Quando Annabeth havia concordado em se encontrar com Percy Jackson para um lanche, ela pensou que seria apenas ele. Imagine a surpresa da garota quando não foi bem assim que aconteceu.

— Olá, você deve ser a Annabeth.

Um garoto alto, bronzeado, de longos cabelos cacheados e uma barbicha pontiaguda estendia a mão para ela, que apertou imediatamente, não escondendo, entretanto, o olhar confuso contra o moreno de olhos verdes ao lado do garoto, que apenas sorria parecendo um pouco envergonhado.

— Sou sim — Annabeth falou sorrindo — E você é?

— Grover Underwood, ao seu dispor — O garoto fez uma rápida reverência.

Percy colocou a mão no ombro do amigo, como que pedindo para ele parar com aquilo. Dirigindo o olhar para a garota que o encarava.

— Desculpa — Riu sem graça, coçando a cabeça — Ele meio que insistiu pra vir, se auto intitulou meu agente.

Annabeth encarava o tal de Grover já com o cardápio em mãos, mudando em seguida o olhar para Percy que havia sentado na sua frente, que também olhava para o cardápio do amigo ao lado.

Os cabelos curtos e negros estavam bagunçados como ela se lembrava desde que havia conhecido o garoto. Os olhos verdes brilhavam como duas piscinas limpas e tentadoras. O sorriso tranquilo e inocente fazia com que as sobrancelhas dele se levantassem. Ela havia notado que ele tinha uma mania de passar as mãos pelos cabelos e passar a língua pelos lábios ressecados, só ainda não sabia o que causava isso. Annabeth observava o garoto de forma tão intensa e concentrada que nem notou que ele estava falando com ela.

Até que seus olhos se encontraram e ele sorriu.

— O que? — A garota fingiu a vergonha.

— Perguntei se você já pediu algo — Ele olhava sorridente para ela, não parecendo ter notado o que ela estava fazendo.

— Ah, não.

Percy passou o cardápio pra ela. Annabeth olhou rápido e pediu qualquer um dos hamburguers.

— Acho que já podemos começar a entrevista, não é? — Grover pigarreou, começando a falar — Meu cliente...

— Cara — Percy interrompeu — Seu cliente? Eu ainda não entendi você querer do nada ser meu agente, se eu fosse uma planta, talvez fizesse mais sentido, ah pra você que não sabe, ele faz ecologia.

Grover fez uma careta e empurrou o ombro do amigo com o seu próprio, enquanto Annabeth ria baixo.

— Cara, me respeita.

— Cara, é só uma “banda” — Falou fazendo aspas com os dedos — De alunos que Apolo inventou, não precisa levar isso muito a sério.

Grover abriu a boca para falar algo, mas a Chase foi mais rápida, olhando o moreno com a sobrancelha arqueada.

— Seus amigos pareciam estar levando bem a sério — A garota falou com o típico sorriso implicante, que Percy havia aprendido a apreciar.

— O Leo e o Nico — Percy corrigiu, sorrindo também, cruzando os braços — O Jason, o Frank e eu não estamos achando que isso vai dar certo.

Annabeth riu, e dessa vez Percy que arqueou a sobrancelha.

— Entendi — Ela deu de ombros — Bem, não é por que você não tem talento, que seus amigos não tenham.

Grover cuspiu parte da água que estava bebendo, rindo sem receios na cara do amigo, batendo no ombro do mesmo.

— Ela te esculachou.

Percy olhou indignado para ele.

— Você não era meu agente?

— Você não é uma planta — Grover deu de ombras.

Percy fez uma careta, fingindo irritação e olhou para a loira que sorria e o olhava desafiando-o. Percy respirou fundo e se debruçou na mesa.

— Annie, posso te chamar de Annie não é?

— Não.

— Então Annie — Ele continuou — Acho que você não estava no momento, mas eu e meus amigos arrasamos naquela sala de música.

Ela havia fechado a cara com o apelido, no entanto não havia conseguido esconder dos olhos observadores do garoto, o pequeno sorriso que se formava no canto de sua boca, enquanto os olhos cinzas brilhavam como se pequenas tempestades tomassem conta dos olhos da garota.

— Aposto que eles fizeram o trabalho todo sozinhos — Ela continuava, implicante, mas Percy estranhamente até gostava.

— Fizemos junto, valeu? — Percy sorriu — Nós cantamos juntos desde crianças, ou seja, desde que nós conhecemos.

— Ah, eu lembro — Grover jogou o corpo pra frente, entrando na conversa — Nas férias e fins de semana no quintal da sua casa ou na do Jason, não é? — O garoto sorriu e olhou para o nada, saudoso — Adorava aqueles piqueniques/churrascos, a tia Sally faz a melhor quiche vegano do mundo.

Percy fez um careta de nojo. Annabeth sorriu.

— A quanto tempo vocês e seus amigos cantam? — A garota perguntou, comendo alguma das batatas fritas do seu pedido.

— Hum — Percy franziu a testa, pensando, enquanto o seu lanche era depositado na mesa, por uma garçonete interessada um pouco demais no cliente — Eu acho que já faz uns 10 anos.

Annbeth não conseguiu evitar a expressão impressionada.

— É — Grover saboreava um pedaço generoso de bolo vegano, e com a boca cheia continuou — Ele e os primos se juntavam no quintal uns dos outros e cantavam as músicas antigas que os pais curtem, acho que o Percy foi o primeiro a aprender a tocar alguma coisa.

Percy fez uma cara de falsa modéstia, dando de ombros.

— No caso, a Thalia participava?

Percy engoliu um pedaço generoso do lanche e bebeu o refrigerante para engolir antes de continuar.

— Sim, a Hazel e a Bianca também.

— Vocês são todos primos? — A garota alternava o olhar entre Grover e Percy.

— Das meninas sim, e do Nico e do Jason — Percy tomou mais um gole da sua bebida — O Grover, o Leo e o Frank são amigos, muito antigos e praticamente da família.

Grover fez um sinal de positivo e depois de tomar um copo de suco de laranja falou.

— A mãe dele gosta mais de mim.

Percy empurrou o amigo e quase derrubou o pedaço de bolo do garfo.

— Não mesmo.

Annabeth apenas ria das interações relaxadas e divertidas entre os garotos, e não queria admitir, mas observava e gostava principalmente das provocações e sorrisos que trocava com o Jackson. Ele era diferente.

Os três ainda ficaram na lanchonete por um tempo, Percy provavelmente não estava notando, mas estava claramente sendo entrevistado pela garota. A conversa fluía, Percy e Annabeth aos poucos se desarmavam e paravam de travar batalhas com palavras e olhares desafiadores, até mesmo Grover e a Chase estavam se dando bem. Annabeth perguntava sobre toda as experiências musicais do garoto, o que acabava entrando na relação linda e próxima que ele tinha com os amigos e os primos e primas, o garoto sorria enquanto falava deles, e o sorriso aumentava apenas quando ela falava da mãe. Sally Jackson era uma mãe solteira que havia criado Percy sozinho com a pensão que recebia do pai, o qual o moreno não gostava de falar, segundo o que o garoto falava, ela havia sacrificado muita coisa por ele, sendo mãe muito jovem e tendo que desde cedo trabalhar quase que 24h para dar do melhor para o filho único, e mesmo assim conseguir participar da vida dele, indo a festas da escola e jamais deixar um aniversário sequer passar em branco, e só agora, com o filho crescido ela estava seguindo o sonho de ser uma confeiteira, sonho esse que o Jackson e todos envolta dele, apoiavam 100%.

Percy também conseguiu tirar algumas informações das garotas, como descobrir que os pais também eram separados, mas o pai de Annabeth era presente, encontrando-o diversas vezes ao ano, e a mãe era uma renomada arquiteta, carreira a qual a garota queria seguir desde que se conhecia por gente.

— Só não consigo entender uma coisa — Annabeth já havia comido todo seu lanche, enquanto os garotos já estavam na segunda rodada — O que tem haver cantar e nadar?

Grover riu com a pergunta, a Chase não entendeu. Percy sorriu e explicou.

— Não tem que ter uma relação — Percy limpava as mãos com um guardanapo — Cantar é algo que faço com as pessoas que amo e que são mais próximas a mim, um passatempo e meio que uma forma de união que a gente tem desde sempre, enquanto que nadar é... — Ele parou, olhando sorrindo pela janela, voltando os olhos claros para a garota em seguida — Uma paixão, desde sempre a água foi minha forma de fugir da realidade, minha mãe diz que eu sempre fui um peixe, quando estava triste ou irritada, ela sempre podia me encontrar na banheira e depois de um tempo, na piscina, não dar nem pra pôr em palavras o quanto eu amo a sensação da água, é... — Ele parou novamente, procurando as palavras — É quase transcendental.

Percy sorriu. Annabeth ainda estava assimilando, principalmente pelas palavras bonitas e difíceis que ela nem sabia que ele conhecia, mas sorriu também. Percy era realmente diferente. Normalmente quando conhecia garotos como Percy, atletas ou músicos, eles nem tentavam ser humildes, mas Percy não se gabava de nada, apenas quando queria provoca-la. Percy não se gabava de saber cantar, de ser um ótimo nadador ou do seu primo ser o capitão do time de basquete, o garoto se interessava muito mais em contar histórias de infância, em contar como ele se esforçava incansavelmente para que o time de natação não acabasse, apenas para que pudesse manter sua paixão viva. Percy preferia contar sobre o quanto sua mãe era sua heroína, como suas primas mais velhas eram exemplos na sua vida e como daria tudo pelos seus amigos.

E depois de algumas horas de conversa que haviam passado sem nenhum dos garotos perceber, Annabeth não iria admitir, mas começava a enxergar aquele garoto desastrado de forma diferente.

Mal sabia ela, que Percy já a enxergava diferente a muito tempo.

— Caramba — Percy falou, interrompendo a conversa animada entre Grover e Annabeth sobre jardins suspensos e tetos verdes, ou algo assim — Grover, temos que ir.

Annabeth olhou pela janela, se surpreendendo com a escuridão que tomava a rua, que era iluminada apenas por postes altos e enferrujados.

Percy levantou uma das mãos, chamando a atenção de uma das garçonetes que não conseguiu disfarçar o sorriso ao olhar para o garoto, e conseguiu disfarçar menos ainda a decepção quando Percy lhe pediu a conta. Grover insistiu em pagar, e apenas Annabeth fez qualquer protesto, Percy apenas sorria como uma criança.

E na porta, quando já estavam se despedindo, veio a pergunta que Percy estava tomando coragem de fazer desde que haviam chegado aquela lanchonete, e respirando fundo, ele falou.

— Posso te acompanhar até em casa?

Grover sorriu se segurando para não soltar alguma brincadeira. Enquanto que Annabeth parece ter demorado a entender a pergunta, mostrando uma feição surpresa, mas que logo mudou para um sorriso.

— Eu consigo me cuidar — Ela não conseguia se conter.

Percy sorriu.

— Ah, eu sei, é para você cuidar de mim.

Annabeth riu. Grover olhava para os dois, flertando ali bem na sua cara, e revirando os olhos ele apenas pigarreou.

— Eu já vou indo né — Percy tentou falar algo, mas Grover apenas o olhou com os olhos semicerrados como se tentasse falar para o garoto não estragar tudo.

E quando deram por si, a Chase e o Jackson encaravam as costas de Grover que caminhava calmamente pela rua movimentada, enquanto assoviava algum tipo de música que Percy tinha certeza que era sobre plantas.

Percy e Annabeth se olharam.

— Então vamos? — Ele indicou para que ela fosse na frente, e sorrindo, a garota começou a andar sendo seguida pelo moreno.

Eles seguiram rindo e conversando durante todo o caminho, apreciando a companhia um do outro, e quem sabe, vendo um ao outro de forma diferente.