{lovelace}

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A porta da cela se fecha com um estrondo. A garota ainda grita. Não há nada além da escuridão. Lágrimas rolam por seu rosto. Os soluços sufocam em sua garganta. As mãos pálidas estão tingidas de sangue. Destruídas em seus esforços vãos de se libertar de sua prisão. Jessamine Lovelace se encolhe em um canto da cela imunda e chora como se seu mundo inteiro houvesse ruído. De certa forma, foi o que aconteceu.

Todos dizem que Nate a abandonou e ela está trancada na Cidade do Silêncio, um lugar onde não se encontra nada além da penumbra e dos sussurros dos mortos. Trancafiada como uma criminosa. Mas a garota sabe que não fez nada errado. Ao menos, não quis fazer nada errado. Nate a ama. E ela o ama também. Como pode ser errado agir por amor? Por que a condenam tanto por desejar outra vida? Por querer coisas bonitas? Por não almejar passar seus dias lutando contra demônios?

Jessamine nunca quis nada disso. Nunca pediu por nada disso. Era apenas uma criança que vira todo seu mundo desmoronar, consumido pelo fogo. Perdera tudo o que um dia teve. Seus pais. Sua casa. A vida que deveria ter. E então fora jogada para uma realidade de pesadelos. Monstros e combates e guerras e sangue e morte. Demônios e demônios e demônios. Espreitando nas sombras, sempre esperando o momento certo de atacar e destruir. E, por alguma razão tão estúpida quanto o sangue que corria por suas veias, esperavam que ela combatesse essas monstruosidades. Que fosse um soldado em uma guerra que nunca chegaria ao fim. Que levasse uma vida de cicatrizes e morte.

Não! Jessamine Lovelace não queria isso. Tudo o que desejava era ser normal. Ter um marido comum e ser uma dama mundana em vestidos bonitos, em uma casa bonita e cuidando de bebês bonitos. Aquilo era tão condenável assim? Como poderiam chamá-la de traidora, se nunca lhe deram a chance de escolher? Como ousavam prendê-la e julgá-la culpada segundo uma lei que nunca lhe fez sentido. Culpada por dar as costas a uma vida que lhe fora imposta. Não parecia certo. Não parecia justo.  

Então Jessie gritou. Gritou com todo seu fôlego e chorou em desespero. Porque nada daquilo era correto. Porque ela era uma dama, mas nunca havia se sentido menos como uma dama. Porque naquela cela escura, úmida e suja não havia lugar para nada belo ou doce ou mundano. Porque Nate a enganara. Porque Jessamine sabia que não seria libertada. Porque o pesadelo estava apenas começando. Porque os Caçadores de Sombras haviam finalmente conseguido lhe roubar a vida. E  todos os sonhos estavam mortos.