Tão Vazio Quanto O Céu escrita por YuuHacker


Capítulo 1
Prólogo - Olhos Desumanos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!
Então, essa é uma história a qual eu já tinha escrito um tempo atrás numa conta no social spirit, mas por motivos pessoais esta foi excluída.
Eu não era tão boa escritora quando fiz a primeira versão desta história e, agora, estou mais disposta a acrescentar coisas que eu não acrescentei.
O motivo de postá-la agora é porque eu queria desesperadamente postar algo aqui no Nyah também, ver meu perfil vazio dói no meu coração.
Espero que vocês gostem!
Chuu~



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Ele nem sequer trancou a porta do quarto quando pulou janela à fora, apenas entrou na floresta e não olhou para sua casa.
A sua casa nova... ou uma versão restaurada de como ela era antigamente. Ele não tinha muitas memórias dela na sua infância, mas sabia que o carpete tinha mudado e as cores das paredes também - mas a sua estrutura continuava a mesma.
Um teatro dramático com personagens contraditórios: A sua família.
Várias e várias vezes, ele havia se mudado por causa desses personagens e mesmo assim ele ainda não havia se acostumado com aquilo. Não havia se acostumado com a ideia de que ele estava se tornando um adulto, que estava crescendo.
Não entendia o porquê de estudar uma série de informações que na realidade eram falsas, com o objetivo de enganar as pessoas para gostarem dele - mais por pura aparência da família do que realmente ter alguém com quem se importasse; para cedo ou tarde ter que arrumar suas malas e simplesmente ir embora e, no mais terrível das hipóteses, deixar um buraco vazio no coração de algumas delas.
Ele não tinha comido - lembrou-se disso, e tentou não lembrar do calendário com todas as páginas depois do dia de hoje arrancadas na parede de seu quarto, enquanto caminhava sem rumo pela floresta fria e silenciosa.
Na mão, uma cartela cheia das pílulas que ele odiava ter que tomar todos os dias - mas hoje elas seriam a sua salvação; numa tentativa falha de tentar não adoecer. Mas do que adiantaria essas pílulas diabéticas, quando ele nem sequer podia encostar em falso e furar seu dedo, sem ter o medo de morrer de hemorragia?
Mesmo agora, ele não se preocupa quando arranha seus tornozelos pelos galhos ou roça seus braços nos troncos das árvores pelo caminho estreito que passa, que causaria uma infecção que lhe deixaria internado por pelo menos um mês inteiro.
Antes mesmo dele finalmente se sentir cansado o suficiente - como ele se sentia ao caminhar por 5 minutos; e encostar-se de costas a uma árvore, já tinha tomado sua decisão, e os remédios iriam ajudá-lo com isso.
Numa tentativa miserável de tentar dizer um último adeus, ele tentou lembrar dos 17 anos desagradáveis que passara nesse mundo injusto e banal, tentando lembrar de pelo menos uma vez que sentira o calor aconchegante, um momento feliz, nem que fosse por um segundo sequer. Por sorte, ele lembrou, e um pequeno sorriso nostálgico apareceu em sua boca, antes delas estarem congestionando 20 pilulas diabéticas para dentro.
Ele olhou para o céu, e apesar de árvores e mais árvores impedirem uma visão clara, ele pôde perceber o amarelo se fundindo no azul escuro do céu, e ele se tornando cada vez mais claro: estava amanhecendo.

Ah, ele podia vê-los.
Apesar da tontura que finalmente o atingira, ele podia vê-los.
Ele podia ver os olhos estranhos dela, os olhos do amanhecer que ele amava.
— Não é justo - ele sussurrou para si - Não é justo que você possa ser tão consolador...
E as últimas palavras que ele sussurrou para o céu foram mais fracas, esforçando-se para adormecer antes que o céu azul da manhã chegasse e o consolasse.
Seu coração estava tão vazio quanto o céu da manhã quando ele disse aquilo:
— Me desculpe.

E foi como se mil anos-luz tivessem se passado em questão de segundos, e ele de repente não estava mais na floresta.
Tudo estava se movendo rapidamente, ele ouvia gritos desesperados e vozes apressadas, e só percebeu que estava vendo a si mesmo quando viu seus pais e os enfermeiros conduzindo a maca para sua direção. Ele fechou os olhos e pôs as mãos para frente para tentar se proteger, para depois olhar para trás e perceber que eles atravessaram o seu corpo - ou pelo menos o que ele achava ser seu corpo, pois estava o vendo enrijecido na maca que estava sendo conduzida para a sala de emergência. Seus olhos arregalados, sua boca salivando...
Ele estremeceu.
É claro que ele não escaparia dessa tão facilmente, teria que aguentar presenciar sua própria morte e ver o desespero de seus pais ali, bem na sua frente, quando ele mesmo tinha causado seu próprio fim.
Se fosse como ele tivesse planejado... se ele simplesmente tivesse desmaiado e sonhado eternamente, não teria de estar sentindo remorso ao ver sua mãe chorando de uma forma como nunca tinha visto antes. Desesperada, apavorada, presenciando a inutilidade de anos perdidos tentando proteger seu único filho, que tirara a própria vida.
Foi doloroso, e foi frustrante. Ele nem percebeu que começava a chorar, quando ouviu uma voz rouca vindo de cima:
"Acorde!", a voz gritou.
E não havia mais gritos, não havia mais choro, e ele simplesmente disse a si mesmo que falhou e que iria abraçar seus pais e pedir milhões de desculpas quando acordasse. Mas sua mente recomeçou quando percebeu que havia voltado para a floresta.
Um azul-claro pairava acima dele, mas mesmo que sua vista fosse embaçada, pôde perceber que aquilo não era o céu.
Um clarão iluminando acima do que ele reconheceu ser os olhos da voz, dedos finos que agitavam seu rosto.
Gosto. Comida - os dedos agora estavam em sua boca.
— Coma, depressa! - a voz... o homem, o ordenou com autoridade.

A consciência voltando aos poucos, o bastante para virar a cabeça e enxergar o seu braço ficando transparente.

— O qu-

— Shhh! - a mão do homem o interrompeu antes que ele falasse - Está voltando - disse, quase num sussurro.
O azul desapareceu quando a atitude do homem se tornou mais tranquila, fazendo-o desviar o rosto. O clarão se tornou uma luz que se conduziu de vagar para sua direção, ignorando o homem a sua frente e selando-se finalmente em seu corpo.
— Voltou - um suspiro na voz rouca do homem, e o azul-claro voltou-se para ele.
— O que voltou? - ele perguntou, a cabeça ainda tentando entender a situação.
— Aquela maldita gata... - ele murmurou, ignorando sua pergunta.
Sua reclamação o fez lembrar da pequena felicidade que tivera, e ele tentou lembrar dos olhos de amanhecer da gata preta, mas ele estava envolvido demais naquele azul profundo, que voltou a olhá-lo.
— Você está bem? - os olhos o encaravam.
— Bem? - indagou, confuso.
— Você já não é mais transparente - disse, e balançou a cabeça para o corpo dele.
— Oh, é verdade - ele levantou a mão para confirmar.
Espere, ele tinha morrido? Estava sonhando? Quis acreditar que estava no céu e aquele era o seu anjo da guarda.
Mas esse pensamento o deixou ligeiramente quando ouviu aquelas palavras:
— O que você está fazendo aqui? - os olhos desumanos se enchendo de uma incerta fúria - Você já não é mais um ser humano...
As mãos do homem agora apertando seus braços finos. Aquilo doía.
— Eu não sei - a voz falhava, tentou acreditar que aquilo era apenas um sonho - Mas eu não posso voltar.
As últimas palavras ditas com tanta firmeza, que fez o homem estremecer.
Mas o que ele podia fazer, pois mesmo que fosse um sonho, ele não queria voltar para sua triste realidade? Ele não queria acordar e ter que lidar com todas as emoções negativas que fizera seus pais sentirem?
Mesmo que fosse por pura covardia, ele queria continuar ali, queria acreditar que aquele era o seu fim.
— Você não pode... - a voz tremida, seus dentes rangendo - Volte, volte agora! - o homem gritou.

— Voltar? - ele sorriu, sem humor nenhum.
Ah, ele podia sentir.
Apesar do azul desumano daqueles olhos, ele ainda podia sentir o consolo vindo dos mesmos.
Patético. Ele é patético.
Tentou não pensar o quanto ele era covarde, quando ele disse aquilo:
— Não posso.


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Notas finais do capítulo

Como eu já tinha escrito o prólogo, eu o postei, por isso não tem um cronograma certo para novos capítulos. Mas eu prometo postá-los assim que puder.
Espero que tenham gostado.
Até a próxima ♥



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