Escarlate escrita por Haane


Capítulo 1
Capítulo 1 - Interrogatório


Notas iniciais do capítulo

Olá, estou a um tempo sem postar nada nesse site, mas agora que percebi que essa fic vale a pena ser mostrada ao mundo. Espero que gostem ^^ Boa leitura



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Quarenta e sete minutos exatos de aula de direito penal. As palavras do Sr. Köhler não faziam sentido a muito tempo, pois só conseguia pensar o quanto era gratificante vê-lo todos os dias, ao invés de uma vez na semana. Bom, por mais que o motivo não seja tão legal assim. Desde a primeira vez que o vi, senti meu coração palpitar, as pernas tremerem e perdi todo o fôlego. Aposto que antes do assassinato dos meus vizinhos ele nem sequer sabia meu nome, ou conhecia minha fisionomia. Era interessante admirá-lo de longe, sem culpa alguma, já que é meu professor e a atenção se faz necessária. 

Acordei de meu transe quando notei que todos ao meu redor já estavam guardando suas coisas. Recolhi meu material e levantei da poltrona, em seguida descendo as escadas. Cortei o caminho pelo milharal, agora ressecado por conta da estação, com os olhos fixos no chão e passos apressados. Senti um esbarrão enquanto alguém passava rapidamente por mim, levando minha mochila ao chão.

— Perdão, esses celulares nos distraem muito. - Aquela voz, aquele sotaque. Eu sabia de quem era. William abaixou prontamente para pegar meus pertences e logo os devolveu. - Eu sinto muito.

Fiquei paralisada olhando aquele sorriso. Sim, ele estava sorrindo pra mim. William Köhler estava dirigindo seu sorriso a mim! Já recebi um aceno, quando estava entrando em casa e sem querer olhei por tempo demais a cena do crime. Não consegui encontrar voz pra lhe agradecer, apenas agarrei minhas coisas e segui meu caminho quase correndo. Talvez ele tenha me achado mal educada, mas foi o máximo que consegui fazer. Antes de conseguir sair de cena, fui chamada.

— Holly! - Diminui os passos lentamente, senti a aproximação. - Vou acompanhá-la, estamos indo para o mesmo lugar, certo?

Fiz um gesto positivo com a cabeça, rezando para que o silêncio permanecesse. Ele não deveria estar acompanhado de um parceiro? Ou talvez dentro de uma viatura? Discrição era mesmo o ponto mais forte do investigador.

— Eu gostaria de te perguntar sobre o filho dos Smith. - Disse por fim, quebrando o gelo. - Vocês se conheciam? Tinham algum contato? Sei que regulam de idade, por ser minha aluna.

Mirei o céu pensativa, meus óculos embaçados pela respiração quente e o ar frio. O que eu sei sobre o Tyler? Mistura de coragem e covardia. No primeiro dia de aula fez xixi por sentir falta da mãe. Porém, foi a primeira e única pessoa a me salvar dos acordos do meu pai. O pensamento do garoto magricela veio a minha cabeça, chorando e novamente molhando as calças com medo da morte, que o encarava de frente com uma faca. Um calafrio percorreu meu corpo, ao lembrar da polícia chegando na manhã seguinte, levando este mesmo garoto completamente ensanguentado consigo, assim como o resto de sua família.

— Brincávamos quando criança, éramos da mesma igreja. - Respondi após a longa pausa, deixando a companhia surpresa por finalmente escutar minha voz. E desconfiado pela demora.

— Percebi que não gosta de falar muito, mas realmente me ajudaria ao informar um pouco sobre essa família. O que costumavam ser. - Praticamente suplicou. Notei que já estávamos próximos de casa.

— Ele tinha medo, muito medo de objetos cortantes. Não consigo imaginar o Tyler matando a própria família e a si mesmo com tal utensílio. - Respondo por fim, já entrando no cercado. - Apenas uma dedução.

William ficou parado, aparentemente feliz por receber algo de valor, mesmo que não acreditassem totalmente em meu "depoimento. Antes que eu me virasse, pude ver seu belo sorriso e novamente aquele aceno amigável, como quem diz obrigada. Sorri levemente de volta e me despedi tentando não manter um contato visual longo.

— Mamãe, cheguei. - Avisei assim que entrei em casa.

— Querida, que bom que chegou. Já preparei os doces, e logo logo estarei indo buscar seu irmão no colégio. - Me abraçou sorridente. - Depois vamos passar na casa da irmã Mary, ela disse que recebeu novas doações de roupa.

— A senhora sabe que não precisamos mais de doações, posso comprar.

— Você já gasta muito conosco. - Respondeu me entregando as trufas e estendendo sua mão para mim.

A tomei e fechei os olhos, ouvindo as orações de minha progenitora. Ela pedia para que abençoasse as vendas e agradecia mais uma vez por não estarmos mais na miséria.

— Hoje vou ir para a biblioteca mais cedo, me ofereceram hora extra. - Virei o rosto, tentando não encarar os quadros com a imagem de Jesus enquanto mentia.

— Então, nos veremos amanhã. - Disse vestindo o casaco. - Bom trabalho, anjinho. Não esqueça as trufas! Que Deus nos acompanhe e ampare.

Franzi o cenho com a palavra "anjinho", porém assenti antes de me despedir. Encarei a bandeja de doces com culpa, e os coloquei na mochila. Tranquei a casa e segui o rumo para a tal "biblioteca". A verdade, é que vivo em dois mundos. De dia, Holly Gorman. A noite, Escarlate, a melhor acompanhante do famoso "bouillon". Se trata de um "cabaré", com todo esse tema boêmio e burlesco. Pego um táxi e chego no meu destino. Atravesso para a porta dos fundos, cumprimento os seguranças e logo subo para meu camarim - que mais parece um flat, de tão grande -. Joseph me espera, com seu largo sorriso e entalado no terno carmim. 

— Veja só, se não é minha querida Holly! Poderia falar com a Escarlate um segundinho? - Perguntou fazendo piada com minhas duas personalidades.

— Você sabe que ela está aqui, papa. - Brinquei usando nossos apelidos.

Soltei meu cabelo da trança e retirei as extensões capilares. Mamãe sempre diz que uma mulher de respeito trata o cabelo como seu véu, sem cortá-lo. Se ela visse o meu um pouco abaixo dos ombros, como está agora, talvez surtaria. Terminei de me despir, e guardei as roupas largas da igreja na mochila junto com os doces. Apenas não descartei as roupas íntimas, pois possuía esse limite com Joseph.

— Qual o tema para hoje? - Perguntei me jogando na grande cama redonda com dossel. Me aninhei entre os travesseiros e os lençóis de seda, apreciando a textura macia contra minha pele.

— Baile de máscaras. - Joseph revelou o traje.

Um corset com vários brilhantes, que poderia reluzir até a outra esquina. A máscara tão preciosa quanto, a qual Joseph afirmou possuir diamantes reais, típico dos figurinos oferecidos. A vestimenta de Escarlate sempre fora sinônimo de luxo e luxúria. Sorri abertamente, com os olhos brilhando, tanto pelo reflexo quanto pela satisfação. 

— Será um grande show, minha querida. - Joseph ajeitou o bigode enquanto falava. - Sua agenda foi preenchida por Klaus, como sempre.

— Ele não cansa? Bem que poderia me dar um descanso! - Revirei os olhos.

Klaus era dono de uma forja de armas, a principal na Rússia. Praticamente vendia para todo o mundo, e passou a se tornar uma bela influência para mafiosos internacionais, acabando por descansar em minha pacata cidade, onde me encontrou. Quase todas as noites sou alugada por ele, que já declarou seu amor e fidelidade diversas vezes a mim. É um homem bem conservado aos seus quarenta e poucos anos, de aparência bonita, alto e porte atlético. Só que ao mesmo tempo é extremamente possessivo, já perdi as contas de quantas vezes ele tentou fechar o bordel, acreditando que assim me teria pra sempre em sua vida.

A arrumação foi rápida, pude ensaiar algumas vezes, combinando alguns passos antigos para me aperfeiçoar. Consigo ouvir o burburinho aumentando conforme passam as horas. As outras dançarinas e acompanhantes já devem estar na pista de dança, envolvendo nossos clientes com danças, flertes e drinques caros. Bouilon realmente te transporta para outro século, onde o conceito burlesque estava em alta. É incrível a explosão de vermelho, dourado e veludo em todos os lugares. Contando com toques rústicos e elegantes. Possuímos um código rígido de vestimenta, para tornar a experiência real.

Joseph preparou um "balanço" que combina com minha roupa para a entrada. Olhei no espelho, feliz pelo resultado e por estar irreconhecível. Aqueço a voz uma última vez e me posiciono em meu lugar, esperando as cortinas se abrirem. Observo a fumaça em meus pés, e o fundo mudar para uma noite de céu estrelada.

"I'm in my 14 carats, I'm 14 carat
Doing it up like Midas, mm
Now you say I got a touch, so good, so good
Make you never wanna leave, so don't, so don't"

Estava de costas para o público, ao me virar quase caí de onde estava. William estava na plateia, ao fundo. Meus olhos o seguiram como ímãs. Sua feição, no entanto, não demonstrou mudanças. Pergunto-me se é por ser um bom ator, ou por não ter me reconhecido. Só há um jeito de descobrir; Sendo sedutora.

 


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, não esqueçam de comentar. Obrigada por terem lido o primeiro capítulo, espero vê-los nos proximos. Beijinhooos



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