Como sobreviver a um semestre escrita por Wendy


Capítulo 12
Dica número 5: Saiba em quem confiar


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo, finalmente estamos de volta!
Esse capítulo é pra quem entendeu a referência



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O dia estava tenso devido aos casos de assassinato que ocorreram tão próximos. Os alunos da POC tomavam cuidado ao andar pelo campus, evitando locais com pouca circulação de pessoas, escuros, distantes e, obviamente, a floresta. Procuravam andar sempre em grupos e dificilmente um aluno era visto sozinho.

—Bom dia, gente! -Letícia estava radiante. -Quem está a fim de fazer compras no shopping? Ele fica longe daqui, mas podemos pegar um atalho indo pela floresta escura e vazia. Se ninguém for comigo eu vou sozinha, tô nem aí!

—Tem um shopping do lado da POC? -Thati estava surpresa.

—Claro, querida. -Letícia lixava suas gigantes unhas cor-de-rosa cheias de glitter. -Onde você acha que os alunos vão desperdiçar o dinheiro que o papai deu? Agora chega de enrolação e vamos gastar!

—Não sei, não. -Mari estava desconfiada. -Isso parece perigoso. Não vamos nos esquecer de que tem um assassino a solta por aí, né gente?!

—Acabei de receber uma notificação de que está tendo promoção de bebidas! -Thati animou-se.

—O que vocês estão esperando? -Mari já estava na saída. -Vamos logo!

—Calma aí, gente, ainda temos uma aula hoje. -Lembrou Ju.

—Tanto faz. -Nath não tirava os olhos do jogo em seu celular. -Só espero que a aula seja com um professor bem bonito. Já não tive sorte ontem, preciso ser recompensada de alguma forma. E a aula é de que, afinal?

—Cinesiologia. -Bocejou Letícia.

Nath desconcentrou-se do jogo. Imediatamente começou a imaginar um professor bonitão com corpo definido, mãos firmes e cabelo sedoso ajudando-a a medir a extensão de suas coxas –“Uau, Nathalia, seu corpo é tão flexível. Você é tão bonita, tão inteligente. Vamos juntos para uma viagem rumo ao horizonte”.

Quando o beijo da fantasia de Nathalia estava prestes a acontecer, sonho foi interrompido pelo barulho dos vidros da janela da sala que quebraram-se brutalmente, assustando a todos. Noemi acabara de passar pela janela segurando uma corda que os alunos não faziam ideia de onde estava amarrada para sustentá-la.

—Buceta cabeluda! -Reclamou, limpando os pedacinhos de vidro que caíram em seu traje ninja. -Esqueci de colocar os óculos! -Quando finalmente os colocou, percebeu que o professor ainda não havia chegado na sala de aula. -Não acredito que eu cheguei primeiro que o professor! Se eu soubesse nem tinha vindo.

De repente, o barulho de passos pesados chamou a atenção da classe.

—Silêncio, o professor chegou! -Sussurrou Letícia.

—Bom dia, estudantes. -Uma voz gélida e sem expressão alguma ecoou pela sala.

Todos olharam para cima boquiabertos. Como era possível um ser tão grande, colorido e esquisito ser o professor? Aquele gigante definitivamente não era humano!

—Eu sou Thanos.

—WHAT THE FUCK?! -Gritou Nathalia. -Como assim o Thanos é nosso professor?

—O que você esperava, garota? -Colocou as mãos na cintura. -Que eu fosse apenas um vilão disposto a matar metade da população do mundo? Claro que não, eu tenho os meus valores! Meu trabalho é honesto. Seis meses sendo o vilão e seis meses sendo professor; assim o ano está perfeitamente equilibrado, como todas as coisas deveriam ser.

—... Ok...??!!

—Você consegue ser professor desse jeito? -Questionou Thati.

—Sim.

—E o que lhe custou?

—... Tudo que eu tinha. -Thanos tinha dor em seu olhar. A carreira de professor exigia muitos esforços, sacrifícios e gerava um stress muito maior do que sua carreira como vilão. Para evitar esse tema melancólico, ele decidiu mudar de assunto. -Bem, vamos começar a aula. As escolhas mais difíceis requerem as vontades mais fortes.

—Essa matéria vai ser bem fácil, né, profs? -Perguntou Letícia.

—A realidade muitas vezes é decepcionante. -Thanos colocou as mãos para trás e caminhou pela sala. -E quando a realidade vem... ela é foda.

Os alunos se entreolharam. Parecia que estavam diante da matéria mais difícil do curso.

—Quando será a prova?

—Isso não é importante agora. Com o tempo vocês saberão como é perder. Saber desesperadamente que se têm razão e perder ainda assim.

—Mas... vamos pelo menos poder ter aulas práticas e momentos lúdicos, certo?

—Diversão não é algo a ser considerado quando se traz equilíbrio ao universo.

—Céus... -Mariane sussurrou. -Esse cara tá mais louco que o Batman!

—Estúdio errado. -Corrigiu Thanos. - Eu não acho que você entenda o que está em jogo aqui.

Mari escorregou na cadeira, tentando sumir de vista.

—Eu sei que parece que toda esperança está perdida. Acredite, eu sei. Eu só estou tentando nos proteger. O nosso futuro, e só isso. Eu te asseguro: o sol irá brilhar sobre nós novamente.

—Oh my God! -Nathalia estava em pânico.

Motivado, Thanos continuou:

—Eu só sou professor porque o destino quer que eu seja. Havia uma ideia: reunir um grupo de pessoas extraordinárias para ver se podíamos nos tornar algo maior: terapeutas ocupacionais! Para que quando nossos pacientes precisarem de nós, travaríamos as batalhas quando eles não conseguissem. Não negociamos vidas.

—Bem, acho que podemos começar a aula agora. –Noemi interrompeu.

—Sim, sim... Mas antes: essa sala tem bolsistas demais.

Antes que pudessem fazer algo, Thanos estalou os dedos da mão em que usava uma luva dourada gigante, cheia de pedras preciosas. A partir desse momento, metade dos alunos se transformou em pó.

—MEU DEUS! -Gritou Nathalia! -COMO VOCÊ FOI CAPAZ DE FAZER ISSO, SEU MONSTRO? Agora a tia da limpeza vai ter um puta trabalho.

—Podem achar que isso é sofrimento. Não. É salvação. -Ele estava muito sério, até que finalmente exibiu um tom mais amigável. -Bem, hoje foi apenas uma breve introdução, espero que tenham criado expectativas para a disciplina. Vejo vocês na próxima aula.

Quando Thanos sumiu, vários alunos saíram correndo da sala.

—Ufa, o nosso grupo inteiro sobreviveu! -Observou Ju.

—Esse professor me deixa nos nervos! -Mesmo tensa, o enorme e brilhante sorriso de Letícia não saía de seu rosto.

—Relaxa, Letícia -Disse Noemi, depois de conversar com a Letícia. -Eu sei o que vai animar todas nós agora: ir ao shopping!

—Uhul! -Comemorou Nathalia, dançando. -Shopping! Shopping! Shopping!

—Se corrermos ainda dá tempo de pegar a promoção de bebidas! -Thati vestiu sua bandana de corrida.

—Tem certeza de que é uma boa ideia passarmos pela floresta? -Perguntou Mari, quase desistindo da ideia.

—Vamos logo, Mariane! -Noemi a empurrou. -Não é a mesma coisa se o grupo todo não estiver lá.

—Que rolê mais aleatório, gente! -Respondeu ela, percebendo que não teria modo de escapar.

—Nosso grupo inteiro é aleatório. -Letícia estava calma novamente.

—Precisamos de um nome para ele! -Thati gostou da ideia.

—Grupo do Rolê! -Sugeriu Ju, com naturalidade, como se aquele nome já houvesse sido criado há muito tempo.

O grupo gostou de ideia e partiram em direção ao shopping que estava escondido logo depois da floresta. Durante o caminho, passaram por insetos chatos e insistentes, buracos, rios de esgoto, mato espesso e algumas armadilhas deixadas pelas tribos canibais locais, no entanto, nenhum rastro do Assassino de Pombinas foi visto por lá.

Chegando ao shopping, as garotas resolveram se dividir de acordo com seus interesses. Thati, Mari e Nath correram o mais rápido possível até o supermercado em busca de promoções.

—É hoje que eu vou beber até cair! -Thati comemorou.

—Me esperem, meninas! -Nath estava sem fôlego. O que a motivava era o álcool. -Eu tenho pernas curtas!

Quando finalmente chegaram ao local, seus olhos estavam brilhando. vasculharam o mercado inteiro até que finalmente encontraram uma enorme placa indicando a promoção, no entanto, o lugar estava vazio.

—Uma promoção sem ninguém por perto? -Analisou Thati, desconfiada. -Isso não tá me cheirando bem.

—Quem liga? -Nath chegou alguns segundos depois. -Vamos logo!

—Esperem aí! -Mari finalmente entendeu o que estava acontecendo. -Realmente existe uma promoção de bebidas, mas... não são bebidas alcoólicas. É Dolly Guaraná!

—O queeeeeeeeeeeê?!?! -Thati e Nath gritaram ao mesmo tempo.

—Não é possível uma coisa dessas! -Thati, furiosa, foi até o cartaz e viu que todas as embalagens que estavam por ali realmente eram de refrigerante. Havia um cartaz com uma imagem gigante do mascote da marca: uma espécie de garrafa de guaraná com a expressão de quem estaria esperando por você embaixo de sua cama às 3h da manhã. Ao lado um balão exibia a frase “Sou o Dollynho, o seu amiguinho”.

—Aff, ninguém merece! -Mari foi embora sem olhar para trás.

—Galera, mas e se realmente houver uma promoção? -Nath queria acreditar que havia uma esperança. -Quem sabe, podemos aproveitar.

—Acho que não, miga. -Thati lhe mostrou o aplicativo. -Era tudo uma enganação desse aplicativo podre!

Decepcionada, Nath pegou o celular e o olhou com tristeza enquanto as amigas se distanciavam. No entanto, as amigas de Nathalia eram rápidas e quando ela olhou para frente ambas já haviam sumido.

—Ah, quer saber? Uma promoção é uma promoção! Eu vou é aproveitar, mesmo que seja Dolly.

Nathalia comprou uma garrafinha do refrigerante e sentou-se em um banco de madeira para aproveitar a bebida que, mesmo sem conter álcool, ajudaria ela a se refrescar. No verso da embalagem, uma imagem do Dollynho dizia que aqueles que entrassem no aplicativo da marca poderiam ganhar ainda mais promoções e que os clientes não poderiam deixar essa chance escapar! Como Thati ainda não havia a encontrado para pegar seu celular de volta, Nath achou que seria uma boa ideia instalar o aplicativo no celular da amiga, já que ela adorava promoções e poderia mudar de ideia a qualquer momento.

Quando instalou o aplicativo, viu que ele disponibilizava um chat para conversar com o próprio Dollynho e, como não havia nada melhor para fazer, Nath resolveu dar uma chance:

Nathalia: oi 

Dollynho: Oi, amiguinha Nathalia!

Nathalia: tudo bem?

Dollynho: Tudo ótimo, amiguinha Nathalia! E você?!

Nathalia: Meh. 

Com o tempo, os dois começaram a falar sobre os mais variados assuntos, como política, memes e legalização do aborto. Nathalia se interessou pela conversa e nem viu os minutos passarem.

Enquanto isso, Nonô, Letícia e Ju caminhavam pelo shopping.

—Amiga, olha discretamente. -Noemi sussurrou para Letícia. -Me diz se aquele homem não é um pedaço de mau caminho?

Letícia quase desmaiou quando viu o homem vindo em sua direção. Usando roupas da marca Oakley e um juliet colorido, o funkeiro de bermuda branca fazia questão de exibir seu cabelinho na régua e o risquinho na sobrancelha. Passou o polegar pelo bigodinho fininho e logo lançou um sorriso e uma piscada para as meninas, bem antes de fazer uma arminha com a mão. Elas elouqueceram.

—Ele anda como alguém que tem uma arma no quadril. -Observou Ju.

—Esse é o charme! -Noemi explicou.

—Quanto mais cara de bandido, mas bonito é! -Letícia encarava o Zé Droguinha que acabara de passar por elas. Mas não troco nenhum deles pelo meu chuchuzinho.

—Vai me dizer que você não achou ele bonito?

—Hum... -Juliana observou novamente, só para conferir. -Na verdade, não.

—Então qual é o seu tipo de homem?

—Mortos.

—Era mais fácil dizer que não quer namorar! -Exclamou Letícia. 

—Não, eu realmente gosto dos mortos. O cemitério ao lado da minha casa está cheio de gatinhos da segunda guerra mundial, pena que o bafo é horrível e eles só pensam em cérebro. 

—Pois é, amiga. -Concordou Noemi. - Os homens de hoje em dia só querem o nosso corpo.

A conversa seguiu até que o trio encontrou mais duas integrantes do grupo do rolê.

—Thati! Mari! -Cumprimentou Letícia.

—Oi, gostosas! -Noemi também cumprimentou, porém com um tapa barulhento na bunda de cada uma, o que as assustou.

—Viram o pitelzinho que acabou de passar por vocês?

—Nem começa, Letícia! -Mari riu.

—Eu não ia falar nada, mas... -Thati hesitou, até que não resistiu. -Eu vi, amiga! Que tanquinho definido, hein?

—Uai, ele tirou a camisa?

—Sim, amiga, você não viu?! Ele está andando com a camisa no ombro agora e tirando selfies fazer arminha com a mão!

—Ai, Meus Deus, eu não posso perder isso!

As duas iriam sair correndo se Mariane não houvesse as segurado pelas golas das camisetas, evitando uma possível vergonha alheia.

—Afinal, conseguiram a promoção? -Ju questionou.

—Nem. -Mari ainda tentava controlar as duas. -Era tudo uma enganação e das mais porcas!

—Parece que pelo menos uma de vocês ficou feliz. -Noemi apontou para Nathalia, que se aproximava delas com os olhos grudados no celular e se divertindo muito enquanto teclava.

A ruiva ria muito alto enquanto conversava com o amigo que havia feito no bate-papo do novo aplicativo: Dollynho.

Dollynho: Agora você está bem, amiguinha Nathalia?!

Nathalia:  eu tô até que bem, viu. E tu?

Dollynho: É impossível estar melhor, afinal, você está aqui. 

Nathalia:  ah, para!

Dollynho: Não seja tímida! Mas, vamos lá, me diga: o que você gosta de fazer amiguinha Nathalia?!

Nathalia: ah, eu gosto de jogar vídeo game, cozinhar e comer o que cozinho.

Dollynho: Que impressionante, amiguinha Nathalia! Eu gostaria de observar enquanto você faz todas essas coisas. Você é uma amiguinha incrível!

Nathalia: eu sou incrível mesmo! Que bom que você notou. Você também está sendo um amiguinho muito legal.

Dollynho: Vamos ser amiguinhos para sempre, não é, amiguinha Nathalia? E vamos nos divertir muito quando eu lhe visitar no porão da sua casa perto da pista de skate e da pizzaria na cidade de Sumahell, junto com seu gatinho fofo que está cochilando perto da janela nesse exato momento! Uma fofura!

Nathalia: peraí, o quê?!

Dollynho: Há! Há! Há! É apenas uma brincadeira, amiguinha Nathalia. Quero sabre mais sobre você! Me conte, seus pais costumam sair em que horário?!

—Esse é o meu celular? -Thati apalpou a calça e sentiu que seus bolsos estavam vazios.

—Ah, é sim. Você esqueceu comigo. -Nath tirou os olhos do celular e o entregou para Thati ainda com o aplicativo aberto. -A conversa já estava ficando estranha mesmo.

—Bem, acho que agora já podemos ir para casa. -Mari conferiu em seu relógio de gelo. -Se demorarmos um segundo a mais o trânsito vai estar um horror, até para quem pode criar uma ponte de gelo!

—Te entendo. Meu unicórnio voador também sofre com o tráfego aéreo. Eu nunca vi tantos pombos circulando no mesmo lugar!

—Então nos vemos amanhã. -Noemi disse tchau apertando os peitos das garotas, que tentaram se proteger, mas sem sucesso. Exceto por Nathalia, que gostou da despedida e correu para os braços de Noemi. -Você não. -Desviou.

—Você é a pessoa mais cruel que já pisou nesse mundo! -Gritou.

Noemi, que já estava longe, deu tchau e continuou seu caminho, até que sumiu ao mesmo tempo em que uma enorme nuvem de fumaça fez dezenas de fregueses do shopping tossirem sem parar.

Cada garota do grupo, assim como Noemi, seguiu o seu destino. Thatiane acabara de ir ao banheiro e andava tranquilamente pelo corredor de saída quando sentiu seu celular vibrar.

—Oxê, quem é essa pessoa?

As mensagens não paravam de chegar em um ritmo aceleradíssimo. A tela agora tremia e a imagem de um Dollynho fofo e amigável havia sido substituída por uma versão preta e branca em que seus olhos escuros sangravam, embora o sorriso permanecesse.

Dollynho: Onde você está, amiguinha Nathalia?!

Dollynho: Você não quer mais ser minha amiguinha?

Dollynho: Vamos brincar, amiguinha!

Dollynho: Eu sou o Dollynho, seu amiguinho!

Dollynho: Você se seu esqueceu de mim, Nathalia?!

Dollynho: Como você pode fazer isso Nathalia?!

Dollynho: NÓS SEREMOS AMIGOS PARA SEMPRE!

Thati, assustada com as mensagens, precisou fechar os olhos quando um brilho verde saiu de seu celular e a puxou para dentro do aparelho. Com um grito, a garota teve seu corpo completamente sugado. Tudo o que restou foi um celular sem dono jogado no chão do corredor.


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