Então... escrita por Markwheav


Capítulo 1
Então...




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— ... mas deixa eu desligar, Renata. Tô cheia de coisa ainda aqui em casa pra fazer. A gente se fala amanhã no colégio. Ah! E amanhã é o dia! Chega de enrolar! Na saída vou segurar o Rafa na praça e dizer que tô a fim dele! E já entro beijando que eu sou dessas! (risos)

— Pô... isso aí mesmo, Cláudia! Aliás, esqueci até de comentar contigo... hoje cruzei com ele, com o Rafa, lá no Animefest.

— Ah, é mesmo! Ele também gosta dessas paradas nerds. Mas e aí, amiga? Você chegou a falar com ele? Poxa... você bem podia ter mandado umas indiretas pra ele sobre mim, né? Já facilitava a minha vida. Mó vacilo!

— Então... você sabe que eu pensei mesmo em fazer isso? Por que sabe o que aconteceu? Ele tinha ido sozinho, aí a gente se esbarrou, ele reclamou lá dos preços dos mangás... bom, no fim ele acabou ficando comigo e com meus colegas a maior parte do evento.

Ainda bem que só tem baranga no teu grupinho de amigas nerds! Hahaha!

— Hum... é... hehe.

— Mas foca no que interessa, amiga: e aí? Ele chegou a falar alguma coisa sobre mim? Você disse alguma coisa? Fala logo!

— Calma, tô falando. Então, durante a maior parte do dia nem tinha como. Tava a maior galera, e aí a gente ficou falando sobre filmes, séries, mangás, essas coisas.

— Êêê perda de tempo. Haha. Tá. Mas e aí? Foi ou não foi?

— Então: quaaase no final do evento, quando a galera já tava dispersando, é que teve uma hora em que eu fiquei sozinha com ele.

— E aí?! Vai logo, criatura!!!

— Então... a gente continuou conversando... eu tava pensando em como eu ia falar de você... “Pô, a Cláudia é muito maneira, né? E tal...” Mas não podia ficar forçado, né? Eu queria fazer de uma forma mais natural... até pra ele não ficar se achando, sei lá. Eu não sabia bem como eu ia fazer.

— Ai... você é bem burrinha pra essas coisas... aí, já até sei, acabou não falando nada, né?

— Então, eu até tava conseguindo puxar o papo pra esse lado, sim! Mas aí as coisas começaram a ficar meio esquisitas.

— Esquisitas como?

— Então... a gente tava falando de Shingeki no Kyojin...

— Do quê?!!

— É um mangá muito conhecido. Aí távamos falando sobre como, mesmo sendo absurdamente legais, Shingeki no Kyojin era o oposto das animações do estúdio Ghibli...

— Fala a minha língua, Renata!!!

— Enfim: aí ele começou a falar como era legal a quantidade de coisas que a gente tem em comum... que gostamos do mesmo tipo de filmes, de quadrinhos, de livros... eu concordei, e aí aproveitei pra começar a falar como achava que ele também tinha muita coisa em comum com você...

— Isso, caramba! Aí sim!

— ...só que eu não sei se ele entendeu bem essa parte, por que aí, do nada – do NADA, Cláudia! – ele começou a falar de umas coisas que eu tinha dito pra Jéssica há uns dois... três meses atrás...

— O que a Jéssica tem a ver com isso? Que coisas você disse?

— Nem lembro bem do que eu disse... e a Jéssica também, é toda doida, distorce tudo o que a gente fala. Então teve coisa que ele disse que eu tinha dito, que eu realmente lembrava de ter dito, teve coisa que eu falei de outro jeito, teve coisa que eu não sei se falei... mó confusão, Cláudia!

— Confusa tô eu agora. O que isso tem a ver? A Jéssica também tá a fim dele, é isso? Ou vai me dizer que ELE tá a fim da Jéssica?!

— Então... Olha. Só. Que. Louco! No fim eu nem sei exatamente o que a Jéssica disse pra ele que eu disse, mas ele disse que juntou isso com umas paradas que aconteceram na feira de ciências...

— Que paradas?

— Nossa. História muito comprida. Deixa pra lá. Mas enfim, ele, de uma forma totalmente FORA da realidade, meio juntou essas coisas – na cabeça DELE – e tava achando que EU era a fim dele.

— QUÊ?!?!

— Então: NADA A VER! Sei lá de onde ele tirou isso! Muito louco.

— Que idiota! Nada a ver você com ele! Nada a ver MESMO! Idiota!

— É! Nada a ver... tá, realmente, ele é muito maneiro... é engraçado... é bonitinho e tal... temos muita coisa em comum... mas falei, “pô, nada a ver”.

— Nossa! Nada a ver. É só olha pra você e pra ele! Nada a ver!

— Aí eu nem pensei duas vezes. Já fui logo dando o corte!

— Claro!

— Aí eu nem sabia se você ia gostar de eu falar alguma coisa depois disso que ele tinha dito, mas não quis nem saber, fui direta “ó, acho que você tem mais a ver com a Cláudia” e tal... que achava que você tinha uma queda por ele...

— Não, mandou bem! Esses caras são lentos mesmo! Tem que guiar o pensamento deles, senão eles não se tocam! Mas e aí? O que ele falou?

— Então... (pausa)

— Vaaai sua lerda!!! Fala logo!

— Calma! Tô tentando lembrar dos detalhes! Te disse que foi confuso, pô! Eu falei aquilo, aí ele parou, olhou pra minha cara – acho que ele ficou meio surpreso, pra ver como ele é lento mesmo, que nem você disse.

— Hum.

— Aí ele coçou a cabeça... meio sem jeito... aí falou que achava você é muito legal...

— Hum!!

— Mas que não tinha nada a ver...

— Que? Nada a ver?! Como assim, “nada a ver”?! Ele disse isso?

— É, veja você, que coisa... E pior, ao invés de falar por que ele achava que não tinha nada a ver – já que CLARAMENTE vocês dois tem TUDO a ver – e aí eu ia até poder argumentar, que tinham a ver, sim; ao invés de fazer isso ele emendou em outro assunto que aí é que bagunçou a conversa toda mesmo!

— Que assunto, Renata?

— Então... um papo sem-noção, de que ele só tinha ido lá hoje porque tinha me ouvido comentar com a Karen que eu ia no evento... aí falou que chegou lá bem cedo porque não sabia que horas eu vinha... que ficou me esperando chegar... enfim. Olha só a situação... ele tinha cismado com esse negócio.

— (...)...

— E eu tentando me desvencilhar, colocar a conversa no rumo certo, fazer o cara se tocar! Iluminar aquela cabeça! Fiquei tentando mostrar como ele e você é que tinham tudo a ver, e o papo foi correndo: “pô, a Cláudia não é muito de ler, mas ela se informa...”

— Que droga é essa, Renata? O que isso tem a ver? De onde saiu isso?

— Então, já nem sei. Foi tanta coisa que eu falei, que ele falou, que eu já tô até misturando a ordem das coisas. O que eu sei é que fiquei ali, tentando te dar uma moral e tal. Eu só pensava ali comigo, “cara, que situação louca! Tenho que resolver isso!”.

— Na boa, nessa hora você tinha era que ter dado as costas pra ele e ter ido embora! Deixava pra eu resolver isso, eu e ele, amanhã. Nem tinha que ter dito mais nada!

— Então, eu sei: eu tava doida mesmo era pra sair dali. Maior furada que eu tinha me metido, amiga! Mas olha só... aí eu ia embora, ia ficar aquela coisa em suspenso, no ar... pô, como eu que eu ia te contar essas coisas assim, sem um desfecho? Porque é claro que eu ia te contar tudo o que tinha acontecido, né? Então eu tinha que sair dali deixando as coisas bem claras pra ele: o que era e o que não era!

— Sim, tá! É. Você tá certa, sim!

— E eu falando, com firmeza, “nada a ver” “nada a ver”, e ele com história da Jéssica... de novo a coisa da feira de ciências... aí ele pergunta, “tá, então você não sente absolutamente nada por mim?”

— Aí é claro que você disse “não” na lata, né!

— Pff. Óbvio, né amiga! Claro que eu disse “não”! Disse “Não!” Só não usei essas palavras.

— E que outras palavras existem pra “não”?

— Ah. Várias palavras. Tipo, “nem sei”. Foi o que eu acabei dizendo. Falei “nem sei”, mas com um tom claro de “não”.

— “Nem sei” não quer dizer “não” em lugar nenhum do mundo, Renata!

— Pode até ser. Porque você falando assim, até explica o porquê dele aparentemente não ter entendido que eu tava encerrando o assunto ali. Na MINHA cabeça, tava bem claro que eu tava despachando ele. Aí, o que aconteceu: ao invés de se tocar e cair fora, ele fez o contrário! Chegou mais perto... passou a mão no meu cabelo... tocou suave com a ponta dos dedos no meu rosto...

— Me diz, por favor, que nessa hora você deu uma cotovelada nele e saiu dali! Me diz que você fez isso, Renata!

— Então... (suspiro) aquilo me pegou totalmente de surpresa. O cara não tava prestando atenção em NADA do que eu tava dizendo? É ser muito sem-noção! Aí eu fiquei tensa... tava nervosa pra caramba com aquela situação... aí a gente não consegue nem pensar direito. Nossa! Situação terrível, Cláudia! Você não tava lá, você não imagina.

— Aham. E?

— Aquilo já tava me dando até dor de cabeça. Aí eu senti uma pontada forte na cabeça e fechei os olhos. Quer dizer, fechei os olhos por causa da dor, certo? Mó erro! Porque acho que ele entendeu, quando eu fechei os olhos, que eu tava querendo que ele me beijasse. Pode isso? Cara... aí, já viu, né? Ele acabou me beijando mesmo.

— ELE TE BEIJOU? VOCÊ DEIXOU ELE TE BEIJAR ??? Eu não acredito, sua traíra! É por isso você tá enrolando tanto nessa história! Como assim ele te beijou? Que ódio! Sua fura-olho do inferno!!!!

— Não, Cláudia, não! Não é nada disso aí o que você tá pensando! Por favor, né? Ele me pegou totalmente de surpresa! Não tive reação! Foi uma coisa super, super-rápida!

— Aham. Rápido tipo o que?! Um selinho e você empurrou ele pra longe?!

— Isso! Foi praticamente um selinho. Só não foi exatamente um selinho por que as reações da gente ficam lentas nessas condições, né? É isso o que eu tô te dizendo desde o começo. Mas não chegou nem a dois, três... cinco  minutos. Ou menos. Sei lá.

— Renata. Renata! Não existe selinho de cinco minutos.

— Eu disse que foi praticamente um selinho, não que foi exatamente um.

— Não interessa. Não quero saber! Renata, você não tem noção da raiva que eu estou agora! Não tem noção! Dele e de você! Que ódio! QUE ÓÓÓDIO!!!!

— Que isso, Cláudia! Poxa. Eu entendo a tua raiva... a tua decepção com o cara... mas eu tô te contando essas coisas porque sou tua amiga, né? Pô. Eu ia te esconder um negócio desses, sabendo que você tava querendo falar com ele amanhã no colégio? Como é que ia ser isso?

— (...)...

— Quer dizer, eu tô tentando mostrar que eu tava lá, na maior das boas intenções, querendo empurrar o cara pra você... e, de repente, tudo saiu do controle. Como eu ia saber? Pô! Se desse pra saber no que aquilo ia dar, eu tinha fingido que nem tinha visto ele!

— (...)...

— Caramba! Eu acho que...

— Tá bom! Tá bom! Só me diz como acabou essa palhaçada, que amanhã eu vou dar um esculacho nele no colégio! Acabou o beijo, e aí? Sem enrolar, Renata! É sério: que você fez? O que eu quero saber é o que você fez depois disso tudo!

— Então... sendo bem objetiva: falei sério pra ele que você era minha amiga, que você gostava dele, que não tinha a MENOR condição daquilo rolar...

— O engraçado é que eu não vi em nenhum momento você deixar claro pra ele que a principal razão pra não rolar é que VOCÊ não tem nenhum interesse nele!

— Então, Cláudia, só pra você ter uma noção, nós ficamos quase duas horas nisso! Eu falei tanta coisa que você nem imagina!

— Duas horas? Duas horas?! Duas horas falando de quê? De mangá? Ou será que rolaram mais alguns “selinhos” durante esse tempo?!

— Cláudia, você não tá me escutando. Cê tá com raiva, eu te dou toda razão. Claro que dou. Mas o Rafa não me deixava encerrar o assunto! Eu queria dar um ponto final naquilo, dizia que “não, que não dava”...

— Dizia “não” ou “nem sei”?

— Dizia tudo o que podia dizer pra acabar logo com aquilo! E ele insistia, dizia que eu tinha que dar uma chance pra gente, era feira de ciências, era Jéssica, era sei lá mais o que... eu ali já zonza... já não sabia nem mais o que dizer. Ele respondia a cada argumento meu com outros três dele, e a coisa não chegava a lugar nenhum. Pra resumir, depois de muito tempo, muita falação, muito blá blá blá, finalmente chegamos a um consenso.

— Hum. Consenso.

— Isso. E aí... então... meio que nós, tipo, meio que nós decidimos... que estamos namorando.

CLICK

— Alô? Cláudia? Cláudia? Alô? Cláudia?

— Ela desligou o telefone na sua cara?

— Hum... foi. Desligou. Você... acha que eu lidei bem com a situação?

— Então...


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