Crônica de Quinta escrita por solzinho


Capítulo 1
Não o vi mais


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem vindo(a)! Se está aqui, é por achar que está história merece seu tempo! Me esforcei para que esteja certo e que a partir de hoje, as quintas também possam lhe surpreender. Boa leitura!



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Eu lembro o dia, era quinta-feira. Surpreendentemente, sempre é nas quintas. Só que naquele momento, no final do dia, cansada e com fome, o dia não tinha sido nada extraordinário. Eu encostei, como de costume, a cabeça na janela do ônibus buscando algum tipo de conforto. Foi aí que eu tive um - bem pequeno - susto.
(Você, caro leitor, tem que entender que eu estava voltando do estágio com a farda da escola do governo, então:
1°- eu não tava nem um pouco afim de falar com nenhum conhecido;
2°- eu teria que fingir que não tinha visto e passar reto;
3°- eu odeio ter que ignorar as pessoas, é falta de educação;
4°- ele tinha uma farda igual a minha, isso explica o meu - bem pequeno - susto.)

Entretanto, ao olhar bem, li o nome de sua escola nas costas da blusa e relaxei, tinha a farda gêmea à minha mas o indivíduo era de outra instituição.
"Ufa" - pensei. Relaxei na minha cadeira de novo notando que não ia demorar muito para chegar na minha parada. Só um porém. Meu coração já não devia estar voltando ao batimento normal? Então porque ainda parecia que ia sair do peito? Só foi um - bem pequeno - susto, já não era pra ter passado?

Eu me levantei. E bem, eu não sei o motivo exato. Não era a minha parada ainda mas, alguma coisa me fez levantar. Eu queria, sentia que precisava ver aquele rosto. Me aproximava, e me esticava em meio a um formigueiro de gente para conseguir vê-lo. Em vão. Sempre alguma cabeça entrava na minha frente quando ele finalmente virava o rosto. Não consegui. E, caramba, porque diabos eu queria tanto ver? Contudo, mesmo com esses pensamentos, eu continuava tentando ver seu rosto. Alguma coisa... estava me puxando para ele. E eu consegui chegar perto. Tinha que ser rápida, logo desceria.

Ele conversava com um adulto e o papo parecia ser bom, os dois riam. O homem - um vendedor ambulante - disse alguma coisa e ele soltou uma risada. Consegui ver. Então ele olhou pra mim. Ainda rindo. Como se tivesse sido eu a fazê-lo rir.

Ele era lindo. Não lindo só lindo, assim... normal. O sorriso dele tranparecia pureza. Era sincero. Quantas pessoas que você conhece sorriem assim? Plenamente?

Singular. Essa era a definição. Era um sorriso de alguém que transbordava Haru. Eu nunca, nunca tinha visto algo tão inexplicável.
Virei meu rosto na hora. Sentindo um misto de vergonha e inveja.
Inveja por não sorrir assim. Vergonha por ser olhada daquela forma e receber aquele sorriso quem nem era direcionado à mim.

Puxei a cordinha dando o sinal ao motorista enquanto sentia meu rosto esquentar.
Com o coração parecendo um sapo maluco e o rosto pegando fogo, arrisquei uma olhadinha. Só uma. "Por favor Deus, me deixe ver só mais uma vez."
Então, quase na porta do ônibus eu virei. Eu vi.
Só tinha uma pessoa entre nós.
E por cima do ombro dela ele me olhou.

Fui sondada por ele. Fui puxada. Me senti um satélite, atraída pela sua gravidade.

Eu vi que ele foi puxado como qualquer mero objeto à um buraco negro. Como um planeta girando e girando ao redor do sol. Buscando seu calor, buscando sua luz.

Desci do ônibus. Não o vi mais.
Mas reconheceria aquele planeta entre todos os sistemas.
Entre todas as primaveras existentes.



Significado de Haru: Primavera
Significado de olhar: observar atentamente, examinar, sondar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♡



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