Teenagers escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que gostem!



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Setembro, primeiro dia de aula.

         Começa o semestre, depois das merecidas férias de verão. É uma escola grande, sempre há novos alunos, mas a rotina nunca muda. Os antigos sentam juntos, os novatos ficam deslocados até criarem amizades entre si. Os professores entram, cumprimentam a classe e se apresentam a quem não os conhece.

         Hoje, no entanto, percebo uma mudança. As carteiras estão organizadas de outra forma, é mais fácil ver quem está há algumas carteiras de distância. E não é só isso.

Ela olha na minha direção de vez em quando. Age naturalmente, não deve ser novata, duas meninas conversam com ela, estão perfeitamente entrosadas.

         Nossos olhares se cruzam. Logo baixo meus olhos para o caderno aberto. Ela também parece constrangida, e se volta para as amigas. Tento puxar seu nome na memória, apenas o sobrenome me vem à mente. Maximoff.

         Ela tem um irmão gêmeo. Cursamos Biologia juntos ano passado. Devo ter ouvido o nome dela alguma vez, porém não me lembro. Woodart, a professora de Geografia adentra a sala, e corre os olhos pelos alunos. Não encontra rostos novos. Sorri, satisfeita por não ter de passar pelo ritual de apresentação.

         Como é de praxe, Woodart fala sobre os conteúdos que serão estudados ao longo do semestre. Copio cada item, apenas por força do hábito. A maioria faz o mesmo, sem parar de conversar. Maximoff escreve com pressa e força, pedindo às amigas que se calem quando a explicação começa.

         As meninas riem e cochicham, apontando discretas. Não quero ver para onde, tenho medo de ser para mim. Woodart ainda fala, não consigo me concentrar. Wanda prendia minha atenção.

         Suas longas pernas estão cruzadas e os All-Star sujos no apoio da carteira à frente. Ela continua rabiscando, alheia à professora. Não posso culpá-la, Woodart não domina a arte de capturar atenção.

         Cinquenta minutos depois, somos liberados. Solto um suspiro. Os intervalos são um tormento para mim. Caminho até o armário, vou trocar os livros e ir à próxima sala o mais rápido possível. Com sorte, não encontrarei Pietro e seus asseclas.

         Embora tivesse esperanças, nosso encontro é inevitável. Ele me vê antes que eu perceba, e me empurra.

         “Não me viu chegando?”

         Ele e seus dois companheiros riem da piada sem graça que conta todos os dias. Reviro os olhos. Pietro Maximoff é o capitão da equipe de corrida, e tem privilégios com o diretor e os outros docentes, que fecham os olhos para suas transgressões às regras.

         Ainda estou levantando quando o primeiro punho atinge meu estômago. Não é forte, mas é extremamente preciso. Caio sentado, os livros deslizam pelo chão. Depois, vem uma sucessão de socos no peito. Me esforço para manter a respiração normal, isso é doloroso. Mau sinal.

         A sineta toca, anunciando o começo do segundo tempo. Com um gesto, Pietro fez com que parassem. Sou colocado em pé, minhas costas se chocam contra a parede. Saem correndo. Recolho os livros e me apresso em direção à sala de História.

         Passo por um espelho no caminho. Confiro minha aparência. Meu rosto foi poupado, os possíveis hematomas estão escondidos sob o suéter azul-escuro. Mais uma vez, a força do hábito entra em ação. Não gosto muito das matérias... abstratas. Gosto mais de trabalhar com números.

         O sr. Greener me olha de forma cética quando passo por sua mesa. Sei o que ele pensa. Sou um estudante com potencial para melhorar (e muito) minha baixa média em sua disciplina. Diversas vezes recomendou grupos de estudo e monitorias particulares, mas recusei todas.

         O método é o mesmo de Woodart, porém, há novatos nesta turma, então o rito de apresentação se faz necessário. Enquanto isso acontece, observo ao redor, procurando rostos conhecidos. Acho um. Talvez seja irônico, mas a dona desse rosto é a Maximoff.

         Ela não está acompanhada. Me destina um pequeno sorriso e volta o olhar para o quadro-negro. Faço o mesmo que fiz na aula de Geografia, contudo, me sinto diferente. Não só pelos socos que levei, mas também porque ela continua me encarando.

         Quando a aula termina, Greener me chama até sua mesa. Os demais deixam a sala, conversando alto e rindo. Não vejo Maximoff sair, uma pena.

         “Visão, lembra do que eu disse em abril? Sobre suas notas de História?”

         “Que preciso melhorar se quiser ir para a faculdade.”

         Todo começo de semestre, era a mesma ladainha. Ele tentava fazer com que eu admitisse que precisava de ajuda, e eu não colaborava. Hoje, no entanto, ele tinha uma carta na manga.

         “Eu fui paciente. Você disse que conseguiria aprimorar seus estudos por si só, e eu confiei na sua palavra. Este é o último ano, o tempo está acabando”, Greener soltou um suspiro longo. “Encontrei uma monitora para você. E não pode recusar, a não ser que queira ter seu nome retirado do programa de Ciências.”

         Estarreço. Aquele programa é minha chance de ir à uma boa universidade. A maioria dos professores incentivou minha inscrição. Greener chegou a me parabenizar pela excelente colocação e grandes chances de ser escolhido. Pensei que ele não se envolveria nisso, o departamento de Ciências Exatas era o responsável, Greener tinha outras questões para gerir.

         Não desistiria do programa tão fácil, então concordo com a monitoria. Ele sorri satisfeito e me dispensa, dizendo que a monitora seria revelada depois da festa de volta às aulas que acontecerá no fim de semana, a qual sou intimado a ir. Quase me sinto ultrajado. Não sou muito social e não fico confortável em festas.

         Como previ, fico deslocado logo que chego. De imediato arrependo-me de não ter um livro por perto. Respiro fundo. Só algumas horas. Nada mau vai acontecer em algumas horas. Depois volto para casa e estudo até não poder mais. Repito esse mantra até me convencer.

         Observo, já que não tenho nada melhor a fazer. Vejo rostos familiares, tento ligá-los aos nomes. Sam Wilson, da equipe de futebol, se aproxima com um sorriso e um copo, dizendo que é refrigerante e que não tem a intenção de causar mal. Enquanto bebo, descubro que Sam é falante e perceptivo. Acompanha meu olhar o tempo todo, querendo descobrir o que me tanto interessa.

         Então, a vejo. Está com as amigas da aula de Geografia, mas não participa da conversa. Ocupa-se contemplando o céu e tirando fotos das estrelas.

         “Vai lá”, diz Sam. “Falar com ela.”

         “O quê? Eu… não!”

         “Por que não? A Wanda não morde. E tá olhando pra você.”

         Esse é o nome dela. Wanda. Bonito, combina com ela.

         “Jura? Eu não… tinha notado.”

         Agora que olho com mais atenção, percebo que ela deixou a câmera de lado e se voltou para mim, como se me convidasse a ir até lá

         “Francamente, como um cara chamado Visão pode enxergar tão mal?”, ele ri.

         Também rio. É mesmo irônico que meu nome seja Visão e que às vezes não perceba o que está diante de meus olhos.

         As garotas tentam ganhar a atenção dela, sem sucesso. É estranho que alguém popular assim prefira recusar atenção e contato social, mas reconheço que o céu está lindo hoje. Respiro fundo, Sam ainda ri.

         “Olha, falar não machuca. Se ela quiser mesmo conversar, bom para você. Se não, te dou uma carona para fora daqui.”

         É uma oferta tentadora. Ambos os lados me parecem vantajosos.

         “Está bem”, arremato o refrigerante. “Lá vou eu.”

         A gargalhada de Sam aumenta enquanto me afasto. Não há maldade em sua risada, apenas diversão. O copo de Wanda está apoiado na mureta, e a câmera ao lado.

         “Oi, você é a Wanda, não é?”

         Ela assente. Acho que foi um bom jeito de começar a conversa. Com um sorriso, ela apanha a câmera.

         “Posso?”

         “Ah... claro.”

         Então um clique, e a imagem é exibida. No geral, não gosto de fotos, mas Wanda fez um milagre com meu rosto, ou sua câmera fez.

         “Eu conheço você, da aula de Geografia.”

         Fico aliviado por ela também ter notado.

         “E História.”

         “Não me surpreenderia se nossos horários fossem iguais”, ela dá uma risadinha. “E aí, quem te obrigou a vir?”

         “É tão óbvio?”

         “A maioria está aqui porque outra pessoa quis. Pais, amigos, namorados... até professores.”

         “Greener. Me tiraria do programa de Ciências caso não viesse. E você?”

         “Darcille.”

         Elizabeth Darcille, professora de Cálculo Avançado. Uma de minhas favoritas, incentivava minha permanência no programa.       Ela e o sr. Greener estavam noivos há alguns meses, duvido que ele conseguiria me cortar se ela soubesse disso. Apesar de que ela também parecia adepta do método “Interaja ou pague com seu futuro”, já que obrigou Wanda a vir.

         “E se tirarmos uma foto juntos? Para provar que viemos”, proponho.

         “Okay”, outro clique. “Ficou ótima! Vou te mandar uma cópia.”

         É uma bela foto. Nós sorrimos, Wanda está com o braço sobre meu ombro. Pressiona alguns botões e a hora e data aparecem marcadas no canto.

         “Podemos ir embora. Amanhã imprimo as fotos e entregamos na segunda.”

         Sorrio e assinto. Caminhamos até o estacionamento, ela pergunta onde está meu carro.

         “Não vim de carro.”

         “Então te dou uma carona”, empurra um capacete de motocicleta para mim.

         Hesito por um segundo ou dois. Ela continua insistindo que eu suba.

         “E como vou me segurar?”

         “Ponha os braços ao redor da minha cintura. Assim.”

         Ela se coloca atrás de mim e enlaça os braços na minha barriga. A sensação é estranha, um arrepio desce-me a espinha.

         “Entendeu como faz?”

         Assinto. Ela monta e estende a mão. Faço a coisa com os braços e sou invadido por um calor. Afivelo o capacete e a moto ruge para o mundo. Wanda pergunta se estou com medo. Nego, me colocando no lugar certo. Fecho os olhos durante a viagem, o vento e frio e sopra alto. Ouço-a gritar três vezes, não entendo nenhuma. Paramos no semáforo, ela tira o capacete e pergunta onde moro. Dou-lhe o endereço enquanto ela recoloca o capacete.

         “Chegamos”, ela desliga a moto. “Você está bem?”

         Estou um pouco enjoado, mas não digo, apenas agradeço. Demoro um pouco mais para entrar, observando. Achei que daria partida e voltaria para a avenida, porém ela empurra a motocicleta para o outro lado da rua, duas casas à esquerda.

         Baixo os olhos antes que ela perceba, já chega de espiar. Deixo a mochila no quarto e apanho o jantar na geladeira. Ligo a TV, estou deitado no sofá, o prato na mesa de centro.

         Você devia ligar para ela, diz uma vozinha em minha cabeça.

         “Enlouqueceu? Não poderia... nem tenho o número.”

         Questão de tempo.

         “Cala a boca, por favor.”

         Medroso.

         Não respondo. A TV não tem nada bom, termino de comer e vou para o quarto. Com certeza, há muito dever de História esperando por mim. Contudo, a quantidade massiva de trabalho não me distrai. A voz continua sussurrando, me tentando a sair. Resisto e adormeço na escrivaninha. Quando acordo, minha mãe está chamando para o café.

         “Como foi a festa?”

         “Boa”, bebo o café. Não digo que peguei carona com Wanda, há uma grande chance de que eles conheçam os pais dela. “E o jantar?”

         “Bom”, meu pai responde, sem muito interesse. Acho que não foi tão bom assim. “Já acabou?”, ele encara a xícara vazia.

         “Não estou com muita fome. Tenho dever de casa.”

         Dever de casa é a desculpa máxima. Volto para cima e organizo os livros. Não estou nem perto de acabar os deveres, então pego o computador. Não costumo verificar a caixa de e-mail todos os dias, hoje, eu a abro. Há um, não reconheço o remetente. Duas fotos estão anexadas, a que Wanda tirou de mim e a que tiramos juntos. Tenha um bom fim de semana, escreveu.

         Escreva de volta, diz a voz. Obedeço, é uma boa ideia. Não é o telefone, mas serve.

         “Cala a droga da boca.”

         A minha boca é a sua mente, idiota.

         Faço a lição de Biologia, menos sofrida que os outras. Estou determinado a terminar isso hoje. Avanço disciplina por disciplina, fazendo pequenas pausas para comer. O último inimigo é o dever de História.

         É só para quinta. Até lá, pode pedir ajuda à sua nova amiga.

         “É a sua segunda ideia boa em duas horas. O que está acontecendo?”

         Talvez esteja evoluindo. Você também está.

         “Como assim?”

         A primeira vez que me respondeu foi ontem. Já tinha me ouvido? Notado que estou aqui?

         “Não...”

         Meus parabéns, garotão. Você está crescendo.

         “Então, o que sugere para segunda-feira?”

         Agradeça pelas fotos e peça ajuda com o dever. Não se preocupe, vai dar certo.

         “Como sabe?”

         Sou sua intuição. É o meu trabalho.

         “Obrigado.”

         Disponha.

         ***

         Você consegue fazer isso.

         “Obrigado de novo.”

         Eu e a intuição criamos uma parceria estranha no fim de semana. Concordei em ouvi-la sempre e ela concordou em dar bons conselhos. Na aula de Geografia, Wanda está com suas amigas, ambas à esquerda. A cadeira à direita tem sua mochila apoiada, o sinal internacional de que aquele lugar está reservado.

         Aja como se sábado não tivesse acontecido. Espero que seja o mais sábio a fazer.

         “Bom dia. Se lembra de mim, não é?”

         “Oi, Wanda”, digo sorrindo.

         “Sente aqui”, ela tirou a mochila da carteira. “Trouxe a foto?”

         Mostro o envelope com a fotografia que darei a Greener. Ela tem uma pasta com outras fotos, entre elas, a nossa. Há mais cópias dessa, acho que Wanda gostou mesmo da foto que tiramos.

         “É claro”, responde com um sorriso. “Onde mais conseguirei uma imagem igual?”

         “Foi uma honra ser seu modelo.”

         “A honra foi minha.”

         Woodart não cumprimenta a turma ao entrar, já começa falando sobre o relevo da Ásia. Wanda saca uma caneta e faz anotações, sua caligrafia é caprichosa. Como sou mais lento, acabo por copiar parte do que ela escreveu. Ela não impede que copie, acho que espera por isso.

         O sinal bate, um arrepio desce-me a espinha, por duas razões. A primeira é que Pietro e companhia podem estar à espreita, e a segunda é que a próxima aula é de História, durante a qual sei que ouvirei um sermão do professor sobre socializar e conhecerei a monitora.

         Ignorando os acenos das meninas, Wanda caminha comigo. Temo que Pietro apareça agora, mas por sorte, chegamos à sala de Greener sem problemas. Somos os primeiros a chegar, ele parece satisfeito em nos ver.

         “Já conhece sua monitora, Visão? Ótimo.”

         Então a monitora é Wanda Maximoff. Estou realmente surpreso.

         Por essa eu não esperava.

         Nem eu. Sentamos lado a lado, ela sabe o que fazer. Enquanto os outros ainda não chegam, ela revisa a matéria do ano passado e dá dicas para evitar a distração durante a aula. Ao contrário de certos professores, é capaz de captar minha atenção total.

         “Obrigado. Se houver algo que possa fazer para retribuir, é só dizer.”

         “Preciso de ajuda com Matemática.”

         “Temos um acordo.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e comentem!



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