The Witcher Age: Origins escrita por Rafael Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo 1




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O que deveria ser um passo para um local seguro em segundos se tornou uma queda de três metros de altura, e o chão se aproximou tão rápido que ele não teve chance nem de proteger o rosto. Por sorte, a queda foi amortecida por alguns arbustos, mas certamente iria deixar algumas cicatrizes novas em seu rosto - e não era como se estas estivessem em falta.

Ainda não estava recuperado o suficiente para se levantar e começou a ajoelhar, devagar. O primeiro espasmo de força retornou a seu corpo, subindo de forma repentina de seu âmago e esguichando em jato pela boca. Uma poça verde - os últimos goles de Andorinha - com alguns pedaços de cogumelos flutuantes começou a se espalhar na sua frente - e o odor fétido era tão forte que foi o suficiente para recuperar a força nas pernas e levantar de um pulo. Pela primeira vez, ele olhou em volta - e, claro, não era onde esperava estar: ao invés do Palácio Real em Vizima, o bruxo estava no meio de uma mata fechada, uma floresta pantanosa e que cheirava tão bem quanto o seu vômito. Por sorte,a armadura o havia protegido de um modo geral dos espinhos do arbusto, mas suas mãos, joelho e botas haviam afundado o suficiente na lama para deixá-lo com aparência de ajudante de estábulo.

— Eu odeio portais, - disse, resmungando alto o suficiente para que fosse ouvido por qualquer criatura próxima. É isso que dá tentar ajudar feiticeiras: uma hora elas estão desamarrando suas calças com um estalo de dedos, e na outra te mandam pra porcaria do Pântano Retorcido.

Mas, prestando atenção, ali não parecia o Pântano Retorcido. Na paisagem de Velen, tudo era muito mais marrom e muito mais morto. Mas aqui, o pântano parecia estar vivo. Árvores retorcidas e arbustos cheios de espinhos constituíam praticamente todo o cenário, mas ao contrário da natureza morta de Velen, a floresta estava viva: folhas de verde musgo brilhavam ao ser tocadas pelos poucos raios de sol que atravessavam a copa das árvores, e flores vermelhas, amarelas e roxas só não destacam ainda mais os arbustos rasteiros por causa da leve neblina que insistia em criar um grande véu de penumbra por todo o local. Mas algo o incomodava: o silêncio. Ainda que toda a vegetação em volta o certificasse de que estava em um pântano no auge da primavera, estava tudo muito quieto. Não havia um pio de pássaro, um coachar de sapo, um único rosnado de predador ao longe. Nada. Para uma floresta tão visualmente viva, o silêncio dela era sepulcral.

E havia, também outro problema: ele claramente estava no auge da primavera, e ele tinha certeza absoluta de que, logo antes de Yennefer convencê-lo (ou, mais precisamente, ameaçá-lo) de que a maneira mais rápida de voltar para o Palácio seria entrando no portal, já estava pronto para a chegada do inverno - como a quantidade de peles que usava sob a armadura poderia atestar.

— Para onde aquela Feiticeira desgraçada me mandou agora? - se perguntava Geralt, olhando em volta e tentando usar seus sentidos de bruxo para se localizar. Pode ter certeza, a próxima vez que ela vier com essa história de portal eu vou falar exatamente onde ela pode enfiar a porra do portal…

Isso. Estava longe, mas finalmente havia captado alguma coisa. Um cheiro. Bem fraco, mas nítido. Carne queimando. Será que havia uma vila por perto? Não importa. Era a única pista que tinha até agora, então não havia porque ficar pensando muito - ou tentava descobrir de onde estava vindo aquele cheiro e achava uma vila ou algum acampamento de ladrões da floresta, ou continuava ali parado esperando que por uma passe de mágica sua feiticeira desse por falta de um velho barbado e resmungão e aparece montada em um unicórnio rosa para salvá-lo - e ele sabia muito bem que não era assim que elas funcionavam. De uma forma ou de outra, o cheiro o levaria a algum tipo de resposta - e ele tinha duas espadas prontas para o caso dessa resposta ser um pouco mais difícil do que ele gostaria.

Ao caminhar ao direção ao cheiro de carne queimada, Geralt ia percebendo que a beleza da primavera continuava a desabrochar por todos os pontos da mata - assim como o silêncio de que algo errado estava acontecendo continuava muito presente para ser ignorado. Conforme ia se aproximando, um outro odor conhecido de Geralt ia se misturando ao da carne queimada: o cheiro de morte.

Quanto mais se aproximava da origem do cheiro, mais forte o aroma fétido da morte disputava lugar com o de carne sendo assada, e a floresta ia aos poucos mudando de forma. O verde e colorido das folhas diminuía a cada passo, e tudo parecia definitivamente morto - muito mais morto do que qualquer parte do Pântano Retorcido já pareceu a qualquer dia. O verde esmeralda da folhagem e o colorido das flores iam dando lugar a uma enorme imensidão cinza. Folhas, flores, troncos - tudo cinza como chumbo. Não havia cinzas ou qualquer sinal de incêndio; tudo estava inteiro, mas morto, coberto com uma camada de algo que parecia um musgo negro. Geralt se ajoelhou e pegou um pouco daquela substância estranha com os dedos: apesar da aparência de musgo, a consistência dele era mais próximo a de uma teia de aranha, e se esticava entre seus dedos como se fosse uma gosma. Ele a aproximou do nariz para sentir o cheiro: morte.

— Mas que merd…

Passos. Alguém estava tentando cercá-lo. A mata era muito fechada para que pudesse vê-los com clareza, e a gosma cinza atrapalhava a sua visão de bruxo. Mas a audição ainda estava perfeita, e era possível distinguir claramente que haviam três criaturas bípedes - pelo barulho de metal, possivelmente humanos usando armadura - que naquele momento estavam tentando cercá-lo. Sem fazer movimentos bruscos, Geralt calmamente se levantou e sacou sua espada de aço e, ao seguir com os olhos na direção de onde os passos estavam vindo, pode ver o que era o cheiro que ele estava seguindo: dois corpos humanos empalados por lanças, que assavam em uma grande fogueira como dois espetinhos de armadura completa. Mas não havia tempo para contemplar; um das criaturas começou a apertar o passo em sua direção; estava pronta para atacar.

Geralt também.

A criatura saltou do meio da mata, duas mãos segurando a espada acima da cabeça para um golpe com força suficiente para matar até mesmo um cavaleiro experiente usando elmo. Com um suspiro, Geralt se arrependeu de sua escolha: ainda que estivesse usando armadura, a pele verde, o nariz achatado e os olhos de peixe deixavam claro que a criatura que ele estava enfrentando não era humana. Bem, agora ele tinha que se virar, pois não ia dar tempo de mudar de lâmina. Mas em que terra estranha ele foi parar onde monstros se vestem como cavaleiros.

Geralt aguardou, imóvel, até o último instante possível, dando um passo para o ladopara sair da linha do ataque e, no mesmo movimento, levantou a lâmina da espada em direção ao pescoço da criatura, que não tinha mais tempo de se defender. Um único corte, limpo, e a cabeça da criatura rolava pelo chão da floresta, enquanto um sangue negro jorrava do corpo sem pescoço estatelado aos seus pés.

Sobraram dois.

O bruxo percebeu que, vendo a falha do ataque surpresa, seus outros dois adversários estavam se preparando melhor para atacá-lo, e se movimentavam para flanqueá-lo. Mas, dessa vez, ele estava pronto para a ação. Antes que tivessem tempo de decidir o que fazer, Geralt avançou em direção ao mais próximo, que se aproximava pelo seu lado esquerdo. Seus olhos ainda não podiam ver a criatura escondida pela mata morto, mas o tilintar da armadura em seus ouvidos era alto o suficiente para saber exatamente onde ele estava. Geralt sabia que avançou rápido o suficiente para não dar tempo da criatura reagir e, antes que ela pudesse pensar atacá-lo, um rápido movimento com a palma da mão direita aberta acabou com qualquer chance que ela tinha de uma briga justa: Aard. Seu adversário foi pego de surpresa pela repentina onda mágica que o atingiu, e caiu de costas no chão, sem defesa para o bruxo que em menos de um segundo já estava parado com o pé esquerdo sobre seu peito; um grunhido de terror foi sua única reação enquanto via a ponta da espada de seu adversário descendo rapidamente em direção aos seus olhos.

Geralt podia não saber onde diabos ele estava, mas se existe uma coisa que ele sabe essa coisa é matar monstros.

Um chacoalhar de um chocalho de metal começou alguns metros atrás de onde ele estava, seguido de um rugido de fúria - seu último adversário havia abandonado qualquer padrão tático e o estava atacando impulsionado pela raiva. Ótimo.

Dando um estrela sem usar as mãos, Geralt saltou para o lado esquerdo, escapando da estocada que mirava o seu coração e, assim que pôs os pés no chão, aproveitou o momento da manobra para o golpe final e, com as duas mãos segurando firme a espada na horizontal, girou o tronco para golpear com a maior força possível a criatura que passava sem acreditar em como seu adversário havia escapado. A lâmina de metal acertou-a na cintura e fez um leve som de metal contra metal ao encontrar a armadura, mas o golpe foi tão forte que não havia nada que ela pudesse fazer - metal, carne e vísceras foram cortados como manteiga, e o monstro jazia separado em duas metades, a mão ainda segurando firme a espada e a expressão de surpresa gravada para sempre em sua face.

O bruxo começava a limpar sua lâmina quando ouviu o barulho de um graveto quebrando. Mais um monstro? Pelo jeito o urro do último morto havia chamado reforços. Mas não importava - ele teria o mesmo fim. Segurando a espada ao lado do rosto com ambas as mãos, Geralt estava preparado para mais um ataque.

— Quando ouvi que os darkspawns pareciam ter achado um nova presa eu estava pronto para oferecer ajuda mas, pelo jeito - a figura faz um gesto em arco com a adaga, mostrando os corpos das criaturas mortas no chão - não foi necessário. Aliás, belo estilo de luta, nunca vi nada parecido até hoje.

Quem estava ali na frente de Geralt definitivamente não era um monstro. A figura era nmais alta do que qualquer uma das criaturas que ele havia enfrentado - pelo menos uns 20cm mais alta - e, pelo modo como andava, o bruxo podia que era um guerreiro experiente. O homem parecia ter entre seus 30 e 40 anos, mas ainda não possuía nenhum fio branco na barba preta e espessa que cobria todo o seu rosto. Ele usava uma armadura bem incomum - toda de metal que parecia ser de alta qualidade, mas flexível o suficiente para não fazer barulho enquanto andava - o que deixou Geralt com uma leve inveja e com vontade de conhecer o ferreiro responsável por aquele trabalho. Ele ainda carregava duas adagas, uma em cada mão, mas caminhava de um jeito despreocupado e se demonstrar agressividade. Mesmo assim, Geralt não iria baixar a guarda tão fácil.

— Por que você está com a esp… oh - o homem olhou para suas mãos, se dando conta de que ainda estava segurando suas adagas, e tratou prontamente de embainhá-las. Você está certo: eu também não baixaria a minha guarda se um estranho surgisse do meio do mato com duas facas em punho, principalmente não no lugar que estamos. Mas desculpe meus modos. Meu nome é Duncan, e eu sou o líder dos Guardiões Cinzentos de Thedas;

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— Então..,.onde exatamente fica Thedas?

— Pelo tipo de pergunta, dá pra saber que você definitivamente não é daqui.

Eles estavam agora em volta de um fogueira, nas ruínas de uma fortaleza que estava sendo utilizada como posto militar avançado. Tropas se movimentavam em toda a volta deles - recrutas aprendendo o jeito correto de segurar o escudo, oficiais discutindo sobre a melhor estratégia de batalha, ferreiros trabalhando sem descanso para garantir que todas as lâminas estejam afiadas. O cheiro do medo emanando de todos. Aquele não er um posto militar de reconhecimento. Não. Eles estavam se preparando para a guerra. Duncan parecia ter notado a preocupação dele.

— É, a noite está bem movimentada - como se poderia esperar. Partimos para a batalha amanhã.

— Quem é o inimigo? Não me diga que Radovid está ameaçando vocês também?

Duncan riu.

— Não amigo, nunca ouvi falar nesse tal Radovid. Nosso inimigo é o maior flagelo da humanidade: os darkspawns.

Geralt parecia confuso.

— Vocês estão em guerra contra monstros? Nunca ouvi falar de monstros inteligentes o suficiente para organizar um exército.

Duncan parecia resignado. Pelo jeito, não era a primeira vez que ele tinha que explicar isso para alguém.

— Ah… - suspirou. O tempo faz as pessoas esquecer. Enquanto todos vivem quentinhos em suas casas, as criaturas que por quatro vezes já quase dizimaram todo o planeta voltam à superfície sem ninguém acreditar nelas. São apenas lendas, histórias contadas pelos mais velhos para assustar as crianças. Os darkspawns são lendas apenas enquanto não invadem suas vilas e matam todo tipo de criatura viva. Nós, Guardiões Cinzentos, nunca nos esquecemos deles e da Blight. Mas ninguém quer nos dar ouvidos até ser tarde demais.

— Nunca ouvi falar nessa tal de Blight.

— Ah, a Blight é o evento que pode desencadear o fim do mundo, quando um Arquidemônio acorda de seu sono nas profundezas e lidera um exército de darkspawns para tomar a superfície e destruir todo o mundo dos homens - e todas essas pessoas à nossa volta também acabaram de descobrir que essa não era apenas uma história contada ao redor da fogueira para assustar as crianças.

Alguma coisa estava errada.Muito errada. Tudo bem, o mundo era um lugar grande e era bem provável que esses tais de darkspawns fossem um tipo de monstro específico de uma região isolada da qual ele nunca ouvi falar. Mas um evento de destruição mundial comandado por algo com o nome de Arquidemônio - certamente alguma coisa dessa magnitude existiria na biblioteca de Kaer Morhen, ou pelo menos alguma história sobre isso já teria sido contada por Vesemir durante o treinamento. Mas ele nunca tinha ouvido falar sobre nenhuma destas coisas antes, e isso era assustador.

— Só uma pergunta: em que ano nós estamos.

— Você bateu a cabeça é? Esse é o ano 30 da Dragon Age, não é possível que você não saiba disso.

— Droga.

— O que foi? Alguma coisa errada?

Mas Geralt já não estava mais prestando atenção em Duncan. Tudo começava a fazer sentido: os monstros que ele nunca tinha visto, o evento apocalíptico, o papo sobre o Arquidemônio...Yennefer iria ter que oferecer bem mais do que a raba empinada para se desculpar pela merda que fez.

— Eu ODEIO portais.


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