Dor escrita por Lary Swan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não entenda como uma carta de ajuda, apenas uma visão do que pode ser.
A depressão vem em silencio, tão forte e intensa quanto inesperada.
Espero que goste. E se em algum momento se identificar com algo, não se guarde.



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— Uma vez me juntei a um grupo de estudos, onde sempre levavam textos para debates e questões éticas e morais eram trituradas, divididas em pedacinhos bem pequenos para serem examinados... – Sorri triste olhando para frente. – Mas no dia em que resolvi ir, eles mudaram a logística, resolveram ver um filme! – Respirei fundo. – Naquele filme muitas questões eram levantadas, mas o final era esperado. Alguém morria, não uma morte comum, mas um suicídio. – Senti que ficou arrepiada e tentou me cortar, mas fui mais rápida. – Jovens com conflitos internos, agressões, sexualidade, beleza e dentre outros assuntos. Você analisava todos que se destacavam e tentava descobrir de quem seria o corpo jogado ao chão, com os pulsos cortados e sem batimento cardíaco!

— Para! – Se ergueu. Neguei.

— Eu achava que era da menina que sofria dentro de casa! – Ri. – Depois desconfiei do garoto que não se aceitava! Amava um homem, mas namorava uma mulher! Esses tipos de conflitos internos nos deixam loucos! – Graniu.

— CHEGA! PARA COM ISSO! – Ri novamente.

— Mas no final ninguém acertou! Na verdade, aqueles assuntos eram para nos atrapalhar, eram para distrair da real vítima! – Me ergui e olhei para o túmulo que estava fechado, com uma linda placa de mármore com sua foto. – No filme a menina mais meiga se matava por coisas que interiorizava, por coisas que não tinha com quem desabafar ou... – Me deu um tapa forte na cara.

— Por que está dizendo isso agora? – Questionou com lágrimas nos olhos.

— Eu vi esse filme quando tinha 19 anos. – Respirei fundo. – 20 anos se passaram, minha vida seguiu um rumo totalmente diferente daquele que eu havia traçado, mas novamente me vejo naquela sala de debate, vendo o final que arrepiou a todos, a cena que chocou até mesmo quem já havia visto!

— Pare! – Implorava.

— Eu, em pensamentos é claro, culpava a todos por terem problemas tão fúteis que não conseguiam olhar para a jovem que necessitava de um pouco de atenção! – Olhei em seus olhos, vermelhos pelo choro. – E ao mesmo tempo achava aquela menina uma idiota por ter tirado a vida! Nada vale mais que a vida! – Acariciei minha face, onde havia levado o tapa.

— Por que? – Questionou novamente, tentando não mais chorar.

— Olhando esse túmulo, onde abriga o corpo de uma criança de 15 anos, me sinto tão fútil quanto aqueles no filme. – A olhei com dor. – Quando a achei no chão daquele quarto frio... – Tive que respirar fundo para voltar a falar. – Não foi covardia o que fez! Foi o ápice da coragem! – Se aproximou e acariciou onde havia me batido. Seus olhos imploravam o perdão! Me abraçou forte e negou.

— Ninguém poderia prever que isso aconteceria! – Tentou me consolar.

— Eu poderia! – Ri sem humor. – Ela... Liguei tanto para o trabalho, para os meus problemas, que mal tocava em minha própria filha! Se eu pudesse voltar atrás... – Meus joelhos cederam, eu não conseguia mais sustentar meu corpo.

— Ela sofria internamente, não se culpe! – Implorou ao me ajudar.

— Eu deveria ter a chamado para conversar! Eu deveria ter sido uma mãe melhor e....

— Você foi ótima! – Me abraçou mais forte.

— Ela tirou a própria vida num ato de coragem, para dar fim a sua dor, mas foi egoísta para não pensar em quem a amava! Foi individualista ao pensar que só ela sofria! – Queria a culpar agora.

— Eu sei que está doendo, mas acalme-se! – Implorou.

— Ela me deixou sozinha! Ela foi vingativa! Ela fez comigo em morte o que fiz com ela em vida! – Negou e me apertou mais, quase fundido meu corpo ao seu.

— Ela estava doente, sabe disso!

— Não! NÃO CONSIGO PERDOA-LA! Não consigo me perdoar... – Minha voz perdeu força.

— Vai se entregar a depressão agora? Tirar a vida? Vai seguir os passos de sua filha? – Me olhou nos olhos.

— Não tenho essa coragem egoísta. – Confessei. – Mas gostaria, só por um minuto, que pudesse a segurar nos braços! Uma última vez! Beijar sua face e dizer que não precisava... Eu estava aqui! Eu a amava!

— No fundo ela sabia! Bem lá no fundo! – Fechei meus olhos, estavam pesados, queria poder dormir um sono eterno, um sono que me levaria a ela.

— Esse saber de nada serviu! – Respirei fundo e me ergui. Peguei minhas coisas, que estavam no banco, e olhei mais uma vez para o túmulo. Acariciei sua foto e neguei. – Será que sua dor agora passou?

— Assim esperamos! – Sorriu tentando me confortar. – Vamos embora? – Perguntou com cautela.

— A morte sempre parece a melhor saída, mas e se ela for apenas a porta de entrada? – A olhei com curiosidade.

— Ninguém pode dizer! – Me guiou até o carro e me colocou no acento do carona. – Mas entrada para uma nova vida? – Questionou.

— Que tipo de vida? – Voltei a analisar. – Será que o que vivemos aqui é o inferno e a morte é o que nos leva ao paraíso?

— Creio que o que vivemos aqui seja o intermediário, pequena! Infelizmente muitas vezes parece um inferno, poucas vezes o paraíso!

— Ela vai estar bem? – Voltei a perguntar.

— Sim, e você também! – Apertou minha mão, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu vou sempre estar ao seu lado! – A olhei nos olhos e sorri triste.

— Será que um dia irá me perdoar por tudo que não fiz? – Me referi a minha pequena.

— Não sei. – Foi sincera. Entrou ao lado do motorista e ligou o carro. – E você, um dia se perdoará? – Arfei.

— Não sei. – Abaixei a cabeça e fiquei fitando o horizonte, observando a paisagem e o sol se pôr aos poucos.

— Se culpar apenas trará dor. – Tentava ainda me consolar. Ri. – O que foi?

— Dor. – Disse apenas uma palavra.

— Dor? – Ficou confusa. – Não entendi.

— A única coisa que me restou.


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