Areias do Tempo escrita por hina dono


Capítulo 11
Capítulo 11




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Infelizmente, ela não havia conseguido fugir antes que eles descobrissem seu segredo.

Como consequência disso, seu nem um pouco sangue azul agora escorria por seus braços - uma resposta natural à fricção de sua pele contra as amarras que prendiam seus pulsos em uma elevação no teto, deixando seu corpo parcialmente pendurado.

Ao fundo, como se estivesse acontecendo muito longe de sua realidade, sons horríveis ecoavam. Estava em um calabouço, tinha quase certeza disso. Não podia numerar há quanto tempo, no entanto, pois perdera a noção de dia e noite nas primeiras 24 horas.

Lembrava-se somente de que era manhã quando a bela, porém feroz criatura de cabelos prateados adentrou o quarto onde estava, exigindo explicações sobre sua verdadeira identidade e sobre os planos da China para a guerra em andamento.

Como se ela soubesse de algo...

Talvez devesse ter deixado claro que não passava de um fantoche nas mãos do governo chinês. Talvez assim tivesse sido poupada. No entanto, havia algo naquela garota, algo que fazia com que quisesse colocá-la em seu lugar, ensiná-la que ela não é a dona do mundo e que sempre haverá alguém que ela não poderá dobrar com suas ameaças...

Burrice, é claro. Mas não é como se alguma vez tivesse sido particularmente inteligente em suas decisões... O fato de estar ali agora - não apenas naquele lugar, mas naquele país -, vivendo um destino que não deveria ser o seu, apenas comprovava isso. 

Novamente ajeitou-se, tentando permanecer ereta. Vinha se forçando a não dormir, mas os machucados em seus pulsos deixavam claro que tinha perdido essa batalha algumas vezes.

Abriu seus olhos, deparando-se com a mesma escuridão da última vez que o fez. Agora sim aquilo parecia com um sequestro. Nada de quartos luxuosos, refeições fartas e gentileza forçada. Aquilo era brutal, como deveria ter sido desde o início.

A tortura psicológica era maior do que a física jamais seria. Desde que a prenderam naquele lugar, onde quer que fosse, ninguém apareceu. Não vieram lhe fazer perguntas, tampouco lhe alimentar. Simplesmente a deixaram lá, presa. O medo do que aconteceria quando finalmente um deles aparecesse, fazia com que a dor física causada pela fome, sede e as amarras ficassem em segundo plano. 

Todavia, nem mesmo o medo antecipado de uma provável represália era capaz de equiparar-se ao terror de ter a si mesma como única companhia. Seus pensamentos eram o pior tipo de carrasco. Temia que seus inimigos já tivessem descoberto isso, pois haviam acertado em cheio no tipo de tortura escolhida para quebrar sua alma - como se esta já não fosse suficientemente fragmentada...

Suspirou, tentando resignar-se. Afinal, não lhe restavam muitas outras alternativas além dessa.

***

— O senhor tem de intervir!

Shippou esperava que o uso da palavra "senhor" fizesse Seshoumaru perdoá-lo por sua intrusão repentina na sala do trono, onde ninguém era bem-vindo sem permissão.

Não é que sentisse prazer em comparecer àquele lugar cheio de energia negativa, apenas não tinha mais opções. Tentou lidar com a situação o mais racionalmente que pôde, mas após descobrir que Yuki estava mantendo Rin, sua própria mãe - não que ela soubesse desse detalhe, mas ainda assim... -, em um cativeiro qualquer e não no quarto em que ela estava antes, perdeu sua paciência. Nem sequer exigiu saber em que condições a humana estava sendo mantida. Conhecendo sua amiga como conhecia e sabendo o que ela costumava fazer com quem considerasse um inimigo, optou por continuar no escuro quanto aos detalhes. De outro modo, eles teriam um grande problema, e Edras ainda não estava pronta para suportar um novo embate entre ambos. Em vista disso, fez o que qualquer adulto de saco cheio das malcriações de uma criança faria: procurou o pai dela.

— O que aconteceu? - ele perguntou, nem ao menos se dignando a parecer interessado. 

Contudo, Shippou sabia que aquilo era apenas pose. Mesmo o inatingível Lorde de Edras sentiria alguma curiosidade diante de um pedido, para não dizer ordem, tão inusitado quanto aquele. 

— Yuki está mantendo Rin em cativeiro! - respondeu, indo direto ao ponto. - Desde que descobrimos que a verdadeira filha do inimigo está a salvo, junto a ele, ela surtou! Não permitia que nos aproximássemos do quarto da humana e hoje descobri o porquê: ela não está lá! - Esperava que sua exclamação tivesse transmitido ao menos um pouco da indignação, medo e fúria que sentiu ao fazer tal descoberta. - Não faço ideia de para onde foi levada ou o quê Yuki fez com ela!

Contrariando suas expectativas, Sesshoumaru permaneceu calmo mesmo após suas declarações, limitando-se a dizer:

— Não a chame assim.

— O q-quê? - reagiu tolamente.

— A humana... seu nome não é esse.

— O senhor sabe do que estou falando! - rebateu, indignado.

De pouco adiantaria mencionar que a humana tinha reagido estranhamente ao ser chamada de Rin e que esse podia muito bem ser seu nome verdadeiro. Não quando o fato de Sol Yi-Min, ou seja lá qual fosse o nome atual dela, ser idêntica à falecida esposa dele já ser motivo o suficiente para que ele a mantivesse viva e bem.

— Ela está morta e permanecerá assim por toda a eternidade - pontuou, sem nada em sua voz indicando que dizer aquelas palavras feria-lhe a alma.

Shippou recuou um passo, surpreso. Qualquer um que desconhecesse o idioma que falavam poderia acreditar que ele referia-se ao tempo e não à mulher que amou com tamanha intensidade a ponto de declarar guerra à sua própria raça em nome dela.

— Então por que ordenar que eu a proteja se na primeira oportunidade a abandona à própria sorte? - inquiriu, genuinamente confuso - e até mesmo abalado - pela falta de emoções dele. - Qual o ponto?

— Pensei ter sido claro, mas vejo que minha ordem foi interpretada erroneamente por você. - Sesshoumaru moveu-se, apoiando seu queixo sobre seu punho esquerdo. - Este Sesshoumaru não ordenou que protegesse a humana. Suas ordens são claras: impedir que Yuki fique demasiadamente próxima àquela criatura e venha perceber certas... semelhanças físicas entre ela e sua falecida mãe. Estamos prestes a entrar em uma guerra, seria um problema se a General de meu exército se deixasse levar por essa tolice e perdesse sua cabeça por alguém que não conhece. 

Shippou permaneceu parado em seu lugar, digerindo o que havia acabado de ouvir e tentando discernir se aquelas palavras realmente eram no que seu líder acreditava. Porque, se fosse, ele deixaria de ser seu líder naquele momento. 

— Está falando sério?

Silêncio.

Um silêncio mais doloroso à sua sensível audição que gritos de agonia.

Chocado, recuou mais um passo, então outro e mais um. Conforme ia se distanciando do trono, de Sesshoumaru, aquele por quem havia adquirido certo respeito com o passar do tempo, sentia seu coração bater violentamente, a adrenalina inundando suas veias.

Passo a passo, chegou até o meio do salão e então virou-se, oferecendo as costas ao Dai-Youkai. Percorreu o resto do caminho até a porta de queixo erguido, sem medo de ser apunhalado pelas costas. 

Se tivesse de morrer ali, que fosse.

 Se tivesse que enfrentar Yuki, que fosse.

Estava determinado a salvar Rin.


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