The one she comes back to escrita por Lily


Capítulo 10
10. I have a dream




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20 de junho de 1994

19h40

Casa dos Forman

—Não, nana Letta. Não vamos voltar agora. Mamãe ainda tem assuntos a resolver. - Led disse se apoiando na parede enquanto brincava de enrolar o fio do telefone entre os dedos.

—Oh céus, não me diga que ela está com aquele marginal do seu pai. Ele deve estar planejando roubá-la de Martin e isso não deve acontecer. Martin foi a melhor coisa que aconteceu para sua mãe. - Letta afirmou, Led podia ouvir o barulho de taças se chocando ao fundo da ligação, talvez ela estivesse em algum restaurante.

—Primeiro, ninguém pode roubar a mamãe de ninguém, porque nenhuma mulher é propriedade de um homem. E segundo, eu sou a melhor coisa que aconteceu na vida da mamãe. Eu sou a melhor coisa na vida de qualquer um que me conheceu! - ela afirmou.

—Onde está sua mãe? Preciso gritar com ela um pouquinho.

—Nana, atualmente mamãe está um pouco ocupada com alguns assuntos que não se referem a você.

—Sua pequena bastarda.

A porta da cozinha foi aberta, Led olhou por cima do ombro e sorriu para Brooke que entrava na casa com sacolas de compras. Ela se voltou para o telefone com a intenção de se despedir.

—Nana, eu tenho que ir. - ela afirmou.

—Ok. Amo você.  

—Também te amo.

Led colocou o telefone de volta no gancho e se virou para encarar Brooke, porém seu sorriso parou quando notou o homem ao lado dela.

—Olá querida. - Martin sorriu para ela. Led bufou irritada. - Onde está Jackie?

Led abriu a boca para responder de maneira rude, mas parou e com um sorrisinho doce disse.

—No porão. - apontou para a porta escondida no corredor que levava até a sala de jantar. Martin não falou nada, apenas seguiu até a porta.

A garota o seguiu sem saber o que iria encontrar. Quando os outros haviam subido as escadas agitados, Led já sabia que algo estava errado, porém ela não sabia o quê.

Led parou alguns degraus atrás de Martin e sorriu ainda mais ao notar a cena à sua frente. Jackie estava ajoelhada à frente de Steven que estava sentado na cadeira, ambos estavam próximos demais e de olhos fechados. Havia algo naquela cena que podia ser pior do que ter pegado eles fazendo “aquilo”, porque naquele momento era óbvio a cumplicidade e carinho que um tinha com o outro, eles não precisavam estar necessariamente enroscados um no outro para saber que algo estava rolando entre eles. Led sorria sabendo que eles ainda se amam e que o tipo de amor pelo qual ela foi gerada é real.

—Mas que merda é essa?! - Martin exclamou visivelmente irritado. Jackie e Steven se separaram se virando para eles. Led observou o rosto de sua mãe contorcer em desespero enquanto seu pai apenas se levantava da cadeira tentando se manter zen. Mas Martin não parecia compartilhar do mesmo estado de espírito quando voou pela sala e jogou no chão.

Led arregalou os olhos, Jackie gritou alto colocando as mãos sobre a boca. Os dois homens mais velhos rolavam pelo chão trocando socos e desviando dos mesmo. Led percebeu que Steven estava levando vantagem, ele podia ser mais magro que Martin, era mais ágil e veloz.

—Dá-lhe papa! - Led gritou jogando os braços para cima.

—Led! Steven! Martin! - Jackie gritava sem saber a quem recorrer. Led olhou para a cena tentando saber o que fazer, por fim, sua consciência a fez correr para o andar de cima e atravessar a porta em direção a sala.

—Led… - Kitty a olhou confusa, mas Led não não a deixou terminar de falar.

—Papai e Martin estão brigando lá embaixo. - ela disse fazendo Kitty, Kelso, Betsy e Red a olharem assustados. Os dois homens seguiram apressados para o porão. Led não os seguiu por dois motivos, primeiro porque sua mente borbulhava tentando ligar os pontos e descobrir como tiraria proveito da situação tornando-a parte de seu plano, e o segundo motivo era os braços de Kitty haviam lhe rodeado,  impedindo-a de prosseguir atrás de seu avô e seu tio.

Demorou apenas alguns segundos para que Jackie interrompesse pela sala e seguisse direto para a escada sem olhar para trás. Led se virou para ir em direção a mãe, mas Kitty sussurrou levemente.

—Deixa ela sozinha um pouquinho. Será melhor.

Led assentiu e deixou que Kitty a guiasse até a cozinha. Talvez ela pensasse que ela era uma garotinha indefesa e assustada com a situação. Mas Led não estava assustada, na verdade ela apenas estava pensativa e isso a deixava inquieta.

A cozinha estava um caos. Red bradava algo a Steven que estava sentado em um dos bancos do balcão, Betsy estava ao lado da geladeira apenas ouvindo com os olhares preocupados, Kelso estava sentado na cadeira da mesa sorrindo como um bobo.

—Vocês deviam ter visto Hyde socando aquele cara. Ele parecia um boxeador de verdade. - Kelso afirmou sob o olhar irritado de Red. - Oh cara, eu deveria ter filmado.

—Você tem quase 40 anos, seu panaca! Pare de agir como um adolescente! - Red gritou erguendo as mãos para cima.

Steven desviou o olhar dele e somente assim Led pode ver o estrago que Martin havia feito. Havia um corte na sobrancelha dele, assim como um lábio inchado. Led arregalou os olhos assustada com a situação do seu pai, por isso não percebeu quando Brooke entrou na cozinha carregando a caixa de primeiros socorros.

—Deixe que eu faço isso, querida. - Kitty falou já se preparando para tomar o lugar de Brooke.

—Sra. Forman, eu estou estudando para isso. Vou ser uma médica, posso muito bem cuidar de Hyde. - Brooke disse em um tom sério. Kitty a encarou com as mãos na cintura e aquele olhar que somente ela tinha. Brooke suspirou e cedeu seu lugar para Kitty enquanto se sentava no colo de Kelso.

—Oh papai, acho que vai deixar uma cicatriz. - Led murmurou se aproximando de Steven.

—Você deveria ter visto o outro cara. - Steven afirmou tentando dar um sorriso, mas a dor pareceu mais forte.

—Isso não é algo para se vangloriar, seu panaca. - Red bufou. - O que merda você tinha na cabeça para poder brigar com o noivo de Jackie? Deixa eu adivinhar, sua cabeça estava no seu traseiro no mesmo lugar onde vou enfiar meu pé.

—Burn! Dois burns seguidos! - Kelso gritou. E então levou um tapa no braço por Brooke. - Aw!

—Vovô, mas foi Martin quem começou. - Led disse tentando aliviar para o lado de seu pai. - Mamãe e papai estavam apenas conversando quando estavam ele apareceu e atacou papai. Ele é um louco ciumento e visivelmente violento. Acho que tio Kelso deveria prendê-lo.

Nenhum dos adultos deu atenção às palavras dela, o que fez Led revirar os olhos e bufar.

—Mas me diga, Steven. Por que diabos Martin lhe bateu? O que você e Jackie faziam lá embaixo? - Kitty indagou, mas Steven não parecia disposto a conversar.

—Preciso ir. - ele afirmou já se levantando. - Led, vem comigo um segundo.

A garota assentiu e caminhou com ele até a saída, Steven passou o braço ao redor do ombro dela e encarou o Vista Cruiser estacionado na garagem.

—Sei que não gosta de Martin, mas tem que parar de tentar colocar todos contra ele. - Steven disse em voz baixa. - Eu e Jackie não vamos voltar apenas porque você quer.

Led mordeu o lábio, seus olhos começaram a brilhar como se ela estivesse preste a chorar.

—Eu sei. Sinto muito.

—Você me prometeu que não iria interferir no relacionamento deles.

—E eu não estou. - ela afirmou com a voz embargada. Steven se virou para ela e lhe deu um meio sorriso.

—Não chore, Bonequinha. Eu sei que não está. Te vejo amanhã. - Steven a beijou em seu cabelo e se afastou.

—Tchau papai.

Kitty, dentro da cozinha, observou Led acenar para Hyde enquanto o observava entrar no carro e dar partida para sair da garagem. Então de repente ela se virou sorrindo, haviam lágrimas em seu rosto e em seus lábios um sorriso quase insano que a assustou. Led correu para dentro da casa e Kitty a analisou por um segundo tentando entender o que se passava na cabeça daquela criança.

—Por que você está sorrindo? Tio Hyde acabou de levar um soco de Martin. Isso significa que as coisas estão piores do que nunca. - Betsy disse se apoiando no balcão. - Seu plano não deu certo.

—Quem disse? Meus planos nunca dão errado. - Led afirmou juntando batendo palmas e rindo.

—Oh meu deus! Eu sabia que você estava aprontando algo. - Kelso afirmou apontando para ela. - Você é tão diabólica quanto sua mãe.

—Kelso não fale assim. Led tem bons motivos para estar fazendo o que está fazendo. - Kitty disse olhando para a garota.

—O plano B não deu certo. - Betsy falou. Led apenas balançou a cabeça sem deixar de sorrir.

—Você quem pensa, mas não se preocupe, eu tenho o alfabeto inteiro para testar. - ela afirmou. - Mas para o meu próximo plano eu vou precisar da ajuda de vocês. Vovô, tia Brooke, tio Kelso, vocês me ajudam?

Kelso rapidamente negou.

—Não vou me meter com Jackie ou Hyde. Tenho medo do que eles podem fazer para se vingar.

Led fechou a cara e se aproximou da mesa, colocou as palmas abertas sobre a mesma e se inclinou em direção a Kelso.

—Então tenha mais medo ainda do que eu possa fazer. Porque eu sou filha deles.

Kelso recuou com os olhos arregalados, mas então assentiu freneticamente. Led sorriu vitoriosa.

—Vou fingir que nem ouvi isso. - Red afirmou saindo da cozinha. Led se virou para Brooke que ponderou por alguns segundos antes de assentir em afirmação e disse.

—Adoro finais felizes.

—Ótimo! - Led exclamou sorrindo. - Agora prestem atenção. O plano é o seguinte.

21 de junho de 1994

08h30

Grooves

—Angie está cuidando dos panfletos e da publicidade. Ainda não sei exatamente porque estamos fazendo isso, mas segundo meu pai isso dará mais visibilidade à loja. - Hyde afirmou jogando alguns discos no balcão. Led que estava sentada sobre o móvel assentiu, ela usava seus fones acoplados no discman e ouviu algum CD com música romântica. Hyde a observou por alguns segundos, sua filha não era sua imagem e semelhança, longe disso. Led era um ser completamente diferente dele, mas por algum motivo eles ainda eram iguais.

—Pai, eu posso ter seu sobrenome? - Led indagou de repente. Hyde a olhou surpreso.

—O quê?

—Seu sobrenome. Deus! Vocês são surdos ou o que? - Led resmungou sem olhar para ele.

—Por que você quer meu sobrenome?

—Porque eu sou sua filha. Dã! E eu gosto como Burkhart-Hyde soa.

Hyde piscou sem saber o que falar. Led estava pedindo pelo seu sobrenome, isso significava que ela queria que ele estivesse definitivamente em sua vida e estranhamente isso o assustou.

—Não.

Led ergueu os olhos perplexa, havia mistura de descrença e… descrença em seu olhar.

—Como assim “não”? - Led pulou do balcão colocando as mãos na cintura. Hyde piscou esquecendo momentaneamente que quem estava à sua frente era sua filha, não Jackie. - Olha pai, eu sei que você não gosta de falar coisas sentimentais, então eu estou tentando ser a pessoa mais prática possível. Mas você não me deu opção, então lá vai minha história triste. - ela respirou fundo e o encarou com aqueles olhos brilhantes. - Quando eu tinha seis anos e ia ao parque com mamãe, eu via aquelas famílias felizes sorrindo e se divertindo, e por mais que eu amasse mamãe, eu não podia deixar de me sentir triste por não ter um pai. Então você apareceu, e definitivamente não se parecia em nada com o que eu imaginava. Você é rude, insensível, neurótico, egoísta e um tanto egocêntrico. Mas por algum motivo estranhamente louco, eu amei isso em você, porque você é o meu pai e é perfeito para mim. Eu não estou te pedindo muita coisa, eu quero apenas seu sobrenome para me sentir amada por você.

Hyde suspirou, não era uma surpresa que Led, assim como Jackie, precisasse que as pessoas declarassem seu amor por ela a todo momento. Hyde se lembrava muito bem que aquele era um dos motivos pelo qual perdia a paciência com Jackie, ele não era o cara que declamava poemas ou fazia declarações, ele era o cara que estava ao seu lado e, na maior parte do tempo, a ouvia. Mesmo que nos últimos meses de namoro ele não foi o namorado mais presente.

Mas colocar seu sobrenome em Led não significava apenas que ela era oficialmente sua filha, era mais uma pessoa com quem ele devia se preocupar, mais uma pessoa para ele amar. E Hyde era horrível em amar.  

—Não. - ele disse novamente. O rosto de Led caiu e ela suspirou.

—Você que sabe, papai.

Hyde observou Led se afastar dele com o olhar baixo e o corpo curvado. Ele respirou fundo passando a mão pelo cabelo. Era incrível como ele conseguia magoar as pessoas em tão pouco tempo de convivência.

10h02

Hotel Plaza Point Place

Jackie de encostou na parede enquanto o elevador descia lentamente até o térreo. Sua mente borbulhava com ultimato de Martin. Afaste-se dele ou tudo entre nós estará acabado. Ela sabia que a situação pedia medidas extremas, seu relacionamento estava em crise, mas ela não podia simplesmente se afastar de Steven, ele era o pai de filha. Eles tinham muita história para ser simplesmente esquecida.

Ela apoiou a cabeça contra o metal e suspirou sentindo aquela leve pressão na boca de estômago. Se afastar de Steven lhe causava uma certa angústia e dor. Embora ela tivesse passado quase quinze anos longe dele, nada podia fazer aquela sensação de vazio passar. Ele era importante para ela, bem mais até do que ela gostaria de admitir. Com aquele jeito indiferente e as teorias paranoicas, Steven a fazia se sentir bem, e muitas vezes a fazia se sentir amada. Nos últimos tempos isso havia ficado ainda mais evidente, todas vez que eles estavam juntos era como se o mundo se tornasse mais colorido e brilhante. Como se o sonho que ela havia sonhado durante anos pudesse finalmente se tornar realidade. Steven não era um príncipe encantado, longe disso, ele estava para um pilantra babaca, mas ele era o seu pilantra babaca.

Jackie gemeu jogando a cabeça para frente e colocando as mãos sobre o rosto. Aqui está ela, perdida em suas emoções lutando para saber quem escolher, mesmo que a escolha fosse óbvia. Jackie Burkhart nunca teve uma escolha tão difícil como essa. Nem Sofia teve uma escolha tão difícil como essa.

Escolher Martin significava ter uma vida estável emocionalmente e financeiramente, ele era um ótimo ouvinte e comentarista, sabia o gosto dela para coisas caras e sempre a surpreendia com rosas. Ele era o homem perfeito. Educado e cavalheiro. Porém ficar com ele significava se afastar de sua família em Point Place, deixá-los para trás novamente. E não queria isso, não mais.

Já Steven, viver com ele seria como estar em uma constante montanha russa, e embora ele tivesse sua própria loja de discos, ela não achava que isso daria muito dinheiro, porém com Steven nada foi exatamente só pelo dinheiro. Eles foram muito felizes quando ficavam no porão por não ter dinheiro para sair. Ela se divertia ouvindo os discos dele e ouvindo ele falar sobre teorias insanas, era bom ter apenas ele ali ao seu lado. Ele não podia saber o gostos caros dela, mas sabia quais músicas da ABBA tocar quando ela estivesse para baixo. E estar com ele significava que ela poderia dar a Led uma família de verdade. Eles poderiam ser felizes.

Martin era como um sopro de vento durante o verão, refrescante e cativante, tudo o que ela podia querer. Já Steven era como um furacão que lhe tirava o chão e o ar. E Deus! Ele era tudo o que ela precisava. Ele era seu fôlego, ela precisava dele mais do que qualquer coisa. Mas por que era tão difícil dizer isso em voz alta? Por que parecia tão errado? Tão propenso a dar errado? Será que eles nunca teriam um final feliz?


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