Protocolo - Bebê Desaparecido escrita por Pixel


Capítulo 8
Capítulo 8 - Abrigo


Notas iniciais do capítulo

Sinto a necessidade de avisar que esse capítulo trará um tema mais sombrio e pesado ( lá pelo final) certifique-se de que está confortável com os avisos!

~~ Boa Leitura



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 Tinha algo errado acontecendo, era a única coisa que Peter podia dizer com clareza. O medo estava revirando em seu estômago, chupando o ar de seus pulmões lentamente e ele podia se sentir ansioso por alguma coisa.

 A sala a onde ele estava era ampla, cheia de moveis que para Peter eram nada mais nada menos do que um borrão preto e irregular, grandes demais da sua perspectiva. Ele cruzou a sala no escuro, seu caminho apenas iluminado pela luz do luar que entrava pela grande janela de vidro ao lado.

 Ele alcançou uma escada, que levava para algum tipo de porão, havia uma luz no final, se destacando em meio a escuridão. Agarrando o metal frio do corrimão, Peter desceu lentamente, tendo dificuldade e um estranho medo de cair.

 Como se ele fosse pequeno demais para descer as escadas normalmente, Peter se sentou, optando por se arrastar por cada degrau lentamente. Depois de um tempo, uma porta de vidro apareceu, e junto com ela um clarão de luz forte e barulhos de metal batendo.

 Seu coração pareceu bater mais forte e, como se estivesse ansioso para passar pela porta, Peter se levantou e praticamente correu pelo resto dos degraus, tropeçando em suas meias no meio do caminho. Ele tentou abrir a porta, falhando em sequer alcançar a maçaneta.

 Ele parecia ser pequeno demais para isso.

 —Papai... — Peter choramingou, não reconhecendo a própria voz por um momento. Ele olhou para cima, sentindo as vibrações no ar, indicando que alguém estava falando, mas ele era incapaz de ouvir ou sequer entender as palavras. Peter esperou, com receio de se afastar.

 Uma sombra bloqueou a luz, abrindo a porta para ir de encontro a Peter.

 Era um homem, bem mais alto que Peter e sua silhueta estava completamente borrada. Ele se ajoelhou, estendendo a mão para o menor que correu para alcança-la.

 Peter se viu surpreso quando percebeu que o rosto do homem não era nada além de um borrão confuso; só então ele percebeu que tudo ao seu redor também era um borrão. Isso não impediu de pular para dentro dos braços do maior, quase como se aquilo fosse algo normal, algo que ele faz todos os dias.

 Peter também se surpreendeu quando percebeu que nunca esteve mais confortável em toda a vida, rodeado por braços fortes que alisavam seu cabelo com carinho e afeição. Ele se permitiu se perder naquele sentimento tão bom que há muito tempo havia sido esquecido.

 — Eu estou aqui... — As palavras sairam, reconfortantes, mas sem uma voz em especifico. Peter não se importou, ele estava quente e protegido, era tudo o que importava.

 Até que acabou.

...

 Estava frio.

 Céus! Estava muito frio.

 Subir a parede do pequeno prédio de cinco andares foi um desafio, seus ossos rangendo a cada movimento, prestes a ceder ao peso do seu próprio corpo.

 Peter não estava se sentindo muito bem. Antes mesmo de ele alcançar o topo do prédio sua visão já estava embaçada, o sono falando mais alto do que a fome e o frio, deixando o mundo a sua volta entorpecido.

 Esse era o problema de ter DNA aranha misturado com o seu, nunca se sabe quando, de repente, seu corpo vai decidir que quer hibernar. Peter mal registrou os seus movimentos, vagamente consciente de que estava colocando a mochila velha e surrada em baixo da cabeça, um travesseiro improvisado, antes que o mundo ficasse preto.

 Dormir do lado de fora, na neve e no frio, era uma péssima ideia. Ele podia congelar, podia morrer de frio, mas seu corpo estava pesado demais para se mover. Sua mente, nublada demais para pensar.

 Peter não sabe por quanto tempo ele dormiu, mas a única coisa que ele tinha certeza era do sonho que teve. Mais um semelhante a vários outros que as vezes aparecem na sua noite; eles as vezes se repetem, as vezes são diferentes, mas sempre que acontece, Peter sente como se estivesse deixando algo de lado.

 Nada impede que esses sonhos sejam uma vaga lembrança da vida que um dia Peter talvez tenha tido, assim como a estranha certeza que ele tem de um dia ter ido a uma praia que certamente não tinha nada relacionada à Coney Island.

 Ele podia sentir o fantasma de um calor reconfortante, contradizendo com a realidade. Ele era basicamente uma pedra de gelo fria agora, tremendo violentamente no pior lugar possível para dormir.

 Era apenas a vida lhe dando outro tapa. Um sonho distinto, algo que ele nunca teve realmente, mas que o assombrava no fundo da sua mente.

 Sempre que ele acordava de um sonho assim, tinha a sensação doentia de que estava perdendo alguma coisa; uma coisa que ele não deveria perder. Na maioria das vezes, seus sonhos — mais regularmente pesadelos — eram esquecidos logo depois que ele acordava, mas esses em específicos não.

 As sensações o assombravam pelo resto do dia.

 Peter soluçou, sentindo seu corpo gritar com a necessidade de se levantar e ir para um lugar mais quente. Na verdade, era um completo milagre ele ter acordado dessa vez, pois realmente ia congelar até a morte.

Mas isso era apenas um efeito colateral de estar com tanto frio, ele simplesmente iria adormecer não importa a onde ele esteja. Apenas para ser acordado com mais frio ainda e, dessa vez, assombrado por um sonho.

 Estava nevando. Foi a primeira coisa que Peter notou quando abriu os olhos — o céu cinzento e os pequeno flocos de neve caindo em seu rosto. Ele deu um suspiro baixo quando seu estômago roncou alto e claro, sinalizando o seu estado atual.

 Suas mãos tremiam e o sentido aranha zumbia em alarme — provavelmente foi isso que o acordou. Ele tinha que ir para um lugar quente, agora, se quisesse sobreviver.

 Peter combateu a dor em seu corpo e sua rigidez, levantando do chão duro. Houve uma picada dolorosa em suas costas, mas ele a ignorou. Peter lutou para pegar alguma coisa para comer em sua bolsa, sabendo que era impossível chegar ao abrigo na sua situação atual. Ele tentou ao máximo abrir o pacote de bolacha, os dedos levemente dormentes da temperatura baixa, mas a sua única motivação era o ronco alto e claro do seu estômago.

 Enquanto lutava contra a embalagem do oreo, Peter voltou a jogar a bolsa por cima dos ombros e andou lentamente até a lateral do prédio, tremendo a cada passo dado. Suas forças estavam esgotadas e ele pôs toda a sua confiança no pacote de bolacha.

 Ele teria que se arrastar por treze quarteirões para chegar ao abrigo, era bom que os itens roubados o ajudassem a se manter de pé até lá.

 Peter pulou para as escadas de incêndio, o metal rangendo com o seu peso. Ele jogou um oreo na boca e começou a descer as escadas de incêndio lentamente e com cuidado, sentindo um déjà vu com o sonho que ele teve mais cedo.

 Depois de longos minutos ele finalmente alcançou a calçada, e por ela começou a andar em direção ao abrigo.

...

Já havia passado da uma da tarde quando Peter finalmente chegou ao abrigo, a caminha tinha sido tortuosa. Ele já estava cansado e ofegante quando alcançou a porta da frente — vagamente consciente das pessoas que estavam ao seu redor encolhidas pelo frio —, suas pernas ameaçando ceder a qualquer momento.

 Algumas pessoas o cumprimentaram assim que o viram, focadas demais em suas sopas ou jogos de baralho para sequer notar o quão mal Peter estava. Foi somente quando ele se aproximou da bancada onde uma garota bem familiar estava lendo um livro, absorvida demais para nota-lo de primeira.

 — Oi MJ... — Ele disse, forçando um sorriso para a morena quando ela finalmente abaixou o livro e olhou para cima, encontrando com ele.

 — Parker? O que aconteceu? — Michelle Jones perguntou, deixando o livro de lado apenas para alcançar Peter.

 Peter não conseguiu prestar atenção nos olhos cheio de preocupação da garota, entorpecido demais para isso, mas ele suspirou quando uma mão quente e macia foi pressionada em suas bochechas, aquecendo-as brevemente.

 — Você está congelando seu idiota! — Ela disse, correndo para envolver um braço ao redor do tronco de Peter.

 Ele sempre amou MJ por isso. Ele estava imundo, provavelmente cheirando como um cachorro molhado e sarnento, e mesmo assim MJ não hesitou em toca-lo, em ajuda-lo.

 — Betty assume pra mim? — Ela perguntou, claramente se referindo a sua parceira que estava em algum lugar. Peter deixou MJ leva-lo para outro cômodo, um cercado por camas e pessoas em situações parecidas com a dele. — Luke licença! — Ele ouviu MJ rosnar para alguém, mas isso só causou um sorriso em seu rosto.

 Em questão de segundos, Peter estava sentado em uma cama enrolado em dois edredons grossos, finalmente capaz de preservar algum tipo de calor corporal.

 — Onde você estava? — MJ perguntou, se sentando ao seu lado na cama. — Tem ideia de que podia ter morrido de hipotermia? Você é tão idiota Parker! Pensei que fosse mais inteligente

 Peter forçou um sorriso, finalmente levantando o olhar para o rosto raivoso — e ainda assim preocupado — de MJ. Ele podia dizer claramente que tinha estressado a jovem somente pela forma como as sobrancelhas dela estavam franzidas, mas em algum lugar daqueles olhos, também tinha um toque de simpatia.

 Mas nenhum sinal de pena.

  — Eu fui preso — Ele disse, encolhendo os ombros para o olhar acusativo que a morena lhe deu. — Só que eu fugi e acabei adormecendo em cima de um prédio — Peter esperou alguns segundos para ver a reação de MJ ao resumo do seu dia, mas ela apenas balançou a cabeça em repreensão.

 — O que aconteceu? — Ela perguntou, seria, lançando lhe um olhar mortal. MJ cruzou os braços sobre o peito, balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto encarava Peter.

 — Eu acho que foi porquê eu roubei uns pacotes de oreo, mas pensando bem, talvez seja porque um outro assaltante mentiu. Eu sinceramente não sei... tem sido um dia bem longo — Peter confessou, sentindo um rubor quente demais comparado ao restante de seu corpo subir para suas bochechas.

 Ele apertou os edredons mais firmemente ao seu corpo, quase se enterrando por completo neles. Peter ainda estava tremendo, mas não tão violentamente quanto antes. Logo, logo, seus dentes também parariam de bater.

 Os dois ficaram em silêncio por longo segundos, mas não chegou a ser desconfortável — nunca foi desconfortável, não importa a situação. Isso era algo normal quando Peter estava ao redor de MJ; ela tinha o poder de deixa-lo confortável, talvez fosse porque ela era sua única amiga no mundo.

 — Pete... você precisa de ajuda — Ela disse. Um murmúrio baixo olhando diretamente para Peter. O olhar era intenso, como se MJ pudesse ver a sua alma, mas em nenhum momento ela o julgou pelo que fez.

 Ele não pode conter o revirar de olhos e o suspiro quando, novamente, MJ estava voltando nesse assunto.

 — Eu sei me cuidar MJ, não precisa se preocupar comigo — Ele disse, a voz ganhando uma certa força. MJ balançou a cabeça firmemente.

 — Eu sei que você pode se cuidar Pete, nunca duvidei disso, mas não posso evitar me preocupar quando você entra pela aquela porta meio morto. Você é meu amigo, okey? Estou apenas tentando ajudar — Ela disse, seu tom assumindo a mesma força e determinação que ela sempre tem em momentos de conflito.

 Peter já a viu em meio a um protesto, e esse é a mesma força que ela sempre expressa.

 Ele não podia combater contra isso — na verdade, não tinha forças para argumentar contra isso. Mas seu silêncio, querendo ou não, serviu como argumento.

 — Tá. Você não quer ir pra um centro de reabilitação, não quer um tutor e nem um orfanato. Eu já entendi! — Ela disse, postura caindo como se todo esse assunto fosse a coisa mais chata do mundo. — Pelo menos fica aqui então até o inverno acabar, essa cama tá vazia mesmo

 — Ei!

 — Cala a boca! — Ela rosnou e isso causou um sorriso no rosto de Peter.

 Ele realmente não podia argumentar contra MJ, principalmente quando ela estava totalmente certa. Por mais que ele odeie a ideia de ficar no abrigo — já que isso significa que ele vai estar tomando o lugar de alguém que realmente merece —, suas opções são limitadas agora. Principalmente quando Michelle Jones está lhe encarando com tanto fervor.

 Talvez, apenas por MJ, ele fique nesse abrigo por hoje.

 Peter olhou para MJ, se permitindo observar os olhos dela de perto por alguns instantes, se perdendo involuntariamente neles. Seu coração gaguejou quando ela levou uma mecha rebelde de cabelo para trás da orelha.

 Tá. Talvez ele esteja um pouco caidinho por ela, mas ninguém precisa saber disso.

 Ele hesitou antes de acenar, abrindo um pequeno sorriso.

 — Eu fico por hoje — Ele disse, tentando não deixar o olhar mortífero lhe abater.

 —Sério...? Você quer realmente se matar — Ela disse, balançando a cabeça de um lado para o outro, claramente indignada com Peter. — Não sei por quê ainda me preocupo

 Peter se inclinou para frente um pouco, um sorriso brincalhão em seus lábios. Ele sabia que não era o momento ideal para perturbar MJ com suas brincadeiras, mas sabia que apenas isso seria capaz de quebrar o clima tenso entre eles.

 — Você se preocupa porque gosta de mim — Ele disse, rindo quando MJ franziu o cenho para ele, bufando com indignação.

 — Você não tem jeito perdedor — Ela disse, cedendo a uma risada leve. Suas bochechas ficaram coloridas com uma sombra cor-de-rosa. MJ se levantou da cama, aparentemente cedendo. — Descanse um pouco, vou pegar um pouco de sopa pra você

 Ela sorriu, se virando para voltar para a bancada. Peter não perdeu o olhar mortal que MJ deu em direção ao garoto sentado em uma outra cama ao lado de Peter — Luke —, ele balançou a cabeça negativamente.

 MJ sempre tinha esse poder de intimidar qualquer um com poucas palavras. Ela era uma pessoa fechada, difícil de conversar, mas mesmo assim Peter e MJ se tornaram amigos há messes, quando ele apareceu pela primeira vez no abrigo em busca de comida.

 Era primavera, e MJ estava lendo um livro sem nem ao menos desviar o olhar, quando Peter chegou e perguntou se tinha alguma coisa sobrando. Infelizmente, toda a sopa tinha acabado, mas depois de um pouco de insistência, Peter conseguiu que MJ fosse fuçar alguma coisa na cozinha para dar a ele.

 Um pedaço de pão doce e algumas palavras sobre A Menina que Roubava Livros depois foram o início de uma conversa que se expandiu pelo resto da tarde.

 Isso se repetiu algumas vezes, todos os finais de semana — que é quando ela trabalha no abrigo — até que Michelle lhe pediu para chama-la de MJ.

 Peter conhece um pouco sobre MJ, pelo menos o que ela quer que ele conheça. Ela é uma garota ocupada, sem amigos fora ele e talvez a Betty e que vive se metendo em protestos e coisas beneficentes, faz parte da sua personalidade ser durona e observadora. Ela faz parte também do decatlo acadêmico e constantemente reclama de um cara chamado “Flesh”. Sua personalidade e determinação eram uma coisa que Peter sempre se encontrava encantado — talvez um pouco assustado.

 Quando Peter para pra pensar em tudo isso, fica claro que MJ foi uma das poucas pessoas boas em sua vida, e ele agradece por poder chama-la de amiga todos os dias.

...

 Peter não sabia a onde ele estava.

 A única coisa que ele sabia era que estava com frio, usando apenas uma calça de moletom larga, sozinho, em meio a um lugar estranho e que não parecia ter fim.

 O corredor era escuro, estreito, e cheio de quadros nas paredes de diversos tamanhos e cores, mas que pareciam sufoca-lo, como se as paredes estivessem lentamente se fechando em cima dele. Peter sentiu um enorme peso em cima de seu peito quando encarou um quadro em especifico, um de uma família sorridente e toda unida.

 O pai. A mãe. O filho. Todos parecendo felizes e sorridentes para a câmera, amontoados juntos. Teria sido uma foto normal, senão fosse pelo enorme “X” em seus rostos, exceto o da criança.

 Peter reconheceria essa foto em qualquer lugar, a mesma que ele sempre carrega pra cima e pra e que considera seu bem mais precioso.

 Ele ofegou, dando um passo para trás apenas para bater na parede com força. Não havia espaço o suficiente para ele se afastar. Peter gemeu, um som que ecoou pelo enorme corredor várias vezes até desaparecer.

 Ele não sabia onde estava, e isso estava enviando uma onda de pânico por todo seu corpo. Peter tentou ignorar a foto, passando reto por ela, mas quanto mais andava, mais quadros como aquele apareciam. Ele avançou pelo corredor, sem um rumo certo, com apenas o som dos seus passos ecoando pelo lugar.

 Até que ele notou que não era o único.

 Passos escoaram por toda a extensão do corredor, pesados demais para serem dele. Peter congelou em seu lugar; seu peito se apertou e ele se viu com dificuldades para respirar corretamente.

 — Petey!

  A voz.

 Tão nítida quando a dor em seu peito.

 Tão alta quanto as batidas do seu coração.

 Peter sentiu o desespero invadir seu corpo, tremendo antecipadamente quando os passos aumentaram logo atrás dele, junto com um som doentio de algo se arrastando no chão. Peter sabia quem era, sabia quem estava atrás dele, e isso o levou à beira do desespero.

 Ele não pensou duas vezes. Peter correu, não vendo por onde estava indo.

 — Petey! Vem aqui! — A voz parecia estra mais perto do que antes, quase como se estivesse sussurrando em seus ouvidos, o que fez ele balançar a cabeça desesperadamente, tentando se afastar dessa voz e do arrepio que percorreu sua espinha.

 Peter avançou, correndo pelo enorme corredor com todas as suas forças. Logo, lágrimas começaram a nublar a sua visão, mas ele estava se tão desesperado que não se importou.

 Seu peito estava doendo tanto, implorando por ar, mas Peter não conseguia respirar; o ar parecia preso em sua garganta e não chegava ao pulmão. Em algum momento, Peter tropeçou, rolando pelo chão várias vezes antes de bater em uma parede.

 Um som doentio cortou o ar e logo em seguida uma dor enorme atingiu suas costas. Peter gritou com a dor súbita que parecia arder como fogo. Seus braços fraquejaram e ele caiu de bruços no chão.

 Ele podia ouvir sua mente gritando, seu corpo gritando, tudo nele gritando para se levantar e correr, para ser o homem corajoso que ele há muito tempo tinha se convencido de que era. Mas nem mesmo o ar era capaz de chegar aos seus pulmões. Parecia muito com os ataques de asmas que ele tinha quando pequeno.

 Seu peito estava doendo, doendo e implorando pelo ar, mas parecia haver um grande preso em seus ombros, o impossibilitando de respirar. Peter fungou, sentindo as lágrimas inundarem sua visão a tornando turva.

 Não importa o quanto ele corra, Peter é incapaz de fugir daquilo que está na sua cabeça.

 — Eu disse pra você não correr — A dor estava por todos seu corpo, tornando cada um dos mínimos movimentos difícieis demais para lidar.  — Você sabe que não vai a lugar nenhum, Petey

Peter tentou se levantar, ignorando a queimação que se espalhava por todo as suas costas. Ele piscou, lágrimas rolando pelo seu rosto sem parar, quentes em contraste com suas bochechas frias; ele levantou apenas o rosto e olhou para cima.

 A figura se elevava sobre ele, parecendo superior e autoritária, maior do que ele se lembrava. Ele tinha um cinto em suas mãos, olhando diretamente para Peter.

 Olhos azuis vorazes, com um fogo cheio de raiva e malicia, fizeram o medo revirar em seu estômago e ele se sentiu fraco.

 Se sentiu impotente;

 — Me deixa em paz — Sua voz falhou, tendo dificuldade para sair por causa do nó em sua garganta. Mais lágrimas escorreram pelo seu rosto e Peter tentou se levantar.

 — Petey, você sabe que eu vou estar na sua mente pra sempre — O homem riu, algo leve, mas que enviou uma onda de vibrações doentias pelo corpo de Peter. — Venha aqui agora

  O homem soltou o cinto, batendo no chão com um baque surdo. Ele se inclinou para a frente, tentando alcançar Peter, mas o garoto gritou, impulsionando seu corpo para cima em total desespero.

 — Não! Sai! — Peter gritou, tentando chutar o homem a todo custo. Qualquer coisa que o mantivesse longe. — Fica longe de mim!

 Peter não mediu esforço, ele chutou, socou e gritou, mas a figura ainda se elevou sobre ele, superior, sendo ainda mais forte que ele. Seu coração gaguejou, uma queimação em suas costas deixando seus movimentos tenso e desleixados.

Peter fechou os olhos fortemente, arfando e lutando por ar, tentando parar os movimentos do maior a todo custo.

 Até que seu corpo deu um solavanco violento...

...

 Peter se sentou na cama, arfando por ar desesperadamente, mesmo que seus pulmões estivessem doendo com um peso invisível. Ele podia sentir sua cabeça latejando e um grito mudo em sua garganta prestes a sair, mas nada aconteceu.

 Ele também podia sentir uma queimação fantasma em suas costas, e isso fez ele se encolher.

 Peter levou uma mão distraidamente para as costas, alisando a pele por cima das roupas. As marcas não estavam mais ali, ele sabia disso, mas ainda assim a dor estava presente em sua mente, cicatrizada para sempre.

 Ele fungou, um par de lágrimas rolando pelas suas bochechas.

 — Peter?

 Peter demorou um pouco para perceber a onde ele estava e quem estava falando com ele. O lugar, de primeira, o deixou confuso, mas aí os eventos do último dia vieram e tudo fez sentido.

 Ele secou rapidamente as lágrimas, fingindo que elas nunca estiveram ali.

 Em algum momento depois de comer um prato cheio de sopa fumegante, que espantou grande parte do frio para fora do seu sistema, Peter adormeceu enrolado em três edredons, ainda sendo capaz de sentir os dedos dos pés gelados.

 Novamente seu sono foi dominado por sonhos, sonhos que ele não se lembra com clareza depois que acorda, mas que ainda passam o sentimento de desespero e urgência, mas principalmente o medo.

 E é claro que tinha a ver com Skip, era sempre ele quem dominava o lado mais sombrio dos seus sonhos.

 Peter olhou em direção a voz que tinha lhe chamado, encarando a figura preocupada de Michelle logo ao seu lado. Ele ainda estava no abrigo, rodeado por outras pessoas e pela sua melhor amiga, que estava segurando obviamente um livro.

 Mas ela também olhava para ele completamente preocupada.

 — Pesadelo? — MJ perguntou, se recostando na cadeira, mas ainda sem desviar o olhar de Peter. Ela estava tentando relaxar, mas era claro que Peter tinha lhe assustado.

 Peter respirou fundo, se sentindo mais aliviado quando as queimações em suas costas começaram a desaparecer. Uma espécie de fantasma que estava lhe seguindo. Demorou um pouco para seu coração se acalmar para ele então poder responder MJ.

 — Um dos piores... — Peter disse, enterrando o rosto nas mãos com um suspiro.

 — Você está bem? — Ela perguntou, deixando o livro de lado.

 Peter afastou os edredons e se sentou na beira da cama, olhando fixamente par ao chão enquanto os fleshs do pesadelo invadiam a sua mente.

 — Sim... — Ele admitiu um pouco relutante. — Sim estou bem. Que horas são?

 MJ riu ao seu lado, se levantando da cadeira para se sentar na cama, ficando assim mais próxima de Peter. Ela ganhou a total atenção do jovem aranha quando zombou dele após olhar no relógio de pulso.

 — Nove e meia — Ela disse, ganhando um olhar confuso de Peter.

 — Quê? Como assim...? — Peter esfregou os olhos, tentando espantar o sono do seu sistema. Ele podia se sentir descansado, mesmo com o pesadelo ainda assombrando sua mente.

 — Você dormiu por um dia inteiro tigrão — Ela brincou, balançando a cabeça.

 A informação rondou pela sua mente, não chegando a ser surpreendente. Peter não esteve em uma cama descente há um ano e meio, era normal que agora ele descansasse, recuperando todas as energias sem o medo de congelar. Além do mais, ele estava seguro e Skip não podia encontra-lo no abrigo.

 MJ, no entanto, pareceu levemente preocupada com isso, mas omitiu com um gesto brincalhão.

 — Estávamos pensando que você entrou em coma

 Peter riu disso.

 Ele estava se sentindo bem, melhor do que nunca, revigorado de um bom sono e ao mesmo tempo desperto. Peter se espreguiçou e se levantou da cama, o metal rangendo com a mudança de peso. MJ acompanhou seus movimentos com o olhar, franzindo o cenho para ele.

 — Acho que já ocupei a cama do Luke por muito tempo — Ele disse, sorrindo carinhosamente para MJ, que bufou em aborrecimento.

 — É sério perdedor? Você não pode sair assim... — Ela disse, também se levantando para encara Peter cara a cara.

 MJ era alguns poucos centímetros mais alta que Peter; isso não era intimidador para ele, era apenas engraçado quando ela cruzava os braços e lhe encarava intensamente nos olhos, como agora.

 Peter coçou a nuca, mudando o peso de um pé para o outro.

 — Eu tenho algumas coisas pra fazer... — Ele disse, não era uma mentira em tudo.

 Ele tinha que concertar o aquecedor dos Fitzgerald, encontrar uma nova bateria para os piscas-piscas, concertar os atiradores de teia, dar um jeito de conseguir novos fluidos de teia — provavelmente roubando algumas escolas para isso — e, principalmente, limpar a sua mente de Skip e de quaisquer outras lembranças que o sonho lhe trouxe.

 — É melhor eu ir pra casa — Ele murmurou, procurando pelas suas sandálias que eram para estar em algum lugar ao lado da cama.

 MJ murmurou alguma coisa, incoerente demais até mesmo para Peter ouvir.

 — Certo, eu não posso te impedir — Ela disse, claramente revirando os olhos, tão obvio que Peter nem precisou olhar para ele para saber disso.

 Ele encontrou suas sandálias e as calçou.

 — Mas eu acho que você pode ficar com isso — MJ disse, chamando a atenção de Peter para um edredom grosso e de diversas camadas, limpo e parecendo mais do que confortável.

 Ele encarou o edredom com uma sobrancelha levantada.

 — Eu não posso aceitar isso — Ele disse, balançando a cabeça negativamente para MJ e para a oferta.

 O rosto dela caiu para algo mais selvagem.

 — Sim você pode. Ou prefere que eu te sequestre e te prenda no armazém pelo resto do inverno? — Ela disse, uma ameaça boba, mas sua voz estava cheia de seriedade. Peter riu, pegando o edredom dobrado das mãos dela.

 — Prefiro não arriscar — Ele brincou, oferecendo um sorriso travesso para ela, que não foi correspondido.

 — Quer comer algumas panquecas antes de sumir pela próxima semana?


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Notas finais do capítulo

Desculpa por qualquer erro que tenha passado, esse capítulo foi um pouco complicado de editar! Espero que tenha gostado e vejo você amanhã!

Esse capitulo foi modificado no dia 24/04/2019, apenas para torna-lo um pouco mais leve

~~ See Ya Later



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