Hoje será o dia. Não um dia qualquer, hoje será o melhor dia da minha vida.

Eu caminho sozinho pela neve durante esta bela e congelante madrugada. Eu sou o melhor quando se trata de se infiltrar em territórios inimigos. No final nem ele tem uma segurança perfeita.

Avisto aquele palácio enorme e começo a escalar seus muros. Meu coração começa a bater mais acelerado. “Calma Afred, ainda não é hora de comemorar.” Eu me repreendo. “Guarde toda esta adrenalina para quando você ver a cabeça estourada daquele russo patético.”  Eu concluo com um sorriso contido.

Entro no palácio por uma janela. Fecho-a para que o vento forte que entrava por ela não fizesse barulho. Tenho que reconhecer Ivan, para morar em um lugar daquele era preciso ser muito forte. Olho para a sala em que me encontrava e vi que tirei a sorte grande. O meu maior inimigo estava deitado sobre uma mesa, dormindo sobre montes de papéis. Aparentemente estava muito ocupado nos últimos dias, visto que eu estava vencendo a guerra fria.

Eu chego mais perto. Ele parecia tão tranqüilo... Nunca o tinha visto daquela maneira, tão indefeso! Eu contive meu riso. Sozinho naquele palácio enorme e indefeso também... Braginski você decaiu, mas isso não me faz te odiar menos. Você continua sendo minha maior dor de cabeça.

É chegada a hora, não? Eu tiro minha mochila das costas e tiro dela um item bem singular. Uma flor de girassol. Eu a daria a ele assim que o tivesse matado. Irônico, não?

Saco a minha pistola e aponto para ele. Ivan chegou a hora de dizer adeus.

Mas sabe, eu tenho que lhe agradecer. Meus dias competindo com você foram extremamente divertidos. Seria tedioso se eu só tivesse sido o herói da segunda guerra. Não... Eu preciso de mais!

Foi graças a você que eu pude evoluir, alcançar o espaço. Graças a você que possuo a mais poderosa frota bélica do mundo. Graças a você eu passei dias sem descanso tentando ser o melhor em tudo! E quando eu apertar este gatilho, tudo terá acabado. Nenhum oponente será páreo para mim. A história é escrita pelos que vencem e eu serei o herói mais uma vez!

Um mundo sem nenhum adversário...

Um mundo sem guerras...

Um mundo sem competições

Um mundo sem perigo

Um mundo onde somente eu mando.

Um mundo perfeito...

Um mundo sem você...

Eu olho uma última vez para seu rosto tranqüilo. Infelizmente para você, meu caro, sua hora chegou. Eu aponto a arma para sua cabeça e...

Por que? POR QUÊ! Essas lágrimas não param de descer de meus olhos? Por que diabos justo agora? Não para este ser o momento mais feliz da minha vida? O momento em qual eu derrotaria meu maior adversário? Então por que...

Eu caio de joelhos na frente dele. Eu finalmente percebo que não posso ser feliz sem ele. Ivan eu deveria lhe agradecer de joelhos ao invés de querer lhe matar, seu maldito. Tudo porque você me fez ser mais forte, fez com que meus dias não caíssem no meu tão temido tédio. Seu demônio das neves! Olhe o que fez comigo? Totalmente dependente de você, meu maior inimigo! Por acaso você planejou isso tudo? Parabéns meu caro, conseguiu que eu me tornasse tão insano quanto você!

Uma leve brisa sai da janela fazendo alguns papéis caírem da mesa do russo. Um envelope de carta cai no chão. Eu não me interessaria se não tivesse o meu nome nele. Sem demorar eu o abro lendo o seu conteúdo.

Eu estava chocado. Não, ele não poderia fazer aquilo!

Me levantei, pronto para acordá-lo, mesmo que aquilo virasse um problema para mim por causa da minha invasão.

Porém...

Por que olhar para ele agora era tão diferente de antes?

Eu coloco a carta embaixo de seus dedos. Em seguida o girassol que tinha trazido em sua mesa. Deslizo meus dedos no cabelo claro dele e susurro

– Ivan eu... Não... Te odei...o...

Nem eu acreditei que fui capaz de proferir tais palavras. Fecho meus olhos e me afasto dele. Saio pela mesma janela que entrei e sorrateiramente escapo daquele antigo palácio.

Já longe dou uma última olhada para aquele lugar tão castigado pelo clima.

– Ivan... me prometa que... Quando surgir um novo inimigo você irá se aliar a mim, certo? – eu falo mesmo que ele não possa ouvir com um leve sorriso.

 ---------------------------------------------------------------------------------------

Ivan abriu seus olhos e se deparou com algo no mínimo curioso. Uma flor de girassol à sua frente. Ele a pegou vendo que era muito bonita e bem cuidada, deveria ter vindo de uma terra mais quente que a dele. Percebeu também que a carta que enviaria à Jones estava rasgada ao meio. Por alguma razão o sonho que tivera lhe parecia mais estranho e real. Esboçou um sorriso calmo e verdadeiro como à muito tempo não fazia.

– Alfred...