Lilu escrita por Another weird writer


Capítulo 1
A New Dawn [ONE SHOT]




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Ele abria um pequeno sorriso de satisfação. O cenário caótico que ele deixava para trás não era mais importante - tampouco gracioso. Seus longos cabelos esvoaçavam com os ventos que carregavam a fúria das florestas e sua caminhada não podia parecer mais tranquila.

O farfalhar das folhas serviam como um sutil alarme da chegada do anoitecer e seu frio envolvente. O arquiduque despertava de seu luxuoso leito e não se demorava com seus preparativos para visitar suas novas crianças. Seus serviçais o banhavam, trajavam, penteavam seus longos cabelos e ofereciam a primeira taça.

Era crucial o momento do primeiro encontro. Era a hora da seleção. Caminhando pelo seu berçário ele passava a alimentar suas crianças com o primeiro despojo de sangue. Aquelas que o rejeitavam eram presenteadas com a morte prematura. Ele se esbaldava em apreciação pela juventude - a inocência, pureza. Aquele cenário lhe valia mais que a rara e mais bem avaliada obra de arte.

Dentre o desenvolvimento da nova leva, o arquiduque tinha um interesse mór por apenas uma que parecia se entreter na própria fantasia.

Os primeiros anos eram libertinos para que ele reconhecesse os que tinham ou não potencial de desabrocharem como belas flores no seu exótico jardim e eram nessas etapas que os números de perda só aumentavam. Brincar com a vida parecia rotina - o menor deslize num péssimo dia poderia levar a uma seca execução.

A colheita se dava com o desabrochar de suas preciosas flores - o momento perfeito para trocar a vida pela morte. Cada um tinha seu período de maturação, muitos deles não resistiam - perdiam as estribeiras quando retornavam e eram descartados. O início da puberdade o intrigava, a futura e interrompida geração de hormônios deixavam as interações com suas crias mais instigantes.

Foi apenas com uma em específico que ele quebrou a própria regra de harmonia e tomou-lhe o direito de viver antecipadamente. Ela era, de certa forma, especial e ele se regozijava em observá-la.

O arquiduque mantinha a intrigante fama de estar sempre acompanhado de infantes - muitas vezes tão angelicais com seus traços sutis e dúbios que acalentavam até mesmo a alma mais turbulenta com tamanha beleza. Mas dentre todos, apenas uma ele não expunhava para seus cidadãos: a pequena elfa de cabelos tão límpidos quanto o mais belo céu.

Pela primeira vez em milênios ele passou a se alimentar diretamente da fonte. A única que ele não mostrava ao mundo era por íntegro ciúme de todos seus mais singelos traços - mas dentre todos os motivos, era a preciosidade de seu sangue que o encantava das mais diversas formas e fazia questão de mantê-la para o próprio usufruto.

Com o passar dos anos o arquiduque começou a encasquetar com a ideia de que a sua obra predileta estava incompleta ao seu lado. Ele tinha pleno conhecimento do que ela era, mas sofria uma pitada de curiosidade sobre o que ela podia se tornar. Em seu íntimo florescia a inspiração e determinação: estava disposto a torná-la sua maior obra de arte. A possessividade arranhava seus desejos com a possibilidade de perder seu bem mais precioso - mas compreendia que era com os sacrifícios que colheria o melhor e mais doce fruto.

Sob a luz de uma lua cheia ele concretizou a primeira parte de sua maior construção. Durante as semanas esteve influenciando indiretamente a mente de Lilu com histórias de aventureiros seguidores de um forte mestre que trajavam suas próprias aventuras para ficarem cada vez mais fortes para agradar seu superior. Para uma mente tão obediente e sugestiva, não foi difícil para a ideia assentar sobre a maior parte dos pensamentos raramente independentes.

O cenário criado para dar-lhe o salto inicial foi a provação. Seu mestre, Mordrag, propôs que Lilu se provasse digna de sua companhia - encheu-lhe o pequeno ego com doces palavras sobre um potencial a ser alcançado para que fosse de seu grado. Mas para isso ela teria que debandar da asa segura do castelo e seus luxos - deveria conhecer a ordem e o próprio caos interno e externo e quando finalmente estivesse pronta, ele chamaria pelo seu nome sobre a mais fria lua.

Com a obediência, primeiramente veio o medo. Lilu desconhecia o mundo dos portões para fora, tampouco sabia que existia vida além dele - o sentimento de abandono tentava se ocupar, desmerecimento; mas quando pensava em se abalar, as amáveis frases do mestre enchiam-lhe o seio, com incentivos de que deveria tornar-se forte para ele.

Com um sorriso amargo ele estava disposto a liberar sua mais preciosa joia para o mundo da forma mais cruel possível - sem eira nem beira. Era uma provação, o teste que mostraria se ela era digna de se tornar mais bela obra de arte que ele antes jamais sonharia em ter.

Ela o olhou com olhos carentes quando, sozinha, pisou, pela primeira vez, para fora dos portões do palácio com apenas uma bolsa adornando as caríssimas roupas que carregavam o brasão da casa Ahriman, uma boa capa escura e uma raridade da nobreza: uma sombrinha que viria a protegê-la do sol.

Com um sorriso, ele a assistiu partir além de sua proteção. Corroia-lhe o ciúme e a posse, mas ele engolia seus amargores com uma taça do mais puro sangue enquanto reconhecia que era para seu próprio bem maior. Ele era o artista e ela a sua maior pintura.


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