Cosplay gogo escrita por Gannimedes


Capítulo 1
Uma tarde de cosplay




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Era um dia no meio da semana em um shopping local. Mesmo no meio da tarde o movimento era elevado, e no meio do mar de pessoas estavam Haru, o personagem principal desta historia e seus dois amigos.

Haru não tinha nada de interessante, apenas um estudante comum com cabelos castanhos e olhos da mesma cor, era um pouco mais baixo e mais magro que a media de garotos de sua idade. Haru não era do tipo de garoto que gostava de sair com os amigos e fazer coisas que rapazes normais da sua idade fazem, e sim, ficar trancado em sua casa provavelmente grudado em seu computador (isso que seus amigos pensavam, já que não tinham certeza do que ele fazia trancado em casa, mas eles sabem que ele é um nerd).

Seus amigos estavam tão entretidos em uma conversa engraçada que demoraram para perceber que Haru tinha ficado para trás, seu rosto parecia pálido e seus olhos fixados em uma loja em especial. Os dois amigos se aproximaram curiosos e viraram seus olhos na mesma direção que Haru. A loja na qual encarava fixamente se tratava de uma loja de roupas, que ate então era aceitável, porem os olhares dos amigos se voltaram para Haru, curiosos, se recusando a creditar: O que Haru encarava com tanto interesse na verdade era uma loja especializada em roupas femininas. Seus olhos brilhavam de uma maneira curiosa diante as peças na vitrine, o que fez os garotos perguntarem:

—Haru? –Chamou Ken, um de seus amigos com os olhos escancarados.

—Por que olha para esta loja com tanto interesse? –Completou o outro amigo, Ichiro.

A expressão alegre além da conta no rosto de Haru se tornou apavorada. Ele puxou a gola da camiseta de forma desconfortável e seus olhos giravam como se ele tivesse sido pego cometendo um crime.

—Há... Vocês sabem... –Falou sentindo o suor escorrer pelo pescoço, enquanto pensava em alguma saída. –Eu tenho uma namorada, lembram?

Os dois amigos passaram alguns longos segundos se entreolhando em silencio e em seguida quebraram o gelo se afogando em gargalhadas.

—Sim! É mesmo, você tem. –Ken falou limpando as lagrimas de tanto rir.

—É que mesmo você sendo um nerd conseguiu uma namorada. –Continuou Ichiro.

—Pois é... –Haru deu uma risadinha desconfortável.

—Faz todo sentindo você ficar olhando para estas roupas, louco para comprar pra ela, hahahaha. –Se matava de rir, Ken.

—hahaha... Pois é. –Concordou Haru.

—Por um momento eu pensei que você estava interessado nestas roupas. –Falou o outro amigo rindo aliviado.

—Claro que não... Quem você pensa que eu sou? –Haru respondeu sem graça.

—Mas o jeito que você encarava parecia que queria comprar para você, hahaha.

—Isso seria estupido não e verdade? –Respondeu se sentindo sufocado.

—Pareceu ate que você ficaria feliz vestindo aquelas roupas.

Haru congelou de forma suspeita... Para tudo o que disseram antes ele havia dado uma resposta aceitável, mas desta vez ele permaneceu em silencio. Os dois o olharam mais fixamente e desconfiados. Haru engoliu seco e voltou a se sentir sufocado, submetido pelos olhares de seus amigos precisou recuperar o folego para se defender:

—Haha ha! Eu já disse que isso é tudo uma bobagem! Vocês tem uma imaginação muito fértil.

Ele forçou uma risada percebendo que os amigos não estavam muito convencidos, e ficando sem argumentos, logo tratou de mudar o assunto.

Mais tarde Haru estava finalmente na porta de sua casa. Ele retirou do bolso a chave e destrancou a porta a suspiros, colocou os pés para dentro e atirou sua mochila em cima do sofá, caminhou ate a cozinha e bebeu um copo de agua. Com os pais trabalhando durante todo o dia, tinha a impressão de morar sozinho, e a casa era inteiramente dele, na parte da tarde. Aproveitando desta privacidade é que ele se dedica aos passatempos, as coisas escondidas que fazia sozinho em casa: fantasiar-se de personagens de jogos, quadrinhos etc. Mas seu jeito de se fantasiar era bem peculiar... Ele gostava de se vestir exclusivamente de personagens femininas!

Além de colocar uma peruca de cabelos longos e lisos, um vestido cheio de babados, e maquiagem, ele chegava a incorporar completamente o personagem falando alto como se estivesse ensaiando para uma peça de teatro. Tudo o que ele fazia se parecia muito com um grande teatro indo de um lado ao outro da sala chegando a subir nos moveis se necessário. Ele se divertia e se sentia seguro com a porta fechada e as janelas cobertas pelas cortinas, realmente estava à vontade... Tão a vontade que seu coração quase saiu pela boca quando foi surpreendido por uma voz que ecoou do outro lado da porta da frente:

—Haru? Você esta ai?

Uma voz feminina e familiar fez sua espinha congelar e seu estomago se comprimir.

—Botan?

Ele respondeu por impulso e em seguida tampou a boca com as mãos, pensando na burrada que acabou de fazer. Botan era a namorada nerd de Haru, e mesmo sabendo que às vezes ela costumava fazer estas visitas repentinas à tarde, ele se descuidou. Seus órgãos internos começaram a se revirar quando ouviu o som da maçaneta se remexendo, e logo depois a luz entrou pela porta aberta, e por trás dela estava sua namorada de pé, olhando diretamente para ele. Botan estava com ambos os braços entupidos de sacolas que foram ao chão quando ela viu Haru parado do outro canto da sala com o rosto pálido igual à de um fantasma. E a reação da garota foi mesmo a de ter visto um.

Botan era uma menina extremamente fofa, com seus longos cabelos anelados, presos com duas chuquinhas de cada lado. Seu rosto era delicado e ficava ainda mais fofo em conjunto com seu par de óculos,  tão grandes quanto seus redondos olhos verdes cor de esmeralda. Ela era alguns dedos mais baixa que Haru e tão magra quanto ele, e isso passava a impressão dela ter seios grandes, que ficavam em contraste com sua magreza.

Botan ficou calada e imóvel na entrada da casa por um bom tempo. Haru também estava em choque, mas conseguiu reunir coragem para tentar explicar a situação:

—Espera Botan! Não e o que parece...

—E-eu não acredito nisso Haru... –Ela respondeu cobrindo a boca com as mãos.

—Eu posso explicar! –Ele falou apavorado.

—Haru... Eu não posso acreditar que você começou a fazer cosplay sem mim... Imperdoável!

—Botan...

Haru finalmente se mexeu e se aproximou da namorada para abraça-la.

—Você sabia que eu viria hoje e nem me esperou! Eu trouxe um monte de roupas para este momento, e você faz isso! –Inflou as bochechas, nervosa.

Ela apanhou todas as sacolas jogadas no chão e as abriu mostrando o que tinha dentro: estavam cheias com as roupas de que havia falado. Ela retirava um vestido atrás do outro e estendia na frente de Haru já imaginando como ficaria nele.

Toda a tarde se foi com os dois vestindo varias fantasias, uma atrás da outra e encenando. Haru e Botan se divertiam tanto que esqueceram completamente que existia o resto do mundo do outro lado da porta, e mais uma vez a felicidade foi interrompida quando ouviram mais uma vez uma voz vinda por trás da porta da frente:

—Haru, cheguei mais cedo do trabalho hoje então...

Era sua mãe Lisa que ao abrir a porta quase teve um infarto quando viu a sala toda bagunçada, com peças de roupas atiradas por todo o chão e em cima dos moveis.  Sua cabeça estava vermelha como um pimentão ardendo em fúria, e seus olhos em chamas correram por toda a sala como um scanner, mas ela não via Haru em lugar algum, e faze-la ir procurar por ele a deixava mais enfurecida ainda, já imaginando o que faria com ele assim que o encontrasse.

—Haru! –Gritou zangada.

Assim que escutou o som da maçaneta Haru agarrou a mão de Botan e correu como um raio com ela para seu quarto antes mesmo de sua mãe abrir a porta, e lá dentro eles cochichavam um para o outro:

—Mamãe não pode me ver vestido assim não importa o que... –Falou ofegante.

—O que vamos fazer?

Eles conversavam em um tom baixo enquanto escutavam os berros enfurecidos de Lisa procurando por Haru e o ruído alto de seus passos pesados se aproximando cada vez mais.

—Só tem uma coisa a se fazer: Você vai ter que distrai-la enquanto eu me troco. Não deixe ela abrir esta porta, em nome do ser supremo.

—Eu?! –Falou espantada. Como vou fazer isso?

—Pense em algo, você e esperta!

—Espera! Esta pensando em me sacrificar?

—Sim! Agora vá! –Haru começou a empurrar a garota.

—Espera ai! Eu não sou tão boa assim para inventar mentiras! –Falou lutando para permanecer na segurança do quarto.

—Isso foi uma boa mentira! –Respondeu Haru se esforçando mais para empurra-la para fora.

A mãe de Haru sabia que ele só poderia estar escondido em seu quarto. Ela o chamar exaustivamente e ele não responder a deixava mais e mais irritada, dando um passo mais pesado que o outro, chegando a estremecer a casa. Já atravessando o corredor e se aproximando do quarto de Haru, a porta se abriu sozinha e fechou no mesmo instante, mas para a surpresa de Lisa quem saiu lá de dentro foi Botan. Ela olhou para a Lisa e acenou forçando um sorriso, um pouco desorientada. Quando LIsa viu Botan ela tentou encara-la com uma expressão mais agradável, mas era um pouco difícil com a imagem da casa desarrumada em sua mente, e mais difícil agora que descobriu que Botan também estava lá.

—Botan, que surpresa... –Falou um pouco sem jeito tentando disfarçar a raiva. –Eu não sabia que estava ai...

—Há há há... Pois e... –Botan respondeu se escorando na porta do quarto de Haru.

Elas ficaram em silencio por um tempo desviando os olhares, mas que compartilhavam do mesmo sentimento: Ambas sentiam vontade de esgoelar Haru.

—Então, mesmo você vindo aqui em casa aquele vagabundo do Haru não teve a coragem de arrumar a casa... Estou morrendo de vergonha. –Cobriu o rosto com uma das mãos.

—Há, sobre isso, não tem problema, meu quarto também e uma bagunça, então eu nem tinha reparado...

A mãe de Haru chegou bem perto, carregando um olhar serio e penetrante, colocou ambas as mãos nos ombros de Botan e aproximou o máximo de seu rosto.

—Botan, você e uma menina inteligente e bonita, e eu quero que meu filho seja digno de você. Se ele não conseguir ser um homem digno quero que ele pelo menos aprenda a fingir que é. –Ela retirou uma das mãos do ombro de Botan e fechou o punho com firmeza.

—Ah... Não se preocupe com isso... –Abanou as mãos e sorriu.

A Lisa espichou o pescoço sobre o ombro de Botan e olhou para a porta do quarto de seu filho, atrás dela.

—Ele esta ai dentro? –Falou sentindo o sangue voltando a subir a cabeça.

—Ah... Bem... Talvez... Depende do ponto de vista... –Botan desviava o olhar se estremecendo. Ela já sabia como era a mãe de Haru quando estava brava.

—O que quer dizer com isso? –Perguntou confusa.

—Eh...

—Ele esta ai não esta? Saia da frente, por favor. –Pediu com delicadeza.

Lisa gentilmente empurrou Botan para longe da porta e chegou a apertar a maçaneta mas Botan sentiu seu corpo se mexer sozinho para interrompe-la, avançando e se colocando novamente entre ela e a porta.

—Botan? –Falou confusa.

A mulher tentou novamente tocar a maçaneta, mas tudo que conseguiu foi à confirmação de que Botan tentava impedi-la.

—Botan? Esta tentando me impedir de entrar? –Ela ainda tentava se comunicar de bom humor.

—Impedir você? Eu? Imagina hahaha. –Ela negava enquanto sorria, mas não saia da frente da porta.

—Então me deixe passar.

A mãe de Haru dava um passo para a direita e Botan ia junto, depois um passo para a esquerda e novamente era seguida.

—Você está! –Falou se agarrando na maçaneta da porta.

—Não estou! –Ela continuava sorrindo, e segurando as mãos de Lisa.

—Então com licença. –Seu tom de voz começava a ficar mais agressivo deixando escapar o quão aborrecida ela estava.

Já muito estressada com as veias saltando do rosto, Lisa agarrou a menina pela cintura e com muita facilidade a retirou do chão e a atirou para longe da porta de forma bem animalesca, se assemelhando a um ogro raivoso. Botan conseguiu cair de pé no chão, mas cambaleou ate o meio da sala, e por muito pouco sua cara não se encontrou com o chão. Ela se virou e tudo que viu foi a porta aberta na frente de Lisa. O curioso era a expressão em seu rosto: Ela parecia envergonhada, e sem jeito.

—Mãe!! –Berrou Haru.

Ele estava de pé no meio do quarto apenas de cueca, e gritou como uma donzela quando viu o rosto da mãe do outro lado da porta. Ele cobriu o pouco que conseguiu com as mãos, do seu corpo, tão esquelético que era ate possível enxergar suas costelas por baixo da pele.

—Ha... Haru... –Falou completamente sem graça. –Eu não sabia que estava pelado, me desculpe.

Quando a mãe se preparava para fechar a porta, Botan surgiu como um raio ao seu lado com os olhos reluzindo como faróis.

—Pelado?! –Gritou a garota. –Eu quero ver!

—Botan pare de olhar! –Ele falou envergonhado.

A mãe deu uma boa olhada em silencio para Botan e em seguida seus olhos foram ate Haru, então ela falou com o rosto começando a corar:

—Eu não queria interromper vocês dois então, fiquem a vontade para continuar... O que estavam fazendo antes...

—MÃE! –Haru gritou ainda mais envergonhado que antes.


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