Adão e Eva, na guerra dos iguanas. Parte II escrita por Paloma Her


Capítulo 2
Capítulo II A invasão


Notas iniciais do capítulo

Nos dias seguintes, Benjamim espionava de longe os alienígenas fazendo lances esquisitos. A mesa de Maláqui era um amontoado de “coisas”, que nem ele, nem ninguém entendia. Só dava para ver que ela fazia todas as etapas. Ia pessoalmente até a fundição a modificar peças, fazia moldes, protótipos de braços, e por último preparou uma “água régia” com uma fórmula que nenhum engenheiro iguana conseguia ainda entender. Parecia um plástico, mas ao bater contra ele, nos testes de resistência dava som metalizado, e nenhum engenheiro iguana conseguiu despedaçar. Era indestrutível.



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Benjamim foi recebendo pessoas na sua sala com a senha: - Cheguei para valer, mano Benjamim!  E ria às gargalhadas! Pois, como é que ele mesmo inventara uma frase tão ridícula?  Imediatamente se levantava, dava um abraço, sempre rindo, e os encaminhava para Adão, seu secretário particular. Adão os levava para as linhas de montagem, para as salas com designers, num dia chamado treinamento.

A seguir, os “gerentes iguanas” da empresa lhes davam palestras, e um psicólogo os entrevistava para medir inteligência. Depois de aceitos, a empresa lhes abria uma conta bancária para receber o salário, num banco da mesma empresa. Por último, se ganhava passe para andar de ônibus, e um bloco com vale-refeição, para comer três vezes ao dia, em qualquer restaurante da cidade.

E, em menos de trinta dias, essa fábrica estava cheia de alienígenas.

Depois dos dias de treinamento, Maláqui e Jesus experimentaram seu primeiro dia de serviço rindo, pois seria uma experiência diferente. Trabalho! Algo que faziam em seu mundo de graça. Chegando ao saguão colocaram um cartão numa máquina, para marcar a hora de entrada, como lhes fora ensinado, e se dividiram. Jesus foi para o ambulatório, onde havia uma fileira de 20 pessoas esperando atendimento médico, e Maláqui para uma sala, onde havia um computador, que na verdade, para ela, não serviria para nada. Saiu imediatamente para a sala de montagem. Examinou os robozinhos enfileirados e sentiu dor no peito. Levou para um canto, e examinou-os minuciosamente. Eram apenas ferrinhos. E eram bem fraquinhos, frutos da reciclagem.  Teria que começar pelo início.

 Nos dias seguintes, Benjamim espionava de longe os alienígenas fazendo lances esquisitos. A mesa de Maláqui era um amontoado de “coisas”, que nem ele, nem ninguém entendia. Só dava para ver que ela fazia todas as etapas. Ia pessoalmente até a fundição a modificar peças, fazia moldes, protótipos de braços, e por último preparou uma “água régia” com uma fórmula que nenhum engenheiro iguana conseguia ainda entender. Parecia um plástico, mas ao bater contra ele, nos testes de resistência dava som metalizado, e nenhum engenheiro iguana conseguiu despedaçar. Era indestrutível.

 Nos dias seguintes, Maláqui enviou o novo protótipo para a Diretoria com os cálculos de custos. Um terço do valor anterior.  Maláqui explicou para Benjamim que havia utilizado um material ecologicamente correto, duríssimo, e que para produzi-lo teria que equipar um novo campo industrial. E, além disso, plantar, reflorestar, numa área equivalente a 300 fazendas.  O “metal ecológico” era consequência de uma mistura de 50 tipos de folhas e de galhos de árvores diferentes. As árvores seriam raspadas, podadas, uma vez a cada 6 meses, produzindo matéria-prima numa escala inimaginável.

Mas para Benjamim convencer seus pais, e seus vinte sócios da Diretoria a mudar alguma coisa era algo difícil de fazer. Todos eles alegaram que comprar terras, contratar boias-frias ia ser complicado. Essas árvores levariam anos para crescer e dar matéria prima. Teriam que comprar madeiras. Benjamim alegava que se faria uma megaprodução de mudas num viveiro colossal. Seria uma troca. Oferecer-se-iam as mudas aos madeireiros para reflorestar, ajuda técnica, e o preço da madeira cairia pela metade.  Mas os diretores achavam que o mundo estava cheio de entulho. Aterros sanitários com latinhas. Era só ir até os lixeiros e recolher.

Amon-rá, o melhor faxineiro dessa fábrica, entrou na sala de Benjamim e falou-lhe que, só com o olhar, podia convencer quem ele quisesse a fazer o que Benjamim mandasse, e a uma distância de dez metros. Era só pedir.  E Benjamim acabou aceitando. Só não permitiu hipnoses a seus velhos, pois se toda a Diretoria consentia na compra de terras, seus pais também seriam a favor.

Dias depois, Adão acompanhou Benjamim a comprar terras improdutivas, inúteis pela erosão, ou, pela falta de irrigação, já outras deterioradas pela mineração, a preços baixíssimos. O que Benjamim não viu ao anoitecer, foi Eva desintegrando buracos em busca de águas de mananciais subterrâneos, que se converteram em vertentes naturais como por arte de mágica. Também não viu as naves pretas dos espiões voando baixinho e lançando sementes de capoeirão selvagem para começar a recuperar a saúde desse chão. E muito menos, como as nuvens aglomeravam-se por cima das fazendas durante a noite, e deixavam cair uma chuva grossa até o dia seguinte. Tudo obra da mágica com nuvens que espiões e guerreiros dominavam com esperteza.

Mas Benjamim acompanhou de perto a construção de barracos para laboratórios agroecológicos, em todas as fazendas, onde 3.000 alienígenas começaram a produzir mudas. Com Isabela ao seu lado, cada vez mais gorda, ele escutava as explicações de Adão, e sorria. Tudo que os homens vindos das estrelas estavam fazendo, ele já havia lido em revistas de ciência, que aconselhavam a fazer a mesma coisa. A agricultura silvícola era um sonho impossível nesse mundo, pois a inteligência não tinha voz e os governantes eram um bando de ignorantes corruptos. Bastava dar uma propina que eles boicotavam todas as boas ideias dos gênios iguanas. 

Quando o capoeirão selvagem tinha um metro de altura, em todas as 300 fazendas, os agricultores jogaram sementes de morangas gigantes, melancias mais gigantes ainda, girassóis, feijão gigante, castanhas, e outros vergéis próprios desse mundo. As mudas de árvores, para fazer a “metalponita”, já com dois metros de altura cada uma, foram introduzidas no chão a uma profundidade de 70 centímetros, a uma distância de 50 metros uma da outra. Matematicamente. Em seguida, rodearam o tronco com um tubo de malha duríssimo, ionizado com repelentes, para que nenhum parasito incomodasse seu desenvolvimento. Para finalizar, o contorno dessa fazenda foi demarcado com uma fileira quilométrica de árvores frutíferas. Bananeiras, macieiras, laranjeiras, cerejeiras, jabuticabeiras, pitangueiras, e outras espécies, cercaram as fazendas ao norte, sul, leste e oeste.

Para a irrigação, foi confeccionada uma rede de canais entre as árvores, proveniente da rede estadual de águas, que Benjamim teve que pagar a preço de ouro para a Prefeitura de Alubiavam.

E enquanto tudo crescia, florescia, Adão explicava para Benjamin que as pragas das lavouras  teriam tanta comida à disposição, que as árvores da metalponita cresceriam sadias, no máximo com alguns passarinhos comendo-lhes as sementes. E enquanto às frutas, abóboras, melancias, feijão, milhos, e tudo que crescesse entre as árvores, que deixasse à disposição para os trabalhadores. Podiam levar para consumo em casa. Era a melhor maneira de ajudar com a nutrição familiar, além do que, comer fruta e verdura era o alimento básico dos iguanas. O prato que os nutria.

Benjamim, que sempre ouvia Adão com admiração e nunca retrucava, falou desta vez:

— E as jararacas, cara? E os lagartos, os zorros, cabritinhas, vacas, javalis, eles vão invadir todas as fazendas e comer tudo. As bestas quando encontram um paraíso, não saem mais de lá. E um javali selvagem pode derrubar gente, atacar com os colmilhos, cara...

— Os bichos são inteligentes. Que comam até engordar.  Deixa-os se reproduzirem e que vivam num pequeno parque. Enquanto houver comidas, eles não vão incomodar ninguém.  Nunca irão atacar o homem que os sustenta. E as jararacas, há de lhes desintegrar as glândulas de venenos. Mas isso eu mesmo faço...

— Estás me gozando...

— Eu sou veterinário e adoro cobras. São meus bichos preferidos. Aliás, um dia vás conhecer uns caras que tem a pele manchada como as cobras...

— Estás me gozando de novo...

E Adão preferiu dar gargalhadas gostosas. Quando Benjamim visse um homem cobra de 2 metros parado na sua frente, cheio de musculatura, olhos amarelos puxados, olhar fixo, com certeza ia levar um susto. Afinal, os iguanas eram baixinhos, miudinhos, magros, e só as mulheres possuíam certa beleza.

Como nesse mundo todos os inventos possuíam patentes, Benjamim vendeu a fórmula da metalponita para cinquenta empresas no mundo todo. Quando seu filho nasceu, suas 300 fazendas estavam abarrotadas de mudas, prontas para venda, e cada vez que um fornecedor lhes enviava uma remessa de árvore, a empresa de Benjamim enviava as mudas, para reflorestar em dobro, conforme contratos assinados.

No Alertse, a cúpula de militares adorou os novos modelos de robôs, que corriam numa velocidade de 200 quilômetros por hora, e usavam as brocas perfuradoras de petróleo na perfeição. Quando os militares viram os custos, gostaram mais ainda. Assinaram contratos, e eles começaram a ser fabricados em cadeia industrial. Era tanto robô, que em pouco tempo formaram um batalhão. Exército que viajaria para outros mundos, sem gastos de alimentação e aumentando o lugar útil nas aeronaves.

Foi a vez de Paulo e Paulina terminarem seu protótipo: - Um carro maravilha em cujo interior as peças foram moldadas com metalponita.  Mas Benjamim achou perigoso fabricar essa engenhoca. Iam chamar atenção demais desta vez. Então, Paulo sugeriu garimpar descobertas e achados científicos. Era só bisbilhotar em bibliotecas universitárias onde se alinhavam as teses de doutorados. Poder-se-ia comprar as ideias, e depois modificá-las. Daria para despistar.

Esse trabalho foi destinado aos soldados cobras, que caminhavam pelas ruas sem fazer nada, na espera de instruções.

Bons de leitura e com muita paciência, as cobras pesquisaram cada centro universitário que acharam, onde os conhecimentos se acumulavam apenas para preencher estantes, pois nem sequer os alunos das Universidades os liam.

Paulo e Paulina analisavam tudo que chegava às suas mãos, e começavam a sentir respeito pelos iguanas. A sabedoria existia, apenas não interessava a ninguém. Depois colocavam os livros nas estantes para todos os engenheiros iguanas dessa fábrica ler. Aliás, essa era uma ordem do chefe Benjamim.

Entre essas teses de doutorados, havia várias formulas de plásticos biodegradáveis, produzidos com a borracha das seringueiras Depois de serem descartados nos aterros, esses  plásticos se convertima em água e ar. Imediatamente um designer iguana começou a inventar objetos variados com isso. Eram sacolas, bolsas, cintos, inventos cujos padrões foram colocados numa exposição permanente na sala da diretoria.

E um dia, chegou à empresa uma tese de doutorado cujo objetivo era a fabricação de um carro mexido com água. Era o que Paulo queria. Compraram a invenção, de uma Universidade famosa, e Benjamim convidou esse cientista a trabalhar para ele, com um ordenado alto. Paulo manteve o design, mas, colocou no protótipo um motor adjunto, dando como desculpa que aumentaria a eficiência desse outro motor. Só.

Numa outra sala, Reginaldo e Abelardo, junto a suas mulheres Rosa e Marlene, examinavam uns robozinhos para crianças, numa sala de exposição permanente, inventados por um designer iguana. Os quatro haviam confeccionado uma arma, bem pequena, que lançava um raio azulado. Desmontaram essa arma peça por peça e as uniram de outra maneira, formando pernas. Mostraram para Miriam, junto aos bonecos. Podiam construir vários robozinhos infantis, e colocar a arma dentro das pernas. Desmontando as pernas, se puxavam as peças, armavam de maneira diferente e se podia disparar com tranquilidade. E, em surdina, os cinco se dedicaram a fazer modelos de robozinhos novos.

Foi assim que nasceu a boneca dançarina. Invento de Miriam. Ela caminhava, dançava, falava, com toda a estrutura interna de metalponita e o externo de plástico biodegradável. A arma foi introduzida na perna esquerda.

 Empolgadíssimo, Reginaldo inventou o robô assassino, cuja arma se escondia na perna direita, e ocupava parte do abdômen.   Rosa então fez os projetos de um monstro espacial, cuja arma escondia-se nas duas pernas. Marlene projetou, então, a Rainha da selva e Abelardo desenhou o misterioso Homem das trevas.

Quando Benjamim apresentou os arquétipos dos novos brinquedos para a Diretoria, todos adoraram. Alguns aplaudiam. Principalmente as bonecas, que dançavam e falavam. Na verdade, elas eram uma gracinha que enlouqueceria o público infantil.

E dias e mais dias similares se passaram.

A mídia ajudou desta vez, pois os bonecos foram recordes de vendas e se venderam para o mundo todo.

Depois de uns 300 dias, pois nesse planeta se trabalhava em horários curtíssimos, Paulo mostrou numa Feira Internacional Automobilística o fusca que viajava com água fervendo ao lado de um conversível dourado, que mexia com água fria. Invento dele, do engenheiro iguana, e Paulina. Iguanas milionários mandaram fazer os mais caros, enquanto o povo se inscrevia em consórcios para adquirir os fuscas, que enlouqueceu o público feminino. Economizar gastos em energia como gasolina e carvão, era o sonho de todos os homens desse mundo. Principalmente quem suportava gases poluentes nas ruas das cidades mais populosas.

E, com tantos inventos,  Benjamin teve que construir um novo parque industrial, contratar novos  empregados, para montar e vender os carros. Todos os veículos foram fabricados com metalponita duríssima na lataria externa, coberta com tinta quântica, que parava o carro ante uma batida iminente. Já na parte interna, havia resinas silvestres misturadas com fibra de vidros, e os assentos foram desenhados com plásticos biodegradáveis.

Mas, o melhor de tudo: Benjamim passou a ocupar o primeiro lugar na lista dos empresários mais ricos do mundo. Ele sequer sabia o que fazer com tanto dinheiro. Afinal, nenhum alienígena aceitava aumento de ordenado. Jesus dava tudo que recebia para os orfanatos, Paulo para asilos de velhos, pois alegavam que comiam de graça, usavam ônibus de graça, e moravam todos em quitinetes minúsculas. Benjamim não conseguia entender a filosofia desses seres de outro mundo, que sentiam aversão ao dinheiro.


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Notas finais do capítulo

Foi assim que nasceu a boneca dançarina. Invento de Miriam. Ela caminhava, dançava, falava, com toda a estrutura interna de metalponita e o externo de plástico biodegradável. A arma foi introduzida na perna esquerda.
Empolgadíssimo, Reginaldo inventou o robô assassino, cuja arma se escondia na perna direita, e ocupava parte do abdômen. Rosa então fez os projetos de um monstro espacial, cuja arma escondia-se nas duas pernas. Marlene projetou, então, a Rainha da selva e Abelardo desenhou o misterioso Homem das trevas.



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