A Queda da Casa Stark escrita por Florrie


Capítulo 2
2 - Bran


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, como vocês estão?



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Tudo o que vemos ou transparecemos

É nada além de um sonho dentro de um sonho.

— Edgar Allan Poe



Naquela noite, Bran tivera um de seus sonhos estranhos.

         No sonho, ele estava de pé, olhando para um septo de aparência abandonada. Não era um daqueles grandiosos que se podia achar na capital ou mesmo um bonito e bem arrumado, como o que seu pai mandou construir para sua mãe. Aquele parecia ter sido esquecido muitos anos atrás, era mais uma ruína do que um septo.

         Acima da construção, haviam corvos. Centenas deles. Alguns estavam parados e o olhavam com seus olhos negros, outros voavam em círculos no céu, como se estivessem esperando por algo. Der repente, ele ouviu um choro e vinha de lá de dentro.

         Bran não queria entrar, mas sentia que o sonho só iria avançar se o fizesse. Tremendo um pouco, subiu os degraus que levavam até a entrada e espiou. Assim como o lado de fora, por dentro, o lugar era tão decadente quanto. Deu apenas alguns passos até notar que o choro vinha do altar, mais precisamente, da pessoa ajoelhada no chão diante dele. Os corvos também estavam lá, olhando impiedosos para a criatura que chorava.

         O lamento ficou ainda mais alto e doeu seus ouvidos. A medida que se aproximava, percebeu que a pessoa, na verdade, era uma mulher. Nas costas, carregava seu manto de donzela, estava sujo e rasgado, mas ele conseguiu reconhecer o desenho de conchas. Normalmente, ele não sabia o que fazer quando uma mulher chorava. Já tinha visto suas irmãs chorarem, uma vez tentou consolar Arya, mas ela apenas lhe empurrou emburrada e o mandou embora. Sem saber bem como agir, ele simplesmente ficou parado, observando.

         O choro dela era algo terrível, sentia como se toda a sua felicidade estivesse sendo sugada. Queria ir embora, mas pensou que não seria muito gentil deixar uma garota chorando sozinha. Bran piscou os olhos com força, esperando assim acordar, mas isso dificilmente funcionava com os sonhos estranhos.

         O tempo passou e nada acontecia, então decidiu que devia tentar falar algo.

         — Com licença... — Começou incerto.

         O choro imediatamente parou, aquilo o deixou nervoso.

         Lentamente, a moça começou a virar o rosto. Primeiro, Bran notou uma cascata de cachos castanhos desalinhados, depois percebeu sua pele anormalmente branca. Ela tinha olhos castanhos, mas eles pareciam vidrados, como se enxergassem algo que não estava ali. Horrorizado, constatou que ela parecia um cadáver, que de algum modo, ainda se agarrava a vida. Deu um passo para trás e isso pareceu incitar os corvos. Momentos depois, as aves voaram em conjunto para cima da garota.

         Ele ficou congelado, o pânico o paralisou completamente. O choro retornou, ainda pior que antes. Os corvos não se demoraram muito, assim que se afastaram, Bran viu que eles deixaram o rosto dela completamente desfigurado. Uma das bochechas fora completamente devorada, a outra tinha grandes buracos. Um dos olhos foi arrancado e os lábios rasgados. A garota levantou-se e com seu único olho restante, o encarou.

         — Por que? — Perguntou ela com uma voz lamuriada. — Por que?

         Ela então correu em sua direção, com as mãos cheias de sangue prontas para agarrá-lo.

         Bran acordou de supetão e assim que se viu na segurança do seu quarto, respirou aliviado. Aos pés da sua cama, o seu cachorro já estava acordado, ele o encarava intensamente, como se de algum modo soubesse do seu sonho.

         — Estou bem, Verão. — Afagou a cabeça do cachorro e se levantou.

         O quarto ainda estava escuro por causa das cortinas. Não gostava muito do escuro, coisas estranhas aconteciam onde a luz não podia tocar. Bran foi andando para abri-las, porém, foi interrompido pelo latido de Verão. Tomou um susto e olhou para o cachorro. O animal latia insistente em direção da parede.

         — Verão?

         O cachorro continuou e então deu uma pausa repentina. Por breves instante, o quarto caiu em um silêncio sepulcral, logo depois, Verão recomeçou, dessa vez ainda mais insistente. O cachorro se virou, como se o que quer que observasse, estivesse se movendo, em questão de segundos, o cachorro olhava para ele... Ou para algo atrás dele.

         Verão rosnou em sua direção e o coração de Bran pareceu parar por alguns instantes. Não tem nada atrás de mim, disse a si mesmo, mas como se fosse uma resposta, ele sentiu um hálito quente na sua nuca.

         — AH — Gritou.

         Seu cachorro respondeu correndo até ele. A presença, ou que quer que seja, desapareceu logo em seguida, mas Verão não parou. O animal pulou encima dele e os dois caíram juntos no chão.

         — shhhh, mamãe vai brigar se ouvir.

         Os rosnados e latidos foram cessando, até que o silêncio retornou. Seu cachorro voltou a agir despreocupado e ele respirou aliviado, o que quer que fosse, tinha ido embora. Ele então foi logo abrir as cortinas e quando a luminosidade por fim inundou seu quarto, Bran soube que estava seguro.




Ele não falou sobre o seu sonho para ninguém e torceu para que fosse só isso, um pesadelo criado pela sua cabeça, do jeito que sua mãe sempre dizia que era. Por um tempo, Bran realmente acreditou nisso. Ele divertiu-se com seu cachorro, roubou docinhos da cozinha, tentou ler um daqueles livros que Jon vivia lendo e então foi para o jardim, onde ele podia escalar as árvores centenárias.

         O menino estava encima de uma delas quando avistou sua mãe puxar Robb pelo braço e leva-lo para dentro. Mais tarde, quando ele voltou para a cozinha, pronto para roubar mais doces, ele ouviu a cozinheira comentar para as criadas:

         — Morta. Parece que os animais já haviam comido parte do seu rosto...

         Bran estancou onde estava e continuou a ouvir.

         — Pobrezinho do jovem patrão. — Uma criada comentou. — Já é a segunda, não?

         — Ela era bonita? — Perguntou a outra.

         — Nunca a vi, mas mandaram uma fotografia.

         — O povo diz que a família do Lorde é amaldiçoada. Será que seremos também? — Disse a primeira criada com a voz cheia de medo.

         — Deixe de falar besteiras, menina. Vá fazer suas coisas! Vocês duas!

         As garotas saíram correndo e ele também, tinha perdido o apetite para doces.

         No andar de cima, Bran descobriu que Robb estava trancado no quarto e seus país no escritório. Na sala de descanso, encontrou Sansa e Jeyne, ambas já vestiam negro. Arya não tinha se trocado, mas estava um tanto taciturna, sentada em uma poltrona com um livro grosso nas pernas.

         — Alguém morreu? — Ele perguntou, fazendo com que as três olhassem para ele.

         — A prometida de Robb. — Sansa respondeu. — Nosso irmão está de coração partido no quarto.

         — Ele nem mesmo conhecia ela direito. — Arya retrucou e ganhou um olhar fulminante da mais velha.

         — Você não entenderia o amor, Arya. É demasiado nova para isso.

         A outra revirou os olhos.

         — Mas é verdade. Robb só disse que a achava bonita, mas eles nunca se conheceram de fato. — Sua irmã então olhou para ele. — Encontraram ela sem metade do rosto, os animais a acharam antes.

         O estomago de Bran embrulhou ao imaginar a cena, mas ele era quase um homem e não deixou transparecer.

         — Que coisa cruel, Arya!

         — Só estou dizendo o que ouvi! Não é como se eu estivesse feliz.

         E então as duas começaram a discutir. Bran pensou em ir embora, mas foi interrompido com a chegada da sua mãe, que lançou um olhar severo para todos.

         — Nós estamos em luto, eu não quero ouvir nenhum tipo de conversa desrespeitosa dentro dessa casa. Agora, Arya e Bran, vão se trocar, vestiremos negros pelos próximos dias.

         — Mas ela nem era casada com o Robb.

         — Arya! Agora.

         Sem esperar por outra reprimenda, sua irmã saiu emburrada e ele a seguiu. Os dois subiram as escadas e quando chegaram lá encima, encontraram Robb. Seu irmão pareceu não os enxergar, ele continuou sua caminhada para o térreo, mas sem perceber, deixou cair algo da sua mão. Bran correu para pegar e quando viu o que era, não conseguiu esconder a surpresa.

         Era uma foto.

         Não tinha cores, mas ele a reconheceu de imediato. Era ela, a menina do seu sonho. Aqui ela parecia bonita, saudável. Por um instante, a imaginou como Arya havia descrito, com parte do rosto comido pelos animais.

         — Obrigado Bran. — Robb retirando a fotografia das suas mãos.

         Ele ficou ali, parado. Um frio correu pelas suas costas.

         O seu sonho, de novo, não tinha sido apenas um sonho.


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Notas finais do capítulo

Confesso que não fiquei completamente satisfeita com o resultado, mas depois de reescrever demais (especialmente a segunda parte), decidi postar.
Comentários são sempre legais :)
Tem algum personagem que vocês pensam que dariam um bom PDV? Ainda não bati o martelo sobre todos os PDV da história, adoraria ouvir a opinião de vocês.

Beijos ;*



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