KatsuDeku é um oferecimento de Himiko Toga escrita por Finholdt


Capítulo 1
Era pra ser o dia dos namorados perfeito!


Notas iniciais do capítulo

e é isso hah



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Himiko esperou semanas por esse momento. Finalmente, o dia dos namorados havia chegado e ela pode enfim dar o seu chocolate para Izuku! Aaah, como ela estava empolgada por esse momento!

Desde que a Liga dos Vilões capturou aquela estranha pessoa que consegue fazer as pessoas se tornarem suas escravas do amor por ela caso eles tenham contato interno com seu suor, tudo que Himiko pensava é que precisava transformar Izuku em seu escravo amoroso.

Este quirk é estranhamento específico, mas considerando o seu próprio quirk, Himiko não quis ficar pensando demais. Tudo que importava é que essa era sua chance de dar um chocolate para seu amado Izuku, e então rasgá-lo por inteiro com suas facas. Ele com certeza ficaria ainda mais lindo com algumas cicatrizes a mais…

Motivada pelo poder do amor, Himiko escapou escondido até onde eles mantinham o dono do quirk, em um galpão subterrâneo, para roubar alguns frascos do suor cheiroso.

Como suor poderia cheirar a sangue e biscoitos caseiros, estava além dos conhecimentos de Himiko, mas ela tentou não pensar demais nisso, já que Jin disse que na verdade o moço tinha cheiro de nicotina e toalhas recém lavadas. Dabi, que estava do lado, quietamente comentou que para ele, o jovem cheirava a flores e neve.

Chegando no galpão, Himiko o olhou de cima em baixo, analisando sua patética forma. Parecia ser um universitário comum, no rumo dos 20 anos, e um rosto completamente comum, com cabelos castanho-escuro e nenhum traço marcante além de seus olhos cor de rosa. Ele estava amarrado em um poste e seminu, com vários frascos vazios ao seu redor. Ele parecia estar dormindo agora, mas Himiko conhecia suas presas bem demais, ela sempre sabe quando alguém está fingindo ou sendo sincero.

— Ei, você.

Ele não respondeu.

— Sabe, como você se recusa a dizer o seu nome, vou ter que te arrumar um apelido.

Nada ainda. Himiko deu de ombros.

— Vou te chamar de Cupido! Já que você vai me juntar com a minha nova quedinha, e tudo o mais.

Isso fez o cara abrir os olhos, assustado.

— Espera, você não pode-

— Eu acho que você já está aqui a tempo o bastante pra saber que eu posso fazer o que eu quiser. — Retrucou, áspera.

— Você não entende, meu quirk-

— Meh! Cansei de te ouvir, só cala a boca e me passa alguns frascos com o seu suor. Nós já sabemos que os efeitos só funcionam com a primeira pessoa que aparecer para a vítima do seu quirk!

O jovem a olhou com raiva, parecendo debater consigo mesmo se devia fazer algo ou simplesmente ceder. Felizmente para ele, Cupido resolveu ser sensato e sem dizer nada, moveu a cabeça para o lado, dando acesso a Himiko para ela pegar o que precisa.

♤◇

Diferente do que muitos pensavam, Himiko não era boba. Ela sabia que se o plano A não funcionasse, ela teria que ter um B e C. Por isso, pegou três frascos do suor de Cupido. Um, ela usou para fazer o chocolate. Os outros dois, ela colocou em seringas, caso uma luta fosse necessária.

Havia semanas que ela estava se preparando por esse momento, observando das sombras o campus da grande UA. Ela analisava as interações de cada um aluno, professor e funcionário. Catalogava quem Izuku conhecia e quem o conhecia. Com quem ele conversa e suas emoções com cada um ali.

Ela se lembrava bem de Ochako-chan, também, do acampamento. Quem diria que as duas estavam apaixonadas pela mesma pessoa? Hah! Mas Himiko nem estava com ciúmes, ela entendia completamente como Ochako devia se sentir. No entanto, com suas observações, Himiko percebeu que por mais que Ochako estava apaixonada por Izuku, o garoto não correspondia esses sentimentos. Tudo que Ochako sentia por ele, Izuku sentia por outra pessoa.

Fechou a cara ao lembrar de Katsuki Bakugou. O garoto deu muito trabalho e foi graças a tentativa fútil de tentar levá-lo para o lado dos vilões que Tomura agora está insuportável. Mas ei, ele é loiro igual ela! Talvez isso seja um tipo? Himiko torcia para que sim.

Himiko cogitou se disfarçar de Ochako e dar os chocolates para Izuku e desfazer o disfarce depois que ele comesse, para ele se apaixonar por ela. Seria certamente interessante ver a cena, mas algumas investigações mostraram que Ochako não faria nenhum chocolate honmei. Isso complica as coisas, porque cadê o romantismo do negócio? Pelo menos isso, poxa!

Então… Bakugou será. Ela ainda tinha um pouco de seu sangue que conseguiu pegar quando ele estava sob custódia da Liga. Não era o bastante para muitas horas, mas o suficiente para a troca de chocolates.

Himiko olhou para o relógio e confirmou que já era quase 12:30, ou seja, hora do intervalo.

Deixando suas seringas prontas e o confirmando que seu querido chocolate honmei estava em ordem, Himiko bebeu o pouco sangue que havia sobrado de Bakugou e se transformou.

PLUS ULTRA

— Ei, Deku!

Izuku parou, estranhando Kacchan de todas as pessoas o estar chamando logo no dia dos namorados.

— Oh, e aí Kacchan. Está tudo bem?

Kacchan estava com o rosto fechado e as mãos escondidas dentro dos bolsos de sua calça larga. Tudo certo até aí, mas algo definitivamente estava estranho… Alguma coisa no fundo da cabeça de Izuku parecia estar coçando, o deixando cada vez mais alerta. Seria um de seus novos quirks? Izuku acha que não, mas nunca se sabe.

— Preciso falar contigo, seu nerd de merda.

— Certo… Aqui mesmo, ou você quer ir para uma sala de aula?

Kacchan pareceu pensar no assunto, as sobrancelhas se juntando ainda mais. Ele definitivamente parecia incomodado com algo, mas…

— Pode ser, porra. Só vamos logo, eu não tenho o dia todo.

Izuku fez caminho, indo na frente e sirenes praticamente explodiram em sua mente quando notou que Kacchan simplesmente foi atrás dele, sem falar nada. Algo estava extremamente errado.

Dentro da primeira sala vazia que Izuku encontrou, sério, ele se virou para “Kacchan”. À essa altura, ele já estava certo que essa pessoa deveria ser uma impostora e precisava jogar verde para descobrir o que diabos o impostor está pensando. Será alguma pegadinha? Mas com que propósito?

No entanto, a visão de Kacchan todo vermelho, sem coragem de olhá-lo nos olhos, estendendo com uma mão uma caixa de chocolate bonita, o fez parar no lugar.

Izuku arregalou os olhos, agora perdido dentro da própria cabeça. Mesmo que essa pessoa definitivamente não seja Kacchan, Izuku está tendo o privilégio dessa visão que jamais ocorrerá em vida real. Homens mais fortes que Izuku provavelmente não teriam se deixado abalar, mas isso era simplesmente bom demais para deixar passar.

— K-Kacchan?! — Acabou deixando escapar, a respiração por um fio.

— Não… Não é pra ficar se achando, ouviu? Só… Ugh! Só pega a droga do chocolate!

Com mãos tremendo e os instintos de herói que dizia que ele devia lutar mortos e enterrados, Izuku pegou a caixa e abriu. Arfou quando viu que esses chocolates realmente eram honmei e ai meu bom deus!

Essa brincadeira já estava ficando cruel e Izuku ia dar uma boa lição nesse engraçadinho por brincar com os sentimentos alheios desse jeito.

Em um minuto.

— Kacchan… O quê…

— Eu só… Bem… Argh, você precisa que eu soletre pra você, seu idiota?! Come logo o chocolate! Ou você não vai aceitá-los?

— E-eh?! Aceitá-los? Os chocolates do Kacchan? C-claro! Eu só…

— Então come logo!

Apressado, Izuku rapidamente pegou um dos bombons e o levou aos lábios… Para notar que os chocolates não tinham nenhum traço de canela, como quase todos os doces que Kacchan costuma fazer.

Sim… Esse não é o Kacchan.

Lentamente, sem o olhar nos olhos, Izuku abaixou o chocolate e perguntou:

— Por que está fazendo isso?

— Haaah?! Qual é o seu problema-

— Isso já deixou de ter graça. Não, na verdade nunca teve. — Izuku odiou sentir as familiares pontadas atrás dos olhos. — Você não é o Kacchan. Acha engraçado brincar com meus sentimentos assim?

— Ugh! Só coma os chocolates, Izuku-

— Rá! Kacchan não me chama de Izuku desde que fizemos cinco anos! Quem é você?

Então a coisa mais bizarra começou a acontecer.

“Kacchan” começou a derreter bem diante de seus olhos.

Arregalando os olhos, Izuku correu para o ponto mais afastado da forma que se mostrava ser Himiko Toga.

Você!

— Ai, eu não esperava que você fosse perceber que eu não sou o seu “Kacchan”! Que droga, Izuku~ Mas tudo bem — Alheia a sua nudez, Toga se abaixou para pegar duas seringas. —, eu só quero te dar alguns cortes!

Izuku ainda não tinha muita prática com o seu novo quirk mas medidas desesperadas eram necessárias. Era imperativo ele não se aproximar demais de Toga, que era perigosa o suficiente sem esses estranhas seringas - vai saber que tipo de drogas pode ter nelas?

Como se fossem extensões de seus braços, Izuku sentiu a familiar dor sair de suas costas e agarrar as mesas que haviam ali. Ele jogou em direção de Himiko e engoliu o grito de dor que queria sair. A queimação em sua pele ainda era algo novo e completamente diferente da usual dor que One For All costumava dar.

Toga gritou, se afastando. Ela parecia assustada e intrigada.

— Isso é novo! Oooh, espera só quando o Tomura souber disso…

Sem chances que Izuku deixaria ela escapar de novo!

One For All corre por suas veias como fagulhas de eletricidade quando Izuku fica em posição de luta. Ele estava sem qualquer um dos seus materiais de apoio, nem mesmo as luvas estavam perto. O jeito era lidar com isso por si só.

Smash!

Com a força de 20%, ainda não o suficiente para fazer grandes estragos com os jatos de ar pela força de seu soco, mas o bastante para a jogar do outro da sala. Aproveitando o momentum, Izuku correu para a atingir com um chute, o qual ela desviou. Irritado, pulou contra a parede, e se aproveitou da propulsão para se jogar em direção a ela.

Toga ficou a postos, como se fosse desviar, mas Izuku já havia notado que ela estava com as duas mãos ocupadas com as estranhas seringas.

— Seja bonzinho de uma vez, Izuku~

— Argh!

Mordendo o lábio com força o suficiente para sangrar, Izuku conseguiu segurar o grito que queria escapar quando ele libertou seu segundo quirk novamente para a agarrar. Infelizmente, ele errou os cálculos e acabou apenas explodindo a parede atrás dela.

— Deku?!

Uma nova voz se fez presente, mas Izuku não iria cair mais nessa. Furioso, ele gritou:

— Já falei para parar com essa merda, Toga!

Um barulho alto de explosão fez Izuku parar onde estava, caído debaixo de uma mesa. De forma urgente, Izuku lutou contra a dor para olhar por cima da mesa e ver o real Kacchan ali, tentando encurralar Toga, que estava nada feliz em vê-lo ali.

— Cai fora, Bakugou! Eu não trouxe essa droga pra você, e não vou dividir! É só pro meu Izukun~

— Maluca das facas desgraçada, que merda você tá bostejando aí?! — Esbravejou Kacchan.

— Kacchan, cuidado!

— Cala a boca, Deku!

Mas era tarde demais para Toga, que sabia quando era hora de lutar e quando era hora de fugir. Pela sua expressão completamente frustrada, ela sabia que logo os outros professores estariam ali. Desesperada, ela olhou diretamente para Izuku, fraco e praticamente imóvel um pouco atrás de Kacchan, e jogou a seringa em sua direção.

Izuku arregalou os olhos. Kacchan estava preocupado demais em dar a volta pelos estragos da sala e pegar Toga para notar a seringa. Tentou gritar mas apenas um som estrangulado saiu.

Felizmente foi o suficiente.

Kacchan se virou e xingou em alto e bom som. Sem pensar muito, ele correu até Izuku e o empurrou da trajetória da seringa, sendo atingido no lugar.

Toga gritou de frustração.

— NÃO! EU NÃO QUERO ELE!! — E sem Izuku perceber, ela tentou jogar a segunda seringa. — NÃO IZUKU, ELE NÃO PODE TE VER!!

Barulhos de professores correndo em direção a eles a assustou, o que a fez errar o tiro pela segunda vez, acertando Kacchan mais uma vez.

— Que inferno, essa merda queim- — Kacchan se interrompeu ao arregalar os olhos e cair de joelhos.

Kacchan! — Ignorando Toga, que agora pulava pela janela, Izuku tentou se arrastar até onde o amigo caiu.

— I...Izuku…? — Kacchan o olhou com confusão, como se não entendesse o que estava acontecendo. Então revirou os olhos e desmaiou.

— KACCHAN!

PLUS ULTRA

— Eh, ele vai ficar bem. — Disse Recovery Girl.

— Mas aquelas seringas… Tinha algo errado com elas, Himiko Toga disse que tinha uma droga! E se ele tiver tido uma overdose? E se for a mesma droga que confiscaram de Overhaul e a yakuza? E se o coração dele parar a qualquer momento e-

— Midoriya. — Recovery Girl colocou sua pequena mão no ombro de Izuku, que ainda tremia pelo ocorrido. — Ele vai ficar bem. Não consegui achar nenhum tipo de droga no sistema dele, então podemos suspeitar que pode ser algum tipo de experimento com quirks, ou que a vilã maluca simplesmente mentiu para você. Apenas quando ele acordar saberemos.

— Mas…

— Não é dia dos namorados? Você deveria estar por aí se fazendo de disponível pra ganhar chocolates, e não ficar ocupando minha enfermaria.

Izuku sentiu seu rosto esquentar até a raiz dos cabelos enrolados.

— E-eh?! N-não! Nada disso!

— Logo o sinal vai tocar, sabe? Você devia voltar pra aula, garoto.

— E o…

— Olha, sinceramente não tem motivo pra você ficar aqui. Já curei o seu desgaste físico graças a esse inferno de quirk novo e o Bakugou só tem que dormir pra melhorar. Você estando aqui ajuda um total de zero pessoas, ouviu? Então cai fora.

Incapaz de discutir com isso, Izuku deixou os ombros afundarem e tentou suprir suas preocupações enquanto ia para a sala de aula. E também… Izuku sabe que Kacchan não iria gostar nenhum um pouco de acordar na enfermaria e a primeira pessoa que ver é o Izuku.

Mesmo que tecnicamente, ele foi atingido para o proteger.

Uau, Izuku ainda não consegue enfiar isso na cabeça. Kacchan realmente, realmente o protegeu e o salvou. Ele é tão incrível…!

 Ainda perdido em pensamentos, Izuku mal notou quando se sentou e seus colegas foram cada um se sentando. Era nítido que todos queriam falar sobre a invasão da vilã na escola, mas Aizawa-sensei já estava lá, olhando sério para os papéis à sua frente. Estava apenas aguardando todos chegarem para começar os anúncios sobre as repercussões.

— Vocês já devem saber sobre a invasão de Himiko Toga. — Aizawa começou. — Não se preocupem, heróis profissionais foram chamados e estão agora mesmo em perseguição atrás dela. Enquanto isso, o diretor Nedzu também já foi notificado e está tomando as devidas precauções na escola para que isso não se repita, então não estranhem caso eu ou Vlad apareçam para pegar alguns dados extras de identificação. Com isto dito-

— Sensei, e o Bakugou?! — Gritou Kirishima, preocupado.

— Acalmem-se, eu já ia chegar lá. — Aizawa-sensei olhou irritado para a sala. — Bakugou está bem, apenas dormindo na enfermaria. Ele teve sintomas de overdose graças a estranha droga que Toga o atingiu…

O quê?!

— ...Mas depois que cuidamos da taquicardia, ele se acalmou e dormiu. Recovery Girl fez alguns exames e não há nenhum rastro de drogas no sistema dele, então tudo o que podemos fazer é esperar.

— E vamos agir como se nosso colega não estivesse ferido?! — Kaminari se revoltou.

Silenciosamente, Izuku concordava.

Vão. — Silenciou Aizawa-sensei, com um olhar mortal. — Faz parte da vida de um herói ter que lidar com situações que estão além de suas mãos e a menos que vocês queiram se tornar como certos profissionais-problema que insistem em se culpar por tudo, vão parar com a choradeira e vão focar na aula, que é a única coisa que vocês podem fazer agora.

Assim que as palavras saíram do professor, a porta se abriu violentamente. Assustados, a turma inteira se virou para ver um claramente atormentado Katsuki Bakugou.

Deku!

Izuku abriu a boca para perguntar qual o problema, mas Kacchan nem ao menos deu tempo para isso. Como um raio, ele correu até a carteira do amigo de infância, o segurou pelos ombros e colou sua boca também aberta na dele.

O mundo parou por um segundo. Ou dois. Talvez uma hora, porque Kacchan está me beijando. E então meu deus Kacchan está me beijando de língua.

Sons nada dignos para uma sala de aula estavam ameaçando sair do fundo da garganta de Izuku, então ele se apressou para empurrar Kacchan de si, pelo menos para respirar.

Foi como um clique. Assim que seus lábios, que agora estavam relativamente úmidos, saíram de perto dos de Kacchan, de repente Izuku pôde ouvir os gritos e assovios do resto da turma, assim como pôde sentir o olhar mordaz que Aizawa-sensei estava jogando pra eles.

Bakugou. Vou levar essa cena como você está melhor.

Kacchan o ignorou.

— Deku, você tá melhor, né?! Aquela vaca falando merda tipo como você era dela! Palhaçada… Não é verdade, né Deku? Você é meu, né? Porque eu sou todinho seu!

Isso arrancou gritos mais altos dos colegas de turma.

Izuku estava sonhando, obviamente, porque não havia outra explicação. A qualquer momento ele vai acordar e descobrir que o dia nem começou e tudo aquilo com Toga não passou de um sonho e- espera. Toga!

— Midoriya, claramente você e o Bakugou tem assuntos a resolver, então façam isso lá fora.

Contando com as anotações dos amigos, Izuku não hesitou em pegar suas coisas, ignorando as perguntas incessantes de Kacchan que ficavam cada vez mais altas e urgentes, e o arrastou para fora da sala.

— Kacchan, eu acho que a Toga fez alguma coisa com você, você não tá sendo… bem, você!

— Não fala daquela mulher, Deku, ela fez nada comigo! Eu tô bem, cacete.

— Anda, vamos fazer isso lá nos dormitórios.

— Oh ho… Ousado, Deku. No seu quarto ou no meu?

Izuku parou de andar e repassou sua fala na cabeça. Então, ficou todo vermelho e irritado pela insinuação o ter deixado constrangido. Kacchan não estava sendo ele mesmo!

— P-para com isso, Kacchan. Anda, vamos pra sala comunal dos dormitórios mesmo.

PLUS ULTRA

Isso tudo era estranho demais. Izuku jamais tinha pensado no Kacchan… assim. Não até essa situação idiota. Meu Deus, ano passado Izuku mal sabia se conseguiria voltar a ter uma amizade verdadeira com Kacchan, veja lá ter que lidar com ele querendo enfiar a língua em sua garganta. Ele nunca ousou considerar outro tipo de relacionamento com o rival, e acreditava que era melhor assim.

— Certo, Kacchan, você foi atingido por algum tipo de droga de quirk.

Izuku andava de um lado para o outro, segurando o lábio inferior com o polegar e o indicador enquanto Kacchan estava jogado no sofá, o seguindo com os olhos, totalmente a vontade.

— Parece falso, mas ok. Cê tá surtando atoa, Deku! Eu me sinto ótimo!

Izuku olhou feio para ele.

— Você chegou a ter taquicardia. Levou duas doses completas de uma droga de quirk desconhecida uma atrás da outra e ainda por cima tá agindo de forma estranha. Você não tá ótimo, Kacchan!

— Blá blá blá, te prefiro usando essa boca pra coisas mais úteis, tipo me beijar pra caralho.

Esses tipos de comentários frequentes e aleatórios que Kacchan ficava fazendo do nada sempre fazia Izuku parar no lugar e ter uma mini-crise mental. Toda essa experiência estava arrancando no mínimo 5 anos de vida dele.

— Kacchan, você tem tem que parar de falar essas coisas. É a droga, entende?!

— Argh, duvido muito, que cacete, mas e daí se for? Eu continuo querendo te beijar até você esquecer seu nome, porra!

Isso não tava levando nada pra lugar nenhum. Derrotado, Izuku sentou-se, longe do amigo de infância.

— O que precisamos é dar um jeito de descobrir com que tipo de quirk estamos lidando. Se conseguíssemos ao menos uma amostra… — Izuku murmurava consigo mesmo.

Kacchan, que por ter crescido com o nerd e andava com ele sempre, estava mais que acostumado a decifrar os murmúrios do amigo quando queria.

Haah? Tsc, já que você insiste nisso, então vou te ajudar. Mas só porque é você, e eu te amo, Deku.

O coração de Izuku parou.

Esse quirk definitivamente é perigoso.

Esfregando o rosto com a mão cicatrizada, Izuku refletia como isso se tornou sua vida.

— Pra começo do caralho da conversa, por que porra aquela vaca estava lá contigo, afinal?

Izuku pausou por um segundo, relembrando os eventos. Nada custava dividir informações, certo? Duas cabeças pensam melhor que uma.

— Tá… O quirk dela é de conseguir se disfarçar de outras pessoas, mas ainda não sei os detalhes por trás disso. Não entendi bem porque ela achou que seria uma boa ideia usar a sua aparência para me dar uma caixa de chocolates, já que é dia dos namorados e tudo o mais, e ela foi bem insistente em me dar esses chocolates.

— Vaca, quem ela pensa que é de usar a MINHA aparência, cacete? Aposto que os chocolates dela eram horríveis, jamais seriam gostosos como os meus.

— Ah, eu sabia que não era você de verdade. Os chocolates nem estavam abarrotados de canela, e foi aí que eu comecei a discutir com ela sobre qual o motivo de tudo aquilo. Ela foi bem insistente… em me fazer… comer. Espera.

Izuku arregalou os olhos.

— A Toga tem algum tipo de fixação comigo, então aproveitou que era dia dos namorados para me dar chocolates. Tudo normal se ela não fosse uma psicopata. E aquelas seringas… Ela gritou que não eram pro Kacchan, isso significa que… era pra mim? Ela tinha gritado alguma coisa… Algo como não deixar que Kacchan olhasse para mim...

Kacchan o encarava intrigado e levemente admirado.

— Então, o quê? Ela queria te deixar com vontade de namorar ela igual eu tô contigo? Que babaca fracassada! Eu sou bem melhor pro Deku do que essa psicopata esquisita!

— É isso! Era uma droga de fazer apaixonar pela primeira pessoa que aparecesse! Caramba, que quirk fascinante, quais serão as repercussões que isso tem no indivíduo responsável por isso? E como Toga conseguiu amostras desse tipo de líquido, será que a Liga dos Vilões conseguiram mais participantes ou-

Izuku foi interrompido de seus típicos murmúrios por um par de lábios colando nos dele. Em pânico, Izuku quase pulou para fora do sofá.

— K-KACCHAN! Você n-não pode fazer essas coisas, caramba!

— O quê? Você fica uma graça murmurando coisas sem sentido, mas tava ficando meio chato já, e pensei que esse é o melhor jeito de te fazer calar a boca. Ou… você não gostou? — Era estranho ver Kacchan com as bochechas ruborizadas e aquele leve olhar de insegurança. Uma quentura estranha se movimentou pelo peito de Izuku, e ele quase cedeu, indo beijar o amigo de novo para dizer que estava tudo bem.

Mas estava nada bem.

— S-se eu gostei ou não está além do ponto, ok? Não me pegue de surpresa assim, se quiser mesmo me b-b-beijar, você tem que pedir.

— Que chatice, mas tá bom. Só porque eu te amo, seu nerd do caralho.

Não ama, não, pensou Izuku amargamente.

PLUS ULTRA

Mais tarde, Izuku chamou Aizawa-sensei e juntos eles foram até Recovery Girl reportar tudo que ele descobriu.

Recovery Girl parecia um pouco preocupada e Aizawa-sensei parecia… bem, exausto, mas isso ele parecia sempre.

— Por que sempre que tem algum problema na escola são vocês dois? — Ele resmungou.

— Desculpe, sensei.

— Mas isso significa que não podemos prever quanto tempo o Bakugou vai ficar assim, Aizawa. — Comentou Recovery Girl. — O ideal seria investigar aquela sala vazia e ver se sobrou alguma coisa daquela droga.

E, é claro, Izuku se voluntariou para fazer exatamente isso. Ele estava agarrando qualquer desculpa para ficar longe desse novo e grudento Kacchan. Não que fosse… exatamente… ruim. Era mais desconcertante do que qualquer coisa.

Na sala de aula destruída, Izuku olhou em volta em choque. Ele realmente devia treinar mais esse quirk novo. Mas até o Kacchan voltar a normal, os treinos estavam completamente cancelados. No minuto que Izuku começou a trocar de roupa para a de ginástica, ele conseguiu sentir o olhar de Kacchan queimando. Era mais prudente manter distância, então.

Em um canto, perto da porta, debaixo de escombros, ele avistou uma solitária caixa de chocolate abandonado ali. Na confusão toda, Toga deve ter esquecido de pegar de volta. Parando para pensar… Ela foi bem insistente em fazer Izuku comer na frente dela. Será que…?

Izuku arfou com a realização e correu de volta para enfermaria, animado. Claro, havia uma chance dele estar errado, mas ele estava confiante em seu palpite. Com certeza ela deve ter colocado aquela estranha droga nos chocolates, certo?

PLUS ULTRA

Ficou estabelecido que Kacchan tem que ir para a enfermaria todos os dias antes da aula para fazer alguns exames e acompanhar o progresso dele sobre o estranho quirk, coisa que ele protestou sem parar até Izuku dizer que iria acompanhá-lo sempre. Kacchan, sempre esperto, barganhou para eles fazerem a caminhada até lá de mãos dadas - coisa que eles não faziam desde os 5 anos -, e Izuku foi fraco e não conseguiu dizer não. Além disso… Está frio, tá legal? As mãos do Kacchan são quentinhas. Não o julgue.

Pelo pouco que os professores conseguiram decifrar dos estranhos chocolates, é que ele parecia estar drogado com altas doses de feromônios. São cheirosos, mas relativamente inocentes. Aizawa-sensei tem a teoria de que a droga precisa ser ingerida ou ter contato direto com a corrente sanguínea, como foi o caso do Kacchan. É difícil estimar quanto tempo a droga vai ficar circulando pelo corpo do garoto explosivo, ainda mais porque ele levou duas doses, então o jeito era ter que lidar com esse novo e apaixonado Kacchan.

Fácil para todo mundo, menos para Izuku.

Para onde ele ia, Kacchan queria ir atrás. Ele olhava torto para Todoroki e Uraraka, como se quisesse puxar para uma briga, mas soubesse que se fizesse isso, Izuku não o perdoaria tão cedo.

Sem falar que agora eles andavam de mãos dadas, sempre. O pior de tudo era que Izuku nem estava incomodado. Ele não deveria estar incomodado? Por que então ele estava começando a… gostar disso?! Oh não, isso é muito ruim!

E os beijos. Deus, os beijos. Kacchan manteve sua palavra de que ia sempre pedir por um beijo ao invés de simplesmente partir para o ataque, e ele pedia por beijos no mínimos vinte vezes por dia. E, ugh, por que ele tem que fazer essa cara tão arrasada quando leva mais um não?!

Apesar que Izuku não está dizendo “não” diretamente. É sempre “mais tarde”, ou “agora não, Kacchan”, mas pela cara do amigo, ele sabia exatamente que Izuku estava fugindo.

Isso o impedia de continuar pedindo? Não.

— Deku, a aula já acabou. Posso te beijar agora?

Eles tiveram aula prática de heroísmo a tarde inteiro, e ambos estavam saindo do vestiário.

— U-um, agora não, Kacchan. Eu estava querendo ir adiantar o dever de casa…

— Ah. — Kacchan olhou pra baixo, tentando esconder o rosto vermelho mas suas orelhas o entregaram. — Tudo bem, então. Vamos lá.

— Oi?

— O quê? Também vou adiantar meu dever de casa. Posso estar apaixonado por você, Deku, mas sem chances que vou deixar você me ultrapassar. Eu que vou ser o número um, afinal.

Izuku começou a rir.

— Não, Kacchan, eu já te falei que eu que vou te ultrapassar!

Ficou decidido que eles fariam o dever de casa juntos no quarto de Izuku. O mais novo não pensou que havia algum problema nisso, afinal já estavam no terceiro dia com Kacchan drogado e parecia que os efeitos tinham começado a diminuir. Ele não parecia mais obcecado e doido para entrar nas calças do rival. Parecia completamente satisfeito em ficar só de mãos dadas enquanto eles faziam o dever, em confortável silêncio.

— Kacchan, não tem como eu escrever e ficar de mãos dadas contigo ao mesmo tempo. — Riu Izuku de um Kacchan indignado por não conseguir fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

— Fica quieto, Deku, estou pensando, porra.

Kacchan então tentou ficar de frente para Izuku na cama, o que não deu certo.

— Não vamos ter espaço pros cadernos.

Ele então resolveu ficar sentado no chão, contra a escrivania. Faria o dever no colo mesmo, usando alguns livros como apoio.

Era… bom.

Muito bom.

— Quanto trabalho só pra segurar minha mão, Kacchan. — Comentou Izuku, achando graça.

— Você vale a pena.

E essa resposta foi o que bastou para acabar com o bom humor de Izuku.

Não, eu não valho. Nada disso é real, e por diabos eu estou aqui ficando acostumado com esse Kacchan que acha que está apaixonado por mim?!

Mais de uma vez Izuku pensou em deixar as cartas na mesa e parar com essa farsa para se proteger. Mais de uma vez, Izuku pegou o rival o olhando como se soubesse exatamente o tipo de pensamentos o perseguem. Mas ele falava nada a respeito, e Izuku também nada dizia.

No fundo, somos dois covardes, Kacchan.

Já era noite quando os dois terminaram todas as lições. Izuku olhou para baixou e encontrou os olhos vermelhos de Kacchan o encarando. Esperando. Pelo quê? Que Izuku confessasse que a situação estava ficando perigosa demais para o seu próprio coração? Que ele o expulsasse dali de uma vez?

Izuku… — Kacchan sussurrou, como se estivesse com medo de quebrar o clima gostoso. — Posso te beijar?

Sinceramente, como Izuku poderia continuar a dizer não para isso?

Lentamente, Izuku aquiesceu.

Foi como se tivesse ativado alguma coisa em Kacchan, que praticamente voou até a boca dele. Ele beijava com fúria, com saudade, com tanta intensidade que Izuku praticamente gemeu contra os lábios do amigo. Havia tantas emoções naquele beijo, que estava o deixando tonto.

Kacchan mal dava tempo para respirar, sempre voltando para pegar mais. Do quê, Izuku não sabia, mas Izuku jamais negaria algo a Kacchan. Parecia até que ele estava com medo do mais novo mudar de ideia e o expulsar do quarto.

Mas Izuku não era mais o tipo de garoto que simplesmente ficava parado e aceitava o que vinha até ele. Com a mesma intensidade que Kacchan dava, Izuku retrucava. Havia muita coisa não dita naquele simples beijo que cada um tentava revelar.

Nenhum garoto saberia dizer quem foi o primeiro a introduzir a língua na boca do outro, um mais faminto que o outro. Em meio a beijos e abraços, Izuku acabou sendo colocado em cima da escrivania que antes tinha todos os cadernos e action figures do All Might, e agora encontravam-se jogados no chão.

Izuku prendeu Kacchan com as pernas no lugar, quase com medo de quebrar esse momento se deixasse o garoto explosivo escapar. As mãos de ambos não paravam de tocar o outro em todos os lugares que encontravam, como se estivessem tentando gravar na memória.

— Kacchan…

— Não fala nada.

Izuku não saberia dizer por quanto tempo ambos se beijaram. Poderia ter sido um único segundo ou então uma vida inteira. Quando eles enfim se separaram, Izuku mal conseguiu reparar nas lágrimas que invadiram seus olhos.

Mas Kacchan notou.

Sem dizer nada, ele limpou as lágrimas do rosto cheio de sardas do mais novo.

Diferente do que Izuku esperava, Kacchan não perguntou porque ele chorava. Apenas o segurou ali, o encarando com aquela intensidade que fazia Izuku pensar que ele podia ver até a alma do garoto.

— Isso não é real. — Murmurou Izuku.

— Eu não ligo pro caralho que é real. — Respondeu Kacchan com intensidade.

— Vai ligar quando o efeito desse quirk do amor passar.

— Você não sabe disso.

— Ah, sei sim. Kacchan, eu te conheço desde que me entendo por gente. Você vai me odiar ainda mais.

— Deku, eu nunca te odiei. Eu-

— É, é, “me ama”. — Interrompeu Izuku, amargo, fazendo aspas com os dedos. — Estou sabendo. Você sabe muito bem que sua cabeça está conjurando esses sentimentos aí.

Kacchan parecia irritado, o segurando mais forte pelo rosto e juntando suas testas.

— Me escuta, porra. Independente do que você acha o que são a porra dos meus sentimentos agora, o caralho das minhas memórias continuam intactas. Tô falando que nunca te odiei de verdade.

Izuku ainda parecia cético, os olhos verdes brilhando pelas lágrimas que não cessavam seu caminho.

— Eu… Te respeitava, lá no fundo. E então ficava com medo por sentir esse tipo de coisa por um ninguém sem-quirk. Porque… Se você já era um herói natural quando novo, mesmo estando abaixo de todo mundo, então… Então do que isso fazia de mim, porra? Eu queria te odiar. Mas eu nunca consegui fazer isso, Izuku. Nunca.

— Kacchan…

— Mas você… Me admira você não me odiar, depois de tudo. Não que eu vá reclamar muito, já que eu te amo e tudo o mais.

— Kacchan, eu jamais poderia te odiar. Ficar com raiva, exasperado ou sem paciência sim. Mas ódio… Eu te admiro demais pra isso. Kacchan, eu te adoro.

O mais assustador é que Izuku estava sendo 100% sincero. Ele nunca tinha percebido até agora, mas é como se esses sentimentos sempre estivesse enterrados ali, esperando ele tomar conhecimento deles.

O que torna tudo mil vezes mais doloroso.

— Você precisa ir embora, Kacchan. — Murmurou.

— Por quê?

— Sabe muito bem o por quê.

— Acho que não, porque se for o que tô pensando, então é uma idiotice sem tamanho e eu deveria era explodir sua cara.

— Você devia parar de fazer ameaças que não pretende cumprir, sabe.

— E você devia parar de fugir do que te assusta. Achei que tinha parado com essa porra no fundamental.

— Kacchan não entende…

— Eu entendo muito bem que você tá com medo de me amar também.

Não existe um também! Que inferno, Kacchan, você sabe muito bem que quando esse cacete de quirk deixar o seu sistema tudo isso vai acabar. E então vai… Vai ter nojo de mim ou sei lá!

— Para de presumir, caralho! Você sempre foi assim, me irrita pra cacete. — Explodiu. — Não decida meu futuro por mim, porra!

— Se te irrita tanto, por que está aqui?! — Gritou Izuku.

Por que eu te amo! Já falei mil vezes e vou falar mil vezes mais até você aceitar isso nessa cabeça dura e vazia, seu nerd de merda. Quando essa porra de quirk parar de fazer efeito, vou continuar te amando. Se você me expulsar do seu quarto, vou continuar te amando. Se você começar a me odiar por isso, vou continuar te amando pra caralho. Deu pra entender, porra?!

Izuku não poderia ter impedido os soluços nem se quisesse. Felizmente, Kacchan já esperava por isso, e simplesmente abraçou o mais novo, enterrando a cabeça dele em seu ombro.

Nossa, como Izuku queria acreditar nisso. Queria com todas as forças. Ele só queria que esses últimos dias não fossem perdidos. Ele só queria Kacchan.

Naquela noite, Izuku chorou até dormir. Kacchan o levou até a cama, beijando suas lágrimas o tempo inteiro e apenas o abraçando, deixando o amado desabafar.

No dia seguinte, Izuku acordou sozinho e com frio.

PLUS ULTRA

O efeito havia passado.

Era a única explicação.

Izuku nem se deu o trabalho de ir para a enfermaria ver o amigo.

Correu para a aula, torcendo com todas as forças para que Kacchan já esteja em sala e que não se lembre de nada. Seria melhor assim, tentava se convencer.

Na sala 2-A, ninguém conseguia encarar Izuku. E isso foi o suficiente para a realização vir.

Kacchan não estava mais sob efeito do quirk. E ele não se lembrava de ter amado Izuku.

Isso deveria ser um alívio, certo?

O fato de Kacchan não ter se virado para dar-lhe bom dia não deveria ter machucado. Isso era o normal, droga.

— Bom dia, classe.

Você sabia que isso ia acontecer.

— Recovery Girl acabou de me informar que o Bakugou não tem mais resíduos daquela substância na corrente sanguínea. A teoria é que a aula prática de ontem ajudou a acelerar o processo, já que ele usou o suor para os treinos.

Não se atreva a chorar…

Um papel caiu em cima da mesa de Izuku.

Ele ficou tão desconcertado que as lágrimas que estavam começando a acumular até pararam.

Ground Beta. Depois da aula. Não se atrase.

Desnecessário dizer que Izuku ficou encarando a parte de trás da cabeça do amigo de infância pelo resto do dia.

— Deku-kun, está tudo bem contigo? — Era Uraraka.

Ela e Iida estavam ao lado da mesa de Izuku enquanto ele arrumava suas coisas apressadamente. Kacchan já havia saído.

— Umm. Sim, claro, por que não estaria?

— Bem, considerando a situação com o Bakugou-kun-

— Ummm então gente eu tenho que ir, mais tarde nos falamos!

— Midoriya-kun-

Mas Izuku não ficou para ouvir mais. Driblou os amigos e correu para o Ground Beta, onde o culpado por suas preocupações estava. Não conseguia sequer imaginar que tipo de assunto Kacchan, agora curado, teria, mas considerando o cenário do encontro, Izuku suspeitava que uma nova briga se aproximava.

— Você se atrasou.

Kacchan já estava lá, sentado no chão e olhando para o céu. Izuku tentou não sentir o deja vu, mas aquela expressão serena no rosto bonito do mais velho não estava ajudando.

— A-ah, desculpe. Iida-kun e Uraraka-san-

— Não me importo com os fracassados dos seus amigos. Enfim, você tá aqui agora.

Izuku não disse nada. Seu coração latejava de preocupações e esperanças que ele recusava entreter. E, afinal, não havia nada que ele queria dizer.

Pelo menos era isso que ele repetia a si mesmo para lutar contra a vontade de gritar para os céus.

Izuku se recusava a ser o primeiro a dizer algo, tinha medo do que poderia sair de sua boca. Então apenas sentou no chão, ao lado de Kacchan, e esperou.

E esperou.

E esperou.

O sol já estava se pondo, e Izuku pensava se deveria apenas ir embora, quando Kacchan enfim abriu a boca.

— Eu menti.

— E-eh?

— Menti sobre não me lembrar de nada. Só queria que aqueles extras parassem de me encher o saco sobre isso, até porque, isso nem é do caralho da conta deles.

Izuku tentava calcular o quão rápido ele conseguiria ser para chegar no seu quarto e trancar-se lá pelo resto da vida.

Kacchan respirou fundo antes de, quietamente, perguntar:

— Você estava falando sério? Quando disse que não poderia me odiar?

— Kacchan, tudo que eu disse era verdade. — Izuku sussurrou.

O amigo de infância parecia estar debatendo algo consigo mesmo, até por fim decidir apenas falar de uma vez. Ele sempre sentiu-se mais confortável de ser vulnerável com Izuku, mesmo. Sabia que poderia apenas abrir o jogo e ir em frente.

— O que estou dizendo… Inferno… É que eu não… Odiei… Aqueles dias a-apaixonado por você. E queria te perguntar… Se a gente podia continuar como era quando eu estava sob efeito daquele caralho de quirk.

Os olhos de Izuku estavam tão arregalados que pareciam mais dois pratos.

— Quê.

— Seu nerd de merda do caralho, me recuso a ter que repetir-

— Eu te ouvi. — Interrompeu Izuku, que logo notou que Kacchan estava ficando constrangido e na defensiva. — Só não estou acreditando. Você… Não ficou enojado?

Kacchan pareceu ficar verdadeiramente com raiva.

— Mas que porra, hein. Já falei que não! Tá surdo, é? Enfim, você quer ou não?

Izuku piscou algumas vezes, e lentamente começou a sorrir, malicioso. Afinal, a oportunidade era boa demais...

— Se eu quero o quê? Você não me perguntou nada ainda.

— Você sabe muito bem do que tô falando, seu merda. — Kacchan estreitou os olhos, entendendo o joguinho.

— Será? Acho que não. Como posso saber do que você se refere se nem me perguntou nada?

— Deku de merda. Eu vou é te matar, isso sim. — Mas o sorriso que teimava em aparecer mostrava seus verdadeiros sentimentos.

— Já falei que você devia parar de fazer ameaças que não pretende cumprir. — Sussurrou Izuku, chegando mais perto.

— E eu já falei que você devia parar de fugir. — Sussurrou de volta.

— Pareço estar fugindo pra você?

— Deku. Não estou apaixonado por você, mas até que gostei da sensação. Quer sair comigo?

— Que romântico.

— Dá pra responder de uma vez ou-

Izuku o interrompeu com um beijo rápido, se afastando logo depois, vermelho. Por um minuto, nenhum de mexeu. Então, devagar, Kacchan começou a sorrir de lado.

— O que aconteceu com aquela porra de história de ter que pedir por beijos? — Perguntou Kacchan, achando graça.

— O quê? Não gostou?

— Não deu pra decidir, foi rápido demais. Volta aqui, porra.

E Izuku voltou para os braços de Kacchan, de onde ele não saiu mais.

♤◇

Era incrível como um tiro poderia sair pela culatra. Quando Himiko escapou da UA, não esperava passar tantas horas fugindo e escondendo seus rastros dos profissionais. Mesmo que essa não tenha sido a primeira vez que ela tenha fugido das autoridades, isso nunca deixava de ser perigoso. Se ela for pega, como ela ficaria com Izuku então?

Felizmente, tudo ocorreu sem problemas. Ela conseguiu escapar, mas teve que aguentar o gosto amargo da decepção por saber que falhou com seu amor. Ele nem chegou a provar os chocolates que ela pediu para o Jin fazer com tanto carinho…

Himiko voltou para o galpão onde Cupido ainda estava, parecendo cada vez mais fino e sem amor à vida. Não que ela se importasse, mas enfim…

— Ei. Loirinha. — Ele chamou, já além do ponto de tentar ficar quieto para se proteger. — Você sumiu por mais tempo do que imaginei. Não rolou com teu crush?

— Não. — Ela resmungou, emburrada.

— Se você tivesse me ouvido, eu explicaria que meu quirk não funciona desse jeito que vocês pensam. Meu suor faz as pessoas afetadas se apaixonarem por pessoas que elas já tenham afinidade. Eu só aumento o nível de feromônios que eles recebem daquela pessoa especial, entendeu! Faz semanas que tô tentando colocar isso na cabeça de vocês, mas ninguém me escuta, inferno! — Explodiu Cupido, os olhos rosas faiscando em revolta.

Espera um minuto.

Então foi tudo pra nada?

Himiko estava tão chocada que a fúria demorou um pouco mais para vir. Cupido deve ter sentido que coisa boa não estava vindo, porque automaticamente se calou depois de ver a expressão no rosto de Himiko. De repente, como um anjo salvador, a voz animada de Jin chegou até o galpão.

— Himiko-chan! Aqui está você! Sabe, eu sei que disse que não ia comer aqueles chocolates, mas acabei comendo mesmo assim e agora estou com uma súbita vontade de pegar na sua mão. Não, não quero pegar na sua mão. Espera, quero sim. E talvez te dar um beijo ou dois. Ou não.

Eh, bem, Jin não é nenhum Izuku, mas certamente dá pro gasto. Cupido agora esquecido, Himiko deu a volta e foi até Jin, certa de que seu dia dos namorados não seria perdido.

— Certo, Jin. Vamos assistir um filme.

Com os pombinhos agora distraídos, o jovem de olhos rosas conseguiu roubar uma das facas da maluca vampira, e cortar suas amarras. Tão aliviado que poderia desmaiar, o jovem juntou o resto de suas forças para conseguir escapar daquele galpão amaldiçoado.

Agora que a verdade estava aí, eles veriam que ele seria inútil para o que a Liga dos Vilões quer, e então o matariam. Era melhor fugir agora e torcer que eles não venham atrás dele novamente.

Só esperava que a floricultura onde ele trabalha não o demita por ter sumido por tanto tempo, ele precisava desse emprego para pagar a faculdade…

 


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Notas finais do capítulo

e é isso!



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