O Enigma do Outro Mundo - Parte 2 escrita por L E Silva Dias


Capítulo 6
Capítulo 6




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— É muito simples Sr. MacReady - disse Phillipe Simon após cruzar o olhar com Childs - Nós queremos a sua colaboração. Sei que a sua intenção é destruir esta descoberta. Acho natural o seu desprezo por este ser após tudo o que vocês passaram no pólo sul, mas peço que reconsidere sua posição em nome da ciência.

— Em nome da ciência? Você quer dizer em nome do dinheiro. Qualquer avanço que vocês conseguirem com esta criatura colocará a Syntronic no monopólio do setor farmacêutico mundial. Sem falar nas aplicações no setor militar. Imagine um soldado com a capacidade de metamorfose deste desgraçado! Não me venha com essa merda de falar em nome da ciência!

Como se estivesse meditando antes de falar, ele balançava lentamente a caneta em sua mão direita.

— É um homem inteligente Sr. MacReady. Espero que reconsidere a sua posição. Pense nisso como uma forma de gratidão pelo resgate que realizamos no pólo sul. Sem a nossa ajuda você e Childs seriam dois cadáveres congelados neste momento.

Deu uma última tragada no cigarro, antes de jogá-lo no chão e pisar em cima.

— É verdade - disse soltando a fumaça - Mas nada disso será importante na hora em que esta Coisa sair fora de controle. Quando isso acontecer, você vai me dar razão.

— Você viu o nosso procedimento de segurança. Todas as experiências são realizadas dentro dos módulos e são incineradas no final.

Ele interrompeu seu discurso por um instante, como se estivesse medindo suas palavras antes de dizê-las.

— Além disso nós temos um procedimento de emergência. Toda esta instalação possui um mecanismo de auto destruição cujo controle fica no meu helicóptero. Nós estamos literalmente sentados sobre diversos galões de napalm. Nossos contratos com os militares permitiram que eles fornecessem este apoio durante a construção deste centro de pesquisas.

— Como assim? - perguntou Seth Garrett preocupado - Eu nunca fui informado sobre isso!

— É uma informação confidencial. Está além do que as suas credenciais permitem saber. Além disso, isso é totalmente irrelevante para a realização do seu trabalho.

— Irrelevante? Quer dizer que eu posso ser morto a qualquer momento por sua decisão e você acha isso irrelevante? - Seth Garrett disse com o rosto avermelhado.

— Julguei que você estivesse disposto a qualquer tipo de sacrifício por este projeto Dr. Garrett - disse Phillipe Simon, elevando o tom de voz.

— Não se trata disso - ele disse antes de começar a tossir - Eu acho…

Antes que Seth Garrett fosse capaz de concluir seu raciocínio, sua camisa se rasgou revelando uma boca com dentes afiados na altura do estômago. Um tentáculo surgiu de suas entranhas e agarrou o pescoço de Phillipe Simon, puxando sua cabeça. Childs se jogou no chão enquanto MacReady gritava para que os guardas atacassem.

A Coisa se levantou, mantendo o corpo de Phillipe Simon imóvel, enquanto diversas tripas que saíam da enorme boca perfuravam sua pele. Assim que os guardas começaram a atirar, um horrendo grito preencheu a sala de reuniões. Dois braços com ventosas nas pontas surgiram do peito e se colaram violentamente contra os rostos dos guardas. Um tétrico som grave, parecido com um gargarejo, saía de suas cordas vocais enquanto ela absorvia os guardas.

MacReady puxou Childs do chão e os dois correram para fora da sala.

— Temos que chegar no helicóptero - disse MacReady enquanto eles corriam pelos corredores - É a nossa única chance.

— MacReady! - disse a voz vinda do fundo do corredor.

Instintivamente os dois pararam para ver quem era.

Nú, com o corpo todo ensanguentado, Seth Garrett permanecia parado em frente a porta da sala de reuniões.

— Você pensou que tinha se livrado de mim no pólo sul? - ele deu uma risada - Eu não morro assim tão fácil. O meu povo também tentou se livrar de mim com aquela espaçonave, mas eu cuidei deles todos.

Com o sangue congelado, os dois permaneciam estáticos ouvindo a coisa falar, através da imitação de Seth Garrett.

— Vocês sabem o que o povo do meu planeta estava procurando quando me criaram? - ele disse antes de começar a andar na direção deles - O mesmo que vocês! A cura para todos os males. Eu me voluntariei para a experiência. Mas quando eles perceberam no que eu me tornei, acharam que eu havia enlouquecido.

Arriscaram dar um passo atrás conforme percebiam que a coisa se aproximava.

— Mas eu não estou louco! - as asas surgiram a partir de suas costas - Seth Garrett é louco! Ele também se voluntariou... Mas ele sabia no que ia se tornar. Me injetou em seu próprio corpo acreditando que ficaria mais próximo do seu deus - deu uma risada - Sua intenção teve um efeito colateral inesperado. Ele conseguiu apaziguar as vozes! Milhões de vozes! Eu aproveitei para permanecer este tempo todo escondido, aprendendo mais sobre vocês. Sobre sua ciência, seus costumes...

As cabeças de leão, boi e águia brotaram da cabeça humana. Ele parou por um momento. Seu rosto humano aparentava uma expressão de dor enquanto sua altura aumentava pouco a pouco. De onde eles estavam, podiam ouvir os ossos estalando, à medida que a Coisa se transformava. Com a adrenalina correndo em suas veias, os dois viraram as costas e tornaram a correr.

—  MacReady! - a voz de trovão estremeceu os corredores do subsolo.

Cruzavam os corredores em busca da saída quando um guarda armado apareceu. Nervoso, Childs começou a gritar avisando sobre a Coisa, quando eles foram interrompidos por um grito horrendo vindo do corredor. Aproveitando-se do momento, ele deu um soco no guarda apoderando-se de sua metralhadora.

Aproximavam-se do portão de acesso a escada de saída do subsolo, quando subitamente a Coisa surgiu jorrando seu sangue no rosto do guarda, que ainda permanecia no chão. Assim que ela começou a absorver o corpo do guarda, seus tentáculos se moveram na direção deles.

—  Não vamos conseguir - MacReady falou para o amigo vendo aquilo cada vez mais perto.

—  Você vai conseguir! - Childs disse antes de empurrar MacReady pela porta. Imediatamente ele começou a disparar contra a criatura com a metralhadora, fazendo com que ela recuasse. Do chão, MacReady gritava enquanto assistia o amigo fechar a pesada porta de metal.

— Não! Childs! Não!

Foram necessários alguns segundos até a porta se fechasse completamente. Por instinto suas pernas se moveram, subindo os degraus da escada de acesso a saída. Antes que ele fechasse a trava do portão principal, pode ver os primeiros sinais da porta do subsolo sendo forçada.

Corria o mais rápido possível na direção do heliporto. Notou que os poucos guardas que estavam na área permaneciam de vigia no prédio maior, facilitando sua abordagem.

Entrou no helicóptero e deu a partida fazendo com que as hélices começassem a girar lentamente. De onde ele estava, pode ver o portão principal sendo forçado, chamando a atenção dos guardas que partiram para lá. Freneticamente ele abria os compartimentos a procura do detonador.

— Pense MacReady! Pense! - ele repetia para si mesmo enquanto procurava.

Olhou para um estojo fixo no painel que permanecia do lado do copiloto com a marca da Syntonic impressa em dourado. Forçou a tampa para abrir, mas tudo indicava que aquilo estava trancado. As hélices se encontravam em plena velocidade, aguardando o que MacReady colocasse o helicóptero no ar.

A porta principal foi arremessada para longe. Os guardas começaram a atirar quando os primeiros tentáculos surgiram tentando agarrar qualquer coisa pela frente.

MacReady encontrou um martelo na caixa de ferramentas e espancava a tampa do estojo com todas as suas forças.

Conforme ele absorvia os guardas, aumentava o seu tamanho fazendo com que o seu corpo emergisse a partir do portão. As quatro cabeças moviam-se de forma caótica enquanto sons grotescos eram emitidos de suas cordas vocais. 

Após muito custo, ele conseguiu provocar uma rachadura na tampa. Com a chave de fenda ele terminou o trabalho expondo um botão vermelho. Iniciou a decolagem mantendo os olhos no portão do subsolo. Sem perder tempo, quando alcançou cerca de vinte metros de altitude, ele pressionou o botão.

—  Vá se danar de uma vez por todas!

De um lugar privilegiado, ele assistiu toda a instalação ser consumida por uma grande bola de fogo. Por pouco as chamas da explosão não alcançaram o helicóptero. Seguro pela sua experiência como piloto, MacReady se desvencilhou das enormes labaredas.

 

Dando as costas para as chamas, MacReady apontou o helicóptero para o norte, onde o céu azul o esperava.


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