O tempo ainda não parou - Memori escrita por Zumbi Vegetariano


Capítulo 1
O tempo que dormimos


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira fic pra valer, então espero que gostem! Na verdade eu só queria muito escrever isso e não sei como vai ser daqui em diante. Talvez eu poste mais capítulos. Segue a partir da season finale da 5° temporada. Vlw e boa leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775194/chapter/1


•Emori 

Todos continuamos parados. Olhos fixos na tela mesmo após o fim do vídeo. A mensagem de Monty.


 Ainda estávamos paralisados, com as últimas palavras de Monty zumbindo em nossos ouvidos e ecoando pelas paredes da nave, onde dormimos por mais de cem anos. Esse pensamento é estranho para mim. Dormimos por mais de cem anos. Eram para serem apenas 10 anos. 10 anos de sono criogênico e acordaríamos em uma nova Terra. Acordaríamos depois de outro apocalipse radioativo. Mas ao acordarmos descobrimos que o nosso sono durou um pouco mais do que o esperado, 115 anos a mais para ser exata. Descobrimos isso pela voz de nossos amigos, Harper e Monty, e o filho deles, Jordan.


  Não sei o que é mais difícil de acreditar, que eles têm um filho ou que eu nunca mais vou poder abraçá-los de novo. Depois de 6 anos convivendo com eles, como a família que nós nos tornamos no espaço. Eu abraço eles e vou dormir; quando abro os olhos, no que parece ser o dia seguinte, descubro que eles viveram um vida inteira enquanto eu dormia, tiveram um filho, uma vida feliz e uma morte tranquila. Morte. Eles estão mortos. Minha família não está mais completa. É quando eu percebo que o que eu estou sentindo agora, essa dor profunda no meu peito, eu não sou a única sentindo isso.


  Olho em volta procurando o resto da minha família, spacekru. Bellamy e Clarke foram os primeiros a serem acordados por Jordan, eles assistiram ao vídeo com as instruções de Monty e depois acordaram apenas nós 4: Echo, Raven, John e eu. Fico feliz que eles tenham feito isso, tudo bem chorar na frente de pessoas que estiveram ao meu lado em todos os momentos, felizes ou tristes, da minha vida por seis anos e se tornaram a minha família, mas eu não quero chorar na frente de todas as pessoas que estão agora dormindo nessa nave.


  Todos podemos ser Wonkru agora, mas nenhum deles, por mais que sintam a perda do Monty e da Harper, não sentem o que nós sentimos. Nós passamos anos no espaço em condições precárias que nos aproximaram, é por isso que somos uma família. Fico aliviada por ter esse tempo com spacekru, para sentirmos a perda de nossos amigos. Não importa quantas vezes nos proclamemos Wonkru, nada vai tirar os 6 anos que passamos cuidando uns dos outros no espaço. Sempre seremos spacekru.


  Olhando em volta posso perceber que Echo, Raven e John se sentem assim também. Todos estão em choque, ainda assimilando as notícias. À medida que o choque passa, as lágrimas chegam. Percebo que eu mesma não consigo conter o choro que sobe quente pela minha garganta e quando me dou conta estou soluçando tão alto que atraio um olhar preocupado de Bellamy, que está escorado na parede ao lado da porta, mas não é o olhar dele que eu procuro. Um pouco mais ao lado vejo John com uma expressão que eu vi pouquíssimas vezes em seu rosto, e que me preocupa muito. Eu sei que ele sente muito fundo no peito a morte de Monty. Eles se tornaram muito próximos nesses 6 anos.


  John sempre se sentiu muito culpado por tudo o que ele fez quando os 100 desceram para a Terra na primeira vez, ele tentou matar Clarke, tentou enforcar Bellamy, atirou em Raven, matou algumas pessoas, e tentou matar Jasper, o melhor amigo de Monty. Ele não fala sobre isso, mas toda vez que Raven faz uma careta de dor por causa da perna, ele sente também. Ele sabe que é culpa dele e nunca se deixa esquecer, mas todos já o perdoaram, ficou no passado, apenas ele nunca se perdoou por nada. Mesmo que ele tente se justificar, dizendo que tinha seus motivos, eu sei que na verdade ele tenta convencer a si mesmo de que merece o perdão deles, mas nunca consegue. Para nós é como se tivéssemos piscado e de repente passaram-se mais de cem anos; então a última memória que John tem de Monty é ele ficando para trás e carregando John nas costas para a nave, mesmo que um dia ele tenha tentado matar o melhor amigo dele, ainda assim ele arriscou a própria vida para salvá-lo.
Meu coração se enche de um medo muito grande, medo de que John me afaste de novo, de que ele se afunde dentro de si e não deixe ninguém entrar.


  Eu olho para ele de onde estou, começo a caminhar em sua direção mas, antes mesmo do primeiro passo, John parece acordar do transe e virando de costas para todos, com o olhar fixo à frente, sai da sala, caminhando firme e rápido. Sem pensar eu corro atrás dele só para ser bloqueada pelos braços de alguém, Bellamy eu vejo, ele me olha nos olhos, percebo que também tem lágrimas no rosto.
— Deixa, ele precisa de um tempo sozinho.
Eu sei que ele está certo, John vai estar incomunicável agora. Antes que eu perceba estou ajoelhada chorando, os braços de Bellamy a minha volta. Choro por mim, por John, por tudo que passamos nestas últimas semanas, coisas que ainda não tivemos tempo de assimilar, e principalmente por Monty e Harper, fico contente que eles tenham tido uma vida feliz e tranquila mas queria ter podido compartilhar disso com eles.

•Murphy 
  Estou sentado no chão em algum canto da nave, com as costas na parede e as mãos latejando. Olho para minhas mãos: estão sangrando. Levanto um pouco a cabeça e posso ver claramente a parede manchada de sangue à minha frente. Ainda ouço a voz de Monty, triste após a morte de Harper, mas um pouco empolgada com as chances de um novo planeta habitável. A última lembrança que tenho deles antes de dormir é de quando estávamos decidindo o futuro da raça humana e eu fiz uma piada sobre as algas de Monty.
Sinto lágrimas escorrendo pelo meu queixo. Não sei a quanto tempo estou aqui, mas deve ser bastante já que Bellamy veio a minha procura. Ele olha em volta alternando o olhar da minha mão para a parede à minha frente com a testa franzida em preocupação.


  6 anos atrás seria impossível imaginar que Bellamy Blake pudesse estar preocupado comigo, mas hoje já não é tão surpreendente. Ele era o que mais ia atrás de mim no Anel quando eu tentava reivindicar uma parte da nave que foi nosso lar nos últimos anos. Os outros iam de vez em quando também. Não Emori. Eu fui um total idiota com ela naquela época, mas agora eu só sinto vontade de abraçá-la.
— Emori está te procurando. — Bellamy diz sentando-se ao meu lado.
Eu não digo nada.
— Nós já acordamos todos os que vamos precisar. Eles estão vendo o vídeo agora. Vamos dar um tempo para eles assimilarem as coisas e daqui duas horas teremos uma reunião junto na ponte.


  Ficamos alguns minutos calados. Provavelmente vai demorar até que tenhamos um momento quieto assim de novo. Não sabemos o que nos espera nesse planeta desconhecido, teremos que descobrir. Talvez morramos pela radiação antes mesmo de chegarmos ao solo. Ou podemos dar de cara com feras desconhecidas assim que abrirmos as portas da nave. Impossível saber o que nos espera, mas é certo que não teremos tranquilidade por um bom tempo.
— Você não é o único que perdeu alguém vendo aquele vídeo. Não digo para ser forte, mas para não sofrer sozinho. Nós somos uma família. Não me refiro a Wonkru, mas nós: Spacekru. Todos estamos sofrendo com a perda de Monty e Harper, mas temos que passar por isso juntos, ou não vamos conseguir. Precisamos uns dos outros, precisamos de você. Emori precisa de você.
Olho para ele, que aparenta estar tão esgotado quanto eu.
— Ele ficou para trás.— Dou uma pausa quando quando as lágrimas ameaçam cair. — Para mim não foi 125 anos atrás. Ele ficou para trás e me carregou nas costas para a nave. Ele sabia que era arriscado, e que ele poderia ter morrido, mas ficou mesmo assim. Se não fosse por ele eu não estaria aqui, e Emori insistiu em ficar comigo, ela também estaria morta se não fosse por Monty. — Minha voz já está embargada, nenhuma palavra mais consegue sair da minha boca.
— Eu sei, mas de novo, nenhum de nós teria para onde ir se ele não tivesse ficado acordado. Não temos mais uma Terra para a qual retornar, e não temos como sobreviver no espaço. Ele preparou tudo para que pudéssemos achar um lugar bom para vivermos. Nenhum de nós estaria aqui se não fosse por ele. Mas se não fosse por você também.
— Eu olho para ele com descrença.
— É verdade, sem você não teríamos o reciclador de ar e teríamos morrido no Praimfaya. Droga, sem você eu teria morrido naquela montanha quando salvamos aquela menina. Todos foram importantes para chegarmos até aqui. Monty mais do que ninguém, é por isso que temos uma dívida com ele, de viver bem para não jogar fora tudo o que ele nos deu. Dessa vez, vamos ser os mocinhos, como ele sempre quis. Então não se isola, você não precisa passar por isso sozinho.
— Ele colocou a mão no meu ombro, antes de ir. E como se tivesse se lembrado de algo, deu meia volta antes de seguir pelo corredor.
— Acho melhor você ir ver a Abby — ele diz com um olhar compreensivo apontando para a própria mão — e eu não deixaria Emori esperando se fosse você.

•Emori 
  Eu encontrei com Bellamy no corredor que levava à enfermaria, apenas com um olhar ele já soube o que eu ia perguntar, pela décima vez desde que tínhamos visto o vídeo de Monty.
— Ele está falando com a Abby, não se preocupe, ele está bem.
— Obrigada, Bellamy.
Ele coloca a mão no meu ombro quando passa por mim.
Eu quero perguntar como Echo está, mas minha ansiedade de chegar até John não deixa lembrar de nada além do caminho para a enfermaria.


  Entro correndo na sala. A primeira coisa de que me dou conta são as ágeis mãos de Abby trabalhando nas ataduras que envolvem as duas mãos de John.
Com uma rápida olhada consigo ver que Bellamy está certo, John está bem, só as mãos estão machucadas. Eu presumo que ele tenha socado algumas coisas. Cada um lida com a dor e sofrimento de seu jeito, e esse é o jeito dele. Com raiva. John busca direcionar sua raiva para alguém ou alguma coisa, para que ele tenha algo concreto com o que lidar.


  Fico alguns passos afastada da cama em que John está sentado, observando até Abby finalizar as ataduras. Ela me oferece um sorriso tranquilizador e passa algumas instruções sobre limpar diariamente as feridas para evitar qualquer infecção e, depois de liberar John, vai até a cama onde Kane está deitado, ainda inconsciente.


  Me aproximo de John, que não levantou o olhar do chão em nenhum momento. Me pergunto se ele ao menos se deu conta de que estou aqui. Hesitante, coloco a mão em seu ombro meio esperando um sobressalto que não vem. Em vez disso ele coloca sua mão sobre a minha sem hesitar nem por um milésimo, o olhar ainda distante. Eu sei que ele está tentando conter as lágrimas. Me sento devagar ao seu lado, na cama estreita da enfermaria. Minhas pernas balançando no ar, diferente das dele. Coloco minhas mãos, uma em cada lado de seu rosto, forçando seus olhos a encontrarem os meus. Uma única lágrima escorre por sua bochecha agora. Seus olhos me dizem mil palavras quando encontram os meus. Me dizem o quanto está sofrendo com a perda do irmão que Monty se tornou; me dizem que sabe que ainda não pode desabar, não com a iminência desse novo planeta; me dizem que sente falta da breve tranquilidade que a quietude do espaço trouxe, mas que o desagradou tanto no que parece ser outra vida e o fez feliz mesmo por pouco tempo. Com esse olhar John me diz que me ama e que vai estar comigo para superarmos a perda de nossos amigos juntos, um ao lado do outro. Com meu olhar, eu digo a ele que estou sofrendo; eu o digo que vai ficar tudo bem, que Monty e Harper nos deram uma chance de sermos felizes de novo e que eles foram felizes; eu o digo que todos nós somos uma família e perdemos pessoas muito importantes hoje, mas ainda temos uns aos outros para passarmos por isso, sem quebrarmos de uma maneira que não possa ser consertada, dessa vez podemos ser os mocinhos que Monty sempre quis que fôssemos. Com esse olhar eu o digo que o amo mais do que tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, eu quero postar mais simplesmente pq amo esse casal mas não sei com que frequência ou se vão ser capítulos isolados. Mas digam nos comentários o que vcs querem e se gostaram desse, por favor!!! Vou tentar fazer o que vcs quiserem. Até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O tempo ainda não parou - Memori" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.