O que é amor? escrita por Bibi Gonzales


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

A história tem um modelo um pouco diferente então por favor, prestem atenção nas datas. Se conseguirem leiam mais uma vez de baixo para cima depois, mas não é necessário.
Boa leitura!



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2037:

Ao abrir a última caixa após a minha mudança de casa, achei um post-it cor-de-rosa em meio tantos livros.

"O que é amor?

Eu e você."

 

Dezembro - 2020:

Eu bebia chocolate quente e percebi que sobrava um último marshmallow no saquinho.

Pela primeira vez, rejeitei o último marshmallow.

 

Maio - 2017:

Meu corpo foi tomado pela mais profunda tristeza. Angústia, dor, solidão, ansiedade, vazio, vácuo, saudade, distimia… Você pode chamar como quiser, eu só sei que é o mais inexplicável sentimento.

Um dia ele estava ali comigo, ele sorriu, ele me abraçou, segurou a minha mão. Ele até mesmo disse que me amava uma última vez. Ele bebeu a última caneca de chocolate quente porque café lhe dava insônia, ele dividiu o último marshmallow comigo e fizemos uma maratona de desenhos animados.

No outro dia, ele desapareceu. Mas ele não simplesmente foi embora… Ele realmente desapareceu, do tipo que nunca mais vai voltar porque isso já não é mais possível.

Seu corpo voltou a ser pó de estrelas. Sua alma viajou para o que quer que exista depois daqui. E o sorriso de Floyd nunca mais estará presente no meu cotidiano, não importa o que eu faça – ele já não pode mais viver os mesmos momentos que eu.

 

Fevereiro - 2017:

Segurei a sua mão e sorri tentando ao máximo evitar as lágrimas. Seu cabelo estava sem brilho, seus lábios roxos, sua face pálida e seu corpo magro e cansado. Apenas seus olhos continuavam os mesmos - pequenos, amendoados e muito escuros, brilhantes como os de uma criança.

— Eu posso? - perguntou a enfermeira que tinha uma máquina de cortar cabelo em mãos. Floyd assentiu, então ela ligou o objeto e se aproximou dele. – Então vou começar…

Eu fechei os olhos num primeiro momento e respirei fundo. Tive medo que ele ficasse triste, mas algo em mim já sabia que ele de fato havia visto aquele breve momento de vacilo meu.

— Está tudo bem. - abri os olhos ao ouvir sua voz aguda e lhe direcionei o olhar. Ele sorria como uma criança. – É sério, Iven. Pode não ser o mais fashion corte de cabelo, mas eu não me importo…

E eu sorri mesmo sabendo que ele se importava sim, porque Floyd sempre se importou com a sua aparência. Ele sempre foi vaidoso e perder o seu cabelo… Bem, isso deveria ser o que há de mais difícil nisso tudo, porque ele parecia ignorar a doença em si.

 

Dezembro - 2016

A neve caía do lado de fora e ele bebia uma caneca de chocolate quente, porque café lhe dava insônia.

— É o último marshmallow. Você quer um pedaço? - perguntei lhe oferecendo uma mordida. Ele sorriu e assentiu, então mordi o marshmallow e coloquei o restante em sua boca. – Ai! Você mordeu o meu dedo, Floyd…

— Desculpe… É que você é tão delicioso quanto. - sorriu.

— P-pare de ser bobo! - eu disse empurrando seu ombro de leve e ele riu. Provavelmente, eu estava corado como ele gostava.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, então me sentei no chão da sala e lhe encarei por um momento. Sua face tão bonita e iluminada me deixava quase sem graça.

— Eu quero fazer isso pra sempre! - eu disse de repente.

— Isso o quê? - indagou confuso.

— Sentar aqui com a neve lá fora, falar com a pessoa que eu mais amo no mundo, beber chocolate quente, ouvir silêncio e dividir o último marshmallow. Me parece uma ótima vida, mais do que eu poderia querer.

Por uns segundos eu sorri, talvez o maior e mais sincero sorriso, mas então tudo desapareceu. Eu sabia que aquilo não era para sempre… Nós dois sabíamos.

— Mas Iven… - ele suspirou cabisbaixo.

— Pare! - eu gritei. – Não diga nada… Não estrague isso.

— Eu só…

— Não… - as lágrimas começavam a manchar o meu rosto e eu abracei meus joelhos me sentindo desprotegido. – Isso vai ser para sempre. Vai ser. Nós seremos eternos!

— Não vai. Nós temos que encarar a realidade.

— Não, não temos! Você vai melhorar. E nós vamos viver juntos para sempre, adotar muitos gatinhos e beber chocolate quente todos os dias. E eu juro dividir todos os últimos marshmallows do mundo com você, então por favor, não me deixe… - naquele momento eu já chorava como uma criança.

Senti um abraço e me deixei cair no colo de Floyd enquanto ele afagava meus cabelos e me abraçava mais forte do que nunca.

— Nós seremos eternos… - ele concordou, embora eu soubesse que não passava de um consolo.

 

Agosto - 2016

Colei o post-it na mesa em frente ao Floyd e sorri sentando-me ao seu lado. Dei um beijo em sua bochecha ainda bobo e sorridente.

— Acho que alguém deixou uma resposta na cabeceira da minha cama. E eu amei.

— Que bom que gostou. - ele sorriu brevemente e voltou a atenção para o seu prato de macarrão. – Precisamos conversar…

Meu estômago se embrulhou só com aquela frase e eu já comecei imaginar mil e um motivos para aquilo.

— Fale… - eu disse simplesmente.

— Não é algo que eu possa simplesmente te contar assim numa mesa de refeitório da faculdade…

— Floyd… Desembucha.

Ele suspirou e olhou diretamente em meus olhos, pegando minhas mãos entre as suas. Pela primeira vez pareceu não dar a mínima se as pessoas estavam ou não olhando.

— Lembra que eu ia ao médico fazer exames de rotina? - indagou e eu assenti. - E lembra das fortes dores de cabeça, desmaios e tudo mais?

Meu estômago começou a se embrulhar quando ele contou o resto e eu só soube abraçá-lo e chorar, dizer que tudo ia ficar bem e que eu jamais sairia do seu lado.

A dor era grande e o medo de perdê-lo maior ainda.

 

Agosto - 2016

Disquei o número de minha mãe no telefone e sorri quando ela atendeu. Não disse oi nem nada, apenas joguei a informação.

— Mãe… Eu descobri o que é o amor.

 

Agosto - 2016

Havia um post-it cor-de-rosa colado na cabeceira da minha cama quando acordei. Reconheci minha caligrafia na costumeira frase que eu sempre escrevia por todo canto: "O que é amor?"

Mas dessa vez me surpreendi ao ver a frase acompanhada de uma resposta em letras tortas e grandes.

Eu e você.”

 

Julho - 2016

— O que você vai querer de aniversário? - ele perguntou me abraçando por trás.

— Hum… Você.

— Bobinho… Eu já sou seu! - ele riu.

— Não sei o que eu quero… Só de ter você comigo, me sinto completo até demais.

Ele me virou para si e me beijou com carinho, depois foi me empurrando até a minha cama e me deitou subindo por cima de mim e puxando meus cabelos. Parou bruscamente e olhou para cima.

— O que é isso? - apontou para os post-it colados por ali, todos com a mesma frase.

— Ah, isso? Apenas algo que tenho me perguntado a vida toda...

Janeiro - 2016

— Precisamos conversar. - ele adentrou a sala de aula vazia e eu continuei a prestar a atenção em meu livro sem lhe encarar. - Não me ignore, Iven!

Suspirei pesadamente.

— O que é que você quer? - indaguei.

— Você sabe.

— Não sei.

— Sim, você sabe. Por que está me ignorando?

— Você quer que eu faça o que? - perguntei largando o meu livro e me levantando.

— Quero que pare de fugir de mim. Éramos melhores amigos, o que foi que aconteceu?

— Você sabe o que aconteceu.

— Sim, eu te beijei, i daí?

— Você está me deixando confuso… - eu disse vendo que ele caminhava em minha direção.

— Não tem porque ficar confuso. Você me ama e eu te amo… Pronto. - ele deu de ombros e se aproximou mais segurando minha cintura e olhando em meus olhos. - Não fuja disso, porque eu já me entreguei a situação.

Eu não disse mais nada e senti meus lábios serem tomados pelos dele, apenas me entreguei ao beijo e deixei acontecer o que quer que tivesse que acontecer.

 

Dezembro - 2015

Ele até tentou ligar, mandar mensagem e até vir ao meu apartamento, mas eu simplesmente ignorei tudo. Não podia lidar com o fato do meu melhor amigo ter se apaixonado por mim, eu não tinha uma resposta para isso, não tinha como resolver, não sabia o que fazer. Nem sabia se ia ter espaço na minha vida para um namorado agora.

E o mais angustiante é que eu não sabia se a resposta de fato era "não". O mais angustiante é que de fato eu estava confuso sobre Floyd…

Peguei um post-it cor-de-rosa e uma caneta preta. Escrevi ali: "O que é amor?"

 

Novembro – 2015

Todos dançavam e uma música do Pink Floyd tocava ao fundo. Eu não achei que por esse motivo Floyd fosse capaz de tomar tanta coragem, mas foi bem de baixo das luzes brilhantes e do meio do salão de festas que tudo aconteceu. Bem na frente de todo mundo, onde eu não podia fugir nem de Floyd, nem dos meus sentimentos e da minha vontade de correspondê-lo.

Eu estava com raiva. E chorando. Por mais bêbado que Floyd estivesse, isso não lhe dava o direito de me beijar e estragar tudo! Que droga!

 

Outubro - 2015

— Cara, você vai na festa do Joshua? - perguntou Floyd. Eu estava ocupado escrevendo em post-its, mas ainda ouvia o que ele estava falando.

— Não sei. Você vai?

— Vou.

— Então eu vou.

 

Julho - 2016

"O que é amor?"

 

Dezembro – 2014

Eu bebia café e Floyd bebia chocolate quente. Nunca entendi o porque de ele beber chocolate quente quando havia o tão saboroso café.

— Floyd, por que você nunca bebe café?

— Café me da insônia. Hm… Tô vendo o último marshmallow aí. Me dá um pedaço?

 

Novembro - 2014

— Floyd! Floyd! - meus pulmões sofriam de tanto que corri para alcançar Floyd. Eu segurava a minha carta da faculdade. - Tenho novidades!

— Eu também! - ele sorriu segurando uma carta igual à minha em frente ao rosto.

 

Julho - 2013

— Ano que vem é a formatura… O que você pensa disso? - Floyd perguntou enquanto estávamos deitados na areia da praia olhando o céu estrelado.

— Eu penso que está mais do que na hora. Não aguento mais o ensino médio!

— É, mas e a gente? - o encarei e vi que ele não tirava os olhos das constelações. - Vamos continuar nos vendo?

— É claro que sim… E vamos para a mesma faculdade, sei que conseguiremos! Nunca vou te deixar, Iven.

Ele sorriu e senti minha mão ser agarrada pela dele. No começo achei aquilo estranho, mas eu sabia que era habitual de Floyd. Ele gostava de segurar a minha mão, e eu admito que era bastante confortável segurar a mão fofa dele.

— E você? Você vai me deixar? - indaguei como uma criança.

— Nunca… Nós seremos eternos.

 

Março - 2006

Eu estava assustado e sozinho. Era o único sentado sozinho na hora do almoço e o único assustado em uma escola em que todos já se conheciam, mas lá estava eu, o novato.

— Ei… - ouvi alguém ao meu lado. - Posso me sentar aqui? Sou novo e acho que os outros não querem a minha companhia…

— C-claro! - olhei o garoto de olhos miudinhos e abri espaço para ele se sentar ao meu lado.

— Obrigado, você foi gentil. - ele sorriu. - Meu nome é Floyd!

— Floyd? Tipo Pink Floyd? – eu sorri com a referência. Gostava de escutar essa banda com a minha mãe.

— É, meu pai era um grande fã da banda, o que eu posso dizer… Mas não venha me chamar de Pink!

 

Janeiro - 2004

— Mamãe, o que é o amor?

— Algo inexplicável.

— Então por que existe?

— Ora… Eu não sei! Mas se descobrir o que é, me conte.

Eu sorri e anotei em um papelzinho:

"O que é amor?"

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar ♥



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