OneShot - A falta que você me faz. escrita por Miss Krux


Capítulo 1
OneShot - A falta que você me faz




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Marguerite Krux levantou-se naquele dia um tanto frio, tão diferente do habitual calor que fazia no platô. Trocou-se e como de costume, logo se juntou aos demais na mesa do café da manhã, na verdade, apenas a Verônica, Challenger estava em seu laboratório enfiado em mais uma de suas invenções, e os rapazes há alguns dias atrás haviam saído, rumo à aldeia Zanga, foram buscar suprimentos e obter trocas, a temporada de chuva logo começaria, e os estoques estavam baixos, tanto de mantimentos, como os de medicamentos ou munições, era melhor se prevenirem.

O dia estava quieto, até os animais pareciam silenciosos, mesmo o céu, estava diferente, nuvens cinzas, como se uma tempestade estivesse se aproximando, mas não era apenas o dia que parecia estar fechado, a própria senhorita Krux, não parecia querer conversar, nem mesmo reclamou pela falta de café, como havia feito nos dois últimos dias, contentou-se com apenas uma xícara de chá, meia torrada e logo estava pondo-se de pé, rumo a varanda, onde deixou as suas costuras não terminadas da noite passada.

A garota da selva não pode deixar de reparar, mas antes que pronunciasse qualquer palavra, a silhueta da mulher já sumia do seu campo de visão. Talvez fosse melhor conversar com o professor, desde o dia anterior percebeu o silêncio de Marguerite, e isso a incomodou, ela sempre tinha às palavras e respostas na ponta da língua, não retrucou nem mesmo quando sugeriu que talvez haveria mais trabalho para fazerem, caso Roxton e Malone demorassem mais tempo para retornar, sabia que algo não estava certo.
V - Challenger, está ocupado?
G - O que? A Verônica é você, não, não, pode entrar, só estou verificando a possibilidade desse metal radioativo criar uma nova fonte de energia quando combinado com a água fervente e, claro se isso não pode ser inserido no moinho, gerando uma espécie de motor, assim não dependeriámos apenas dos ventos.

Verônica admirava a inteligência do cientista e o entusiasmo, mas às vezes era obrigada a admitir, Roxton estava certo, era impossível saber se Challenger gostava mais dos seus experimentos ou de falar deles, de todo modo, não podia perder o objetivo de estar ali no laboratório tão cedo, e interrompendo o amigo, logo se concentrou novamente, e aproximou-se um pouco mais de Challenger, para que também não fosse ouvida por mais ninguém, por Marguerite.
V - Challenger, isso é tudo muito empolgante, mas preciso conversar com você, sobre Marguerite.

O cientista ergueu os olhos sob o experimento, agora direcionando toda a sua atenção a Verônica, ela parecia séria e com um ar preocupada, o que o fez alarma-se, não havia visto Marguerite desde o jantar da noite passada, na verdade, ainda era cedo, julgava que a morena ainda estivesse dormindo.
C - O que há com Marguerite minha cara? Ela está bem? Não está, digo, eu não a vejo desde ontem a noite.
V - Eu não sei, quer dizer, ela me parece bem. Mas desde ontem está muito quieta Challenger, hoje não reclamou nem mesmo pela falta do café, e mal tocou na comida, estou preocupada.
C - Ora Verônica, se tratando de Marguerite, acho que podemos esperar qualquer coisa, pode ser que esteja tramando algo mais, ou pensando na nova caverna que Assaí comentou, se existe pedras por lá, ou então, esteja de mau humor, justamente pela falta de café, eu não duvido. Na verdade, não acho que ela seja um dos mistérios desse platô que poderíamos explicar, bem, não nós dois, Roxton quem sabe.
V - Roxton, é isso Challenger, claro, como eu não havia pensado antes.

Challenger pareceu confuso, não era essa a reação que esperava da garota da selva, mas quando tocou no nome de Roxton o semblante de Verônica mudou, e tudo para ela parecia mais claro, mais nítido, enquanto que o cientista não conseguia entender o que se passava, até que algo lhe ocorreu, sabia que Marguerite e Roxton estavam mais próximos nos últimos meses, até mesmo os seus jogos haviam mudado, tinha algo acontecendo entre eles, mas "seria saudades? Não, Marguerite com saudades de Roxton? Não, deveria estar imaginando coisas, talvez estivesse trabalhando demais, estava imaginando coisas".
V - Challenger?
C - Ah sim Verônica, o que você acha que se passa? Quer dizer, se Marguerite estiver doente, isso é uma preocupação para todos nós, talvez seja melhor eu subir e examiná-la, pode ser algo que comeu, talvez esteja sentindo algo e não quis nos falar.

Verônica não pode deixar de rir das perguntas do amigo, sabia que ele havia pensado na mesma coisa que ela, só talvez não estivesse acreditando em si mesmo, ou que isso seria possível.

V - Hahahaha não Challenger, não acho que seja necessário examiná-la, nem que esteja doente. Só que, lembra-se quando falou que nunca viu duas pessoas tão apaixonadas como Roxton e Marguerite e ainda assim dispostos a negarem. Acho que a nossa explicação para o comportamento de Marguerite seja isso.

C - Espera minha jovem, está sugerindo que seja saudades? Quer dizer, por alguns instantes também me ocorreu tais pensamentos, mas não vindo de Marguerite, não acho que seria possível. Você acha mesmo isso?

Por alguns instantes, antes de responder a pergunta do cientista, Verônica atentou se ao barulho do elevador, seguido de passos mais pesados, eram os garotos, haviam chegado. Sentiu como se o seu coração fosse saltar para fora do peito, tomada por uma alegria, que nada podia se comparar, sim, ela tinha certeza, a herdeira deveria estar com saudades, como sabia, ora a explicação está dentro de seus próprios sentimentos, ela mesma mal podia esperar para ver Malone, sentia tanta saudades e percebia que cada vez que estavam mais próximos, maiores eram seus sentimentos, porque seria diferente com Marguerite?!

V - Quer saber Challenger, porque não subimos e confirmamos nossas teorias?! Parece que os rapazes chegaram.

C - De fato minha querida, esplêndida ideia, além do mais, preciso saber quais suprimentos trouxeram, fazer o inventário e ver o que mais poderia utilizar nessa nova experiência.

Enquanto Challenger e Verônica conversavam na laboratório, Marguerite mais uma vez remendava uma das camisas de Roxton, embora os remendos não estavam saindo como queria, era a quarta vez que espetava o próprio dedo, por conta de seus pensamentos, parecia se concentrar mais neles, do que na costura.

“Mas que droga Marguerite, de novo, o que há com você hoje?”.

Não demorou para olhar pra baixo, sobre o seu colo tinha a camisa azul do caçador, uma das suas favoritos, pena que já não era tão nova, como na primeira vez que ele a vestiu, mas isso não importava, não tanto como semanas atrás, que ficaram presos naquela caverna e ele a usava, podia se lembrar com tanta clareza, de como ele ficou parado diante de si, daqueles olhos, tão verdadeiros, parecia que podia ouvi-lo dizendo que a amava, nunca em toda sua vida, alguém a deixou assim, capaz inclusive de sentir saudades, ainda que negasse, que lhe custasse admitir, depois de tudo o que aconteceu, dias pareciam meses, não podia acreditar, já haviam ficado distante por muito mais tempo, brigado, parado de se falar, só que agora agora era diferente, agora ela tinha assumido o que sentia por ele, tinha lhe dado o seu coração, havia se entregado de corpo e alma, agora estava ali, sentada, perdida em seus pensamentos, entre negar e admitir o que sentia de verdade.

Tão perdida, que não percebeu nem mesmo os rapazes se aproximando da casa da árvore.

N - Roxton vá devagar, já estamos em casa, pra que essa pressa toda?

O caçador durante todo o caminho de volta, manteve o passo acelerado, ainda que atento ao seu redor, estava caminhando mais rápido que de costume, como desculpa, falou para Malone que tinha pressa por conta da tempestade que se aproximava, achava que a temporada de chuva começaria antes que imaginavam e claro, não queria molhar os mantimentos, afinal foram dias negociando com os Zangas o que levariam, o fariam em troca, e o que deixaria. Particularmente toda essa negociação começava a incomodar, queria voltar para casa, depois dos últimos acontecimentos, sabia que nunca mais seria capaz de deixar Marguerite, por alguma razão o seu medo de perdê-la havia crescido ainda mais, e não só isso, seus sentimentos estavam mais fortes, como se isso ainda fosse possível, seu amor, sua proteção e agora saudades, tudo o que queria era estar perto dela, ainda que tivesse que correr para chegar em casa.

Quando a viu de longe, estava na varanda, era como se todo o mundo a sua volta parasse, nada mais importava, nem mesmo Malone reclamando sobre estarem rápidos demais, ou todo o peso que carregava, graças às trocas que haviam feito com sucesso. O elevador subiu, logo Challenger e Verônica já os esperavam, Malone como sempre deixou escapar um sorriso, um que sabia a quem pertencia, assim como o seu olhar, que logo pousava sobre Verônica, como se um olhar procurasse pelo outro, sem palavras, apenas um olhar, e mesmo assim era possível expressar mais do que mil frases.

Challenger como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo, explorava cada trouxa que os rapazes trouxeram, às trocas haviam sido boas, tinham obtido bons resultados, vários itens novos, além dos alimentos e medicamentos, o que é claro, o deixava extremamente empolgado, ao ponto de nem mesmo prestar atenção ao seu redor, no beijo rápido, trocado, que Malone havia roubado de Verônica, ou o “sumiço” de Roxton.

A herdeira despertou de seus pensamentos, de imediato quando ouviu o barulho do elevador, pode ouvir os exploradores conversando entre si, e logo após o cientista instruindo Malone e Verônica o que deveriam fazer com cada pacote, onde guardá-los e por alguns instantes, pensou que talvez permanecer onde estava era o melhor a ser feito, ou caso contrário, logo estaria enfiada na dispensa tendo que ajudar a organizar as prateleiras, o que menos queria no momento, na verdade, queria mesmo era saber de John, é claro que de onde estava foi capaz de ouvir a voz do caçador, mas queria mais do que isso, queria vê-lo, sem ter que se preocupar com a dispensa ou qualquer que fosse a intenção de Challenger, por isso, a herdeira ficou quieta, como se nada estivesse acontecendo, até que tudo silenciou, era provável que todos estivessem no andar de baixo, talvez agora fosse seguro, ir até a sala, ou a cozinha quem sabe, pensou consigo.

Roxton durante os dias que passou com os Zangas aproveitou algumas horas livres, para moer, secar e já preparar os grãos de café, sabia que Marguerite deveria estar precisando de uma boa xícara de café, e sabia mais ainda do seu mau humor matinal, esperava que Challenger e Verônica estivessem lidando bem com a situação, ainda mais porque nós últimos dias, às ameaças de chuvas eram constantes, o que impossibilitava que os exploradores saíssem da casa da árvore com tanta frequência, logo Marguerite estaria sem café, de mau humor e entediada.

Ele sabia que ela estava na varanda, tinho visto de longe, mas uma vez que, ela não veio vê-lo, nem às novas trocas que obtiveram, nem sequer espiou de longe, presumiu que ou estaria de muito mal humor, ou só estava tentando fugir de ter que acumular mais tarefas, o que não era surpresa. Aproveitando a brecha dos demais exploradores, que logo estavam no laboratório organizando tudo, conversando o que tinha acontecido nos últimos dias, entre outras coisas, Roxton foi até a cozinha e começou a preparar o café, não demorou para perceber movimentos vindo da varanda, pode ouvir o barulho da cadeira, seguido de passos, era Marguerite, a mulher usava sua saia cáqui, camisa branca, e o cabelo solto, o que era difícil de ver, mas naquele dia estava solto, cascateando para baixo dos seus ombros.

A herdeira caminhava lentamente, seus olhos corriam o lugar, como se até estivesse procurando por algum sinal de perigo, até que encontrou os dele mesmo, aquele olhar, que era capaz de aquecer o seu coração, desejar sempre ali ficar, mesmo que o “ali” também não soubesse onde era, só queria perto dela estar. Ambos frente a frente, um de cada lado do balcão da cozinha.

M e J (juntos) - Eu preciso falar com você.

J - Hahaha tudo bem Marguerite fala você primeiro.

M - Eu? Eu não, você pode falar primeiro, mais velhos primeiro.

Roxton a mediu, tentou entender o que se passava naqueles pensamentos, por trás daqueles olhos, mas sabia que nem mesmo ele conseguia entendê-la o tempo todo.

J - Sabe Marguerite damas tem preferência, ainda que sabemos que você nem sempre é uma ou age como uma, mas acho que dessa vez eu posso ceder e falar primeiro.

Marguerite sorria do comentário do caçador, na verdade dentro de si não sabia se sorria dos jogos, do comentário ou pra ele, mas já que o caçador estava de tão  bom humor assim, porque não provocá-lo um pouco mais.

M - Tanta gentileza Lord Roxton, chego a pensar que sentiu saudades.

Roxton aprofundou o olhar, um sorriso escapou dos seus lábios, enquanto aproximou-se da herdeira.

J - E quem te falou que eu não senti?!

Ele tocou a mão dela, depositou uma xícara de café que deixou próximo quando a viu se aproximar, assim, agora podia apenas admirá-la, a herdeira escondia o sorriso enquanto degustava daquela “bebida divina” como sempre brincavam, por alguns segundos, Marguerite respirou fundo, fechou os olhos, aquietou, para logo deixar um comentário escapar, ainda olhando para a xícara, sem encontrar com os olhos de John.

M - Ah a falta que você me faz.

J - O café você diz?

Marguerite levantou os olhos, encontrando com os do caçador, capaz de ver qualquer sentimento, de transpassar, encontrar sua alma, até que, surpreendentemente tocou-lhe o rosto, seguido do cabelo, parecia brincar com eles, carinhosamente.

M - Não, eu digo que do café também.

Ela debruçou rapidamente sobre o balcão, permitiu que seus lábios tocassem os de Roxton, sorriu pra ele, e sussurrou em seus ouvidos.

M - A falta que você me faz, é você John, você. E eu também senti saudades.

Mas antes que o caçador pudesse falar algo, ou aproximar-se ainda mais, pode ouvir os demais subindo, ouvia as risadas, conversas próximas, enquanto que a herdeira sumia de seu campo de visão, refugiava-se na varanda, como costumeiro, e sendo assim, era de se saber que mais cedo ou mais tarde, ambos estariam juntos, na varanda ou onde quer que fosse, juntos. Mas por hora, permitia-se sorrir, sabendo que seus sentimentos eram recíprocos e que ela havia sentido sua falta, sua falta, assim como ele mesmo.

 


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