Cosplay gogo escrita por Gannimedes


Capítulo 3
Esta deveria ser mais uma tarde de cosplay...




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Durante o intervalo na escola, Haru e seus dois amigos estavam sentados à mesma mesa da cantina, enquanto almoçavam. Havia muito barulho por causa do movimento e as varias conversas acontecendo em cada canto, mas mesmo assim Ken conseguia se focar em comer e ao mesmo tempo um lápis furioso em uma de suas mãos rabiscava a superfície de um caderno ao lado de seu prato. Haru não demonstrava nenhum interesse no que o amigo estava fazendo, mesmo observando as varias caretas que fazia enquanto escrevia. O silencio entre os três permaneceu ate o próprio Ken abrir a boca primeiro:

—Notaram que vários dos casais de nosso colégio estão se desfazendo?

—Verdade? Nem percebi. –Respondeu Haru sem retirar os olhos do prato. –O que tem de interessante nisso?

—Essa pode ser nossa chance de conseguirmos algo, Ichiro.

Ele se direcionou ao amigo que também estava sozinho, Ichiro, contudo ele também se mostrou mais interessado em seu prato de comida do que no assunto de Ken.

—De acordo com minha pesquisa, o fato mais comum para o termino de namoro atualmente, tem sido por causa de namorados chatos...

—Serio? Não me diga... –Haru falou com ironia.

—Sim! E as causas que mais se destacam são: Namorados que sempre conversam sobre assuntos chatos, namorados que fedem e...

Ate então, Haru não tinha apresentado nenhuma reação à conversa de Ken, o achando um verdadeiro mala, mas seu ultimo pronunciamento fez Haru vibrar em seu assento.

—Namorados com fetiches estranhos...

Haru ergueu a cabeça violentamente, e em seguida agarrou o próprio pescoço se engasgando com a comida. Ken e Ichiro apenas observaram enquanto ele se contorcia, ate conseguir respirar normalmente apos de alguns segundos.

—Como assim, fetiches estranhos?! –Falou com espanto.

Haru não conseguia deixar de se preocupar, mesmo que para ele, estivesse bem claro que sua namorada, Botan, aprovasse seu curioso fetiche por roupas femininas.

—Se eu fosse você Haru, ficaria bem atento a estes detalhes, não te queremos depressivo pelos cantos da escola sabe...

Ken falava como se já soubesse de algo, e Haru não conseguia esconder sua preocupação. Foi dai que as ideias começaram a convergir em sua mente: Atualmente Botan não demonstrava insatisfação, e ate mesmo parecia gostar da ”tarde de cosplay”, mas depois que ele parou para pensar com mais cuidado, eles não costumam fazer muitas coisas que casais comuns fazem. No máximo assistem alguns filmes juntos em sua casa, mas ele podia contar nos dedos de uma mão, quantas vezes fazem isso durante o mês. Todos estes pensamentos o deixavam inquieto.

—Então Ken... –Chamou nervoso. –Vamos imaginar uma situação hipotética:

—Sim. –Respondeu.

—Digamos que exista um cara que se pareça comigo, tanto em personalidade quanto em porte físico... Mas não sou eu! –Ele enfatizou a parte “não sou eu”.

—Sim. –Respondeu Ken.

—E vamos fazer de conta que este cara hipotético tenha uma namorada que se pareça com a Botan...

—Sim, sim... –Ken respondeu sem perceber nada de errado.

—Então, imagine que este cara, que não sou eu, tenha esses fetiches estranhos, e sua namorada já tenha conhecimento, e demonstre gostar também... Acha que tem algum perigo deles se separarem nesta situação completamente hipotética?

Ichiro que estava presente e completamente despercebido, estava atento a conversa, mas permanecia em silencio, ainda se servindo com a comida da escola.

Ken cruzou os braços e fechou brevemente os olhos, e em seguida, respondeu de uma forma agressiva:

—Claro que tem! –Berrou, deixando Haru com os olhos escancarados. –Esta garota pode estar fingindo gostar deste cara, para ver se algum dia ele se toca de estar fazendo tudo errado!

—Se ele se toca? –Respondeu com voz tremula.

—Lembre-se de que as garotas são difíceis de entender, então não da pra ter certeza de que ela realmente aprova isso. Se esse cara demorar demais para se tocar, é capaz dele levar um pé na bunda.

Haru engoliu seco e se sentou com uma expressão assombrada, seu olhar estava vazio e sua mente totalmente perdida em seus pensamentos... Tão perdida que se assustou quando Ken subitamente avançou em sua direção agarrando a gola de seu uniforme:

—Haru, agora é um papo reto! –Berrou na cantina. -Eu preciso que você consiga o numero da sua prima para mim!

—De novo com essa historia! Vá se ferrar!

Haru o empurrou para longe, e se levantou da mesa levando seu prato vazio, para devolvê-lo a cantina e retornar para a sala de aula.

Como era de costume, Haru foi ate o colégio de Botan, que ficava a alguns quarteirões de distancia. Enquanto que todos os alunos passavam pelos portões, Haru avistou Botan acenando para ele a metros de distancia, misturada na multidão. Ela se aproximou dele radiante como sempre faz, mas Haru estava com uma expressão nublada no rosto.

—Haru? Aconteceu alguma coisa? –Perguntou a garota.

—Ah, não. –Ele forçou um sorriso assim que percebeu que fazia cara de bunda.

—Então vamos para a sua casa ter uma tarde de cosplay, que você tanto adora.

—Ela disse “o que eu adoro”. –Ele pensou em pânico. –Isso significa que ela só faz isso por que eu gosto? Então cedo ou tarde ela vai se cansar de mim...

—Botan! –Interrompeu-a. -Vamos fazer algo diferente hoje.

—Hã...? Certo... –Respondeu achando estranho. –O que vamos fazer então?

Haru deu as costas para Botan, e enfiou a mão no bolso com muita dor, retirando sua carteira para conferir quanto dinheiro carregava, felizmente ela estava razoavelmente cheia, o triste e que em breve estará vazia, e estas eram economias para comprar mais fantasias. Ele se virou novamente para ela com um sorriso torto:

—Vamos assistir a um filme no cinema?

Botan não escondeu sua expressão... Não de duvida, e sim de preocupação. Haru estava agindo de uma forma tão imprevisível, que parecia ter adoecido. Botan sentia a necessidade de interna-lo agora mesmo, mas decidiu mantê-lo em observação, por enquanto...

—Certo, então vamos fazer isso. –Ela sorriu.

Eles caminharam ate o centro da cidade que não ficava muito longe, e chegando ao cinema, foram logo olhar quais os filmes estavam em destaque:

—“Infestação das aranhas”. –Haru leu em um cartaz na portaria do cinema.

—“A espada magica”. –Falou Botan, lendo a outro cartaz.

Haru pensou que o filme no qual Botan demonstrou interesse pudesse ser do agrado de ambos, já que se tratava de algo com tema medieval e fantasia, mas então ele olhou o cartaz ao lado:

—“Observando ao por do sol ao seu lado”.

Este se tratava de um filme de romance, e logo veio a sua mente que seria o tema que sua namorada provavelmente amaria.

—Vamos assistir este! –Falou decidido.

—Hã? Esse? Tem certeza?

Botan não conseguia acreditar de verdade que Haru estava tomando estas decisões curiosas por si só. “Deve haver algum alienígena implantado em seu cérebro, o controlando” era o que ela pensava.

De qualquer forma, eles acabaram entrando nas salas escuras do cinema, e quando o filme começou, precisaram se segurar para não caírem no sono. Botan tentava se manter ereta na cadeira para demonstrar o mínimo de interesse (ou fingir) enquanto sua mente se entupia de pensamentos:

—Eu não sei por que o Haru de repente decidiu que queria assistir a um filme tão tedioso... –suspirou. –Eu preferia muito mais estar na casa dele fazendo cosplay, mas... Ele e meu namorado, depois de tudo... Acho que vale a pena fazer este sacrifício por ele... desta vez.

Botan se esforçou para fazer uma expressão “interessada”, juntando as mãos e sorrindo radiante, com os olhos presos na tela do cinema. Haru que estava sentado bem ao seu lado (e quase caindo no sono por sinal) viu a expressão feliz nos lábios da namorada, e logo pensou:

—A Botan está mesmo gostando deste filme! Pelo menos isso eu acertei, mas não sei se vou sobreviver ate o final... Não! –Haru deu um tapão duplo em ambas as bochechas. –Eu preciso ficar acordado ate o fim... Eu posso fazer isso pela Botan!

Botan olhou para Haru, e viu nele uma expressão feliz, pensando que ele estava aproveitando o momento. No fim, os dois caíram no sono, e só acordaram quando as luzes se acenderam. Eles se levantaram de suas cadeiras assustados, saltando e se esforçando tanto em disfarçar que cochilaram durante mais da metade do filme, que um nem percebeu que o outro havia dormido.

Eles saíram do cinema em silencio, parando de frente a uma movimentada avenida, e enquanto aguardavam para atravessa-la Haru resolveu quebrar o gelo:

—Então Botan, esse filme foi incrível não foi? –Ele falou fingindo ter gostado pra ela.

—Ah sim! Foi ótimo. –Ela respondeu fingindo ter gostado para ele.

Eles voltaram a ficar em silencio, apenas escutando os sons dos carros passando rapidamente por eles.

—E de qual parte você mais gostou? –Haru retomava o assunto.

—Ah! Bem... –Os olhinhos verdes de Botan giravam enquanto ela buscava uma boa resposta, já que não se lembrava de absolutamente nada do filme. –Ah! –Teve a reação de ideia repentina. –Eu adorei a parte do beijo. –Falou e virou o rosto, para esconder sua expressão horrível.

—Ah, sim. -Respondeu Haru. –Eu gostei desta parte também, ha ha ha.

O silencio voltou, e o sinal finalmente se abriu. Eles atravessaram a avenida em silencio, e quando chegaram do outro lado, continuaram em silencio. Haru novamente sentiu que precisava falar algo:

—Botan. –Ele chamou, assim pode olhar fixamente nos olhos dela. –Você gostou mesmo desta tarde? –Haru perguntou com uma expressão mais séria.

Botan olhou bem para ele e viu a seriedade em seu olhar, sentia vontade de ser sincera também, mas não teve coragem, no fim ela hesitou:

—Claro! Eu sempre me divirto quando estou com você! –Ela sorriu.

—Que bom, podemos voltar aqui mais vezes... Três vezes por semana, eu sei lá... O que você ach...

Haru se interrompeu quando voltou a olhar para a namorada. Ela estava com a cara amarrada e os braços cruzados, se segurando para não voar em seu pescoço.

—Nem pensar Haru! Não me traga aqui de novo! –Ela elevou o tom de voz, e toda a gentileza e delicadeza que falava antes se perdeu. –Eu não sei o que deu em você, mas eu gostaria que você voltasse a fazer coisas que sempre faz!

—Por que isso Botan?

—“Por que isso?” eu é que pergunto. –Falou elevando cada vez mais o tom de voz.

—Eu percebi que eu te arrasto para minha casa, e lá fazemos um monte de coisas estranhas do meu agrado, então eu pensei que pelo menos às vezes, você gostasse de fazer coisas que casais normais fazem. No fim eu só estava pensando em você...

Haru ficou todo encolhido como um cachorrinho pedindo comida. Botan suspirou e começou a se sentir mal por ter sido tão dura.

—Haru... –Ela se aproximou dele e acariciou sua cabeça. –Você não e um garoto normal...

—Botan isso foi cruel! –Haru resmungou.

—Mas eu também não sou uma garota normal, e juntos não somos um casal normal... Não precisamos fazer coisas que casais normais fazem!

—Eu não sei Botan... Eu sinto que você e tão boa, que não sei se ama de verdade esse individuo insignificante.

—Então você se sente inseguro...?

Haru ficou em silencio olhando para o chão. Botan suspirou fundo e deu um passo à diante, estendeu suas mãos e tocou suavemente no rosto de Haru. Ela olhou fixamente no interior de seus olhos, e deu mais um passo na sua direção. Botan foi aproximando seu rosto lentamente, ao mesmo ritmo que fechava seus olhos. Haru estava tão nervoso que seus olhos se abriram mais do que ele acreditava ser capaz, olhando de um lado ao outro, as pessoas que passavam e ficavam encarando curiosas. Pouco depois ele sentiu os lábios suaves de Botan tocando nos seus.

—Que beijo doce... –Pensou Haru, já com os olhos fechados.

Eles beijaram por um longo tempo, e depois se envergonharam, quando perceberam os olhares das pessoas que passavam pelo local, direcionados para eles. Haru permaneceu com um olhar envergonhado, e com o corpo completamente paralisado.

—Haru, não precisa ficar tão inseguro, -Falou Botan olhando fixamente nos olhos de Haru, ainda com as mãos em seu rosto. -Eu nunca iria fingir gostar de algo, se eu realmente não gostasse.

Haru estreitou os olhos, encarando-a e imaginando seu nariz crescendo. No fim, ele não conseguiu falar nada sobre isso.

 -E, além disso, você tem muitas qualidades. –Sorriu gentilmente.

Nem de sua mãe Haru escutava estas palavras, emocionado sentiu algumas lágrimas escorrerem dos olhos.

—Eu tenho? Quais?

—Bem... –Ela pensou. –Eh... –Ela pensou mais ainda. –Pensando bem, acho que você não tem qualidades...

—Botan! –Falou aborrecido, sentindo um balde de água caindo sobre si.

—É como a mamãe sempre diz: “eu não sei o que você vê neste rapaz”, a verdade é que nem eu mesma sei o que vejo em você...

Haru teria desabado em lágrimas, se Botan não tivesse completado sua frase:

—Mas eu me divirto sempre que estou com você... E eu sempre quero estar com você... Isso é amor, certo?

Ela o encarou nos olhos tão fixamente que Haru conseguiu ver toda a sua sinceridade... Talvez sinceridade ate demais, e a respondeu com mais sinceridade ainda:

—Botan, você é terrível para consolar as pessoas, e eu nunca vou depender de você quando estiver para baixo.

—Ei! Estou me esforçando para dizer coisas legais. –Respondeu brava.

—E não está dando certo! –Ele colocou a mão na testa, e sacudiu a cabeça. –Você é péssima para consolar as pessoas, mas... É a melhor namorada... –Falou envergonhado.

Haru segurou firme na mão de Botan, de um jeito que conseguia transmitir o sentimento de felicidade pra ela. Seu rosto estava sereno, e Botan conseguiu enxergar algumas lágrimas se formando nos olhos de Haru, o que a deixou igualmente feliz.

—Haru... –Chamou, enquanto caminhavam para casa. –Quando estivermos sozinhos na sua casa amanha, vou te dar outra prova do meu amor! Nos vamos fazer “aquilo”.

—“Aquilo”? –Haru perguntou, já se sentindo excitado.

—Sim! Uma tarde de cosplay! –Ela anunciou radiante.

—Claro! –Haru a abraçou-a forte.


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Notas finais do capítulo

Então, este é o fim da historia de Haru, XD. espero que tenham gostado, então... ate o próximo projeto.



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