Cidade das Trevas: Crônicas de Luz e Escuridão escrita por DC Blackwell


Capítulo 1
Capítulo 1 Parte 1: Rebecca


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Neste capítulo e no próximo, contemplaremos a historia de Rebecca.

Espero que gostem da leitura e aguardo suas opiniões!



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Às vezes, a vida era difícil. Às vezes, era como se o Cara Lá De Cima desviasse por um instante a sua atenção da vida de algumas pessoas, dando brecha para o Diabo fazer sua bagunça. E Rebecca estaria muito bem, obrigado, se o Cara fizesse isso moderadamente, mas ultimamente era como se cada piscada Dele levasse meses. Anos, até.

A primeira piscada foi em seu nascimento. Mãe não resiste ao parto, pai fora dos registros, orfanato, estupro, adoção. Dez anos destruídos em uma única piscada. Então, veio a época boa, e acredite, não durou muito até o filho da mãe piscar de novo. Mas épocas boas deveriam, sim, ficar na memória, pois assim como todo ser humano precisa de alguns momentos ao sol por dia, também se necessitava exposição a felicidade. E por isso, ela lembrava todos os dias. Lembrava daqueles dois senhores simpáticos e sorridentes. Lembrava do quarto enorme preenchido com bonecas, casinhas, cortinas, carrinhos, videogames… Seus melhores amigos eram aqueles dois senhores, sempre tão amáveis e dedicados. Sem eles, a escola era difícil. Com eles, não facilitava tanto assim, mas o amor que recebia logo após um dia ruim tornava a rotina suportável. Nunca foi, e nunca seria, fácil para Rebecca aturar as pequenas injustiças cometidas por alunos e professores, e mesmo quando o assunto não a envolvia, ela tendia a fechar e mover punhos como nenhum garoto seria capaz de fazer de forma tão habilidosa e eficaz. E quem iria querer se aproximar de uma menina que não é indefesa? Em contrapartida, sabe quem é que ligava para toda essa gente da escola e o que elas diziam e pensavam? Bem, certamente não Rebecca. Muitos poderiam dizer que Rebecca sempre foi vista pelo Cara com o canto dos olhos, e por isso sua vida era uma constante série de infortúnios. Mas essas pessoas não sabiam de nada. Porque se não fosse o Cara enviar aquele par apaixonado para protegê-la como um grande pedido de desculpas pelos anos de aflição, ela jamais teria conseguido aguentar os eventos que viriam a seguir. Os eventos da segunda piscada do Grande Cara que deixava muito a desejar na hora de proteger uma de suas filhas.

Mas por mais que a Segunda Piscada doesse, não era por ela que estava ali, lembrando de sua vida enquanto caminhava com pressa por entre os vários becos e ruazinhas de chão batido do lugar onde vivia. Neste exato momento, ela tinha um grande problema com o qual lidar, e não tinha a mínima ideia do que fazer. Era sua nova família, Os Garotos da Rua Sete, como eles gostavam de se chamar. Nenhum deles passava dos treze anos de idade, deixando-a como a grande mãe dessa família de desajustados baderneiros aos seus quinze anos de idade. E como tal, tinha que proteger seus meninos de dois grandes vilões: O primeiro era a tentação do crime. Entre órfãos fugitivos e filhos de criminosos falecidos, essas crianças tinham mais esperança na violência de uma trinta e oito do que na honestidade do trabalho. E cá entre nós, que trabalho você acha que uma criança deveria poder exercer? Exato, nenhum. E qual trabalho acha que um grupo de crianças assim poderia conseguir? Correto novamente, as duas opções eram tráfico e vender doces na rua. Não é necessário fazer a terceira pergunta, porque Rebecca já sabe qual decisão os seus filhos idiotas tomaram. Fazendo surgir o segundo problema. Um problema alto, forte, armado e violento conhecido por todos ali do bairro como Patrão. E o Patrão estava pagando um bom dinheiro a quem quer que encontrasse e eliminasse seu concorrente no mercado de heroína, o Navalha. Um certo grupo de crianças idiotas achou que conseguiria acabar com o sujeito porque estava em maior número. E talvez conseguissem mesmo, mas o problema era que Navalha não batia bem da cabeça. Para matar o Navalha, eles correriam o risco de se ferir, e talvez um ou dois morressem no processo. Não só isso, matar o Navalha iria requerer discrição, pois uma vez que seus capangas soubessem do que estava acontecendo, seria o fim.

E era por isso que ela estava indo aonde estava indo, pra acabar com essa palhaçada e trazer as crianças de volta. Carregava um bastão de baseball de ferro consigo, um gesto que dizia “É melhor não tentar foder comigo, meu irmão”. Nunca o tinha usado em alguém, mas ninguém precisava saber disso, até porque o porte de marrenta não se sustentaria se não fossem os boatos que corriam sobre ela. Sobre como todos acham que ela matou os próprios pais adotivos com aquele bastão. No começo, ela não gostou, mas ao ver-se naquele mundo que caía aos pedaços, onde o bom era o morto e o ruim era o rico, onde a Ira era uma virtude e o pecado se vestia de honra, decidiu que não queria estar morta. Muito menos pobre, mas tampouco desumana. Não, a maldade não lhe caía bem, por mais que tentasse e se esforçasse. Novamente, este era o motivo de seu temor. Temor este confirmado quando ela finalmente parou à frente da mansão do Patrão.

Se supõe que quando se fala em mansão no subúrbio de Nova York na verdade se quer dizer que a casa era bem cuidada, com grades altas, cachorros, cerca elétrica, dois andares, uma chaminé para o frio e um belo jardim de, digamos, talvez, uns cem metros quadrados ou algo assim. O Inverno estava próximo e, portanto, às cinco da tarde o Sol começava a voltar para sua coberta de nuvens densas de chuva e seus clarões azulados ao longe. Talvez não chovesse naquela noite, isso seria ótimo. Não havia muitas cores por ali, pois embora se soubesse que o céu estava laranja e ia ficando rosado com o passar dos minutos, por aquele canto da cidade parecia, mais uma vez, que o Cara Lá De Cima tinha esquecido de dar aquela bisbilhotada que sempre parecia dar aos donos dos grandes prédios de vidros espelhados no horizonte distante, do lado oposto às nuvens. Ou como Rebecca gostava de dizer: “Estamos naquela área, embaixo do grande tapete da casa do Mundo, onde Deus joga toda a sujeira.”. Rap tocava de dentro da maior casa do subúrbio, por trás das janelas de metal fechadas. Toda branca, em contraste com as roupas dos dois seguranças na entrada. Parecia até que o Patrão tinha algum delírio de grandeza combinado com uma mente muito pequena, o que fazia de sua casa uma “mini-casa branca do gueto”. Rebecca esboçou um sorriso com a piada que contou a si mesma e olhou para o brutamontes número um, que colocou a mão no revólver.Q

— Que tá fazendo aqui, Rebecca? - disse o homem, com ar preocupado. - Aqui não é teu lugar, volta pra casa.

— Eu vou pra casa, mas primeiro vou buscar os meus garotos.

— Sem chance - disse o brutamontes dois, se aproximando até quase encostar em Rebecca, que se recusava a perder a postura diante dos intimidadores oficiais do Patrão - , os fedelhos têm uma missão e já estão se preparando.

Houve um instante de hesitação. Não o suficiente para que gerasse desconfiança, ela esperava. A resposta veio à mente como um raio, a única solução para o conflito.

— Eu sei. Eu sou a líder desses fedelhos, é a mim que eles respondem antes do Patrão, e sou eu quem vai liderá-los hoje.

O segundo brutamontes deu de ombros. O primeiro parou por um segundo, olhou-a de cima a baixo, respirou fundo…

— Tem certeza do que está fazendo? Última chance.

Abre a porra da porta, cara.— disse ela, sem intenções de correr um novo risco de ter os seus sentimentos revelados ali, pois isso levaria ao seu fracasso.

De onde ela conhecia aquele homem? Teria ele sido algum conhecido, algum homem de bem entregue ao crime por uns trocados a mais? Não importava. Agora era tarde para ele, assim como era tarde para Rebecca. A grade abriu primeiro, então o brutamontes número dois a escoltou até a porta de madeira, a batida forte e densa do rap retumbando aos seus ouvidos junto com seu coração conforme se aproximava mais e mais da entrada da casa do Patrão. Era estranho para ela, mesmo que assim fosse desde que nasceu, sentir a boca seca, as tripas geladas e o rosto quente, mas não estar nem um pouco abalada pela baixa temperatura do anoitecer do fim de outono. Quando a porta abriu, observou a todos os convidados de honra do Patrão, e para sua surpresa, nenhum deles estava mal vestido, em trapos ou em estado deplorável. Eram homens brancos, velhos, muitos de terno, alguns de vestimenta menos complicada. Uma mesa de vidro no centro da sala era o provador das mercadorias que eram oferecidas aos compradores de luxo, os donos dos prédios reluzentes onde a maioria almejava viver e trabalhar. Rebecca adentrou a primeira ala da casa, a sala de estar chapado.

— Suba as escadas, primeira porta à direita. - disse o brutamontes número dois, quebrando a súbita onda de fúria e frustração que a jovem sentia.

E assim, sem hesitar ou tremer em suas bases, ela subiu.

 


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Notas finais do capítulo

O que esperam desta trama, e deste projeto como um todo?

Já leram a obra original, de onde surgiu o universo onde se passarão estas historias?

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