Resident Evil - Dead CELLS escrita por Kanin3


Capítulo 1
The Peace Before The Fear


Notas iniciais do capítulo


A ideia é seguir os eventos dos games - se passando após o RE - Vendetta, e incluir os eventos canonicos dos games, do 0 ao 6. Os livros também tem certa influencia na fic, já que com exceção do Submundo, não há taaaanta margem de erros assim para os eventos da cronologia. Tirando besteirinha ou outra, os livros não possuem muito conteúdo que neguem seus eventos e acontecimentos, graças a liberdade poética da autora. Como sou puta fã noiada de "Ri Sem Dente E Viu", senti que iria adorar escrever essa merda - por mais merda que possa resultar.

Enfim, boa leitura e espero que gostem! >3



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Desde a noite em Nova York e sua quase morte, Glenn Arias e o vírus biológico mortal correndo seu corpo pouco a pouco e percorrendo suas veias, Rebecca não conseguia dormir perfeitamente. Claro, ela passava mal as vezes como um humana normal – a Chambers esquecia-se de que  diferente de pessoas como Chris Redfield, Leon Kennedy e Jill Valentine, a moça era só uma professora de química em uma mera instituição de ensino. Sem armas, sem combate, sem coletes. E uma professora com extensa ficha e horário no psicólogo nos fins de semana fazia algum tempo.

Com o bip logo cedo, Rebecca despertou de seu sono – o sol invadia pelas frestas, percorrendo o quarto escuro. Era a  friagem das 9 da manhã que tocavam seus ombros nus. Rebecca gemeu ao sair das cobertas, bocejou e caminhou até a janela, deixando a luz entrar. Espichou o rosto para o lado de fora, vendo a vizinhança acordar pouco a pouco.

Em minutos, desceu do quarto e enfiou-se em suas roupas. Rebecca evitou notar as olheiras no espelho do banheiro quando saiu da ducha quente, sabendo que já estava exausta demais para se dar luxo de perceber.

Tinha tantas provas a corrigir. Trabalhos e programações para preparar. E havia um novo composto químico muito interessante que sua velha amiga Rose ainda insistia que não daria em nada, mesmo que Rebecca tinha plena certeza de que lhe proveria alguns bons olhares dos outros reitores da faculdade.Mas claro, os velhos só sabiam olhar para seus projetos fúteis e ultrapassados, e a chance para a promissora professora de química caía por água abaixo.

O ovo na panela esquentou com cheiro delicioso, e ela provou um pouco. A moça tirou o celular do bolso, abrindo a caixa de mensagens.

"Alex, G. 5 mensagens."

 Broder, W. 4 mensagens.”

“Redfield, C. 1 mensagem.”

“Tower, R. 2 mensagens.”

Ela discou à Tower e esperou a voz na outra linha. Remexeu a panela que quase respingou nela. - Alô? Oi, Rose. É a Becky. Então, eu queria... sabe, falar daquele lance? Acha que vai dar certo? O quê...? – ela resmungou – não... sabe que o professor Rover não entende um palmo a frente dele, por mais que eu goste de seu trabalho. Não... não, você não tá entendendo. Esse composto – tamborilou os  dedos na mesa – será muito vantajoso para esse tipo de serviço. Pense nas possibilidades. Alimentos, químicos, plantações... as vantagens são imensas, e-- Oi? Você ao menos tá me ouvindo, garota?

Alguém bateu a porta.

— Espera um pouco Rose, eu ligo depois, ok?

 Bateram outra vez.

Rebecca correu até a porta, ajeitando os cabelos castanhos. Não costumava receber visitas naquele horário. Normalmente, apenas de vizinhos. E por isso, não importava-se em atender a porta de pijama.

        – Já vai. Já vai...

           Quando abriu, não evitou de arregalar os olhos. Não imaginava se estava sonhando ou não. Mas pensava que sim – já vira tanta coisa na vida que não duvidava mais de nada. O homem de sorriso metido e cabelos lisos penteados para trás. Usava óculo escuros sobre os olhos, pendurados na cabeça. Os dentes brancos esboçavam o sorriso selvagem, e tinha rosto jovial, mesmo com os anos passados, o que ainda formava sua certa beleza punk – a tatuagem no braço direito lembrou-a perfeitamente da marca distinta no velho militar. E de seu jeito maroto e arrogante usual.

          Estava de frente para aquele homem que não via há... o que? Dezenove anos, praticamente?

— Oi, bonequinha. – ele assobiou, olhando a casa de cima  a baixo. – Então é aqui que você vive.

— Billy... – gaguejou, piscando rapidamente – B-Billy... Coen...

— Sim. – sorriu – Mas acho que não precisa gaguejar tanto. Meu nome não é tão difícil de pronunciar.

— V-você...

— Eu o que?

— Como--?

Ele olhou em volta, e fitou para dentro da casa.

— Não vai me convidar para entrar?

— C-claro – ela disse sem jeito, abrindo espaço – Entre, por favor... além disso – ela notou estar de pijama – eu não estou exatamente apresentável...   Me dê um minuto, sim?

 

Rebecca estava na casa dos 30 anos agora. E mesmo que Billy Coen, vivo e inteiro a sua frente - o que a moça ainda pensava ser um sonho matinal – estivesse diferente, ela também estava.  

E não era mais a velha Rebecca – não a jovem de 18 anos formada em química, membro da S.T.A.R.S e em primeira missão de campo a qual se tornaria a mais lembrada de sua vida. Ao menos, não era ela completamente. Havia sido calejada e marcada por algumas coisas durante o caminho. Fossem laboratórios secretos em instalações industriais, fossem viúvos insanos que a sequestraram para um novo casamento, ou até mesmo cientistas psicopatas em Caliban Cove e seu exército descontrolado de infectados.  Rebecca não tivera exatamente a vida mais fácil até então. 

Mas sentado em seu sofá, tomando seu café, ela notava que apesar de tudo, Billy Coen ainda a olhava como se fosse a mesma “dollface” de 1998. Era de certa forma, reconfortante. Assustador ve-lo novamente. Mas reconfortante era a palavra certa.

— Você não mudou nada – ele notou. – Ainda continua a mesma, ‘Becca,

Ela cruzou os braços. – E você mudou muito, Billy.

— É? Como  o que?

Ela suspirou, laçando os dedos – Onde você estava esse tempo todo? Faz ideia do que tive de dizer para meus  superiores sobre você? – ela afundou o rosto nas mãos. - Achei... não... Eu não achei nada! Não sabia nem o que pensar de você, sabia?

— Imagino o que teve de dizer... – ele assentiu, sentindo a tensão na voz da moça.

— Só imagina, no final das contas... Mas eu... – ela ergueu os braços, perdendo a paciência – sei lá! Achei que estivesse morto. Depois de muito tempo, podia ter morrido, pego pelo governo ou executado.  – andou de lado a outro. – Mas você estava por ai! – ela riu, indignada – e a idiota aqui preocupada que tivesse sob 7 palmos de terra!

Ele deixou a xicara na mesa.

— Rebecca. Se me permitir dizer, eu posso começar a explicar.

— Ah, explique, por favor... – ela resmungou.

— Estive fora do país, escondido. Busquei alguns... passaportes com um velho conhecido em Detroit. Sob nomes falsos, identidades e nova vida, deixei os EUA e busquei esperar a poeira baixar no México. Lá,  ao menos meu nome não estava sujo e a jurisdição estaria longe de me capturar. – ele deu de ombros. – sobrevivi trabalhando em uma fabrica por tempo suficiente.  Consegui dinheiro suficiente para viver em tranquilidade, juntar documentos melhores, e com certeza, não conseguir problemas entre os chicanos. Não foi problema. Fiz conhecidos rápido, e com meus conhecimentos em serviço militar e uso de armas – ele olhou-a sugestivamente – consegui arranjar um lugar na policia.

— Creio que gostou de lá.  Passou tanto tempo. – disse ela, rancorosa.

— A bebida é boa – ele brincou, e sentiu a tensão aliviar-se entre os dois. – além de tudo, senti falta da bonequinha. E claro, dos problemas e poluição dos Estados Unidos.

Ela abriu um sorriso doce. – E só agora decidiu voltar?

— Eu tive meus motivos. Além disso, precisaria de você.

— De... mim? Para que?

Ele laçou os dedos, inclinando-se a frente.

— Há um problema aqui nos Estados Unidos. Recebi uma ligação de um certo cara há alguns dias. – ele disse, misterioso – Sugeriu que viesse atrás de você. E você, tendo experiencia com coisas do naipe... – ele tirou um cartão do bolso, e jogou na mesa de carvalho em meio aos dois – Bem, acho que você consegue se lembrar do nome, não é?

Rebecca tomou o objeto. Seus olhos arregalaram levemente ao ver aquilo.

— Trent... – ela disse baixinho, e seus lábios truncaram. – o que ele disse a você, Billy?

— Quer a história longa ou a resumida?

Chambers cruzou os braços. – Me conta tudo.

 

*

 

 

“Você conseguiu, mulher maravilha. Salvamos o mundo. Você me salvou. Sabe disso, não sabe?”

As palavras dele ainda a lembravam daquele dia.

A voz. O olhar subitamente gentil e bondoso do homem que, horas antes de dizer tais palavras, se considerava um monstro. Um fruto de ser igual ao homem que lhe cedeu o sobrenome e seus talentos sobre-humanos. Mas que no fim, provou-se tão heroico e bom quanto ela mesma. E ela sorriu levemente ao lembrar-se de Jake Muller. Ás vezes, pegava-se pensando nele.

Faziam algumas semanas que não falava com ele – tinha ideia de que ele ainda estava no Oriente, no entanto. Mesmo que não trocasse uma mensagem com Jake.

Às vezes, recebia mensagens de Hunnigan – afinal a Birkin pedira que a moça mantivesse vigilância no rapaz. Não que Sherry temesse que ele precisasse ser vigiado. Mas era sempre útil manter ele sob radar constante. Ele não era um humano comum como qualquer outro, e o governo tinha de estar com pleno conhecimento de onde ele pisava, vivia e até do ar que respirava.  Era dura a realidade, mas Jake Muller era um individuo importante demais para ser perdido de vista. E de certa forma, em outra época, como ela mesma se via sendo.

 Com agulhas, experiencias e cientistas sobre ela a todo momento.

Então, em meio a seus devaneios, o telefone tocou, a assustando levemente.

 - Alô...? – ela bocejou, sentando na cama.

A voz era da moça que conhecia há anos. A loira sorriu, tirando o pijama e enfiando-se na blusa na cabeceira da cama.

— Ah, oi Claire. – enxugou os olhos – Tudo bem?

         “Achei que estivesse acordada. Vai fazer algo hoje?”

Ela olhou o relógio – 08:25. A friagem beijou sua pele.

            – Não... por que?

           “Ótimo. Tem um cara... sabe, muito legal. E acho que ele tem um irmão mais novo. Se quiser, a gente pode sair e descolar uns gatos, Sherry.”

         Claire Redfield adorava passar o tempo saindo com aqueles malucos da TerraSave, e não que Sherry tivesse tempo para encontros. Já tinha trabalho e responsabilidades demais no setor de Segurança. Mas de vez em quando, era alvo das avançadas românticas de Claire e seu desejo de encontrar alguém para a amiga.

Ela enfiou os pés no sapato, penteou os cabelos loiros e desceu as escadas do apartamento. – Tem  certeza, Claire? Não é muito sua praia me chamar para encontros duplos, não é? – deu uma risadinha.

          “É, mas dessa vez você pode se divertir. Eu já conheci ele, fofa. É uma gracinha. Sei que vai gostar . e pelo que Robert disse, ele adora loiras – ela provocou. – E aí? Não quer testar isso e mostrar a loirinha mais linda de Raccoon City?”

         – Quer dizer a única loira sobrevivente, não é?

       “O que ainda conta como um mérito.”

          Sherry riu, ligando a TV.  – Não sei. – ela suspirou, e com um prato de donuts, sentou-se no sofá na sala. – é que... – mordeu um pedaço – eu não consigo me adaptar a ter um namorado, sabe? Na verdade, a ideia de um relacionamento nunca... me passou pela cabeça.

         “Qualé? Nunca conheceu nenhum garoto bonitinho?”

       Por alguma razão, pensou em Jake.

         – Não... creio que não.  Não sei se sabe, mas não sou do tipo que sai muito, não é?

         “Qual é, querida... Você não quer sair hoje? Não vai fazer nada, que eu sei. Vamos” – ela insistiu – “vai ser divertido, Sherry. Eu prometo. Sou sua melhor amiga, lembra? Pode contar comigo. Sei que será legal, meu bem.”

            – Eu sei, eu sei... – a loira hesitou um pouco. Suspirou, e abriu leve sorriso. – Tá... Que horas você vai?

        “Ótimo! Eu passo às sete, S.”

            Quando desligou  o celular, Sherry voltou a  TV e aumentou o volume.

          “--negou o escândalo. As investigações ocorrem, e é o quarta negação do presidente da companhia, Alex Prescott, de que estavam envolvidos no evento.”

“ Segundo as palavras do tenente McCollins , não se sabe até onde durarão  as investigações acerca da Bio Cell, mas o fim do trabalho de suas forças forenses estão longe de acabar. Em seguida, tentamos falar com o pesquisador Alex D. Prescott, em tentativa de evitar as câmeras. O homem, um dos antigos pesquisadores da antiga empresa farmacêutica conhecida como WillPharma, negou o envolvimento de seus trabalhadores no escândalo. Confira suas palavras:

             “ Não tivemos problema algum com o trágico incidente em Harvardville. Infelizmente , a tragédia ficara em nossa memória, e dos nossos conhecidos que faleceram no evento. Sei que muitos ainda se machucam pela época, tanto quanto as torres Gemeas. Eu dou minhas sinceras condolências, tanto quanto as vitimas do evento quanto as do atentado biológico  ocorrido em Nova York há algumas semanas. Na verdade, já neguei, pelo que lembro, a TV e o canal 66 sobre tais queixas. Acredito que as mídias reportadoras sobre tais noticias não são gerenciadas por nada menos que pessoas, então vejo que são porcamente registradas.”

“Qual sua relação com o antigo CEO da Willpharma, Frederic Downing?”

          “Eu já disse e canso de repetir: Downing não tinha relação alguma com a Bio Cell e seus acionistas.  O homem causou problemas  e a queda da própria empresa, assim como demissão e problemas que ele mesmo escolhia trazer a muitos de seus empregados. Graças e ele,  familias e vidas de pessoas como Curtis Miller, que Deus os tenha, pereceram nas cinzas da tragédia e foram destruidas por ações de homens como Downing."

“É verdade que—”

“Já dei muitas respostas por hoje. Obrigado.”

              Sherry ouvira algumas coisas sobre o evento com Leon e os dados que lera da missão em Harvardville a qual a própria Claire estava presente – a Willpharma estava quebrada com a revelação de que eles lidavam com bioterrorismo e experimentos na Índia. Sem falar na venda de compostos como G-Virus pelo mundo – e tudo através de uma suposta indústria farmacêutica. 

Tricell. WilPharma. Neo-Umbrella.

        – Parece que depois da Umbrella, sempre tem alguém tentando ganhar com esse tipo de risco biológico...

 

*

 

A Margarette’s era o melhor restaurante mais simples que qualquer carteira podia bancar em Washington. Até a pessoa mais quebrada financeiramente.

Era livre do horário de rush. Era tranquilo. E a comida e o hambúrguer de carne afogada em óleo era o melhor que Chris conseguia lembrar. Gostava de ir naquela época do ano, e a clientela já era conhecida do militar. E ele conseguira convencer  o homem a sua frente a comer lá com ele e passar um tempo. 

— Certo. Claro. Resolvemos isso depois. – disse o loiro a sua frente, rolando os olhos enquanto falava no telefone.

— Assuntos de negócio inacabados, Leon? 

— Eu também sou gente, Chris. E como 90 porcento das pessoas normais, também tenho trabalho  na minha vida, sabia?

Leon fechou o telefone, deixando do lado da mesa. O cheiro do hambúrguer subiu quando Redfield levou a sua boca, deixando um pedaço de ketchup cair no prato. A garçonete já passara e dera sabe-la quantos olhares ao loiro. 

Não que Leon parecera dar bola, na verdade.

    – Então – Leon mordeu seu hamburguer. – Alguma... novidade? Como vai a senhora simpatia? As crises não continuam, né?

— Não. As fases dela de se verem má já passaram – Chris deu um gole da Coca. – Qualé, Leon? Isso fazem o que? 8 anos? Ela já sabe o que aconteceu, sabemos o que aconteceu e ela sabe do fato de que ninguém a culpa. O maldito do Wesker tinha as mãos sobre ela. E não havia nada que ela pudesse fazer. E um milagre termos saído vivos. – ele coçou os olhos. – Já é ótimo que ela esteja viva, na verdade.

Era uma verdade – a Valentine sabia ser forte quando queria. Mesmo que alguém tão lixo quanto Albert Wesker tivesse quebrado sua mente e seu âmago pouco a  pouco.

— Bem, ao menos ela não continuou daquela forma. – Leon brincou, relaxando a tensão. – Seria ruim para seus ossos se a madame tivesse continuado daquela forma. O peito ainda dói?

Chris riu. – Verdade. É como meu pai sempre dizia: “as mulheres são assustadoras quando estão com raiva.”

— E quanto Claire? – Leon o olhou, inquisitivo. – A senhorita “sabe tudo” já encontrou uma casa boa para ela?

Chris lambeu os dedos.

— Ela quer encontrar um lugar legal em Washington. Um suficientemente bom para ela e Sherry. Depois de Derek e tudo mais... bem, ela quer manter a menina bem perto dessa vez. Sem chefões governamentais nem mais vírus. Eu apoio a ideia. Ter ela distante será meio solitário, mas é o melhor para as meninas, e elas podem se cuidar.

— Melhor assim. Elas se dão bem. E pensar que conhecemos aquela garota quando não era menos que uma criança assustada...

Chris deu outro gole do refrigerante.  – E... sabe? Falando em mulheres...

— O que?

Chris ergueu cenho como se dissesse “sabe do que falo.”

— Ah por favor, Chris. Nem vem...

— Nem vem o que? Sei que mulheres não são seu forte, mas como você mesmo diz...? "Que algumas são mais difíceis que outras." Achei que depois da China... vocês se resolveriam nisso.

Leon riu, se olhando pelo reflexo da janela.

— Aquela ali não deixa nada resolvido...  Sério. Depois de Simmons, e aquele lance de clonagem e sei lá mais o que rolou lá...

Houve silencio.

— Hm. – murmurou Chris.

— “Hm” o que?

— Você não é de deixar nada não resolvido, Kennedy. – Chris recostou-se no assento . – Afinal, quando é que mulheres foram fáceis nas nossas vidas? Bem, um brinde a elas – ele ergueu o copo – Às mulheres difíceis!

— Às mulheres difíceis. – Leon riu, brindando também.

— E às impossíveis também... – Chris riu discretamente, dando um gole.

— Cala boca, Redfield.

               – Mas e quanto aquela... – Chris coçou a barba rala – Aquela garota... em Harvardville, foi isso? Que você me contou. Qual nome dela? 

          Ele disse num tom que não precisava ser lembrado quem ela. Só queria ouvir de Leon pessoalmente.

         – Ah, nem vem com essa, cara.

       – Você mencionou que ela era atraente, Leon.

         – Sim, sim. Angela  era bem atraente.

         –  Angela! Isso! – Chris estalou o dedo – ainda fala com ela?

         – Não. – ele meneou – Não há motivos. E creio que ela deve estar em outra melhor, com algum cara, sr Galante – Leon o encarou – sem tempo para romances nos nossos trabalhos, lembra?

              – Você anda ranzinza.

              A garçonete deixou a conta na mesa. Ela se afastou, não antes de olhar Leon fixamente.

           – Acho que ela piscou para você – sorriu Chris.

            – Não... foi impressão sua, apenas – Leon puxou sua carteira.

             – Por isso que eu digo – Chris meneou – Você é tão péssimo com mulheres quanto Barry diz que eu sou.

 

*

 

 

             – Transtorno de esquizofrenia. Sintomas de culpa. Insônia. Maus hábitos alimenticios. Perda de peso e péssimo humor lascivo – o velho  dobrou a folha e ergueu o cenho branco, suspirando como suspirara nos últimos anos ouvindo a moça em seu divã. – É, eu diria que a Srta Valentine foi um caco de problemas nos últimos anos, sr Redfield.

              Chris já falara com Dr. Terrence outras vezes.

               E com vezes, referia-se as semanas que passaram-se após o internato de Jill em sua clinica para... Por falta de melhor termo, visitas psicológicas frequentes. Era óbvio que o tempo na África a deixaria quebrada. E a solução que a B.S.A.A e os chefões acharam melhor fora deixá-la nas mãos de um profissional para que ela acalmasse os nervos e lidasse melhor com os próprios fantasmas. Era, tanto socialmente falando quanto economicamente para a empresa, a melhor saída e a mais humana. E Chris não tinha contra-resposta.

               Jill estava danificada. E leva-la diretamente para os campos de guerra não eram a melhor saída nem a mais prudente. Fora assim com Chris na China, anos antes. E se havia alguém para apoia-lo após tudo aquilo... após a morte de Piers, fora Jill. Todos estiveram lá. Mas Jill sempre estava lá. Sempre ao seu lado.

         Terrence sentou, cruzando as pernas. – Mas claro, a paciente por si só fora muito forte. Jill Valentine não é qualquer mulher. – ele sorriu.

            – Sim, ela não é mesmo. – Chris assentiu.

           – Creio que a companhia do Sr. Oliveira – o doutor ressaltou, ajeitando os óculos – foi de grande ajuda a ela também.

                Chris grunhiu. Abriu certo sorriso, balançando a cabeça. – Carlos. Claro.

                 Fazia tempo que ouvira falar do latino – sabia que ele a ajudara deixar Raccoon em 1998. Sabia, pelas palavras da própria amiga, que ele havia a salvado do próprio vírus, no fim das contas. Mas ainda assim havia algo, quando ouvia seu nome, que Chris não suportava.

             Isso fora na época. Em 2009. Quando as coisas foram mais simples – e quando a Umbrella havia caído totalmente. Ou ao menos, segundo pensavam. Claro que os eventos em Edonia quebraram as crenças de muitos - Neo-Umbrella e Carla Radames negaram tudo que ele havia acreditado. Tudo que pensaram ter matado com Albert Wesker.

             Depois de pílulas para dormir, noites em claro e lagrimas derrubadas, Jill estava renovada.  Era outra pessoa.  Embora insistisse que odiava os cabelos pigmentados loiros, bem como sua pele clareada - e por isso, tingira os cabelos de castanho outra vez. Ela dissera que fazia-a sentir-se bem. Sentir-se a verdadeira Jill. Bem, foram suas palavras.

            E ele havia de concordar naquilo. Ele também preferia a velha Jill, mesmo que no fim das contas, se ela escolhesse ficar com os cabelos dourados de loiro, ele pouco importaria-se.

         Ela ainda era Jill. Sua melhor amiga e companheira de armas.

 

*

 

O navio apitou o aviso de parada na k’eakanu.

O cruzeiro podia ser visto ao longe – a costa litoral das Ilhas K’eakanu.

As águas cristalinas reluziam aos olhos dos turistas. O clima tropical era quente e diferente de Raccoon, onde o frio e nevoa ocupavam boa parte do ano. Raccoon era por definição, uma cidade fria. Mas ali, longe dos problemas da velha cidade natal e lar do palco de terror ocorrido há anos, Jill Valentine acalmava a cabeça em turismo – em parte, recomendado pelo psicólogo Howard Terrence. E em outra parte, por si mesma.  Desde que Wesker pusera as mãos nela, ela ainda tinha certos pesadelos. Já havia superado seus demônios e certamente Chris tivera muita influência naquilo. Mais do que ela podia dizer. Mas ela ainda era uma mulher, e como tal, era suscetível a esquentar a cabeça por problemas, principalmente quando tais problemas envolviam memórias da moça chutando a bunda de seu velho colega da S.T.A.R.S.

Deixou o navio quando atracou na ilha, sentindo o cheiro natural da vegetação local.

Pudera ver de tudo desde que pisara na ilha. E a população era extremamente convidativa – em uma tenda em um mercadinho, Jill comprou um chapéu de palha e pôs sobre a cabeça, deixando algumas notas com a vendedora simpática.

Sob olhares dos nativos, Jill parecia uma típica turista , sem imaginar nada das cicatrizes que marcavam a moça e muito menos de seu passado. Ela usava um chapéu sobre os cabelos uma vez mais castanhos. Porem, no sol quente, sua pele mais clareada era branca como leite. Estava com um short curto, e uma saia transparente cobrindo suas pernas. Uma blusa de regatas azul, deixando seus torneados ombros a mostra. Cortara o rabo de cavalo e deixara como antigamente, com seu curto cabelo caindo sobre os ombros.

— Acho que o idiota do Carlos gostaria desse lugar.  – ela sorriu, olhando em volta.

Vendedores de roupas, camelôs e dançarinas de pele bronzeada passaram por seus olhos. Rumou a praia, sentindo a brisa tropical beijar sua pele, e Jill decidiu sentar em um barzinho a beira da praia. A TV do outro lado do balcão registrava uma entrevista.

— Um suco gelado , por favor. De preferência laranja. – ela pediu.

— Sim, madame. – disse o atendente.

Em minutos a bebida veio a mesa. Jill remexeu o canudinho e deu um gole , sentindo gelar sua garganta. A moça pousou os olhos azuis na televisão.

“–corporação Bio-CELL, de Detroit, ainda anda sob olhos tortos das autoridades. Quando—"

— Bio-CELL uma ova... – Jill resmungou, virando os olhos. – essas corporações só prezam o dinheiro acima da segurança do--

— Turista? Não parece daqui.

Jill virou-se para o homem não similar aos moradores dali. Tinha pele morena, não negra - apenas bronzeada. Usava um terno branco, com a blusa aberta revelando a camisa havaiana por baixo. Os óculos escuros pousavam sobre seus olhos, e quando os ergueu, as orbes castanhas eram de um mistério charmoso.

— Se eu sou turista, você é um baita dum estrangeiro – ela considerou – sim. Estou a passagem, senhor...?

Ele abriu leve sorriso, estendendo a mão. – Johnathan Diaz.

— Latino? – ela reconheceu o sotaque.

— Sim, de certa forma. – ele pareceu receoso em dizer. – Nicarágua. Nascido e crescido lá. Mas decidi buscar novos ares. Estava cansado do cheiro de chuva, bananas e mato.

— Parece um pouco... racista, falando dessa forma. – ela sorriu.

— Se você diz, então melhor parar de falar – ele considerou, sentando ao balcão. – O que una moça como você faz por aqui? Comprando roupas estrangeiras, penso yo? Ou sentindo a brisa praiana? Señorita...?

— Jill Valentine. Sim, um pouco dos dois, si. – ela deu outro gole. – Precisava esfriar a cabeça. E creio que um cruzeiro seria ideal para ... relaxar um pouco.

— Supôs bem. Não há nada que o cheiro de praia tropical não ajude – ele respirou fundo.

— E o senhor? O que faz aqui? Flertando com estrangeiras a visita ou algo mais? – ela deixou o chapéu de lado.

Ele balançou uma câmera no pescoço. Uma câmera de turismo.

— Estava a visita pra tirar fotos. Adoro pássaros, sabe? E há uma espécie bem rara nessa ilha. Aproveitei para dar uma passada e checar a sua existência. Dará uma ótima foto, yo estoy seguro.

— Imagino. Já eu não busco nada muito exótico. Só viagem. É um prazer conhecê-lo, Sr. Diaz.

— Bem – ele baixou o chapéu branco, em educação. – Un placer conocerla, señorita. Passar bem e tenha uma boa estadia. – disse, afastando-se da mesa.

 

Passara o resto da tarde andando pela ilha e seus centros de venda.

Lojas, shoppings e docerias - tudo muito exótico. Muito lindo. As roupas e comida eram diferentes de tudo que vira. A recepção dos moradores locais era quente e amistosa. Visitou a melhor hospedaria da ilha, de vista para as águas do litoral. O barco só zarparia no outro dia, então Jill não viu mal em dormir em terra firme. Se bem que não importava-se com barcos – o Queen Zenobia fora seu teste de força contra navios. Se ela suportara uma noite viva naquele lugar, ela não morreria em um navio de cruzeiro.

A lua brilhou forte quando ela olhou pela janela. Agora, diferente da manhã, fazia frio. A brisa gentil era deliciosa. A Valentine não via necessidade de ficar em muitas roupas – como estava sozinha, não viu mal em ficar apenas com roupas intimas. Jogou o short na cama e livrou-se de sua blusa.

 Quando estava prestes a dormir, o telefone de mesa tocou.

“Divertindo, se? Senhorita Valentine?”

Jill tensionou os ombros.

A voz era reconhecível – uma que fazia tempos que Jill não ouvia. Mas ali, em meio ao chiado, e o próprio coração palpitando, a moça reconheceu. Ela sentou na cama, franzindo os olhos e apertando o fio do telefone antigo. Para melhorar, estar de noite não ajudou nem um pouco.

— Trent...? – ela abriu discreto sorriso.

“Reconheceu minha voz, senhorita Valentine. Fico feliz nisso. Parece que não me esqueceu.”

— O que quer dizer? O que quer? – ela abriu as frestas da persiana discretamente.

Nem sinal de pessoas em telefone – ele não devia a estar vigiando. Se bem que era escuro demais para ver algo.

“Não se preocupe esperando que eu esteja a olhando, Jill. Eu não estou tão perto. Mas aprecio a preocupação.”

Jill caminhou de lado  a outro. Já tinha os ombros mais calmos.

— Faz tempo desde a ultima ligação. O que quer? Logo agora...

“Suas férias não parecem ser tão calmas. Pelo menos, não pela sua voz. Ao menos, não do meu ponto de vista, se continuar aí. O que faz no meio do Pacifico?"

— Passando um tempo. Esfriando a cabeça.

“Sei.” não havia provocação em sua voz. “Li seu arquivo sobre a operação em Kijuju. Parece que as coisas saíram de controle.”

Ela jogou os cabelos para trás. – Se tratando de Wesker, é o mínimo que se pode dizer, Trent.

“Admiro seu senso de humor. E sinceridade ainda mais. Por isso, serei sincero com você.”

Jill sentou na cama quente.

— E o que seria?

“Estive de olho em você e em sua amiga, a senhorita Chambers.”

— ‘Becca?

“Falei com ela em sua ultima missão... de campo. Pelo jeito ela odiou passar a estadia em Caliban Cove. Mas creio que tiroteio nunca foi bem a praia dela. Agora é professora. Mais tranquilo. Igualmente remunerado, diria que as coisas saíram bem. Fico feliz.”

— Combina com ela. Diga logo, para que envolver Rebecca nisso? – o tom da moça mudou levemente.

“Envolver? Só tomo conta dos meus associados. E você e Rebecca Chambers são aliados importantes. No meu ramo, deixar um dos meus se foder, perdoe meus termos,  não é a mais ideal das situações. Por isso, estamos falando um com outro neste momento.”

— É? – ela riu cinicamente – e o que seria?

“Essa ilha não é exatamente a definição de porto seguro. Sugiro, srta. Valentine, que deixe esse lugar o mais rápido possível.”

— Por que a acusação?

“Bem, a menos que a senhorita goste de passar as férias em uma possível Raccoon City 2.0, sugiro que pegue o navio de volta ao país."

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :3



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