Sentimentos escrita por yin-yang


Capítulo 1
Capítulo Único - Sentimentos.




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Assim como o tempo segue seu devido fluxo, as águas tempestuosas se acalmam e a primavera, num piscar de olhos, se transforma em neve que ocupa a vastidão de um campo. A cerimônia de casamento de Hinata havia sido magistral, admirável para qualquer um. Não poderia se esperar algo menor que isso — afinal, os noivos eram nada mais, nada menos, que o Grande Herói de Konoha e a Princesa do Byakugan. Tudo foi perfeito tal qual deveria ser — talvez o tivesse sido até demais.

Neji ficou feliz por vê-la realizada, esse sempre foi o desejo dele e na Guerra Ninja chegou, inclusive, a dar sua vida por isso; mas parte sua também chorou, pois, em algum lugar de seu âmago, ele queria ter sido o homem que a carregou ao altar. Ele sabia que Naruto traria completude à esposa, entretanto, vê-la partir foi totalmente doloroso para si. Aos deuses, ele pediu que sobre o casal fosse derramado suas bênçãos – e que fosse capaz de selar, para sempre, seus sentimentos por ela.

Queria que essa fosse a última vez pela qual choraria por aquele amor não declarado e unilateral, nem por isso não demonstrado – mas estava equivocado. Terrivelmente equivocado, pois, mesmo após inúmeras estações, era incapaz de esquecê-la.

Sentado ao corredor externo amadeirado da grande casa, o homem outrora conhecido como gênio do clã se servia sozinho com mais uma dose de saquê na calada da noite, quando todos já haviam se retirado para dormir. A noite estava consideravelmente clara devido ao intenso luar cheio.

Ao tomar outro gole, sentiu outra vez o álcool subir rápido à cabeça. Com um suspiro, deixou o guinomi [1] de lado e esfregou a mão no rosto, sendo visível sua frustração. Mesmo ébrio, aquele aperto no coração e nó na garganta não passavam. Havia jurado superar aquela paixão há anos, não se permitia chorar.

Recostado em uma das colunas de madeira, o bunke escondia as mãos em suas longas mangas alvas e observava a grande lua, pensativo e pesaroso. Por ora, ele só queria – e precisava – esvaziar a mente.


~

 

Já fazia dois anos desde o falecimento do Sétimo Hokage, episódio fatídico no qual foi morto ao proteger, pela última vez, a estimada vila. Ele era querido e adorado por todos, especialmente por seu carisma e tamanha dedicação. A morte dele abalou o coletivo e trouxe profundo luto ao coração de cada um que teve o privilégio de compartilhar toda uma história com ele. Ainda hoje, mesmo quando as coisas na aldeia voltaram à normalidade e Konohamaru assumiu o posto de Oitavo, nada parecia igual, em especial para ela, viúva tão jovem. Para melhor segurança dos filhos, Hinata havia voltado a morar no casarão de seu clã de origem a convite de Hiashi. Ela não tinha pretensão alguma daquilo, uma vez que já havia constituído uma nova família e era, desde então, não mais uma Hyuuga e sim uma Uzumaki. Teria realmente recusado o pedido, não fosse por uma pessoa: seu Neji nii-san.

Como de costume, era um homem de poucas palavras. Entretanto, assim como Hanabi, mostrava-se dócil para com os sobrinhos. Era um tio muito prestativo e atencioso. Himawari foi a que mais se apegou a ele; Boruto, embora não passasse tanto tempo com o moreno, considerava-o uma figura paterna até mesmo quando o seu pai ainda era vivo, já que o tio se fazia presente com mais frequência e sempre estava a ajudar sua mãe muitas vezes solitária por conta da carga horária de trabalho do marido. Quando ele morreu, outrossim, o homem continuou ao seu lado — e isso deixava os filhos mais contentes, pois viam que a mãe não precisava carregar o peso do mundo nas costas sozinha.

Desde que retornou aos Hyuuga, a progenitora recuperava gradativamente sua vivacidade, a qual ficou ofuscada pela perda do cônjuge durante meses. Dia pós dia, ela se libertava daquela depressão que teimava em pô-la para baixo. Naruto não iria gostar de vê-la infeliz, afinal de contas. Não estaria sendo o porto seguro que seus amados filhos precisam.

 

— Não se preocupe, mamãe. Eu e Boruto entendemos você. – Dizia Himawari, dócil. – Mesmo porque não estamos sozinhos. O tio Neji sempre está conosco!

 

Era verdade. Não houve uma época sequer que ele deixou o seu lado. Desde que fizeram as pazes em um passado distante até hoje, apesar das dificuldades. Ele nunca a abandonou, nem mesmo naquele momento de pura fraqueza emocional.

 

“Você é forte, Hinata-sama, e eu posso ver isso. Portanto, eu continuo acreditando em você, na sua força. Então, por favor, também acredite em você mesma.”

 

As palavras dele, apesar de quase sempre expressas em tom sério, eram calorosas e confortáveis. Discreto, ele conseguia lhe proporcionar oportunidades para crescer, amadurecer e se recuperar. Afora, sem que alguém lhe pedisse, esteve direto com os menores para suprir a carência que a ausência paterna trazia, dando-os amor e carinho, bem como também os treinava duro.

Quando se deu conta, percebeu que não o via mais da mesma maneira de antes – e se sentia mal por isso. Não por eles serem primos; na verdade, o matrimônio entre consanguíneos era uma prática comum dentro daquele clã para a preservação do doujutsu; era por Naruto, àquele que amou a vida toda. Malgrado, sua companhia era agradável e acolhedora. Diante do paradoxo sentimental, queria apenas relevar e fingir que nada mudou, mesmo que fosse a maior mentira que já contou para si.

 

~

 

Naquela noite de outono, assim como em outras, por mais que Hinata tentasse dormir, não conseguia pregar os olhos para ao menos descansar. Virava-se de um lado para o outro, sem sucesso em encontrar uma posição confortável. Ao seu lado, suas crianças em um sono profundo. Passou a observá-los, notando o quanto eles haviam crescido e o tempo havia passado. Boruto já era um Genin e podia pegar missões; Himawari, muito embora ainda fosse da Academia Ninja, treinava à parte com seus tios. Orgulho era o que não faltava para uma mãe. Suavemente, então, a mulher beijou a testa de ambos antes de se levantar com cuidado para não acordá-los.
A insônia havia se tornado recorrente há algum tempo desde que notou seus novos sentimentos. Não queria pensar neles, mas sua mente parecia ignorar. Para espairecer, a viúva Uzumaki criou o hábito de ficar um tempo no jardim — e daquela vez não era diferente.

Durante o percurso, notou a força da lua naquela madrugada, a qual chegava até a provocar sombra no bambuzal. À sua vanguarda, ao fim da passarela, encontrou Neji recostado no pilar de sustentação da casa, fitando o céu. Ao seu lado, três garrafas de saquê enfileiradas. Seu olhar estava distante, tal qual parecia estar seus pensamentos. Não podia negar, estava surpresa ao vê-lo acordado e, principalmente, bebendo. Os olhos dele refletiam melancolia, fato um tanto quanto raro de se presenciar. Ele parecia angustiado, confuso. 

Quando chegou próximo ao mais velho, ficou hesitante se devia incomodá-lo ou não. Olhou para a lua igualmente, como se procurasse por alguma resposta.

 

— A lua está linda hoje.

 

Iniciou. Tão somente assim o outro parecia tê-la notado.

 

— O que faz acordada a essa hora, Hinata-sama? – Indagou-a. Seu tom, no entanto, não era agressivo. – Estará indisposta pela manhã se não descansar.

 

— Estou com insônia... Então pensei em vir um pouco ao jardim para não acordar as crianças. Você se importa se eu ficar aqui com você?

 

Ainda que esse não respondesse, ele não a impediu de permanecer ali consigo. Destarte, a jounin se sentava ao lado desse. Apesar de próximos, o silencio remanescia e a tensão crescia. Queria conversar com ele, mesmo que não soubesse por onde começar.

 

— Obrigada por sempre cuidar das crianças... Elas te adoram e você faz muito bem a elas. – Iniciou, verdadeira.

 

— Eles são adoráveis. – Respondeu-a mais rápido que a outra esperava, com um singelo sorriso no rosto. – Eu os amo muito. Mesmo que eu não seja o pai deles, eu os amo como meus filhos.

 

— Isso é realmente muito admirável, Neji nii-san... Você será um bom pai.

 

Com a fala dela, houve uma longa pausa por parte dele. Ela o fitou, verificando se havia dito algo de errado. Ele riu curto e irônico, mesmo que seu olhar não o acompanhasse.

 

— Se eu fosse ser, talvez.

 

Ela franziu o cenho diante da resposta dele. Estava receosa.

 

— Por favor, não adie sua vida por nossa causa. A última coisa que eu quero é te atrapalhar.

 

Novamente, aquele silêncio esmagador. Foi então que Hinata parou para pensar que pudesse estar tocando em um assunto delicado.

 

— Nii-san... Você é estéril?

 

Espantado com a conclusão da prima, o mais velho olhou rapidamente para ela. Riu nervoso.

 

— Hinata-sama... De onde você tirou isso?

 

Ela piscou duas vezes, sem entender o choque alheio.

 

— D-Desculpa! Mas não é normal pensar isso? Digo, você é tão amoroso com os meus filhos e é de puro coração, não por sacrifício... Além do mais, você me respondeu como se não pudesse ter! Então eu achei que esse fosse o motivo pelo qual você e a Tenten ainda não tinham filhos.

 

— Não é por causa disso que eu não tenho filhos, Hinata-sama. – Suspirou o homem dos longos cabelos, nervoso. – É verdade que tem a ver com a mulher que eu amo, mas essa não é Tenten.

 

— Como assim vocês não são um casal?

 

Diante da nova indagação alheia, o jounin suspirou. Ao invés de respondê-la, então, ele aproximou seu rosto do dela. Suavemente, ele tocou os lábios dela com os próprios, permanecendo daquele jeito por um tempo, até que enfim se afastava e a fitava diretamente nos olhos perolados semelhantes aos seus.

 

— Assim.

 

Mais uma vez, a quietude pairava aqueles ares. A kunoichi retribuía o olhar, não sabendo como reagir. Conseguia ouvir o próprio coração acelerado e sentir um tremor que a todo custo controlara. Nos olhos do mais velho, ela podia perceber o magnetismo e a melancolia que esse carregava consigo. O paradoxo que existia em si parecia existir nele também – entre o querer e o poder.

Com um novo suspiro, ele tomou distância outra vez. Encostado na coluna de madeira, ele entregou a mão em seu próprio rosto, irritado consigo mesmo.

 

— É melhor já se retirar, Hinata-sama. A noite está começando a esfriar e eu não gostaria de vê-la doente por me fazer companhia.

 

Malgrado direcionasse suas palavras à prima, estava hesitante quanto ao contato visual, desviando seu foco para o chão. Ela estava prestes a contestar, quando ele retomava sua fala:

 

— ... Isso não vai voltar a acontecer. Não se preocupe. Então, por favor, esqueça o que aconteceu aqui.

 

Intacto, não ousou olhar em sua direção, mesmo após sua fala. Destarte, ele a aguardava sair do recinto. Quando enfim ouviu sua movimentação, ficou aliviado, crente de que estaria novamente sozinho.

 

— Não. – Respondeu Hinata, firme, tal qual o outro havia feito mais cedo.

 

Ao invés de se retirar ao seu aposento, a Princesa do Byakugan foi para mais próximo do consanguíneo. Logo após, levava suas mãos à face alheia, erguendo o semblante alheio para que esse voltasse a encará-la. Sem nada a dizer, agora era sua vez de tomar os lábios dele para si em um beijo lento e sincero.

De olhos fechados, não queria pensar em mais nada. Queria poder transmitir, naquele singelo e puro gesto, tudo o que havia passado a sentir por ele; todo o carinho, amor, admiração. Nunca passou pela sua cabeça que isso aconteceria por sempre tão somente ter olhos para seu finado marido, mas ela o queria consigo, precisava daquele homem que a amava. Ela enfim havia compreendido tudo o que ele havia feito por si não só nos últimos anos, sim durante quase toda sua vida – e do quanto o havia feito sofrer, mesmo que não tivesse sido jamais sua intenção.

Quando ela o tomou naquele ósculo, Neji foi pego de surpresa, pois não esperava tal atitude vindo dela. Por um momento, ficou imóvel, tentando compreender o que exatamente acontecia. Todavia, perante a ternura alheia e seu sentimento para com ela, retribuiu o gesto da antiga souke, fechando igualmente suas pálpebras, deixando de lado qualquer lógica ou raciocínio.

Ao cessar a reciprocidade, ambos se olhavam, intensos e sensíveis. De forma delicada, ela o abraçou e recostava sua cabeça no ombro alheio. O Hyuuga silenciosamente passou a observá-la, deixando que o momento dissesse por si só. Não compreendia o que havia ocorrido ou os pensamentos dela, mas manteve-se calado, apenas ao seu lado como sempre fazia.

 

— Eu não sei o que vai ser daqui para frente ou se tudo isso é certo. Tem sido muito confuso para mim até onde posso ir, mas eu só sei que você entrou no meu coração e eu não quero te perder.

 

Logo mais, ela apertava o abraço, de modo que o outro retribuía o gesto, mesmo sem jeito. Com toda determinação, ela segurava suas lágrimas e respirava fundo. Firme, ela apertava o tecido da roupa branca do jounin, não querendo soltá-lo:

 

— Mesmo que seja só por agora, eu posso viver esse amor com você?

 

Quando criou coragem, ela levantou seu rosto para encará-lo. No entanto, quando assim o fez, deparou-se com uma expressão do primo a qual jamais imaginou ver. Com os olhos marejados, o homem falhava miseravelmente em demonstrar seus sentimentos. Ao vê-lo daquele jeito, não demorou para que os próprios olhos também se inundassem em lágrimas.

De leve, o moreno encostava sua testa na dela e levava suas mãos ao rosto dela, passando a recolher as ousadas lágrimas que escorriam.

 

— Hinata-sama, por favor, não chore... Isso não combina em nada com você.

 

Com a fala dele, levou suas mãos à face dele igualmente, acariciando-a com delicadeza. Assim, ela sorriu e riu baixo, graciosa.

 

— A culpa é sua, Neji nii-san... Porque você também está chorando.

 

Sem delongas, para tanto, o mais velho voltou a unir seus lábios aos dela de forma apaixonada, trazendo-a mais para si ao segurá-la pela cintura e tão logo deitá-la sobre o piso de madeira naquele corredor externo. Entrelaçava seus dedos com os dela ao darem as mãos durante o ósculo. Ao fim, ele afastou brevemente sua cabeça para poder fitá-la intensamente. Com a outra mão, passou a afagar o rosto da amada que, apesar de os anos terem se passava, continuava com seu aspecto angelical. Delineava seus lábios enquanto a admirava, não mais escondendo todo o amor que possuía por ela. Amável, roçou a ponta do nariz à dela em um carinhoso gesto e apertou a mão dada a ela, apaixonado.

 

— Não importa quanto tempo demore, seja por anos ou uma vida toda; eu vou continuar esperando por você... – Disse ele, a fitá-la, sincero. – E se você optar por não voltar, então este momento será minha eternidade. Porque, por mais que eu queira, sou incapaz de te esquecer.

 

Com ternura, Hinata passava a envolve-lo com seus braços em um amável abraço. Sorriu para ele, bem como também passou afagar seus longos cabelos.

 

— Eu te amo, Neji nii-san... – Respondeu ao outro, emocionada.

 

— Eu também te amo, Hinata-sama... Ontem, hoje e para todo o sempre.

 


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Notas finais do capítulo

[1] Copo específico para tomar saquê.



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