

Lembro-me, como se fosse ontem, do último Festival das Flores de Pessegueiro que fomos. Eu me arrumei como nunca antes havia feito, preparei-me por semanas e demorei dias para escolher uma roupa. Eu tentaria, mais uma vez, pedir Rin em namoro, mesmo sabendo que éramos muito novos. Eu só queria segurar a mão dela, poder sentir o calor daquela pequena mão na minha e sentir meu coração acelerar.

Quando fui buscá-la em sua casa, respirei fundo e antes que eu pudesse tocar a campainha, Rin saiu pela porta, estava alegre. Com um sorriso de orelha a orelha, e aquele sorriso era, digamos, o meu grande combustível.

Assim que a vi, fiquei corado, entreguei-lhe uma pequena e simples flor. Rin a pegou de mim e me abraçou.

Confesso que foi a melhor sensação que já senti em minha vida, queria aquele abraço todos os dias. Ainda mais hoje.

— Como sinto sua falta, Rin — falei baixinho, olhando para a estrela que denominei ser ela.  — Eu não esqueci e nunca vou te esquecer. — Eu levantei a mão, mostrando para a querida estrela a flor de pessegueiro que eu havia colhido pela manhã e levado comigo em missão.

Ela não podia me responder, eu sei disso. Mas eu sabia que ela podia me escutar.

— Um dia, vamos nos encontrar de novo. — Sorri sozinho, e uma pequena lágrima escorreu dos meus olhos. — Madara me prometeu. E vou lhe dar todas as flores do mundo. Todos os nossos dias serão primavera.

Respirei fundo, aquela era a minha última chance de viver com ela, e eu faria de tudo para que aquele sonho se realizasse.

— Eu vou te fazer muito feliz, Rin. Eu sei que vou. Eu… sei...

Coloquei minha máscara de volta, Deidara falava dormindo, além de roncar. E eu nunca sabia quando ele já havia acordado ou simplesmente estava sonhando. Achei melhor não arriscar.

Deitei-me próximo à fogueira e tentei me acomodar de alguma forma. Meu coração palpitava como quando ela havia me abraçado pela última vez. Uma lágrima escorreu dos meus olhos, mesmo estando de máscara, e então imaginei que aquela emoção seria unicamente por Rin.

Ela pode não estar aqui comigo em carne e osso, mas está em meu coração, e eu a sinto todos os dias. A alma dela está comigo, guiando-me e me protegendo.

E eu irei fazê-la feliz, custe o que custar.