O Que Há No Fim Da Escada? escrita por Gabriel Gelinho


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Devo lembra-los de que é uma história de terror psicológico, então leiam de mente aberta, se possível. Não esperem nenhum jumpscare ou algo do tipo. ( Me perdoe se esse não é o estilo de terror que você gosta de ler, mas saiba que fiz com muito carinho e que sua leitura e avaliação fará meu dia mais Alegre. )
Peço para quem ler que deixe uma crítica da história, independente de ser boa ou ruim. A opinião de vocês será de muita ajuda, obrigado!

Enfim, Boa leitura!



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Essa minha história aconteceu quando eu ainda morava com meus pais e meu irmão mais novo; Não me lembro exatamente da idade que eu tinha, mas eu ainda não tinha completado meus 18 anos, então provavelmente eu tinha uns 16 ou 17.

Morávamos em um bairro tranquilo e nossa casa era consideravelmente boa: Dois andares, piscina no quintal de trás, espaçosa e visivelmente bonita tanto do lado de dentro quanto de fora. No primeiro andar ficava a sala de estar, a cozinha, um banheiro e um quarto para hóspedes, já no segundo ficavam o meu quarto, o do meu irmão, o dos meus pais e um banheiro a mais.

Lembro muito bem de que o segundo andar não era muito espaçoso quanto o primeiro: A escada levava a um corredor grande, mas era só isso. Do lado esquerdo, bem perto da escada, ficava o quarto do meu irmão. Na direita, na mesma direção do quarto dele, ficava o meu, porém ainda assim meu quarto ficava um pouco mais afastado da subida para o andar, pois havia um caminho que levava para trás, onde ficava o banheiro. O quarto dos meus pais ficava da direção à frente da escada, porém havia um espaço que eu suponho que davam uns quatro passos dos degraus até a porta deles.

Meu irmão tinha uns 6 ou 7 anos, era bem novo e bem inocente. Nos dávamos bem, apesar de que ele era um pouco irritante às vezes – como todo irmão é -, ele sempre podia confiar em mim e eu sempre estaria lá para ajuda-lo. Quando ele tinha um pesadelo ou algo assim, ao invés de ir ao quarto de nossos pais e dormir lá, ele normalmente viria ao meu pedir para "protege-lo", o que sinceramente eu achava fofo... Mas, sinceramente, foi essa nossa boa relação que iniciou isso tudo.

Em uma dessas noites, eu acordei com o som da porta do meu quarto abrindo e alguém se aproximando. Eu abri os olhos e vi meu irmão parado, em pé, olhando para frente – para o completo nada. A reação que eu tive foi sentar na minha cama e falar com ele:

" Ei, outro sonho ruim?" Eu disse, coçando meus olhos que ainda não estavam tão abertos assim.

Eu olhei para ele por alguns segundos esperando uma resposta, mas... Nada. Ele continuou ali, olhando para a parede atrás de mim. Seu olhar estético me deu calafrios, era como se ele estivesse encarando algo que estava lá naquele escuro canto do meu quarto. Eu admito ter olhado para trás como reflexo, mas obviamente não havia nada lá. Deixei isso de lado e me levantei da cama.

"Cara, que que houve, hein? Virou sonâmbulo agora?" Eu disse no tom mais sonolento possível. Me aproximei dele esperando novamente uma resposta, mas nada consegui.

Assumi que, realmente, ele estava em um estado de "dormindo acordado" e de que ele veio parar no meu quarto por puro hábito, então eu simplesmente levei ele ao seu quarto, coloquei o em sua cama e sai.

Depois de ter confirmado de que ele estava dormindo e que não sairia de novo da cama, eu fechei a porta de seu quarto e me virei em direção ao meu. E foi quando eu ouvi... Um som de panela caindo no chão. Estava vindo da cozinha? Como eu ainda não tinha me movido, eu estava em pé de frente para a escada e podia ver até o fim dela – Mais ou menos, pois na metade dos degraus para frente estava muito escuro para eu ver algo. Fiquei fitando o escuro por uns segundos e voltei para o meu quarto. Deve ter sido o vento ou algo assim - pensei.

Na próxima noite eu fiquei até tarde acordado, jogando com meu amigos. Estava prestes a desligar meu computador e ir dormir quando escuto vozes e risadas vindo do quarto do meu irmão. Parecia que ele estava conversando sozinho. 'Amigos imaginários, Huh?' Eu achei aquilo um pouco engraçado de que ele estaria 'puxando papo' com seus amigos imaginários tarde da noite. Olhei para o relógio do computador: 1 e meia da manhã. De fato, tarde até demais.

Desliguei o PC e fui em direção ao quarto dele, pronto para dar uma bronca no meu irmão por ter ficado até tão tarde acordado. Mas... Quando eu abri a porta, lá estava ele, dormindo. Encarei-o por alguns segundos, confuso. Ele está fingindo dormir? Ou eu realmente ouvi coisas? Pensamentos passaram pela minha cabeça, tentando entender o que aconteceu. Mas ignorei isso; 'realmente, estou muito cansado', conclui.

Fechei a porta do quarto de meu irmão e me virei para voltar ao meu. E novamente... Um som. Dessa vez, um som mais alto e audível de um talher sendo mexido. 'Que merda é essa?', não pude evitar de pensar. Enquanto na noite anterior eu havia somente ficado um pouco confuso, dessa vez um arrepio havia subido pela minha espinha. Novamente estava eu ali, parado olhando para a escuridão no fim da escada. Quantos segundos eu fiquei ali, em choque? Não sei, mas sei que foram bem desconfortáveis. Me forcei a voltar para o meu quarto, e apesar de meu cérebro não parar de tentar saber o que foi que causou este som lá em baixo, eu cai no sono.

Na manhã seguinte nossos pais saíram para visitar um amigo deles e eles só voltariam na manhã seguinte, então eu fiquei a cargo de cuidar da casa naquele dia. Durante o café da manhã, cheguei a questionar meu irmão sobre as noites passadas:

"Você lembra de ter entrado no meu quarto ante-ontem? E que horas você foi dormir ontem à noite?" Perguntei, ainda um pouco incomodado com os acontecimentos recentes. A resposta? Uma expressão confusa.

Talvez ele realmente esteja se tornando sonâmbulo? Mas uma pessoa sonâmbula realmente age daquele jeito?... Vindo no meu quarto de olhos abertos e frios, além de falar e rir sozinho enquanto dorme?... E os sons que escutei vindo do - Não, chega. Estou dormindo muito tarde recentemente e isso deve estar afetando meu psicológico.

Nessa noite, fui me deitar mais cedo do que o normal, buscando uma noite mais tranquila do que as duas anteriores. Infelizmente, não foi possível. Minha cabeça estava tão cheia de pensamentos que eu não conseguia sequer fechar meus olhos.

Não sei quantas horas fiquei acordado, atento aos meu arredores, esperando algum barulho ou até mesmo meu irmão aparecer no meu quarto de um segundo para o outro como havia acontecido antes... Mas nada acontecia. Já tinha desistido dessas minhas ideias malucas e decidi dormir de verdade. Já muito cansado e com meus olhos quase finalmente se fechando, ouvi o som de uma porta se abrindo.

Foi a do meu irmão.

Por puro reflexo, me levantei da cama e corri até a porta do meu quarto – que eu havia deixado aberta, pois estava com medo do que poderia aparecer no corredor e eu não ver – e me deparei com o meu irmão em pé do outro lado, novamente com seus olhos estáticos. Mas dessa vez, não na minha direção, na direção da escada. Ele estava olhando para a escuridão do andar de baixo com uma intensidade que me congelou. Eu senti medo. Medo de imaginar o que ele estaria olhando.

Comecei a andar lentamente e tremendo até o meu irmão. 'Não olhe para a escada' – eu repetia isso dentro da minha cabeça. Cheguei até o meu irmão e entrei no quarto dele com pressa, pois o pensamento de que algo poderia acontecer se eu ficasse muito tempo na frente daquela escada me fazia suar de pavor. Coloquei ele na cama, fiquei alguns segundos para ver se ele não iria sair da cama de novo e quando confirmei, corri de olhos fechados para o meu quarto.

Não me lembro muito bem do que eu fiz depois disso, mas de alguma forma eu consegui dormir. Exaustão, talvez? Mas isso não importa, já que eu acordei abruptamente no meio da madrugada. 

Eu estava ouvindo vozes.

Meu irmão estava me chamando. Levantei da cama e estava meio tonto. O que ele queria comigo a essa hora? E por quê não vir ao meu quarto ao invés de me chamar?

Fui cambaleando até o corredor e ouvi novamente meu irmão chamar pelo meu nome, mas não estava vindo do quarto, estava vindo do andar de baixo.

Confusão passou pelo meu rosto. O que diabos ele está fazendo lá em baixo à essa hora da madrugada? Comecei a andar até a escada, já preparando uma bronca de " Você não pode ficar acordado até tarde!". Quando eu fui colocar o pé no primeiro degrau, eu parei.

Uma gota de suor começou a descer pela minha espinha e eu engoli minha saliva.

Escuridão total era o que eu via no final da escada. Essa escuridão me lembrou dos acontecimentos recentes durante a noite - coisas essas que eu havia esquecido de terem acontecido, talvez por estar muito cansado e meu cérebro não estar trabalhando direito.

Eu parei e encarei o escuro lá de baixo. Eu iria descer para conferir o que meu irmão fazia por lá, mas algo dentro de mim se negou a dar mais um passo. Uma vontade insana de duvidar dos meus ouvidos tomava conta do meu corpo. Respirei fundo e me virei para a porta do quarto de meu irmão mais novo. Abri ela com bastante cuidado, pois o medo não me deixava  sequer cogitar em fazer um barulho.

O que eu vi deixou meu rosto pálido. Ele estava lá. O meu irmão... Ele estava lá, na cama dele.

Comecei a tremer tanto que era difícil de me mover, mas eu tinha que sair dali. Bem lentamente, eu dei novamente uma olhada para o fim da escada. Escuridão.

O fato de que eu ainda não conseguia sequer ter uma noção do que estava lá em baixo foi a pior coisa. Meu cérebro começou a imaginar o que seria aquilo que se escondia na escuridão e causava esses sons, e isso me torturava intensamente. Eu tremia tanto que meu corpo começou a fazer barulho, e não conseguia parar.

Eu só sei que corri, corri depressa de volta para o meu quarto, direto para o meu celular e comecei a digitar o mais rápido possível para o telefone da Polícia. Mas não consegui apertar o botão de ligar, pois quando estava prestes a fazer isso, o som da porta se abrindo pôde ser ouvido mais uma vez.

Fui lentamente dar uma olhada no corredor e vi meu irmão do mesmo jeito que antes: Parado, olhando para a escada. Eu estava tão horrorizado, que eu nem sequer pensei em ir até ele, eu somente fiquei lá, congelado. Quantos segundos se passaram? Eu não faço ideia, mas cada um deles era pior que o outro, cada um pareciam horas e horas, tensão subia sempre que um segundo passava.

E de repente meu irmão se moveu. Não seus pés, não, não. Ele moveu seu braço direito e começou a apontar para a escada.

Sabe quando uma criança diz que tem um monstro de baixo de sua cama? Ela fica com medo de se aproximar e somente aponta para lá para que o adulto possa ir e conferir para ela. Era isso que eu estava vendo.

Em seu estado tenebroso de sonâmbulo, ele estava pedindo para eu ir conferir.

Foi então que toda e qualquer dúvida do que eu ouvi foi destruída.

 

 

Tinha.

 

 

Algo.

 

 

.

 

Por puro instinto eu corri até ele, segurei-o em meus braços e me joguei para dentro de seu quarto. Eu fechei a porta com tanta força que o som poderia ser escutado em qualquer canto da casa, mas eu não me importei. Tranquei a porta e fiz questão de colocar um pequeno armário na frente, por via das dúvidas. Coloquei meu irmão novamente em sua cama e sentei de costas para o armário impedindo que algo entrasse.

E é isso. Eu não lembro de mais nada. Talvez a exaustão e a tensão fosse tanta, que o meu cérebro nem sequer conseguiu registrar o que estava acontecendo, e todas as possíveis memórias se foram.

Na manhã seguinte, meus pais voltaram e eu expliquei o que aconteceu. Não só meus pais não acreditaram, como meu irmão não se lembrava de nada.

Demorou muitos dias para eu conseguir dormir com paz novamente, mas nada parecido aconteceu de novo. Nenhum som foi ouvido vindo do primeiro andar, nunca mais.

Hoje já não moro com meus pais, na verdade meu irmão já está com seus 15 anos e eu com meus 27. Ou seja, isso realmente faz muito tempo.

Apesar de ter ficado no passado, eu nunca irei esquecer pelo o que eu passei durante essas três noites seguintes.

Quando eu paro para pensar sobre isso, me pergunto...

O que estava causando aqueles sons na cozinha no andar de baixo?

Aquelas vozes e risadas, eram realmente o meu irmão conversando sozinho durante o sono?

Não - aquelas vozes sequer eram dele?

Mas tem uma pergunta que eu me faço e que sempre me dá arrepios só de pensar...

O que teria acontecido se eu tivesse ido conferir, como o meu irmão tinha me pedido?

O que teria acontecido se eu tivesse descido as escadas rumo àquela escuridão sem fim?


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Notas finais do capítulo

Por favor, deixem suas críticas! Gostaria muito de lê-la! :)



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