The Vampire escrita por Pablo Alves


Capítulo 1
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura❤



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eu tive um sonho que não era em todo um sonho

o sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas

vagueavam escuras pelo espaço eterno,

sem raios nem roteiro, e a enregelada terra

girava cega e negrejante no ar sem lua;

veio e foi-se a manhã – veio e não trouxe o dia;

— Lord Byron

 

Wanadi desceu ao riacho durante o entardecer. Quis refrescar o corpo da caçada e também quis as pedras lá do fundo deslizando sob os pés. Como as horas comiam o dia depressa e o anoitecer já dava no horizonte, decidiu retornar à aldeia, levando consigo o animal abatido.

A lua ardia no alto céu e ele ainda tateava o caminho de volta para casa. A mata já estava acordada. Os animais noturnos pulavam da toca e faziam confraternização. O assobio da cigarra ia embalando toda a caminhada.

Pensou ter ouvido coisa. Até esse momento tudo corria bem. Mas na vez seguinte, o grito rasgou a garganta e não podia saber se era espírito ou criatura. Percorreu o arrepio pela espinha como se fosse um prenúncio de morte. Wanadi preparou a flecha e ficou de sobreaviso. Os olhos caçaram, sob a luz pálida. Identificou que vinha da soma escura mais na frente, e viu se mexer. Estava pronto para disparar.

O som infernal ecoou novamente.

— Meta-se fora do umbral! Rosnou. De repente, a criatura pulou da folhagem: a flecha partiu como um zepelim, precipitou entre duas costelas, despedaçando a carne do peito. O coração de Wanadi tranquilizou. Era um animal no chão.

Wanadi continuou o trajeto de volta. À essa altura, a aldeia distava pouco. Atravessou o rio sem dificuldade, seguindo por uma trilha estreita que findava em uma estrada de terra.

As estrelas queimavam no céu. Aqueles milhares de pontinhos pulsavam magnificamente e enfeitavam a noite com tamanha beleza. Os seres noturnos reuniam-se em uma orquestra, um coro que soava em uma confusão maravilhosa. Wanadi seguia adiante pela estrada de terra.

Achou uma luz amarelada brilhando há uns trezentos metros. Aquilo o aguçou. Estava em um ponto onde a escuridão o impedia dos detalhes. Perto o suficiente, foi possível observar os pormenores daquela cena: a luz provinha de um lampião sob uma carruagem, e, aparentemente, não havia ninguém. Mas ouviu um gemido, sob a penumbra, e avistou um corpo estirado ao chão.

“Karaíba” (que significa: homem branco). Avaliando, constatou que o homem branco acabava de morrer. Havia sangue nas roupas e no pescoço dilacerado. Em toda a sua vida, Wanadi tinha ouvido só histórias na tribo sobre a criatura que ataca à noite, o demônio bebedor de sangue, e podia o imaginar de forma limitada, sem se atrever a transpor os limites da imaginação fantasiosa. Reuniu todas as forças, fazendo uma prece à deusa Jaci, guardiã da noite, pedindo que o livrasse de ter a mesma sorte que este homem. Estava tomado pelo terror. Feito isso, levantou-se e ia partir. Mas logo se envolveu numa densa névoa. O ar gélido o percorreu de cima a baixo. Sentia o perigo.

Preparou o arco.

Olhava de um lado ao outro, mas a névoa cegava junto com a escuridão. Até que pôde vislumbrar uma silhueta na penumbra, a se movimentar bastante rápido.

— Anhangaba! (diabrura).

Quando deu por si, estava no chão, o rosto em meio a poeira. O peito ardia com a queda. Tentava perscrutar o opositor. Nos pensamentos, clamava pela deusa Jaci. Levantou-se. Dessa vez, viu a face do seu algoz.

Tinha os cabelos longos, negros como a noite. Estava com o peito nu e a pele era branca feito marfim. Vestia apenas uma roupa longa na parte inferior, o tecido surrado. Parecia meio humano, meio bicho, asas de morcego se precipitavam das costas. O guerreiro teve medo, depois de avaliar que não podia contra criatura. Resolveu fugir. As pernas iam sozinhas na direção contrária, acabou jogado no chão tão rápido e mal percebeu o que tinha acontecido. Wanadi se debatia, encuralado debaixo daquela forma, o choque da pele fria e viçosa sobre a sua. A criatura arranhava a garganta numa gargalhada débil. Wanadi sentia a morte cruzar o grande lago que os separava, serpenteando até a fonte da sua própria vida. E a morte ia sobre ele, como ia sobre as ervas e sugava-lhe a seiva, e o corpo e os galhos da planta apodreciam na terra estéril. A coisa cerrou os lábios junto ao pescoço completamente, rasgando a carne com os dentes. O sangue deslizou, desembocando, místico, através do vampiro como um mar. Wanadi sentia a vida esvair. Desabitar o seu corpo. Lembrou da própria tribo. Pesou a tristeza e o medo incutido no coração. Sentia o corpo enfraquecer tão depressa, o mundo girar num eterno carrossel. Sentia tudo. E depois não sentia mais nada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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