Café amargo - DESromantize escrita por Elan, QG Dramione


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa noite pessoal.

Cá estou eu de volta às fics para participar de mais um desafio do @QGDramione! A temática da vez é a desromantização de alguns temas beeeem frequentes em fics que de fofo muitas vezes não têm nada.

Nas notas finais DO SEGUNDO CAPÍTULO (sim dessa vez farei duas partes então fiquem imaginando aí o que vai rolar) conto meu tema específico.

Agradecendo à capa feita carinhosamente pela Reid Gray.

Boa leitura!



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Hermione enfiou as mãos mais fundo nos bolsos de seu casaco quando saiu do beco onde acabara de aparatar. O frio constante que fazia naquele dia só fazia com que sua ideia parecesse cada vez mais agradável.

Olhou então para a faixada de três andares de vidro fumê do estabelecimento e a placa de madeira ricamente decorada depositada quase que como um estandarte sobre a calçada.

Empurrou a barra da porta para acessar o ambiente morno e acolhedor que o interior da pequena, mas requintada cafeteria oferecia para os poucos londrinos que realmente sabiam apreciar um bom café.

Atravessou o salão e seguiu diretamente para a robusta, mas pequena escada de caracol em ferro e carvalho que dava acesso aos outros andares, precisava de privacidade para seus pensamentos.

Escolheu a pequena mesa redonda próxima ao vidro, permitindo-a ver o bairro de pequenas casas, um dos poucos lugares de Londres que ainda não estava entrando em processos de grandes verticalizações.

A barista, em alinhados trajes sociais, que acabara de chegar ao terceiro andar aproximou-se oferecendo o menu local e questionando se ela gostaria de alguma opinião de degustação.

Hermione dispensou ambos e fez seu pedido à atendente que rapidamente retirou-se para o andar de baixo para preparar a bebida pedida.

Deixou-se ser embalada pelo aroma da torrefação que acontecia no balcão do andar inferior, demoraria um pouco, mas ao pensar no sabor e calor tocando seus lábios convenceu-se que esse era o melhor lugar a se estar naquele momento.

Sentiu seu celular vibrar insistentemente e com relutância resolveu ignorá-lo. Suspirou, seria uma longa fase a ser passada, ela sabia bem disso, mas quanto antes começasse mais rápido ela terminaria apesar de não saber ao certo tempo quanto duraria, afinal pela segunda vez ela tivera que tomar a decisão e não sabia como tudo correria dessa vez.

Alguns minutos passaram-se até que Hermione ouvisse passos lentos e firmes galgando a pequena escadaria. Como o café não estava muito cheio e seu andar em especial não possuía mais nenhum cliente o som chegou com facilidade a si.

Voltou sua mente conturbada de forma expectativa a chegada de uma bebida reconfortante para aliviar seus pensamentos apenas para encontrar mais um chegando até si.

Lá estavam duas perfeitas taças de café irlandês, alinhadas em uma bandeja da casa, trazidas não pela tímida barista que a atendera, mas sim pela última pessoa que esperara encontrar naquele dia, local e hora. Mas só mesmo alguém tão petulante quanto ele poderia querer trazer seu café e atormentá-la em um dia como aquele.

Draco Malfoy depositou ambas as taças sobre a mesa, uma em frente à Hermione e outra em frente ao lugar vago no oposto da mesa. Na sequência deixou a bandeja numa mesa próxima e sentou-se elegantemente na cadeira.

Hermione deixou seus olhos curiosos passearem pela expressão levemente divertida que os finos lábios e íris cinza do sonserino demonstravam e então soltou um sorriso ácido.

— Não sabia que os Malfoys tinham que trabalhar agora, mesmo que uma profissão requintada como barista.

— Meus finos conhecimentos sobre café não são para fins profissionais, portanto sinta-se honrada por dividirmos esse momento e igual apreciação por esta bebida. – ele respondeu indiferente pegando sua taça e bebendo delicadamente para não permitir que o creme de leite sujasse seus lábios. – Fiquei realmente intrigado ao descobrir que gosta de cafés especiais.

— Não é porque somos ingleses que sempre temos que tomar chá, às vezes precisamos de algo mais forte para sobreviver ao dia. – ela falou antes de tomar um gole de seu café que a teria feito muito mais feliz se estivesse sozinha e não olhando para aqueles olhos brilhantes e irritantes.

— Percebe-se pelo preparo que optou, o que faria Hermione Granger começar a beber antes das dez horas de um domingo? – Draco questionou, em um tom que parecia mais estabelecer um desafio a si do que uma pergunta à mulher.

— E o que minha vida amorosa tem de interesse para você doninha? – ela rebateu irritada, não estava tentando embebedar-se, mas sim apreciar o doce que o açúcar mascavo e o creme traziam requintadamente ao aroma do café.

— Digamos que apenas curiosidade, afinal Hermione Granger é uma pessoa quem diria? – ele falou enquanto Hermione bebericava mais de sua taça ignorando o olhar que a outra lançava.

— Ah, só interesse pela desgraça alheia. Quantas gotas? – ela perguntou ao que ele fez cara de confuso. – Veritasserum, quantas gotas colocou na bebida?

— Está louca Hermione, onde eu conseguiria veritasserum?

— Mas penas de dedo-duro não devem ser impossíveis de se comprar e você não era ruim em poções.

— Quer dizer que você me observava?

Hermione deu de ombros voltando a beber.

— Claro, você era um poço de problemas, alguém tinha que ficar de olho em você.

— Uma gota, não estou te obrigando a dizer a verdade apenas induzindo tecnicamente.

— Anda sempre com o frasco no bolso? Isso é estranho.

— Claro que não, pra fazer café irlandês aqui eles fazem torrefação com açúcar e depois passam em prensa francesa, o que demora em média dez minutos, tempo mais do que suficiente para ir ao banheiro, aparatar até minha casa e voltar.

— Seduziu a barista ou pagou uma gorda gorjeta pra conseguir a deixa de colocar a poção na taça?

— Nem um nem outro, sou um cliente antigo e confiável na casa, quando disse que era uma amiga e queria fazer uma surpresa foi fácil. Se sabia da poção porque continua bebendo?

— A verdade é que preciso de alguém para conversar, mesmo que esse alguém seja você, já que não quero falar com meus melhores amigos agora, então precisava de um encorajamento e isso me pareceu uma boa ideia no momento, agora talvez nem tanto. Nossa veritasserum é realmente uma droga. Bem, além disso, sempre vai haver a possibilidade de denunciá-lo pelo uso ilegal dessa poção.

Draco Malfoy não pareceu nem um pouco incomodado com a fala com tom de ameaça de Hermione.

— Bem, já que estamos tão às claras conte logo o que está acontecendo.

— Não é tão simples. – Hermione falou enquanto observava folhas de árvores dançando pelo ar sopradas pelo vento da tempestade que viria.

— Claro, as coisas nunca são tão simples com você. – Draco falou ácido terminando sua taça.

— Foi você quem veio aqui bisbilhotar atrás de respostas então não reclame! Você é insuportável. – Hermione sibilou entre os dentes.

— Sinceridade demais Granger, talvez eu tenha exagerado na dose. – ele brincou deixando-a mais irritada. – Vamos o que vai ganhar enrolando?

— Não estou enrolando, só duvido que uma pessoa como você possa entender.

— Eu não sou burro Hermione.

— Eu sei que não, apenas...

— E também não tenho o emocional de uma pedra, logo não há argumentos que me desmereçam como ouvinte.

— Às vezes é difícil entender você Draco, mesmo sendo uma pessoa observadora seu comportamento me confunde.

— Apenas conte Granger.

— Bem tudo começou depois da guerra, eu e os meninos estávamos sendo afogados pela perseguição dos jornalistas, decidi então que voltar a Hogwarts era a melhor saída, eu poderia terminar meus estudos básicos e ficar longe da imprensa. Não foi surpresa quando meus amigos não tomaram o mesmo caminho que o meu e preferiram refugiar-se no QG dos aurores... Aliás porque voltou aquele ano? - ela questionou incisiva.

— Sua história e não a minha, prossiga.

— Bem, eu me sentia bastante sozinha na época, quando se é protagonista em uma guerra parece que surge uma bolha social ao seu redor. - ela fala e Draco acena concordando com a cabeça. - Foi em um fim de semana solitário em Hogsmeade que reencontrei com Viktor.

— O brutamontes húngaro do ombro estranho. - Draco largou ácido e Hermione lançou um olhar cortante.

— Foi como no quarto ano, eu me sentia uma menininha de novo, com ele parecia que eu era a adolescente que eu nunca pude ser por causa de tudo.

"Mas ele não era o mesmo, estava mais desenvolto, melhor na conversa, havia se tornado um perfeito cavalheiro e mesmo com aquele semblante fechado dele, quando ele ria de algo que falávamos ele parecia outra pessoa.

Não demorou muito para que eu estivesse apaixonada ou que eu percebesse o jeito que ele se comportava, como se aproximava de mim ou me olhava.  Mas foi apenas uma semana antes da formatura que ele me pediu em namoro.

Eu estava nas nuvens, estar com ele parecia a coisa mais certa que eu podia imaginar, era leve e tranquilizante, eu estava inalcançável para aquele mundo pós-guerra mesmo em meio a imprensa, a dor e a dúvida; era como se não houvesse nada além daquele sentimento, eu e ele estávamos sempre juntos em viagens pelo mundo e nosso relacionamento se aprofundou de forma vertiginosa.”

Hermione ouviu então som de passos subindo a escada e logo a barista apareceu naquele andar, depositou sobre a mesa duas xícaras de porcelana fumegantes de café acompanhadas de macarons com creme de cereja e retirou as taças frias e vazias da mesa.

A morena encarou o rapaz loiro enquanto a barista desaparecia pela escadaria e a chuva começava a bater contra o vidro fumê.

— Achei que nossa conversa demoraria, fiz a gentileza de selecionar alguns pedidos do menu.

Hermione revirou os olhos e depois focou em sua xícara e tomou um gole.

— Expresso italiano, o começo do meu amor por café e do fim do meu amor por ele.

“Eu estava em Nápoles, pois o time de quadribol de Viktor teria dois jogos na Itália. Naquele dia em especial era nosso primeiro aniversário de namoro, mas as coisas não saíram como eu planejava.

Com o tempo eu estava definitivamente em êxtase com Viktor, eu estava pronta para novos passos, queria que nosso relacionamento fosse mais do que já era, eu até mesmo tinha comprado as alianças de noivado para nosso aniversário e imaginado qual seria a reação dele com o pedido.

Combinamos de nos encontrar após o treino no Mexico, uma cafeteria local famosa, que diziam fazer o melhor café do mundo. Realmente era, o aroma da xícara que me entregaram era inigualável, me aqueceu de tal forma que eu me sentia mais do que confiante para o que viria no jantar.

Viktor chegou atrasado e preferiu não tomar o café que havia pedido para ele para não perdermos a reserva no restaurante bruxo que eu havia marcado com tanto custo.

Chegamos ao restaurante e a atmosfera era encantadora, o salão era iluminado pela meia luz de um quase infinito número de pequenos potes brilhantes que sobrevoavam as mesas e as paredes tinham heras entrelaçadas em suas estruturas. Após nos sentarmos e fazermos o pedido soltei para rodear a mesa uma miniatura de pomo de ouro que havia trazido na bolsa o que espantou o ar apressado que Viktor estava por causa da correria.

O jantar estava magnífico, mas conforme os minutos passavam as pessoas de outras mesas começavam a olhar para nós com mais frequência e as palmas das minhas mãos suaram com o medo que eu tinha de que interrompessem nossa noite antes do meu pedido.

Eu chamei sua atenção, que estava voltada a carta de vinhos e acenei a varinha desfazendo a transfiguração do pomo que se transformou no par de alianças que eu havia escolhido em um pedido mudo de casamento.

Quando ele finalmente as viu, quando elas deixaram de ser aquele maldito pomo, o sorriso dele desapareceu. Ele pediu desculpas e disse que precisava de mais tempo para termos esse passo, falou aquela frase batida que o problema era ele e não eu, mas pediu quase que com súplica que continuássemos nosso namoro.

Enxuguei as lágrimas e com um sorriso aceitei eu continuássemos juntos

Mas meu esforço em engolir aquela situação foi em vão. Com o pedido toda aquela atmosfera se perdeu, ele tornou-se distante, estava cada vez mais concentrado no quadribol, jogos, estratégias, treinos, entrevistas.

E eu fiquei cada vez mais tempo sozinha, em quartos de hotéis, visitando museus e bibliotecas e quanto mais tempo eu ficava sozinha mais percebia o quanto eu havia afundado quando achei que aquele amor estava me salvando.

Tudo que eu achava que estava fazendo por nós, na verdade estava fazendo por ele: eu mudei minha vida, saí do meu lar, encerrei meus estudos e deixei meus pais e meus amigos.

Mas dois meses depois daquele desastre, quando estava lendo os desejos registrados nos tanzakus em um Tanabata Matsuri em Tóquio, vendo pessoas desejando o bem de seus familiares, amor, felicidade... eu surtei, surtei por perceber que eu havia me perdido em um amor que não era recíproco, um amor no qual eu me doava e que não havia nenhum momento em que eu oferecera algum empecilho ou resistência que fizessem com que ele precisasse se esforçar por mim, eu era amiga e amante, muito mais a primeira que a segunda.

Eu era o que Viktor precisasse que eu fosse e Viktor não era o que eu precisava. Guardei meu tanzaku rosa no bolso e comprei um azul e refiz meus desejos. Saí do templo direto para nosso quarto de hotel no centro da cidade.

Luxuoso. Confortável. Vazio. Solitário.

Peguei uma caneta e escrevi no tanzaku rosa o que eu desejava dizer sobre amor, sobre o nosso amor, sobre o fim dele. Fiz minhas malas e deixei o desejo sobre a cama quando saí.”


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Notas finais do capítulo

Barista: especialista em café.

Tanzaku: cartão de desejo do Festival Tanabata

Festival Tanabata: http://www.aulasdejapones.com.br/tanabata-matsuri-%E4%B8%83%E5%A4%95%E7%A5%AD%E3%82%8A/



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