A claridade da manhã invadia todo o quarto, fazendo a morena que  dormia tranquilamente acordasse aos poucos. Sara virou-se na cama se espreguiçando, levantou-se e foi até o banheiro. Já que aquele era seu dia de folga, ela resolveu dar uma volta pela praça. Trocou de roupa e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, estava saindo do quarto quando seu telefone tocou em cima da mesa de cabeceira, ela pegou o aparelho, o nome que aparecia na tela fez seu coração bater mais depressa.

Grissom

Por um momento, Sara ficou apenas encarando o nome dele, então  resolveu colocar o celular onde estava e deixá-lo tocar. Faz um mês que eles conversaram e ele decidiu pelo divórcio, um mês que não tinha notícias dele. Por que ele tinha resolvido dar sinal de vida agora? Sara suspirou, pegou as chaves e saiu, pois queria se distrair para não pensar naquele assunto. Porém ainda doía, as palavras dele não saiam de sua cabeça. Era fato que ficar trancada em casa chorando não resolveria nada, nunca resolve. Uma história de amor como a deles não se esquece de uma hora pra outra, ela tinha consciência disso, mas tinha decidido seguir em frente e assim o faria.

Sentado com o celular na mão, Gil pensava. Já havia feito inúmeras tentativas e nada de Sara atender suas ligações. Não a culpava por isso, evitá-lo era o mínimo que ela podia fazer depois do que ele lhe causou, mas… não contava ele querer consertar as coisas? Tinha plena consciência de que o que ele fez foi uma estupidez, a maior estupidez, mas queria que ela o perdoasse, queria começar do zero, esquecer que aquele divórcio um dia existiu, queria tê-la de volta, ansiava por isso.

A última coisa que queria era feri-la, magoá-la. Sara era o que ele tinha de mais precioso, a amava e sabia que ela o amava também.

Se bem que depois de tudo o que ele fez, ela podia ter deixado de amá-lo, mas custava acreditar que isso era possível.

Desejava recomeçar, mas como faria aquilo se nem lhe atender ela queria? Precisava falar com ela, se explicar, fazê-la entender o porquê de ter feito o que fez. Teria que ir até ela.

Sara tinha acabado de arrumar a cozinha, ela descansava no sofá quando ouviu alguém tocar a campainha, foi até a porta e olhou através do olho mágico.

A morena se afastou, coçou os olhos e tornou a olhar o olho mágico.Grissom estava ali parado em frente sua porta. Não queria falar com ele, mas a campainha era tocada de forma insistente. Soltando um longo suspiro ela abriu a porta, sem dizer nada, deu as costas para ele  voltando para a sala. Grissom, um tanto tímido, entrou no apartamento fechando a porta atrás de si.

— O que você quer, Grissom? - perguntou olhando para ele. Estava muito séria.

O tom que ela usou ao fazer essa pergunta o desarmou um pouco, mas ele tinha chegado até ali e precisava falar.

—  Eu...eu tentei te ligar. Preciso falar com você...

— Eu sei, eu ignorei as chamadas. - ela o interrompeu. - Pelo jeito não deu muito certo. - Riu de maneira sarcástica.

Ele suspirou desanimado, entendia sua raiva e estava arrependido por tê-la causado.

— Eu vim me desculpar, Sara. - disse se aproximando. - Eu estive pensando nesse tempo, pedir o divórcio foi uma burrice da minha parte, uma estupidez. Por favor, me dá uma segunda chance, vamos começar do zero, tentar salvar nosso casamento.

A morena deu um passo para trás.

— Quantas vezes você vai fazer isso, Grissom? Quebrar meu coração, ir embora e depois voltar se dizendo arrependido me pedindo perdão como se nada tivesse acontecido?

Apesar de ter sonhado com esse momento, dele admitindo que se arrependeu do divórcio, pedindo seu perdão e uma chance para recomeçar, algo dentro dela a fez perguntar aquilo. Tinha chegado a um ponto que não aguentava mais lidar com esse medo e insegurança de Grissom.

—  Eu… - fez uma pausa, mais uma vez se aproximando dela. - Nós estávamos longe um do outro, Sara. - disse tentando se justificar. - Você podia não querer o divórcio, mas eu sei que estava infeliz. Eu fiz aquilo pelo seu bem.

Sara não aguentou ouvir aquela desculpa mais uma vez, a raiva tomou conta de seu corpo, fazendo-a desferir um tapa na cara do ex marido. Grissom sentiu seu rosto arder enquanto colocava a mão no local atingido.

—  Pro meu bem? - perguntou alterada -  Eu passei o último mês chorando pelo que você me fez. Eu sentia sua falta, queria você do meu lado, mas me separar de você nunca me passou pela cabeça. - Ela respirou fundo e piscou algumas vezes, se controlando para não chorar. - Você não fez isso pelo meu bem, Grissom, fez porque é um covarde, e não consegue enfrentar seus medos e inseguranças.

O silêncio tomou conta do ambiente, doeu ouví-la dizer aquelas coisas, mas ele sabia que era verdade.

Notando que Gil não diria nada, como de costume, ela continuou.

— Eu praticamente implorei pra você não me deixar. - sussurrou olhando para aqueles olhos azuis. - lembra?

Ele desviou o olhar, lembrando - se das palavras dela.

“ - Gil, não pode fazer isso! - ela insistiu se segurando para não desmoronar. -Pensa em tudo o que a gente viveu, você não pode jogar tudo no lixo assim. Não é justo.”

— Então acabou tudo? - perguntou. -Você não vai mesmo me dar uma segunda chance?

— Sinto muito, Gil. - sua voz embargou um pouco. - Não dá mais.

“ -  Mas não ficou tudo bem, Sara! Não dá mais!”

Os dois ficaram se olhando enquanto ele se afastava dela dando alguns passos para trás, sentiu uma dor no peito depois de ouvir aquelas palavras, as mesmas que ele havia  dito a ela. Não tinha mais jeito. Seu casamento tinha chegado ao fim. O que ele temia se concretizou: Sara tinha deixado de amá-lo. Uma coisa que ela lhe disse, há alguns anos se encaixou dolorosamente com aquele momento.

“ Quando você se der conta pode ser tarde demais.”

Devagar, ele foi até a porta, a abriu e sem olhar para trás, disse.

— Adeus Sara. Eu espero que você seja feliz.

— Você também, Gil.

Ele foi embora.

Sara ficou olhando para a porta. Secou uma lágrima que rolou em seu rosto.

Nunca imaginou que sua relação com Grissom fosse acabar e que ela seria a responsável por colocar um ponto final em tudo, doeu vê-lo ir embora, mas era preciso. Agora ela teria que se acostumar com o fato de que Gil Grissom estava fora de sua vida...para sempre.

.

Fim de mais dia de trabalho. Gil foi para casa, tomou um banho e foi se deitar, estava exausto. Fazia uma semana que ele estava de volta ao Peru, nem sabia o porque demorou para voltar, devia ter agilizado as coisas logo que saiu da casa de Sara. Porém, no fundo, ele sabia porquê não tinha ido embora logo, tinha esperanças que ela o procurasse e dissesse que o queria de volta, suspirou olhando para o teto.

Como ela o perdoaria depois de tudo o que ele fez? Impossível. Ela tinha seguido em frente.

Ele teve certeza disso quando estava indo embora, dentro do táxi, parado em um sinal vermelho, a viu caminhando feliz ao lado de Anthony pela praça, vê-la com outro não foi fácil, mas não podia fazer mais nada. Pessoas erram, isso é humano, mas insistir no erro tantas vezes como ele fez…era burrice. Toda ação tem uma conseqüência, e a decisão que tomou ao afastá-la dele “pro bem dela” resultou naquele final. Um final que ele acreditava ser o dele antes de conhecê-la: ficar sozinho, solitário, sem amor...para sempre.