Their Secrets escrita por Lady Liv


Capítulo 1
Let go, Jean.


Notas iniciais do capítulo

HERE WE GO AGAIN
Honestamente? Eu não faço ideia de onde veio tudo isso. Blame on the insônia. E o trailer de Dark Phoenix.
Eu amo mesmo o James McAvoy e seus olhos azuis hipnotizantes.



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Para quem via de fora, o silêncio pelos corredores da mansão significava apenas mais uma madrugada comum. 

Para Jean Greyestava longe disso. Até mesmo o silêncio tinha um som, e dentro de sua mente, ele era excruciante. 

Era normal ter dias assim, dias em que o foco era perdido e o controle escapava entre seus dedos. Dias aonde a infância difícil de Ororo passava diante de seus olhos, fazendo-a chorar no meio do almoço; aonde o luto de Scott era tão sufocante que era preciso correr para fugir de tal aflição; aonde a preocupação de Kurt em não ser aceito entre os alunos a consumia, afundando ainda mais sua autoestima. Dias aonde tudo que Jean precisava era libertar-se mais uma vez... com certeza não era pedir muito, certo? 

Conseguia ser ainda pior quando todos se deitavam, ignorantes a dorAté mesmo dormindo os pensamentos deles gritavam em sua direção. 

Pesadelos, muitos pesadelos... como se já não bastasse os dela! 

Jean. Charles percebia quando acontecia. Jean, venha até mim. Oh, ele sempre percebia. Jean. Dedicava-se a chama-la mentalmente, de modo sussurrante; gentil. Jean, por favor.  

Ela nunca ia ao seu encontro, no entanto. 

Não durante o dia. 

Abriu a porta do quarto, fechando-a atrás de si. Ele estava sentado na cama com um livro em mãos e o mesmo pijama de sempre, na cor azul dessa vez. Uma pena, ela gostava do vermelho. 

— Não é um pouco tarde?  havia ironia em sua voz, Jean apenas arqueou a sobrancelha. 

— Você me chamou. 

— Fiquei preocupado. 

Ela assentiu, sentindo-se culpada, e se aproximou. 

 Tem um tempo pra mim? 

— Pra você? O tempo que quiser. – Charles sorriu, sem tirar os olhos do livro. A ruiva mordeu os lábios, o fitando. 

— Estou o decepcionando de novo, Professor. 

— Claro que não- 

— Não foi uma pergunta. 

Ele a encarou, ah, aqueles olhos azuis... Charles Xavier não precisava de poderes para entrar em sua cabeça, seus olhos já faziam todo o trabalho. 

— Não, não pense assim. Todo o progresso que você fez, Jean... o seu esforço, deveria se orgulhar. Eu me orgulho tanto de você. 

— É mesmo? Não viu como me saí hoje? Mal aguentei. 

— Controle leva tempo- 

— Mas já faz anos! 

— Levei anos também, você chegará lá um dia, assim como eu. 

Balançou a cabeça, dando a volta pela cama.  

— Não sou igual ao senhor, Professor. Às vezes eu sinto tanta... raiva... que nem parece que sou eu. 

A expressão de Charles era ininteligível, quase vazia. Para Jean, ele havia ficado relativamente mais pálido. 

Ele sabia tão mais do que demonstrava, era frustrante vê-lo se manter calado. 

 Como anda a sua imagem mental? 

Jean rolou os olhos.  

— Eu sei lá. 

 Jean. 

 Sério, eu não sei. Faz tempo que eu não olho. 

— Por que não? – Jean não responde, e mutante suspira. – Ok... talvez devêssemos fazer um exercício telepático amanhã e- 

— Tá, mas amanhã. Estou cansada. – falou, jogando-se na cama ao seu lado. – Posso ficar aqui, né? 

— Err, claro, mas... Eu não sei se- 

— Está tarde, Professor. – Embrenhou—se em meio aos lençóis, apoiando-se de lado. – Estão todos dormindo. 

— Não seria apropriado se 

O fecho da porta girou subitamente, confinando-os. Jean sorriu. 

— Ninguém vai nos ver. – garantiu e franziu o cenho. – Qual o problema? Eu costumava dormir aqui quando eu cheguei. 

Ah, as primeiras noites na mansão... onde sua versão infantil reclamava das vozes constantes, em meio a um choro sofridoHank McCoy a levava até Charles, e ele a deitava em sua cama. Contava-lhe uma história, algo para ajudá-la a se focar até que adormecesse novamente. 

Era sempre mais fácil dormir com sua voz por perto. 

 Era uma criança, Jean. É diferente agora. 

Uh, ele está nervoso, ela notou. A voz tremida, os movimentos inquietos... Ele nunca lhe pareceu tão exposto. 

Seu sorriso se intensificou, fazendo-a cair contra a cama em risadas. Era como descobrir um labirinto em um ao jardim, uma passagem secreta em um mapa, um atalho em um bosque; uma descoberta surpreendente e empolgante. 

— Não estamos fazendo nada de errado, Professor. Nós dois sabemos disso. 

Aproveitou os instantes de verdadeira calmaria quando-  

Sabemos?  

A voz dele. Em sua cabeça, quase que sem querer, e não apenas uma pergunta. Uma dúvida. 

Quando deixou de ser uma ação inocente? Quando o divertimento se tornou algo a mais? Quando a mudança deixou de ser repulsiva e assustadora para se tornar convidativa e agradável? 

Arrepiou-se, ignorando tudo. 

 Você é o único que entende, Professor. – Num sussurro, ela confessou. – O único. 

— Jean, isso não é verdade. Você tem amigos agora, amigos próximos... Scott, Peter, Tempestade-  

— É, mas eles não são você. – Pôs a mão sobre a dele, trêmula. 

— Jean... 

Podia senti-lo rondar sua mente, buscando pela realidade mental, e sua insistência era angustiante. 

Por que? Ele perguntou, sentindo seu medo. 

Jean engoliu em seco, revelando:  Por causa da... raiva. Desde Apocalipse... Tudo se intensificou. 

Tudo piorou. 

Que tipo de aberração teria tomado forma em sua mente? Não, ela não queria ver. E não queria que Charles visse. 

 E há tanto mais guardado. Não posso contar pra eles, Professor. Eles não entenderiam... não entenderiam todo o sofrimento, ou... ou toda a dor, ou... 

— Os segredos. – Charles completou, e ela assentiu. 

O mutante deixou o livro pra trás e se deitou ao seu lado, em nenhum momento tirando os olhos dela. Era como se pudesse enxergar através do escudo que ela criara em volta da própria mente, e o escudo estava rachado, prestes a cair... prestes a pegar fogo. 

Permaneceram deitados por alguns minutos, algo nos olhos dele tão intenso que Jean se perguntou se ele estava a ler sua mente. 

Os segredos. 

Sua dúvida se respondeu sozinha quando entendeu que ele estava apenas a... olhando; se afundando, relaxado. 

Era estranhamente agradável. 

Jean, deixe-me ver. 

Liberte-se. 

Por favor, deixe-me ver. 

Ele suplicava. 

 Os segredos,  Jean repetiu.  Você conhece a sensação. 

Charles sorriu, e era triste. 

— Todos os dias. Todos os momentos. 

Ela respirou fundo, tomando coragem. 

Em seu olho mental, Jean abriu uma entrada.  

Era a primeira vez que se visualizava depois de meses. 

Estava no Cérebro novamente, e para sua surpresa, sua aparência continuava a mesma. Havia algo diferente em seu rosto, no entanto, e em seu corpo também... não sabia dizer o que era, mas se sentia mais madura; mais adulta. Havia uma chama também, a envolvendo dançando entre seus cabelos.  

Encontrou Charles lá, a observando atentamente, receoso. Ele não estava decepcionado, como ela achou que estaria... na verdade, estava... admirado? Sua imagem mental ainda possuía cabelos, e era totalmente azul.  

A luz dele era pacífica; suave. 

Tão diferente da dela; agressiva. 

Não, não agressiva. Poderosa, Jean. 

Charles não parecia se importar com suas diferenças. 

Você é magnífica, Jean.  

Sua voz ecoou por algum tempo, até que ela sentisse a mais completa serenidade. Jean, os segredos, ele a lembrou fazendo-a abrir os olhos. 

São segredos que nunca devem ser ditos. Nunca. 

— Mas são sentidos... – ela retrucou, sentindo-o tocar em suas têmporas, influenciando-a para dormir. 

Um dia, não precisaremos mais esconder. 

Ela sorriu, voando até ele, e o tocou, infeccionando-o com o seu vermelho; com seus segredos. 

Liberte-se, Jean. 

Era difícil respirar de tão perto. Ela o segurou com suas garras, desesperada, e seus lábios se encontrando em um beijo. 

Não perceberam as paredes do corredor refletirem uma Fênix como sua sombra. 

No mundo real, Charles voltava a ler. 

E Jean dormia. 


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Notas finais do capítulo

YOU WERE RED
AND YOU LIKED ME CAUSE I WAS BLUE



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