Cap. IX – Coincidências 

Londres, no dia anterior...

Shunsui estava jantando com ex-mulher Lisa, apesar de terem se divorciado a muitos anos era muito amigos. Fizeram isso, principalmente, por causa do filho, não queriam que o rapaz tivesse que viver escolhendo entre um e outro.

A Yadoumaru era uma mulher de 45 anos muito bonita. Cabelos negros presos em uma trança, óculos de leitura que raramente tirava, pele alva, esbelta e de muito bom gosto ao vestir-se. Quem a visse não julgava que já estivesse perto dos 50 anos. Era corretora de imóveis e ainda amava o ex-marido.

- Eu vou embarcar para o Japão amanhã, quero olhar como andam as coisas por lá... Estou precisando de férias... – ela levou a taça de vinho aos lábios – E você? O que vai fazer esses dias?

- Tenho que ir para o tribunal amanhã, é o último julgamento do caso que peguei, depois vou organizar minha vida... Nanao-chan quer ir para o Japão ver a família e agora não posso deixá-la ir sozinha.

- Tem medo dela não voltar? Digo... Ela não deve estar muito feliz com a situação que estão.

- Não diga besteiras, Lisa-chan! A Nanao-chan jamais faria algo assim...

- Desculpe o que vou dizer agora, mas seria muito melhor se ela ficasse por lá! Olha, você é um advogado de renome e sua namorada de 24 anos está grávida... Isso não vai te ajudar em nada!

- Você sabe que nunca liguei para opinião alheia... Somente a mim importa o que faço ou deixo de fazer!

- Claro... É muito bonito um homem estabilizado na vida e divorciado curtir festas e garotas mais novas. Aposto que muitos de seus clientes adoram ouvir suas peripécias, mas tudo muda de figura quando se trata de formar uma família, todos se tornam puritanos.

- Como você, Lisa-chan?

- Você sabe muito bem que meus motivos são outros, mas pare para pensar... Essa menina, porque ela não passa disso, está grávida! Não é brincadeira e você sabe! Se vocês casarem ou continuarem juntos... Sei lá... Muita coisa vai pesar para ela. A Nanao ainda está naquela fase de viver, fazer loucuras, estudar fora... Das duas, uma, ou ela tira essa criança, ou a tem sozinha.

Nesse instante, a habitual calma do Kyouraku foi para as cucuias, ele procurava não contrariar Lisa, respeitava a opinião dela apesar de não concordar, mas o que ela acabara de dizer era inaceitável.

Subitamente o homem levantou da mesa com um olhar nada dócil para a mãe de Keigo.

- Escutou o que disse, Lisa? Você realmente escutou o que disse? – ele deu alguns passos para longe da mesa – Como você se sentiria se eu tivesse lhe incentivado um aborto ou te abandonasse quando engravidou do Keigo?

- Era completamente diferente! Nós tínhamos mais ou menos a mesma idade, estávamos na mesma fase da vida... Começamos uma história juntos. Convenhamos Shunsui, você nunca apresentou Nanao como sua namorada nos jantares com clientes que levou!

- Isso não é verdade!

- E eu não disse para desampará-la, apenas deixe que ela tenha essa criança no Japão, junto da mãe, do pai, dos amigos! Você já foi pai, não vai estar abandonado nada e também duvido que ela te impeça de ver a criança quando te der na telha...

- Como você se sentiria se fosse você? Como você mesma faz questão de lembrar a Nanao-chan é muito jovem, mais do que nunca precisa de mim!

- Claro, isso é o que a razão te diz... Mas sua vontade é outra, caso contrário, não estaria passando tanto tempo aqui em casa ou falado comigo ao telefone quando deveria estar dando atenção a ela. Você não quer essa criança e no fundo ficaria muito feliz se ela sumisse no mundo com esse bebê!

Agora tinha sido a gota d’água.

- Olha aqui, Lisa, eu gosto muito de você e te respeito muito, mas não vou ficar ouvindo você dizer as coisas que quer acreditar! Se a Nanao-chan sumisse no mundo, eu iria procurá-la para dizer o quanto a amo! Desculpe se eu não pude te amar o quanto você merecia no passado... Mas isso não é uma coisa que eu possa mudar.

- Eu sei que fui a mulher certa, na hora errada! – ela também levantou-se – Mas agora eu posso ser a mulher certa, na hora certa! Você sabe que não a ama, só te faz bem a essa altura de sua vida saber que pode ter uma menina jovem! Pare de pensar só em você, pense nela por um instante!

- Infelizmente eu não pude ser o que você merecia quando podíamos ter sido felizes, eu te amei muito, mas não foi o suficiente... Agora tudo o que eu quero é conseguir pôr minhas idéias no lugar para poder oferecer o melhor para ela! – ele começa a sair – É bom eu não descobrir que você fez nada contra a Nanao-chan... Está avisada!

E assim batendo o pé, o moreno saiu, Lisa apenas voltou para a mesa e voltou a comer. Aquilo não tinha acabado ainda, ela não podia, nem faria nada contra aquela criança... Mas Nanao a essa altura já deveria estar no Japão e ela teria tempo de uma conversinha com a menina antes de Shunsui aparecer por lá.

Voltando para o Japão hoje....

Inoue e Tatsuki caminhavam pelos corredores do Shopping a procura de algumas roupinhas novas para a morena. Não era todo dia que se iniciava um relacionamento com um campeão de jiu-jítsu.

- Ah... Inoue, eu não quero mais entrar em loja nenhuma! Já chega! Quando eu disse comprinhas, era realmente uma pequena compra!

Aquela coisa de bater perna, escolher, vestir, olhar e tirar roupas era muito mais cansativo do que um dia inteiro de treinamento. Bendita hora que resolveu chamar a melhor amiga para aquilo... Deveria ter feito sozinha.

- O que?? Mas agora falta só o mais essencial, nem pense em desistir! – a ruivinha arrastava a desanimada amiga pela mão –

- O que mais falta? A gente já entrou em cada loja desse maldito shopping! Não conseguiremos mais carregar sacolas!

- Como o que?? – Inoue franziu o cenho – As lingeries! Com esse corpão ele vai pirar!

Tatsuki trocou de cor imediatamente, não acreditava no que tinha acabado de ouvir. Inoue praticamente gritou para quem quisesse ouvir que ela e o namorado já dormiam juntos. Onde raios estava o desconfiômetro da ruiva??

Se bem que alguém que como pudim com wasabi não pode ser considerada alguém que tenha um desconfiometro !

- Fala baixo, sua maluca! O que as pessoas vão pensar de mim? – ela soltou as sacolas e segurava Orihime pelos ombros –

- Bem... – ela colocou um dedinho na boca – As mulheres vão ficar com inveja de imaginar esse corpão numa lingerie sexy e os homens... – ela ri – Prefiro não comentar!

- Eu... Eu... Vai te catar, Inoue!

A atleta pegou suas sacolas e saiu a passos rápidos de perto da amiga. Se continuasse naquele ritmo todo mundo ficaria sabendo de sua vida sexual.

Logo atrás a ruivinha vinha correndo tentando alcançá-la, e do jeito que era desastrada era bem perigoso tropeçar no chão liso e se estabacar. E querem saber, não deu outra... A jovem Inoue caiu sentada fazendo tudo é quanto sacola voar.

- Inoue, sua desastrada!!

A amiga correu para ajudar a caída a se levantar, ela não tinha se machucado, mas estava estranha. Parecia que tinha entrado em estado catatônico, ou alguma coisa do tipo...

- Inoue... – ela passa a mão em frente aos olhos da ruiva – Hallo!! Acorde...

- KAWAII!!! 

- O que foi?? O que foi??

- Olha isso, Tatsuki-chan! Olhe que coisinhas mais fofas!!

Orihime apontava para a vitrine de uma loja de artigos para bebês. Seus olhos faiscavam e ela ostentava um sorriso gigantesco. Parecia uma criança que via a vitrine de Natal pela primeira vez.

- Claro, claro... Muito lindas, mas como nenhuma de nós vai ter um bebê...

- Não seja má, Tatsuki-chan! Como você não se comove com coisinhas tão fofas e lindinhas? Quando eu tiver um filho vou comprar tudo!!! Meu bebê vai ser o mais fofinho que existe!

- E eu vou ter que correr cada loja de artigos para bebê com você, só que enquanto isso não acontece por que não vamos comer? Estou azul de fome!

- Yare, yare... Vamos então!!

As duas recolhem as sacolas que estavam espalhadas pelo chão reluzente do shopping e quando vão se encaminhar para a praça de alimentação veem duas mulheres saindo da loja que antes a Inoue admirava.

As duas conversavam animadamente e a morena que usava óculos trazia consigo três sacolas enquanto a outra usava um par de muletas devido a sua perna debilitada.

- Aquela ali não é a Kuchiki-san? – disse a esportiva – E não é que ela continua igual a dez anos atrás?

- Gente! O Ichi-kun não brincou, ela tá mesmo com a perna quebrada! – a ruiva levantou um dos braços e gritou: - Kuchiki-san!

- O que vai fazer sua maluca? Acha mesmo que ela ainda lembra da gente?

- Larga de ser chata! Vamos lá!!!

Rukia virou o rosto ao ver seu nome ser chamado, no primeiro momento não reconheceu quem a chamou, mas logo recordou-se. Orihime Inoue, uma velha colega de colégio.

Os peitos continuavam muito grandes.

- Kuchiki-san!! Tudo bem, lembra-se de mim?

Um pouco assustada com a chega intempestiva da velha amiga, Rukia abriu um sorriso amarelo tentando ser simpática.

- Inoue! Quanto tempo!!

- Viu Tasuki-chan, eu disse que ela iria lembrar!

- Claro...

- Você deve ser Tatsuki, a esportiva... Quantos anos, em? Vocês duas não mudaram nada!

- Olha quem fala! Você continua igual uma bonequinha de louça! E você, acho que te conheço... – Inoue apontava para Nanao –

- Ukitake Nanao... Talvez você tenha lido algum dos meus livros, utilizo o sobrenome de Ise em meus livros!

- Claro, claro! Ise Nanao! Eu li todos os seus livros, você faz as mulheres pensarem mesmo... E aquele livro para crianças era muito kawaii!! – ela olha as sacolas nas mãos da Ise – E essas sacolas? Vai a algum chá de bebê?

- Não, não... Eu estou grávida mesmo, é para o meu bebê.

- Não me diga! Que bom, você está grávida!!! Posso te dar um abraço??

- Inoue!? – Tatsuki lançou um olhar torto para a amiga, que tipo de pedido era aquele? –

- Não me importo, pode me dar um abraço.

Inoue abraçou Nanao deixando-a quase sem ar. Aquela ruivinha não era muito normal não.

- Okay, okay, Inoue! Agora vamos almoçar, elas devem ter mais coisas para fazer!

- Hum... Que pena, não querem almoçar com a gente?

As duas amigas se entreolharam e acharam que não tinha nada demais. Poderia ser divertido almoçar com aquelas duas, principalmente, com a Inoue. Nanao estava mesmo precisando esquecer um pouco seus problemas.

- Se não formos atrapalhar...

- Claro que não, quanto mais gente melhor!

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As quatro moças conversavam animadamente enquanto almoçavam, nem parecia que tinham se encontrado no Shopping a poucos minutos. Inoue era muito comunicativa, deixando sua amiga Tatsuki muitas vezes constrangida.

- Nossa! Que mundo pequeno... Você namora o rapaz que me atropelou? – disse a Kuchiki um pouco atônita –

- Eu sei! Disse a mesma coisa para o Ichigo... – ela molhou uma batatinha no molho de manga – Sem contar que foi o pai dele que projetou a casa de sua família, quantas coincidências e vocês nunca se cruzaram!

- Sério? – Rukia arregalou os olhos – Estamos mesmo falando da mesma pessoa? O pai dele projetou a mansão do nii-sama?

- Foi sim, Kurosaki Isshin! E modéstia parte, meu namorado é muito talentoso! Nossa! Conta para ela Tatsuki-san... – Inoue cutucou a amiga – Conta o que ele fez lá em casa!

- O cabelo de laranja é realmente talentoso! – disse Tatsuki sem dar muita importância –

- Vou guardar esse nome, quem sabe um dia eu não precise de um arquiteto de confiança!

- Ele trabalha com reforma de pequenos ambientes? – perguntou Nanao –

- Claro! O Ichi-kun até prefere pequenos projetos! Por quê?

- Eu acabei de voltar de Londres e estava pensando em remodelar meu apartamento para a chegada do bebê. Seria até mais fácil comprar outro, mas eu gosto muito do lugar, o ambiente, o condomínio vai oferecer uma ótima referencia para meu bebê!

- Pois eu faço questão de falar com Ichigo e te indicar uma decoradora MARAVILHOSA para decorar o quarto do bebê! Ain... estou louca para ser mãe!

- Não precisa se incomodar tanto! Nem tenho tanta pressa... Faltam seis meses para o nascimento!

- Acho que você quis dizer só seis meses! Uma reforma demora!

- Inoue, não seja intrometida! Você nem conhece a moça e quer dar pitaco na maneira como ela leva a gravidez!

- Eu... não me importo! Só que não tenho pressa mesmo! Nem sei se vou mesmo ficar no Japão, foi só uma idéia que tive!

- Mesmo assim ligue para a Construtora, te garanto que até amanhã ou depois vai ter um horário para você!

- Obrigada, muito gentil de sua parte. – Nanao sorriu e pegou o celular – Um minuto... Vou atender o celular.

A Ise levantou-se e se afastou um pouco para fugir do barulho da praça.

Ligação on

- Nanao-chan!!! Posso saber por que não me atendeu ontem?

[ - Shunsui? – a Ise estava surpresa –

- Parece tão surpresa, não estava esperando falar comigo?

[ - Na verdade achei que estivesse ocupado demais, o que quer?

- Acabei de sair do tribunal, estava pensando em te buscar para comermos alguma coisa... Estou com saudades, Nanao-chan!

[ - Jura? Estranho, porque não atendeu nenhuma das mais de dez ligações que te fiz a dois dias. Não posso jantar com você.

- Shunsui respirou – Desculpe, Nanao-chan, eu sei que nossa situação anda delicada, mas não precisa me tratar assim! Estou passando para te buscar!

[ - Não vá, não estou em casa... Vai correr atrás da Lisa-san antes que ela fique com ciúmes!

- Nanao-chan!? Que história é essa? Como assim não está em casa?

[ - Boa tarde, Kyouraku-san, passar bem! – a morena desligou –

- Como assim ‘boa tarde’? São nove horas da noite!! – o advogado estava confuso –

Ligação off

Nanao guardou o celular na bolsa tomando o cuidado de colocá-lo apenas para vibrar, não queria atender mais Shunsui. Não queria falar com ele. Se antes quem precisava de espaço era ele, agora quem precisava era ela!

Tudo ainda estava muito confuso na cabeça da jovem escritora. Até o clima para comer tinha acabado, iria embora.

- O que foi, Nanao? Que cara é essa? – indagou Rukia –

- Desculpe, Ruki, vou para casa! Meu apetite acabou! – a mulher pegou sua bolsa e sacolas – Adorei conhecer vocês e vou marcar sim uma hora com o Ichigo-san, desculpe estar saindo assim!

- Oh... Que nada! Pode ir! Foi um prazer te conhecer, Nanao-san!

- Espera, Nanao! Eu também vou! Me espera!!! – Rukia levantou e desajeitadamente foi atrás da amiga – Me liga depois, Inoue-san! Eu tenho que ir!!

- Certo, certo.... Kuchiki-san!

Rukia tentou alcançar a amiga, aquelas muletas eram um grande desafio. No entanto, por fim conseguiu chegar até a amiga.

- O que aconteceu, Nanao? Quem era?

As duas entraram na Mercedes dirigida pelo motorista que Byakuya ordenou que levasse a irmã para onde quer que ela fosse.

- O Shunsui... – disse a morena sem animação – Aquele idiota acha que eu estou sempre a disposição dele!

- Calma, Nanao! Você não acha que está estressada demais por pouca coisa?

- Você não sabe o que é ver o homem que você ama na mesma casa que você, mas com a cabeça na casa da ex. Ele ficava horas com ela no telefone, ou na internet... Quando não ia para casa e esquecia de voltar! Eu não quero migalhas do amor de ninguém, não preciso disso Rukia!

- Eu não quero justificá-lo, mas você não acha que ele está confuso também?

- Eu não vou voltar para Londres para ficar sozinha, Rukia, aqui eu tenho meus pais, meus amigos... O Shunsui não pode me forçar a voltar para lá.

- Claro, Nanao, não tenho o que dizer sobre isso. Mas você precisa falar com ele, avisar que está aqui, logo ele vai descobrir!

- Eu vou falar, assim que for a hora... Quem precisa de um tempo agora, sou eu!

- Yare, yare... Mas não fique tão nervosa, pode fazer mal. Então, vamos marcar uma hora com o tal Kurosaki?

Rukia tentava sair do assunto que afligia a amiga.

- Nós? – Nanao ergueu uma das sobrancelhas –

- Bem, eu não acho que o nii-sama vá deixar que eu volte as empresas tão cedo... Preciso de alguma coisa para fazer.

- Você vai ser uma madrinha muito coruja!

- O que posso fazer? – as duas riram –

Continua...