A Ânfora das Almas escrita por Diego Ramon


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

É separado entre as visões de dois personagens centrais, com prólogo e epilogo ao inicio e final do conto.



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Prólogo

 

Essa é uma lenda do mundo de Orbis. Que vem de muitos anos atrás, antes mesmo da fatídica grande guerra intitulada hoje como “Os Últimos Dias da Magia”. Quando os poderosos Simicae do plano superior, ainda eram poderosos para com os terrenos.

Foi uma época de descobertas, sendo a maior de todas os Magiliter; Humanos com o dom da magia, algo que aguçou a curiosidade Simicae que na época eram os únicos portadores deste grande poder. É nesse tempo que Propius Adeum viveu. Um grande estudioso que viajava pelo mundo a fim de entender mais sobre a magia usada pelos terrenos.

As pessoas de sua raça não envelhecem com tamanha rapidez, preservando bem a sua forma física. E eram épocas gloriosas para Propius que escreveu inúmeros livros — Hoje nas estantes da enorme biblioteca localizada no castelo do Monte Autumn — Regido pelos três maiores pensadores, March'qua, Ignemternum e Terrcaelis, sendo Propius Adeum um possível candidato a novo regente. Também havia a Imperatriz da Magia, Sandellah.

Os três regentes entendiam bem as coisas novas que o cercavam e sempre apoiaram as descobertas que seus buscadores faziam, mas infelizmente Sandellah era contra e ansiava pelo fim destas buscas.

— Vocês não sabem como isso é perigoso! — Disse parecendo quase como uma súplica que apesar de sua posição no cargo que ocupava, aquilo não estava em suas imediações. Ela deveria sempre ouvir os regentes e evitar o envolvimento no conhecimento que para eles era julgado necessário. Todo Simicae deve aceitar o novo, conviver com ele e entendê-lo. Uma lei praticamente imposta pela própria Mater Orbis e que os regentes sempre seguiram desde o início dos tempos.

— Isso é algo novo, Imperatriz — Disse Propius tentado fazê-la entender — Não existe um exército e sim apenas uma pessoa pelo que tivemos conhecimento dos que podem usar magia.

— Isso é algo novo, claro. Ninguém pensava que um dia um mero terreno pudesse ter o nosso dom. Isso me leva a pensar no perigo eminente. Se o trouxer para cá, ele terá acesso às nossas informações. O que pode fazê-lo querer compartilhar com seus semelhantes — Disse por fim, Sandellah — Bom, de nada adianta, sou apenas a Imperatriz e são os regentes que tem a palavra final nesses assuntos.

— Algo novo… — Pensou quase que em voz baixa — Há indícios de humanos usando magia desde a Guerra contra Os Quatro Pilares da Destruição. Levo a crer que a própria Mater Orbis deu esse poder para que os humanos pudessem defender-se. Eles são nossos semelhantes que aceitaram uma vida mortal — Completou Propius.

— Você tornou-se íntimo dos humanos, não é, Propius? — Indagou March'qua.

— Prefiro chama-los de irmãos…

— Você nos informou que os humanos o repudiaram, certo? — Continuou Ignemternum.

— Os humanos têm suas próprias regras e não são unidos como nós.

— E você os ainda chama de irmãos… — Ironizou a Imperatriz.

— Ele é um andarilho que cresceu nas ruas, sozinho. Seu poder despertou quando tentou salvar uma criança e as pessoas julgaram que a tentava matar… — Terminou por fim o regente Terrcaelis.

Ele estava preso quando Propius o conheceu. Teria sido morto se não fosse sua intervenção. Tinha uma ótima relação com os terrenos e conseguiu trazê-lo para o Monte Autumn.

— Ele é importante para os meus estudos. Se me deixarem, prometo que não haverá problemas, estará sempre comigo e não perambulando pelos corredores. Sou um Simicae e nada faria para colocarmos em perigo iminente.

— Muito bem. Você tem nosso consentimento para trazê-lo. Fazem muitos anos que nossos semelhantes deixaram o Monte Autumn e agora um de seus descendentes retorna para casa — Finalizou por fim o Regente Terrcaelis.

 

Propius

 

Alguns dias depois, estava ao lado do Magiliter que olhando tudo à sua volta o sentiu um pouco temeroso com tudo aquilo, pois era a primeira vez que presenciava um reino tão diferente. Não sabia o que aconteceria até que o Simicae lhe disse.  

— Ethel… — Algo totalmente aleatório, que o fez não entender o significado dessa “palavra” — Vou chama-lo de Ethel. Já que não tem um nome. O que acha?

O Magiliter nada disse, não sabia o que dizer. Apenas acenou que sim com a cabeça e sentou-se na carroça que o levaria a parte mais alta, onde localizava-se o castelo do Monte Autumn.

 

Ao chegar, uma elevação em formato de um muro quase invisível protegia todo o espaço. Apesar de ter tido acesso a magia, aquilo ainda era novo para ele.

— O Monte Autumn é onde concentra-se a magia. Podemos ter acesso total, algo quase que impossível longe daqui.

Então, Ethel abriu a boca pela primeira vez estando ali.

— Eu também posso… Usar? — Disse aquelas palavras em baixo tom e acanhado.

— Conseguiu falar, rapaz? — E deu um sorriso — Você recebeu o dom e é nosso semelhante, descende dos Simicae e também dos terrenos que usaram magia a duzentos anos atrás. É por isso que o trouxe para cá, para poder estudar esse caso.

Ethel deu um meio sorriso e ambos adentraram no castelo. Era tudo enorme. “Subir acima das nuvens”, balbuciou ele. Isso o fez dar uma risada nostálgica, pois quando ainda criança lembrava-se da velha senhora que na época cuidava dele, ela dizia algo semelhante; “Quando eu morrer, vão me deixar ir para as nuvens”.

Propius então sorriu quando o percebeu maravilhado com toda aquela grandeza e que apesar de exilado, ele tinha conhecimento sobre a criação do mundo. Ali não era acima das nuvens, mas os próprios Simicae acreditavam estar próximos da Mater Orbis e até mesmo do criador e isso era o que separavam eles dos terrenos. Era algo interessante de se ver. As diferenças entre os dois povos e a maneira como a história da criação foi passada ao longo dos anos. Para Ethel era algo prometido a ele há muito tempo. Antes mesmo de despertar da magia.

 

Quando chegaram, encontraram-se com a Imperatriz e os três regentes. Todos comprimentaram-se com certa mesura até que Ethel conseguiu perguntar para os três.

— Vocês são Deuses? — Fazendo cara de quem esperava ansioso pela resposta. Os três riram, mas voltaram a seriedade para responder.

— Não, jovem terreno — Disse March'qua — Não somos Deuses, apenas três regentes — Completou Ignemternum — Apenas adquirimos o dom da magia por essa intervenção divina que você também possui — Disse por fim, Terrcaelis.

Apesar de ter ouvido cada palavra, ele viu que Ethel não conseguia tirar os olhos de Sandellah. A Imperatriz era nova apesar do cargo ocupado. Alta, ruiva e de pele alva, com seus olhos penetrantes de cor âmbar.

Percebeu o desconforto de Sandellah que voltou os olhares para os regentes.

— Estarei me retirando aos meus aposentos — Fez uma mesura antes de sair. E já longe Terrcaelis disse.

— Não participará da nossa reunião?

— Sou apenas uma conselheira, nada poderei fazer mais que isso — E assim seu semblante sumiu no longo caminho a frente.

 

Os regentes o acompanharam para seu quarto. Lá havia uma grande tina de água e outros materiais para que pudesse se limpar, aparar seus cabelos e também a barba. Afinal de contas, deveria estar apresentável.

Antes de o deixarem, conseguiu dizer.

— Eu não matei aquela criança…

— Eu sei, jovem Ethel… — Foi tudo que o que Propius conseguiu dizer.

 

Ethel

 

Após o seu banho ele era outra pessoa. Se viu no espelho pela primeira vez depois de muito tempo. Era grande, mas magro com cabelos castanhos encaracolados e de pele morena escura. Os olhos eram tão negros que parecia a cor do próprio carvão.

Quando Propius apareceu, disse-lhe que precisava fazer alguns testes para saber mais até onde iria aquele poder. Mas enquanto faziam isso, ele se deu ao luxo de fazer algumas perguntas.

— Se vocês não são deuses, vocês o servem?

Propius esboçou um leve sorriso, mas respondeu.

— O que você chama de Deus, nós chamamos de Criador. Ele foi responsável pela criação de muitos mundos; Mas somente um deles ganhou vida e tudo por causa da Mater Orbis, a nossa progenitora. Vocês humanos acreditam apenas que há um grande deus que criou tudo. Não é errado o pensamento, pois é cultural. Apesar de sermos todos como uma só criação, a história que seus antepassados moldou-se com os tempos — Então apontou para o seu coração e abaixou-se para mexer no solo — As plantas, as flores e as árvores são uma única coisa. Os animais e os seres pensantes são semelhantes. Eu e você viemos do mesmo lugar em conjunto pelo poder da Mãe.

— O poder da mãe?

— Sim, o dom que ela nos deu. Tente percebê-la, Ethel. É sutil, claro, mas quando percebida você irá se emocionar. Nem toda a magia deve ser agressiva. Você entende?

Ethel fez que sim com a cabeça. Era tudo muito novo aquilo pelo que estava passando. Como se estivesse preso numa caverna todo o tempo e no fim encontrado uma luz que o levasse para a grande verdade. Mas ainda não se sentia em casa, num lar, nunca sentiu isso na realidade, pois como Magiliter era tratado como um pária pelo seus semelhantes. Não tinha como se sustentar ou trabalhar para ajudar na economia, isso por si só era visto sempre com maus olhos por todos. Quase ninguém sustentava pessoas assim.

Por mais que Propius fosse bondoso, ele era uma cobaia. Submetendo-se a experimentos para poder ser “aceito” em algum lugar.

 

Num outro dia foi atrás de Propius que estava atrasado para os estudos. E sem querer ouviu sua conversa com um dos regentes. “Ele é o primeiro de sua raça a portar o dom da magia em duzentos anos, tem certeza que deve tratá-lo dessa forma?” — Ethel achou um tanto curioso. Tratá-lo assim, como? — Isso o preocupou, mas sabia de uma coisa. Deveria ir embora.

Quando Propius saiu da sala dos regentes, deu de cara com Ethel.

— Você está aí, Ethel. Eu já iria ao seu encontro…

— Eu precisava te dizer algo…

— Sim, o que foi, meu amigo?

— É melhor eu ir embora…

— Embora? — Perguntou espantado — Se você voltar, os outros terrenos vão querer prendê-lo e até matá-lo pelo crime que você não cometeu! Você foi exilado e nós o aceitamos.

— Você acredita que eu posso treinar minhas habilidades, descobrir mais do que posso fazer e talvez usá-la a meu favor, nem que seja para me esconder. Não me leve a mal, agradeço tudo que você fez por mim, mas não pertenço a esse lugar. Eu não pedi para ter nada como isso que no fim me trouxe apenas desgraça.

— Você pode usá-lo para algo bom. É o que fazemos aqui. Lembre-se que você tentou salvar aquela menina.

— Mas eu não consegui. Fui culpado pela sua morte e aqui seus regentes acreditam que sou perigoso. Por favor, deixe-me partir.

Propius ficou sem palavras, mas de nada poderia fazer. Ethel não era seu prisioneiro e o livre arbítrio era algo sério para ele. Não interferiria na escolha do seu amigo.

 

Foi no dia seguinte que Ethel resolveu ir embora, sem avisar ninguém. Quando já estava do lado de fora, ouviu um grito de socorro. Foi como da última vez em que tentou salvar a garotinha e por um momento ele exitou, mas tinha de fazer alguma coisa e quando chegou ao lugar lá estava a Imperatriz, encurralada por um tigre-leão. Ethel não pensou duas vezes. Estava indo com toda fúria para cima do animal e como um reflexo esticou uma das mãos e pulverizou a fera num piscar de olhos.

Ele então parou, olhou para suas mãos ainda tremendo, como se não acreditasse e só então voltou-se para a Imperatriz que estava aos prantos. Ele foi até ela e esticou sua mão.

— Você está bem? — E ajudou ela a se levantar.

— Achei que iria morrer. Se não fosse por você, não sei o que seria de mim.

— Isso não foi nada… Você sabe eu sou perigoso e a magia poderia… — E foi interrompido pelas leves mãos de Sandellah, levando dois dedos em sua boca como que pedisse para não dizer mais nada.

— Não seja bobo, você foi ótimo.

— Mas você foi contra mim desde o começo e disse que eu era perigoso.

— Sim, eu disse, mas percebo meu erro agora — E olhou para os lados, como se quisesse contar um segredo — Eu temo pelo meu povo, temo pelas novas descobertas de Propius, pois ele tem o apoio dos regentes.

— Eu não sei o problema que você tem com Propius, mas ele sempre foi bom comigo.

— Porque ele precisa de você — E pousou sua mão no rosto de Ethel — Ele precisa de poder, pois somente assim pode me derrubar. Ele já tem a atenção dos regentes, faltando pouco para conseguir me por contra o meu próprio povo. Ele quer ser o Imperador.

 

Ethel mal deixou sua vida precária para trás e estava sendo usado. Quando era um andarilho, sua vida era monótona e ele sempre quis ser amado e querido. Mas não imaginava tudo aquilo que agora acontecia.

Sandellah parecia outra pessoa. A imperatriz do Monte Autumn pediu que o encontrasse naquela noite para uma reunião com seu grupo. Eram rebeldes por assim dizer e diziam-se protetores do reino. Faziam isso para vencer alguém que ainda não havia se declarado um tirano… Propius. Mas antes mesmo de sair dali, a Imperatriz Sandellah tomou as mãos de Ethel e o puxou para junto de si. Ele era alto então curvou-se um pouco e assim o beijou. Não era um beijo apaixonado, mas parecia sincero aos olhos do ex-andarilho. Sandellah balbuciou aos pés de seu ouvido as palavras “Que bom que está aqui”. — Ethel não esperava por isso, não naquele dia que havia resolvido partir dali. Ele esperou que ela fosse embora, então virou-se para trás onde residia a bela vista do Monte Autumn. Não conseguia conceber tudo aquilo, esse era um reino totalmente diferente de tudo que já havia presenciado, era como se ali fosse um mundo particular no reino dos céus. O paraíso, como era descrito nos livros sagrados dos clérigos e ali era um lugar acima das nuvens ou o mais próximo que chegara de estar. Apesar do nome “Autumn” da língua antiga que significava “Outono”, ele não sentia frio, na verdade não sentia nada comparado ao plano térreo. Era como se ali existisse todas as estações juntas ao mesmo tempo. Via a primavera nos jardins do reino, com flores silvestres e animais correndo de um lado para o outro. Via agora as folhas secas das árvores junto a um pôr do sol também alaranjado vindo do horizonte. A noite era como o inverno, mas ali ele não sentia frio e tinha as noites mais aconchegantes que jamais sonhara ter. E o sol da manhã raiava com força e intensidade junto ao canto matinal do Galino¹ tecendo o amanhecer e não era um calor desértico, fazia parte de algo que completava um ciclo. Ele estava vivendo de fato no paraíso e pela primeira vez na vida sentiu-se feliz. Sentiu-se amado e querido como sempre desejou e acima de tudo, algo não saia de sua cabeça; A Imperatriz Sandellah.

 

A noite havia caído e ele estava em aposentos que nunca havia visto. Foi levado até ali sem saber o caminho. A Imperatriz era cautelosa, para que se caso fossem pegos, não precisassem contar onde estavam fazendo as reuniões secretas. Ethel não conhecia mais ninguém ali.

— Temos que desmascarar esses traidores — Dizia Sandellah aos plenos pulmões —  Propius têm de ser o primeiro. Ele quer tomar a coroa para si, um tirano que quer mandar acima mesmo dos regentes. Sua atitude para com os terrenos é de formar uma aliança. Ainda mais com os portadores da magia, como esse homem diante de nós.

Todos tinham a atenção da Imperatriz. Todos balançavam a cabeça em de acordo com as suas palavras. Alguém no meio daquelas pessoas levantou as mãos e Sandellah lhe concedeu a palavra.

— Existem outros como ele?

— Por enquanto, somente Ethel, mas se existe um pode haver mais. Propius continuará suas buscas. Ele tem o apoio dos regentes.

— Como podemos pará-lo? — Disse outro.

Sandellah andava agora de um lado para o outro. Pensava intensamente mas já sabia o que fazer e tinha um plano.

— Propius quer ser um tirano e está contra nós. Ele deseja o poder e ascender acima mesmo dos regentes. Eu descendo dos primeiros filhos da Mater Orbis, possuo o sangue dos primeiros assim como ele. No passado éramos os imperadores da magia e tínhamos o governo do Monte da Magia Autumn. Meu avô foi um desses imperadores e governou com mãos de ferro, protegendo cada Simicae que aqui vivia. Ele aceitou a sua peregrinação rumo a montanha do Criador, assim como meus pais e assim como eu farei um dia. Nós necessitamos de cautela, não sabemos do que os terrenos são capazes e se toda essas descobertas vier a tona, poderão voltar-se contra nós. Eu apenas zelo pelo nosso bem e se me apoiarem, poderei protegê-los.

— O que você sugere, Imperatriz?

— A volta da corte imperial ao comando do Monte da Magia Autumn. A minha volta a coroa e com esse poder posso interceder nos assuntos que só dizem respeito aos regentes.

— E como conseguirá governar novamente, minha senhora?

— Ethel irá nos ajudar e é aí que entra o meu plano. O diário de Propius, se o pegarmos podemos assim denunciá-lo como um tirano. Ele gosta muito de você, Ethel. É só chamá-lo e questioná-lo sobre seu plano que o resto nós faremos.

Ethel levantou a cabeça ao ouvir seu nome e todos os olharam. Sandellah chegou perto dele.

— Você entende o que está acontecendo aqui, não entende?

Ethel olhou então para seus próprios pés e tentou sentir aquele solo. Nunca havia participado de algo assim. Nunca havia sido solicitado ou fazendo parte de algo, mesmo entre outros andarilhos que jamais eram unidos, cada um pensando em si mesmo. Ele então levantou a cabeça e disse:

— Em toda a minha vida, nunca participei de nada. Nunca fui nada e sempre me senti um nada. Quando alguém tentava me ajudar, tinha esperanças, mas sempre era usado — Parou por um instante e olhou para a imperatriz e ela sorriu para ele, alguém que queria apenas o seu bem — Vejo que são como os meus semelhantes na aparência externa, mas jamais serão no modo de pensar. Eles me tratavam como escória. Não podia contribuir para nada, então era escorraçado… Fui escorraçado mesmo quando tentei ser bom. Não tenho empatia nenhuma pelo meu povo, mas tenho por vocês… — Então parou e olhou para a imperatriz novamente — Eu aceitei vir com Propius, pois foi o único que me estendeu as mãos e hoje eu percebo o lugar a qual pertenço e pela primeira vez me sinto em casa. E se o intuito do homem que me trouxe é destruir a minha casa, então estarei contra ele e não deixarei que a destrua! — Olhou para todos e então completou — Podem contar comigo!

Todos ovacionaram ele, e um dos Simicae ali o comprimentou e sorriu, então Ethel entendeu que ali era mesmo o seu lugar.

 

Ainda naquela noite recebeu a visita da imperatriz em seu quarto. Ele levou um pequeno susto, mas ela fez “silêncio” com seus próprios dedos em seus lábios e depois os fez correr por seu queixo, descendo pelo pescoço até chegar no decote de seu longo vestido noturno. Desabotoando o mesmo, Sandellah ficou completamente nua perante Ethel e levemente o deitou em sua cama fazendo o mesmo por cima dele em seguida. E intuitivamente ele a beijou ferozmente e ambos permaneceram ali na cama como se fossem apenas um.

 

Passaram a noite juntos e acordaram ainda deitados na cama abraçados. Ethel tinha um enorme sorriso ao rosto. Sandellah então o olhou e fez um carinho nele. Olhou atentamente em seus olhos e o beijou.

— Nunca havia me sentido assim — Disse Ethel finalmente quebrando o gelo — Sei que posso confiar em você, mas tive um ensinamento de Propius e agora percebo o que ele me disse.

— O que foi, meu amor?

— A magia é de fato simples e eu sinto isso com você…

Sandellah apenas deu um meio sorriso e o abraçou calorosamente, então conseguiu perguntar para ela.

— Você é uma Imperatriz mas, faz tudo isso sozinha?

— Sim… Porquê pergunta?

— De onde eu venho, no plano térreo… Existem reis, mas eles precisam de rainhas.

São um casal, pois para aquela família continuar no trono… Precisam de descendentes.

Sandellah deu um meio sorriso mas logo falou para ele uma das dádivas de ser uma Simicae.

— Na realidade funciona quase que do mesmo jeito. Ser um Imperador ou uma Imperatriz vem do sangue que herdei da minha família, posto que antes era do meu pai. Não envelhecemos como vocês, nosso corpo é imortal e podemos viver para sempre, mas envelhecemos de forma lenta. Fui princesa durante anos e tornei-me Imperatriz quando meu pai decidiu subir a Montanha do Criador.

— O que é a Montanha do Criador?

— É uma longa história… — Então continuou — Meus pais reinaram juntos como Imperadores da Magia e por muito tempo foram os últimos a terem total controle sobre o Monte Autumn antes dos regentes tomarem o controle e as decisões de tudo. Meus pais então decidiram fazer a caminhada juntos, sim, nós podemos escolher isso mesmo agraciados com o dom da imortalidade. Eles se amavam tanto e sabiam que poderiam se unir a mãe e o criador.

— Por que os regentes não fizeram o mesmo?

— Os regentes são homens idosos, poderiam subir a montanha. Quando jovem podemos ter vigor e força, mas só na velhice que ganhamos experiência e com toda essa sabedoria, podemos ajudar os mais novos, eles deveriam descansar no seio da Mater Orbis e junto ao Criador, mas ainda estão aqui pois tem um objetivo. Quando fiz dezoito anos, eles me ajudaram a governar, mas as leis mudaram, meus pais já haviam começado sua subida rumo à Montanha, então não tinham como interceder mais no reino e assim os regentes passaram a comandar as leis e tudo o mais.

— Mas se você é a Imperatriz, porque não pode exigir seu lugar?

— Isso é contraditório. Houve um voto popular, uma regra antiga entre os Simicae; Quando todos estão de acordo com algo, deve acontecer, então foi decidido que teríamos regentes comandando todas as decisões e seriam os responsáveis por todo o Monte da Magia. Sua política, normas e outras coisas e que a figura de Imperador seria apenas mera formalidade, não tenho mais voz ativa dentro do império construído pelos meus ancestrais. Sou apenas uma espécie de conselheira.

Tudo aquilo parecia algo estranhamente comum, pois as leis parecem quase iguais às do plano térreo.

— Com a descoberta de que pessoas como você possui o nosso dom, faz disso tudo algo muito perigoso. Os regentes também cuidam da nossa fonte de vida e decidem que caminho deve ser tomado. O que ficou certo era de que Propius teria aval de ir atrás de mais terrenos poderosos… Ir atrás dessa nova raça…

— Um nova raça?

— Eles o estão chamando de Magiliter. Não tenho nada contra você Ethel, mas pense comigo. Se os terrenos tomam por si que existem entre eles pessoas com tal poder, tudo pode acontecer. Durante anos ouvi histórias do meu pai de terrenos gananciosos que quanto mais poder tinham, mais eles queriam.

Isso era algo certo. Ethel acreditava naquilo de que seu próprio povo faz tudo para ter poder. Ele havia lutado muito para ser aceito em seu mundo, mas não sabia se tivesse tido essa oportunidade ou se ele mesmo tornar-se-ia corruptível, ainda mais com um poder como esse. Mas agradece por não ter acontecido e ter ido para o Monte da Magia. Deveria talvez agradecer Propius por isso? — Talvez não — Mas agradecia por ter conhecido Sandellah, alguém que finalmente o aceitou do jeito que era. Ele a amava e faria de tudo para ajudá-la, até mesmo enfrentar aquele que o enganou.

 

Propius

 

Mais tarde naquele mesmo dia, recebeu uma carta de Ethel pedindo que lhe encontrasse na ponte externa, próximo a saída para o plano térreo.

— Porque será que ele não partiu? — Pensou Propius consigo mesmo — Ethel não queria mais ficar aqui.

Acreditou até que ele fosse embora durante a noite. Mas se fosse embora seria agora, pois pediu que o encontrasse, talvez ter um último adeus. Mas tentaria convencê-lo a ficar. Ele era o único Magiliter que havia encontrado e era importante para seus estudos. Então chegou a ponte e logo o avistou dando um largo sorriso.

— Que bom que ainda está aqui… — Mais foi cortado bruscamente.

— CALE A BOCA! — Seu rosto era sério o que fez com que sua própria expressão mudasse — Você está feliz, porque tentará me convencer desse seu plano sórdido. Você quer usurpar a coroa e tomar o lugar da Imperatriz.

E assim ficaram ambos um de frente para o outro. Tinham o mesmo tamanho e aquilo tudo quase parecia um duelo.

— Seu plano foi por água abaixo. Sabe como isso se chama no plano térreo? — E sem obter resposta, completou — TRAIÇÃO o que por si só é pena de morte.

Propius não podia acreditar naquilo que estava ouvindo e pensou consigo mesmo —  “Poderia a Imperatriz o estar usando daquela maneira? Ela seria tão baixa a esse ponto?”.

— Escute Ethel, eu não sei o que te disseram, mas você não pode acreditar nisso!

— Acreditar no que… — E soltou uma risada que mais parecia um silvo — E sei qual o seu plano para comigo. Você quer me usar para conseguir um lugar de destaque. Ascender acima mesmo da Imperatriz... Melhor… Você quer ser maior que os próprios regentes. Você os tem enganado e está jogando todos contra Sandellah…

— Não tenho um bom envolvimento com ela e isso sempre foi óbvio. Gostaria sim que ela fosse substituída, mas não como você está impondo. Não quero ser um Imperador. Sou Simicae e também um estudioso da magia, um buscador que está atrás de conhecimento.

Então percebeu a cegueira de Ethel que fora usado pela Imperatriz Sandellah. Cego talvez por um amor que não existe. Para ele aquelas palavras que saiam de sua boca eram mentiras. E em seu rosto enxergava apenas uma raiva que era fruto da própria Imperatriz Sandellah — “Ela nunca gostou de mim, sempre quis me pôr de lado nos negócios do reino. Somos parte do mesmo sangue, o sangue dos primeiros filhos e talvez tenha medo que eu queira seu lugar”. A Imperatriz podia mexer com a cabeça de todos, menos a dos regentes ou a dele, mas sem Propius no comando das buscas, ela poderia tomar um partido maior; Ethel não conhecia nada ali e nunca teve nada no reino dos humanos, tinha a mente inocente e assim frágil e fácil de manipular.

— Nunca mais fale comigo novamente — Esbravejou — Eu não acredito em suas palavras. Você merece a morte! — De repente as raízes das árvores ao redor prenderam Propius da cintura até os pés, indo pelas costas e prendendo também suas mãos e braços — Você será levado e a justiça será feita.

— O ódio ou o amor são parte do mesmo sentimento, Ethel. Quando você tentou salvar aquela menina, teve apreço a sua semelhante e agora o seu ódio também despertou o mesmo poder. Como eu te disse, a magia é simples mas também pode ser agressiva. Mas a escolha agora é sua, se você quer se corromper, continue ouvindo Sandellah, mas se quer ser mesmo bom, me solte e podemos conversar…

 

Sandellah acompanhada por alguns guardas apareceram. Ela olhou para o seu algoz e deu um leve sorriso de satisfação.

— Não confie nele, Ethel. É parte de seu plano?

— O que você fez com Ethel foi errado… Ele é apenas um humano que não entende seus poderes.

Ao ouvir isso, Ethel com um dos cipós das árvores usou sua magia contra Propius, numa espécie de chicote improvisado. Ele gritou de dor e mais uma vez foi chicoteado com um grito muito mais alto em seguida. E outro, e mais outro ininterruptamente.

Então quase sem forças, Propius levantou a cabeça e deu uma risada tímida — Realmente você escolheu seu lado, não é mesmo?

As chibatas deixaram marcas em Propius e ele estava cansado, então deixou que seu peso o derrubasse. Não havia nada o que fazer a não ser desistir.

— Levem-no para o calabouço! — Exigiu Sandrel por fim.

 

Ethel

 

No dia seguinte, Ethel esperava pelo julgamento, não pode participar pois todo e qualquer problema ali eram mantidos em sigilo apenas peles regentes ou portadores do sangue dos primeiros filhos.

O julgamento não demorou muito e logo tudo estava terminado pois as evidências foram cruciais para que os regentes chegassem ao veredito.

Naquele mesmo dia Sandellah contou para Ethel que Propius foi levado para sua cela. Ficou no corredor da morte esperando pela primeira canção do Galino tecendo o amanhecer de sua morte. Os regentes ficaram tristes com a descoberta, pois era ele o melhor buscador e estudioso do Monte Autumn. Jamais esperariam que um amigo fosse alguém de tamanha ambição e seus relatos no diário diziam isso.

Pediu então para ver uma última vez aquele que se dizia seu amigo. E ambos foram para o calabouço.

— Olá... — Conseguiu dizer Ethel com asco em sua voz.

— Você sabe que sou inocente — Disse Propius, mas não para Ethel e sim para a Imperatriz a seu lado.

— Logo você estará morto... — Disse então Sandellah — Esse magiliter pode não ser um perigo imediato mas quem garante que outros não serão?

— Você é a única perigosa aqui, você corrompeu Ethel… — E soltou uma risada, mais desesperada do que irônica — Você me condenou, eu tinha uma vida… amigos. Era um dos melhores buscadores e agora…

— Agora você não é nada, merece coisa pior do que a morte… — Disse Ethel ainda com raiva em sua voz.

— Talvez eu possa ajudar com isso, meu amor — Disse Sandellah com sedução em sua voz — Talvez possamos dar um castigo justo e ao mesmo tempo uma benfeitoria para nós. Existe uma maneira dele ser útil e sofrer eternamente. E você, Ethel, me ajudaria nisso?

— Se é algo que irá fazê-lo pagar, eu aceito.

— Então assim será, pode ir agora para seus aposentos. Mando chamar-lhe quando tudo estiver pronto.

Ethel então olhou mais uma vez nos olhos de Propius que estavam fechados, olhou Sandellah que tinha um sorriso confiante em seu rosto e saiu do calabouço.

 

Andava devagar pela primeira vez na vida. Não precisava ter medo, pois ninguém mais lhe faria mal. Pensou consigo mesmo que dessa vez faria o bem e que ninguém o interpretaria errado. Era de fato sua casa e dali para a frente poderia pensar numa vida junto da Imperatriz. Ela o amava e ele queria passar o resto de sua vida com ela, talvez até escolheria fazer a caminhada junto com ela para que ambos pudessem subir a Montanha do Criador. Era o que ele queria e o que almejava agora. Então ouviu passos atrás dele muito semelhantes aqueles dados por pessoas que o machucavam no plano térreo. Poderia ser possível alguém lhe querer mal? — Talvez aqueles que eram a favor do Propius — Apertou mais o passo, pois estava próximo de seus aposentos e quase chegando alguém saia pela porta de seu quarto fazendo um gesto de que parasse. Ele arfava com certa ansiedade e antes que pudesse falar, tomou uma pancada na cabeça indo ao chão. Sua visão começou a ficar turva até que tudo escureceu.

 

Propius

 

— Talvez você ache que eu queira lhe fazer mal, mas tenho uma proposta para você.  

“Tudo que ela disser é um jogo”, Propius a conhecia muito bem. Mas não pode deixar de ter certa curiosidade em qual seria a sua proposta.  

— O que seria? — Apesar dos pesares, poderia ser uma chance para escapar. Reunir um exército e enfrentar a Imperatriz — Ok… Gostaria de ouvir a sua proposta.

Com um aceno de cabeça pediu para abrirem a cela. Propius teve suas mãos presas e um pano tampando sua cabeça.

Assim sendo, foi levado para onde nem sequer sabia onde era, na esperança de ser libertado pela Imperatriz. Não esperava menos. Mesmo sem garantias tinha de tentar, pois sendo “fiel” a Sandellah poderia enganá-la. Era seu único plano.

Por mais que estivesse sem visão a percepção de Propius era incrível e ele conhecia aquele reino como a palma de sua mão. Sabia por exemplo que estavam saindo de dentro do palácio rumo ao reino dos homens, não pela saída convencional, mas por uma rota alternativa que somente poucos conheciam. Seria então exilado para sempre? — Seria ele um espião da Imperatriz? — Muitas coisas surgiram a sua mente, mas ainda assim seu destino era incerto.

 

Pegaram as carroças e então sua pequena jornada teve início com os cascos dos cavalos batendo sobre as rochas no solo terreno. Com os cantos noturnos das corujas até o piar matutino dos passaros silvestres. Não se ouviu uma palavra sequer, pois estava entre a guarda pessoal da Imperatriz sendo que os regentes jamais saberiam daquela incursão.

Se agora Sandellah detinha os direitos dos buscadores, significava que teria acesso aos Magiliter e, portanto, controle total.

A carroça parou abruptamente. Propius sentiu uma força misteriosa, algo que possuía uma aura muito forte vinda de algum lugar obscuro. Onde eles estavam? — Pensou — Aquele era um lugar de que não conhecia, mas ao sentir a estranha energia, poderia ser somente uma coisa. Estudou sobre algo parecido e a sensação era descrita com o que sentia agora.

Ao capuz ser tirado de sua cabeça, era exatamente aquilo que suspeitava.

— Uma caverna oculta!

— Exatamente, meu caro Propius — Dizia Sandellah com certo sorriso em sua voz — Justamente o destino que preparei para você.

— Você mentiu para mim, não serei liberto. Você apenas irá me prender em um lugar pior. Essa caverna deixará meus instintos insanos e eu perderei a minha alma. Como poderei trabalhar para você nesse lugar?

— Ah! Mas você terá serventia para mim estando neste lugar… Qualquer aventureiro que se preze, entraria nessa caverna para ir atrás da riqueza que ela pode ter. Mas essa caverna é nossa, faz parte da nossa cultura, apesar de estar no reino dos homens. Agora terão o que temer.

E assim como num estalar de dedos, seus guardas trouxeram de dentro da carroça um jarro, ou melhor, uma Ânfora. A Ânfora das Almas, uma relíquia Simicae capaz de prender a alma de qualquer ser vivo.

— O que você pretende comigo?

— Você estará para todo o sempre preso à Ânfora das Almas. Será entregue a caverna oculta e a loucura tomara conta de sua mente. Sua lucidez acabará. Sua raiva e seu rancor tomaram conta do seu ser e assim a caverna o transformara num caçador impiedoso de almas sendo esse o seu néctar, seu elixir que manterá sua Ira, Ódio e o Rancor vivos.

Esse era o plano de Sandellah. Livrar-se dele com algo pior que a morte. Tentou se desvencilhar das amarras que o prendiam, sacudir-se e se antes nem a sua própria magia bastava para os poderes ocultos de Sandellah de algum jeito a própria caverna estava anulando seus poderes, como se já esperasse pelo seu novo hóspede.

 

Ethel

 

Ethel não sabia onde estava. Trancado em algum lugar sem sentir absolutamente nada, nem um pingo de magia. Quem poderia ter feito isso?

De repente uma luz veio em sua direção. Ele instintivamente fechou seus olhos com aquele clarão e assim que se acostumou enxergou os três regentes diante dele.

— São vocês… Me ajudem por favor, o que está acontecendo?

Os três o olhavam com seriedade e reprovação. Não se ouviu um som sair de suas bocas. Foi então que ouviu passos na nave. Um andar lento mais que vinha com força. Era uma silhueta magra, mas que tinha certa imponência e de fundo podia-se ouvir um ronronar feroz e a primeira figura a tomar forma era a de um felino, o mesmo que havia atacado Sandellah. Logo depois dele a figura da imperatriz apareceu. Ela então parou diante dos regentes e fez um sinal para que saíssem e eles foram sem pestanejar.

— Sandellah! O que está acontecendo? — Dizia desesperado.

— Você não terá mais serventia para mim, meu amor… — Dizia agora calmamente e de forma irônica — Pode ser descartado!

— Sandellah… O que está dizendo…

— Achou mesmo que eu gostava de você?. Sério mesmo que pensou nisso?, se você não foi nem amado pelos humanos, porque seria por nós? — E deu um breve sorriso para dentro — Você foi apenas um peão na minha estratégia. Pensou que eu te amasse, achou que pela primeira vez estaria tendo algo que lhe foi prometido?. Por favor, não seja inocente. Você é um mero humano e mesmo que tenha o dom da magia ainda é inferior aos Simicae… É um nada. É um bobo, caiu no truque mais antigo de todos; O amor, esse mesmo que fez meus pais desistirem de sua vida imortal. Eu querer subir a Montanha do Criador?. O que garante para mim que isso é verdade, nunca descobrimos se todos esses Simicae conseguiram alcançar essa glória eterna. A Mater Orbis deu um presente para seus filhos, seus preferidos e é uma idiotice abrir mão dele. Viver como um humano é pior ainda… E como é pior, consegui usar qualquer desculpa para que você fizesse parte do meu plano, começando com o ataque do meu tigre-leão — Então fez um carinho e seu animal ronronou ao seu lado — Essa é Astra, minha felina protetora, você o mata e ele volta a vida depois de um tempo… Confesso que foi difícil no início, ser romântica e fingir gostar de você, me deitar com você e fazer amor com alguém inferior, um nada. Mas para alguns planos funcionarem, vale o esforço e ver a sua cara descobrindo a verdade, me faz satisfeita com esse sacrifício. Bom vou lhe deixar a par de toda a situação.

Ethel não tinha mais o que dizer, era como se suas palavras estivessem presas em sua garganta. Mas ouviu tudo o que ela tinha a dizer.

— O nosso plano funcionou. Os diários de Propius o incriminou, claro que uma certa alteração nos seus escritos teve de ser feito. E o seu show, para com ele, foi melhor que a encomenda. Sua raiva, ira e tudo mais mostrou para os regentes o quão perigoso você é. Nunca pensei que você fosse tão perverso, Ethel. Por um momento até o achei atraente — E deu um riso mais falso do que legítimo — Então aconselhei-os a abrir uma votação sobre o que fazer com você. Qual a minha surpresa quando no dia todos pediram pela minha volta ao comando do reino. Isso mesmo, você foi a chave para tudo isso, meu amor… A péssima escolha deles de o trazer, foi a queda dos regentes e assim eu serei a imperatriz suprema novamente. Mas continuarei com as buscas, claro… Mas tendo acesso total aos buscadores posso conseguir eu o poder para ascender acima mesmo até da Mater Orbis. O poder de um Magiliter é incrível e eu mesmo vou querê-lo para mim.

Agora o rosto de Ethel estava em lágrimas e nada mais valia a pena. Então entregou-se ao seu destino. Sandellah aproximou-se, pegou a mão de seu ex-amante e disse:

— Propius fugiu. Nós fomos atrás dele, mas você havia se antecipado e sua ira o matou. Os regentes não ficaram felizes, pois era nosso prisioneiro. Então já que agora você faz parte do reino, merece a mesma pena que qualquer um de nós — Então enfiou uma adaga bem fundo em seu coração — A morte!

E assim ele parou de chorar. Parou de sentir. Parou de amar e antes mesmo de parar de respirar, seu último pensamento antes de partir foi de nunca ter sido amado.

 

Epílogo

 

De cima de seu trono, a Imperatriz podia ver tudo. O Monte Autumn, as montanhas que levavam a lugares longínquos além do plano térreo. Esse era o seu novo objetivo, dominar tudo. Magiliter, Terrenos...

— Finalmente recuperei a coroa pai. Finalmente estou no controle de tudo e posso alterar qualquer lei imposta no passado. Vou Ascender, mas não como você fez, será do meu jeito governando a tudo e a todos agora e sempre.

E assim terminou sentada em seu trono, com Astra do seu lado, fazendo carinho no pelo do animal e pensando qual será seu próximo passo para alcançar seus novos objetivos. Pois tinha o controle total de todo o seu Império.


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Notas finais do capítulo

Diga o que achou desse conto, pois o seu feedback é muito importante para eu ter uma ideia do tipo de universo estou criando para o meu livro.



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