10 dias pro amanhã escrita por Luis Fernando


Capítulo 3
Resista á nevasca




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“Diário

Sabe aquela coisa de fazer uma lista de “promessas” no início do ano pra tentar se tornar uma pessoa melhor? Bom, o problema é que não é fácil pra mim pensar em maneiras pra me aprimorar, porque eu acho que já tenho qualidades o suficiente. Digo, eu sou bonito, rico, estudo em uma escola requisitada, sou popular, então com isso eu pensei: Porque não ajudar os outros a serem melhores? Mas, o que descobri é que tem gente que não reconhece quando você está tentando ser prestativo. Digo isso por causa de uma discussão que tive com Jacob essa manhã, e também por causa do meu dia que foi deveras estressante. Bem, tudo começou cedo, quando estávamos arrumando o quarto antes de ir pra aula. Desde o ocorrido de ontem, Jacob estava evitando de dialogar comigo, mas eu tive que quebrar o gelo, porque ele simplesmente estava tornando nosso dormitório um verdadeiro chiqueiro. Expliquei que nós convivíamos em grupo, e que pro nosso bem-estar, o quarto precisava estar arrumado. Acho que ele não se importou muito com isso, porque ele espalhou as roupas dele pelo quarto inteiro. Achei inadmissível, e assim que ele saiu do quarto, arquitetei minha fria vingança. Espalhei meu tubo de cola pela cama inteira dele, até mesmo pelo travesseiro. Foi a coisa mais pegajosa que vi na minha vida, porém senti que era necessário. Quando saí do quarto, todos estavam no jardim de entrada da escola. Pelo que parecia, Andrew tinha sido encontrado, e todos estavam lá pra vê-lo. Pra ser sincero, achei que essa história já havia acabado, mas quando cheguei lá, ele apontou pra MIM! Começou a me xingar e a me acusar, dizendo que eu fui responsável por ele sumir. Todos da escola ficaram me olhando, e eu juro que naquele momento, fervi de raiva. Eu e Andrew fomos pra diretoria, e agora as coisas seriam explicadas. Andrew disse que foi sequestrado pelo cara da lenha, e que eu sequer tinha notado. Falou ainda que eu tranquei ele dentro da cabana com o homem, e que fiz tudo de propósito. Por sorte, ele fugiu escalando a lareira da cabana. Em minha defesa, disse que nem tinha reparado nada disso, porque eu estava concentrado demais em segurar minha lenha e em ajudar Lucas. Mas essa maldita escola nem ligou pro que eu disse, e eles simplesmente me EXILARAM! Eu estava banido do campus pelo resto de trimestre, e com isso, poderia até reprovar na escola, tudo por causa do Andrew. Bem, eu voltei pro meu quarto pra arrumar as malas, e durante esse meio período, desejei não ter acordado naquele dia. Tudo poderia ser diferente se eu apenas dormisse pelo resto da tarde, mas eu cismei de ajudar as pessoas! Falando nisso, acho que meu plano com Jacob deu errado, porque a cola acabou secando e ele ainda não havia deitado ali. Ficou um cheiro horroroso de cola no quarto, e também haviam moscas por todo lado. Tratei de arrumar minhas bagagens bem rapidinho, não aguentava aquele cheiro por muito tempo. Saí do quarto decepcionado, e talvez com um pouco de náusea. Diário, acho que agora posso te considerar querido, pois é só em você que posso confiar. Minha vida está caindo aos poucos, pareço ser a pessoa mais azarada do mundo. Bem, Augustus de Morgan já falou uma coisa parecida em um livro, ele dizia que “Tudo o que pode acontecer, irá se fizermos testes o suficiente”. Acho que agora estou entendendo essa frase, porque absolutamente tudo está acontecendo comigo. E quanto mais eu tento melhorar, a coisa só piora. Sabe, não é muito legal falar sobre meus pensamentos com outras pessoas, porque sempre vão pensar certa coisa sobre você. Pensam que é reclamão, que gosta de inventar história, que é irritante. Mas eu tenho problemas, eu sinto coisas, eu tenho meu direito de estar triste. Querido diário, acho que os cientistas ainda não deram nome pra essa tristeza que eu venho acumulando, mas eu sei que você é capaz de entender. Pelo menos você pode entender tudo, porque eu particularmente já desisti de entender as coisas ao meu redor. Digo isso porque ao meu lado está sentada uma mulher bem bonita com um bebê no colo, mas simplesmente não para de chorar! Essa criança vai mesmo chorar até chegarmos em Dalton Kamp? Como se não bastasse, tem um cara da cabine em frente que não para de cutucar a parede. Isso mesmo, CUTUCAR! Ele está dando socos na parede, e eu estou prestes a ter um surto aqui dentro. Oh, um túnel, vai ficar difícil escrever por causa da escuridão, por sorte a minha cabine tem um lampião. Me pergunto pra que servem túneis. Sabe, qual a necessidade de fazer trilhos dentro de um grande buraco em uma montanha? Não seria melhor contornar a montanha? São muitas dúvidas, mas quem sou eu pra reclamar? Daqui a pouco estarei chegando em casa, e é isso que importa. Espere, o trem está ficando cada vez mais lento, parando, e ainda não saímos do túnel. Diário, o trem parou. Estou preso dentro de um túnel, dentro de um trem com pessoas completamente irritantes. Deus, me salve...

P.S: Vou ficar um bimestre inteiro sem saber se a pegadinha com Jacob deu certo! Que droga!

P.SS: Se eu morrer nesse trem, peço pra que publiquem esse diário em alguma editora famosa.”


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