Estrelas escrita por Urano


Capítulo 1
Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Há uma sugestão de Drarry em algum momento, mas é sutil e pode ser ignorado; assim como há uma cena de sexo, que mal pode ser chamado assim, pisque e você perde. Mal dá para perceber, sério, mas o aviso está ai.
Fanfic fortemente inspirada pela música Saturn, Sleeping at Last. Mais do que “fortemente inspirada”, foi o pontapé da coisa toda. E, enquanto acho que essa pequena história pode ser encarada de diversas formas (eu realmente não sei como você, leitor, irá lê-la), essa música pode ajudar a entender a ideia inicial, pelo menos. Espero realmente que gostem ♥ Boa leitura!



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Juntas se movem sob sua pele
Ele envolve seu coração e se dirige para dentro.
E eles estão se movendo por todos os lados
Até chorarmos.

estrelas
but, after all, is there anything more beautiful than all these stars?

Era confronto, outono e olhos castanhos. Aceitava bem o título de vadia, mas não se dava com o de depravada. Era ambiciosa, mas não desleal. Não tinha o desprezo de Draco ou o sarcasmo de Blaise, mas era astuta, dominava a esperteza; tal como era, classificaram-na de distante.

Eis o quadro geral de Pansy Parkinson.

Parece necessário que você a conheça como ela era. Sendo quem era, havia muito o que você ouvia dela e, na contramão, muito pouco do que realmente se via. Era uma incógnita para seus colegas, com seus olhares altivos e seus saltos altos. Olhava para você de cima, não com desprezo, como Draco; não sarcasticamente, como Blaise; era um olhar distraído, astuto porém, de quem analisou e decidiu que não valia um segundo olhar.

Com seus cabelos negros e expressão vazia, era fácil temê-la, uma peça a mais no trio de prata sonserino. Por ser temida, não era procurada, por não ser procurada, era sozinha. A solidão não a incomodava. Não ser conhecida, sim.

E, apesar de não parecer, ambas as situações estavam intimamente ligadas. Por ser conhecida, não queria dizer a popularidade. Era popular. Era Pansy Parkinson, afinal — mas até então, ninguém a conhecia.

Ninguém sabia seus gostos, suas particularidades, suas ambições. Alimentava esse desejo egoísta de ter alguém para descobri-la, desvendá-la. Alguém que soubesse que ela apreciava mais café do que chá. Que amava chocolate. Que ela secretamente gostava de música clássica trouxa. Que ela, na verdade, se perdia o tempo todo em pensamentos; tinha dificuldade para se focar no mundo a sua volta. Que ela gostava das palhaçadas de Blaise, afinal, apesar de ser a primeira a mandá-lo calar a boca. Que gostava muito dos jardins de Hogwarts, mesmo que gostar de jardins fosse besteira. Amava o verde, não gostava do prata, se dava bem com o vermelho.

E Granger… Granger apenas estava lá.

E durante muito tempo, foi isso. Ela apenas estava lá. Elas já haviam se esbarrado diversas vezes, sim; Granger fazia parte do trio de ouro e, graças a conhecida rivalidade de Potter e Draco, eles sempre acabavam se encontrando. Pansy, porém, nunca havia parado para reparar na garota. Era estranho pensar mas, a Sonserina, que se julgava muito observadora, nunca olhava para Hermione. Seus olhos sempre em Harry, com indiferença velada; ou em Draco, com desconfiança justificada — afinal, ela era astuta o suficiente para perceber o estranho modo como Harry e Draco reagem um ao outro, mas essa mesma esperteza não fora suficiente para perceber que outra pessoa também percebia como os garotos eram. Enquanto Pansy olhava Draco, sobrancelhas arqueadas numa pergunta muda, Hermione encarava toda a situação com a testa franzida; compartilhavam, afinal, dos mesmos pensamentos.

Um dia, foram colocadas juntas em um trabalho de Aritmancia.

Mal se olharam quando viram seus nomes, um ao lado do outro, no quadro, mas as outras pessoas olharam. A sala correu em sussurros e olhares ansiosos, mas as garotas se mantiveram impassíveis. A única vez que Pansy arriscou um olhar para a grifinória, a pegou franzindo a testa por um breve momento, como se de repente se visse diante de uma questão muito difícil — o momento passou muito rápido, porém, e assim que Hermione suavizou a expressão, Pansy desviou o olhar.

Durante uma rápida conversa, decidiram se encontrar na biblioteca para as pesquisas. Na primeira vez que se encontraram, as coisas foram estranhas apenas por um momento, quando Hermione estava na defensiva e parecia esperar que ela a atacasse a qualquer momento; era como se Hermione a visse como não mais que uma versão feminina de Draco, com suas provocações sarcásticas e comentários mordazes. Pansy, porém, não sentia nenhuma necessidade de chamar qualquer atenção que fosse da grifinória (o que, ela sabia, era o caso de Draco com Harry), e, quando Hermione percebeu isso, a convivência se tornou muito mais leve.

E, sinceramente, Pansy não podia culpá-la por seu primeiro julgamento; Ela tinha de admitir, esperava de Granger uma hostilidade que achava ser comum aos grifinórios — apesar de que, quando parava pra pensar sobre isso, percebia que não tinha muito contato com os grifinórios além dos momentos em que Harry e Draco estavam brigando, o que não era uma situação justa para um julgamento —, mas Hermione era surpreendentemente gentil. Gentil... e compreensiva; ela pareceu entender o silêncio de Pansy e não se ofendia com ele, o que a deixou estranhamente tocada.

Enquanto tinham de conviver pelo trabalho, Hermione fazia o trabalho de preencher o silêncio e era incrível como ela podia entender os olhares e expressões da Pansy, conseguindo entender respostas em sua maneira de ser sem palavras. Lentamente, Pansy começou a dar respostas curtas e certa vez, até riu, uma risada clara que era mais do que um encolher de ombros e Hermione abriu um sorriso que era brilhante em resposta.

Ela não se ofendia com a incapacidade de Pansy de se manter focada em qualquer coisa, apesar de ser impaciente no que se tratava da lição de casa — e então, Parkinson percebeu que começara a se esforçar para não se distrair quando estavam trabalhando no dever. Em qualquer outra situação, porém, a sonserina não conseguia impedir sua mente de vagar e Hermione aprendeu a fazê-la voltar com um leve toque no braço e um sorriso pequeno.

A sonserina estava maravilhada com a maneira como elas funcionavam juntas, como a comunicação entre elas era fácil. Pansy nunca havia se dado tão bem com quem quer que fosse, além de Draco, e toda vez que pensava sobre isso, sorria. Hermione percebia, porque seus sorrisos eram raros, e sempre a recompensava com olhares brilhantes e sorrisos abertos.

Quando o trabalho de Aritmancia foi concluído, elas ainda continuaram a se encontrar, mesmo que agora não houvesse motivo nenhum para isso. Por um tempo, foi na biblioteca, onde eventualmente liam um livro e conversavam aos sussurros.

“Nós deveríamos parar de nos ver na biblioteca.” Pansy disse um dia e Hermione suspirou, a expressão leve como sempre ficava quando Pansy era um pouco mais falante.

“Porque?” a morena perguntou e a outra apenas arqueou uma sobrancelha para ela. Se perguntou se Hermione conseguia entender todas as respostas contidas ali. Porque você não pode falar alto como quer. Porque nenhuma de nós quer que nossos amigos descubram. Porque tem muitos olhos aqui. De qualquer forma, seja lá o que Hermione entendeu, ela aceitou. “Alguma sugestão de lugar?”

“Talvez você tenha que quebrar algumas regras.” Pansy sussurrou e assistiu Hermione dar um sorriso de lado.

Granger a concedeu um riso leve, mas Pansy não estava mais prestando atenção. Se viu distante e apenas conseguia se lembrar de que seu interesse estava muito focado em — em Hermione, em como ela se parecia. Seus traços, a pele escura, a forma como seus lábios se movimentavam enquanto ela ria. Quase conseguia ouvir o comentário que Hermione estava escondendo, que diria algo sobre como quebrar regras há muito era uma rotina para ela; sentiu-se quente por dentro, percebendo que podia ler isso na outra garota apenas de observar seu sorriso de lado, o brilho em seus olhos.

Aquela foi a primeira vez que Pansy viu Hermione. Realmente a viu, como se fosse a primeira vez que pousasse os olhos nela; Observou com atenção os caracóis do cabelo castanho, a pele negra, os olhos castanhos-amêndoa. As mãos de dedos longos — seguravam um livro, que a grifinória não dava atenção, ocupada como estava em murmurar qualquer coisa que fosse para Pansy, um sorriso discreto nos lábios.

Hermione era linda, percebeu. E não sabia muito bem o que fazer com essa nova percepção. Sobre Granger, de todas as pessoas.

Foi a partir de então que os encontros na torre de astronomia começaram.

A história de Pansy com a torre de astronomia, ou com a visão que ela proporcionava, começara não muito tempo, ainda no ano passado — Parkinson era adepta das noites. Não conseguia dormir e gostava de caminhar. Era justificável, então, o hábito que carregava consigo, desde o primeiro ano, quando entrou em Hogwarts; A noite, esperava ouvir os suspiros adormecidos das meninas, vestia seu robe e, cabelo despenteado e pés descalços, caminhava pelo castelo. Um pé cuidadoso de cada vez. Atenta aos ruídos à sua volta, procurando indícios de um monitor, um professor ou qualquer um que a pudesse punir por estar fora após o horário de recolher. Inspirava profundamente, sentindo o ar gelado do castelo, sentindo a magia que desprendia daquelas paredes de um modo que ela não conseguia sentir quando andava ali pelas manhãs.

Certa noite, se viu subindo as escadas que a levariam a torre de astronomia. Os pés descalços se davam bem com o chão gelado de pedras. Chegando lá se viu fascinada pelo céu noturno, o brilhante luar e as estrelas. Isso se tornou seu hábito particular, ir até lá, noite após noite e se sentir pequena em frente a toda aquela imensidão e beleza.

Não via a inclusão de Granger em seu hábito como uma intrusão. Parecia certo, duas coisas que lhe causam tanto fascínio, juntas — percebeu que deveria ser assim quando viu Hermione e sua beleza pela primeira vez, na biblioteca. Na primeira vez que foram até a torre de astronomia, a visão foi o que a deu a certeza de sua ideia, a sensação que aquilo lhe causou; Ali, onde a luz da lua que entrava pela enorme janela envolvia Granger com seu brilho perolado, a garota parecia quase irreal.

Se encontravam uma, até duas vezes por semana, quando o tempo as permitia. Pansy continuava indo todos os dias até a torre e, um dia, se surpreendeu ao subir a escada de pedras e encontrar Granger lá, num dia em que não haviam marcado de se ver. Hermione parecia tão surpresa quanto ela quando seus olhares se encontraram e só pareceu curiosa quando Pansy deu meia volta — pelo o que a sonserina era grata; Hermione entendia que as vezes ela precisava estar sozinha.

A partir daí, Pansy lidou com a ideia de que Hermione sabia que ela ia a torre todos os dias, sem exceção. Isso a deixava inquieta, por algum motivo. Parecia o tipo de coisa que… poderia revelar que tinha algo errado com ela, o que quer que fosse. Vivia sob a impressão de que se alguém descobrisse o suficiente de seus hábitos particulares, poderia perceber… alguma coisa. Que, se alguém prestasse atenção, descobriria o que estava de errado com ela. Que Pansy encarava o mundo de uma forma que as pessoas estranhariam. Não sabia se estava dando importância demais para um detalhe, para algo que não merecia. Mas tinha medo do que isso podia significar.

De qualquer forma, a relação delas não mudou — se muito, ficou mais próxima. Pansy aprendeu a ignorar a coceira que sentia embaixo da pele por deixar Hermione se aproximar a partir daí e, com o tempo, a coceira não estava mais lá.

No dia a dia, a relação delas não mudou muito. Às vezes, Granger lhe lançava um sorriso quando se encontravam no corredor. Fora isso, mal se olhavam. Havia algo especial em pensar que elas só eram amigas, ou o que quer que fossem, quando o céu escurecia — como um mundo particular, só delas. Sob as estrelas, o mundo era quieto, brilhante e existiam apenas as duas para assistir toda aquela beleza.

X—X

Haviam momentos na vida de Pansy e haviam momentos. Momentos que ficavam marcados em sua mente, martelando em seus olhos, como se cantassem para ela sua importância.

Houve então, aquela noite. Era uma noite bonita, como a muito tempo não era.

Granger estava ali, segurando os braços desnudos com as mãos. Usava uma camisola clara, um roupão abandonado a seus pés. Tinha a tranquilidade de alguém a quem a ideia de estar fora da cama depois do toque de recolher não era mais estranha. Pansy sabia que não era. Olhava para a janela da torre de astronomia, para a lua lá fora, como se procurasse no céu escuro a resposta para uma complicada questão.

Quando Pansy chegou, Granger a concedeu um olhar por cima do ombro. Parkinson tinha aquele olhar — a expressão vazia que não enganava mais a Hermione.

Um longo silêncio se estendeu. Parkinson se moveu, chegando tão perto de Hermione que quase podia sentir o calor que emanava ela. Havia isso entre elas, essa dança em que por vezes se colocavam; isso de não se tocarem, evitarem o contato físico, porém sempre tão próximas.

A proximidade com Granger a confortava. Todo aquele calor. Era algo notável, isso de grifinórios com o calor, como eles pareciam arder em chamas em tudo o que faziam — mas havia algo mais em Hermione. Pansy conseguia ver, porém, não explicar. Só era… agradável.

Naquela noite, que era bonita e também era um momento, Pansy foi aquela que quebrou o silêncio.

“Você já olhou o céu, Granger?”

Hermione a deu um olhar de lado e havia emoção mal contida em seus olhos. Ela sempre falhava em esconder o prazer que sentia quando Pansy falava, quando queria conversar. Conseguia sentir o sorriso em sua voz quando ela respondeu “Acho que… sim? Estou olhando para o céu agora, não estou?”

Quando a gente considera coisas como as estrelas, os nossos negócios não parecem importar muita coisa, não é?” a sonserina citou e Hermione a olhou atentamente; a aura de mistério que Pansy adquiria a cada vez que conversavam, vê-la citando uma escritora trouxa — trouxe a ambas um profundo arrepio. Houve um espaço onde a frase se pendurou no ar e, naquele espaço de tempo, o ar pareceu esfriar a sua volta; eram só as duas no mundo novamente, a magia borbulhante nas paredes que as envolviam. Pansy dirigiu o olhar para Hermione, os instigantes olhos negros que, naquele momento, mostravam fragilidade, de todas as coisas. Quando falou, sua voz era pouco mais que um sussurro “Sob as estrelas… nós estamos sozinhos.”

Ela fechou os olhos, talvez porque havia percebido que seus olhos a mostravam vulnerável. Quando os abriu novamente, seu olhar estava novamente no céu lá fora.

“Isso é… triste.” Hermione disse, mas havia um tom de dúvida em sua voz.

“Não.” Pansy olhava para as estrelas, não para Hermione, quando respondeu “Solitário, talvez. Mas não triste.”

Hermione a olhou e havia aquilo em seu rosto e era como — como se a visse pela primeira vez. Pansy se perguntou o que ela via. Seria parecido com todas as vezes que Pansy olhou para Hermione — como se a visse pela primeira vez? Seus pensamentos seriam parecidos?

Pansy fechou os olhos, porque pensamentos sobre Hermione a bagunçavam por dentro. Temia que a grifinória visse isso em seu rosto.

“Há algo muito bonito nisso, Parkinson.”

Pansy considerou aquilo por um momento, os olhos ainda fechados. Bonito era uma boa palavra. A beleza de um infinito.

“Bonito. Belo.” repetiu, em voz baixa “Existe alguma coisa mais bonita do que a visão de todas essas estrelas?” perguntou, num sussurro frágil.

E a voz que traz a resposta é suave.

“Você.”

A noite é envolvida pelo pálido luar; o ar é frio. Na torre de astronomia, duas garotas se encaram — sem se importar com o que seus olhos possam estar mostrando.

X—X

Dancing in the dark
in the pale moonlight

X—X

Os próximos dias, todos os momentos após aquele (tão importante quanto prometia, cantando sobre sua importância) se misturavam em frente aos seus olhos, correndo como as águas de um rio calmo — suavemente subindo uma sobre as outras, unidas como um só.

A linha de eventos estava confusa, mas isso era comum para Pansy. Não era realmente um incômodo para ela. As coisas aconteceram, quer ela lembre como ou não. E o que havia acontecido era doce em sua memória, tremeluzindo na luz suave de uma vela.

Era Pansy e Hermione, rindo juntas no escuro dos corredores de Hogwarts, sentadas tão próximas que Pansy podia sentir os ombros de Granger se movendo de acordo com o som da sua risada. O modo como Hermione a olhou, estrelas derretidas em seu olhar. E Pansy ria, uma gargalhada alta e isso era tão incomum.

Era Pansy observando Hermione, que acabou dormindo sobre a mesa da biblioteca. Granger não sabia de sua presença ali; não se encontrariam naquele dia. Pansy espiava entre as estantes cheias de livros, parada ali, o que havia ido fazer na biblioteca em primeiro lugar esquecido. Passou os olhos, absorvendo a pele negra e o ressonar suave de seus ombros. Os caracóis do cabelo castanho, se erguendo em todo o seu esplendor ao redor dela. Havia outro momento junto a esse, dançando suavemente em chamas de vela, que era tão igual que poderia ser o mesmo, mas algo a dizia que não era. Pansy estava próxima a Hermione aqui, a grifinória ainda dormindo, o rosto apoiado nos braços como antes. Pansy estende o braço, para acordá-la talvez, mas sua mão para no ar, hesitando por algum motivo. Se limitou a afastar uma mecha do cabelo cacheado do rosto da outra. Havia tanta ternura, tanto carinho ali, aquele pedaço de memória.

Era como as mãos de Pansy moldariam o rosto de Granger. Quando elas estavam muito próximas. E haviam sorrisos ofegantes. Haviam estrelas nos olhos de Hermione. E as mãos de Pansy. Emoldurando seu sorriso, seus olhos e sua beleza.

Haviam abraços. Ela não conseguia se lembrar como elas haviam chegado a esse nível de contato. Mas era bom. Granger tinha braços fortes. Gostava de puxá-la pela cintura e gostava de como os braços de Pansy ficavam ao redor de seus ombros.

E haviam os beijos.

Suaves, doces, rudes, duros, apaixonados.

A magia crepitando em volta e o ar frio.

Os beijos.

Onde o mundo pertencia a elas.

X—X

E então, Pansy quebrava as vezes. Seus amigos sabiam o suficiente para deixá-la sozinha, ou só não percebiam. Ela quebrava sozinha, onde poderia juntar os pedaços em paz. Não era agradável — mas Pansy quebrava as vezes. Não havia o que se fazer quanto a isso.

E então, uma dessas vezes.

E então.

Havio o barulho. Barulho, barulho, havia tanto barulho. Pansy agarrou os cabelos com força, se encolhendo dentro de si mesma, abraçando-se na tentativa de ficar menor. Puxou os cabelos mais forte — a dor deveria, a dor tinha de trazê-la para fora de toda essa bagunça de todo esse barulho, a trazer para o mundo real.

Tentou respirar, mas era um movimento tão fechado que doía, sufocava, apertava. Trouxe as mãos até as pernas nuas, absorvendo a palidez delas com os olhos arregalados — isso é real, isso é real — e afundou as unhas na pele com tanta força quanto conseguiu; as marcas em meia-lua eram vermelhas e os olhos negros observaram atentamente enquanto elas desapareciam.

Repentinamente, uma mão quente segurou seus ombros gelados. Emergindo, um alicerce calmo em meio ao furacão. Pansy voltou o rosto para aquele corpo quente e temeu que todo o seu terror estivesse tão evidente em seu rosto, mas havia tanto barulho, ela não conseguiu se importar. O rosto de Granger foi o que desmoronou tudo e ela se viu com o rosto pressionado contra o peito dela, tremendo tão violentamente que a Grifinória teve que envolvê-la em seus braços para que conseguisse respirar.

Hermione está respirando com firmeza e o balançar constante de seu peito, subindo e descendo contra o seu, foi o que finalmente a fez parar de tremer. Sua mão acariciava suas costas e ela fazia sons calmantes, “shh, shh, shh”. Pansy se concentrou nisso. O barulho não sumiu, mas agora ela conseguia respirar, mas ainda era alto.

“Granger.” ela chamou. Os braços em torno de si a apertaram mais forte.

“Está tudo bem.” ela disse silenciosamente. E não parecia que estava tudo bem, mas Pansy entendia — Granger dizia que estava tudo bem com tudo isso, que ela aceitava, que ela estava ali para Pansy, não importava o quão não bem ficasse — e Pansy era grata. Alguém para conhecê-la, ou aceitá-la. Pansy finalmente podia experimentar disso. Ela pode ter feito um barulho estrangulado muito parecido com choro, mas não haviam lágrimas. Com ela, nunca haviam lágrimas.

Houve um momento muito longo, em que as respirações altas e erráticas dela cobriram toda a sala. Por cima dos cabelos fartos de Granger, o olhar de Pansy se focava na janela da torre de astronomia, todo o espaço que ela mostrava lá fora. A grande lua e suas estrelas.

“Eu sou um cometa, Hermione” sua voz mal passava de um sussurro “Eu sou um cometa. Eusouumcometa.

“Pansy” Hermione murmurou e havia dor em sua voz.

“Você é uma estrela.” disse “Eu sou um cometa é você é uma estrela. E, quando um cometa está perto de uma estrela, ele se dissolve gradualmente até morrer no abismo do sistema planetário.”

“Não.” a voz de Hermione tremeu “Pansy, não.

A respiração dela parecia mais baixa agora. Conseguia ouvir a de Granger contra sua orelha e foi então que percebeu que o barulho havia diminuído o suficiente para prestar atenção a essas coisas, como a respiração de Hermione em seu ouvido. Ou como seus braços a abraçavam tão apertado agora que quase doía. Não era uma sensação ruim.

“Eu não posso ser uma estrela.” Granger sussurrou e sua voz parecia assustada “Você me ensinou a olhar para as estrelas, Pansy, você. Eu não posso ser uma estrela.”

“Às vezes, as pessoas não percebem o brilho que tem.”

O ar estava gelado. A lua as iluminava e, como da primeira vez que Pansy viu Hermione de verdade, a pele negra brilhava e ela era tão linda que parecia irreal.

“Depois que você me ensinou a ver as estrelas” ela queria olhar no rosto de Granger agora, ver se ela parecia tão quebrada quanto sua voz sugeria. Mas ela não conseguia desviar o rosto do céu lá fora, então só respirou fundo enquanto ouvia Hermione falar “eu vim aqui, nessa torre, tanto quanto pude e olhei as estrelas. Eu olhava para elas, toda noite. E ansiava por tocá-las. Sentia o desejo de levantar no ar, me afundar nelas, deixar a terra sem — sem olhar para trás, sabendo que nenhuma pessoa, nenhuma magia poderia me trazer de volta” ela está hipnotizada na voz de Hermione, tão constante, e deixa seus olhos mapearem mapas irregulares no céu, ligando as estrelas com brilhantes fios invisíveis “Eu vejo tantos corpos celestes, mas nenhum seria nosso planeta.” ela pausa e, quando fala, sua voz é um sussurro tão suave que Pansy quase o perde “E eu estaria completamente sozinha.”

Há um beijo deixado na lateral de seu rosto e, então — o que Pansy achava ser impossível — o barulho sumiu por completo. Ela não percebeu quando isso aconteceu. Muito lentamente, por que ela tem medo de que o som volte caso ela se mexa muito bruscamente, Pansy desvia o olhar dos céus e se inclina, querendo ver o rosto da grifinória. Quando elas se olham, há um contraste. Há algo escondido por trás do rosto inexpressivo de Parkinson. Existe algo no rosto de Hermione também, mas seus olhos nunca falharam em mostrar o que está submerso; há algo brilhante em seu rosto sereno. Olhando em seus olhos, é algo como selvageria.

“Há uma parte de mim que diz que isso seria aterrorizante” a grifinória tremeu “Perder-se no espaço. O que você acha sobre isso?”

Pansy olha para aquilo que é selvagem dentro de seus olhos. Novamente, pensa em como ela é linda, de um modo que vai além da beleza física.

“Acho que se afogar em um oceano de estrelas é uma bela morte.”

X—X

Pansy não conseguia se lembrar onde estavam, os contornos do mundo inteiro borrados em sua volta e a única coisa que era sólida e confiável era Granger, com os braços negros e fortes em volta de sua cintura e tão próximas que suas respirações se misturavam, quentes em seu rosto. Havia pele nua, o calor pressionado e — os sussurros, isso era algo tão suave que quase parecia inventado, mas a voz de Hermione sussurrava em seu ouvido e isso era real. Era real.

“Você olha para uma estrela hoje e ela pode estar morta por anos.” era música, uma canção que entrava em sua cabeça e se desvanece no ar, mas era real. A voz de Hermione em seu ouvido. “Mas ela ainda brilha, eternamente, mesmo após sua morte”

Haviam beijos, beijos e beijos. O sutiã vermelho de Hermione e sua voz, fluindo para dentro de Pansy e era tão forte. “Há algo muito belo nisso.” diz Hermione, a voz rouca e é como se afogar, exceto que seu corpo não luta contra isso, bebendo mais e mais dela, de quem era Hermione Granger, de tudo que ela podia oferecer — não, de tudo que Pansy estava roubando dela. Roubando o que pudesse, enquanto pudesse, tudo que a faria saber que era real.

Bonito.

Belo.

Existe alguma coisa mais bonita do que todas essas estrelas?

(Você)

“Somos instantes.” ela continua sussurrando e é bom, porque Pansy não poderia falar agora, mas a canção tinha que continuar “Estamos aqui e há tantas, tantas vidas nesse lugar. Alunos, professores, pessoas. Pessoas com histórias, com vidas tão belas e emocionantes e trágicas.” Pansy solta um lamento aqui, a respiração saindo alto no quarto silencioso, os lábios e as mãos de Granger arrancando algo dela e Pansy adora tudo isso.

Elas param, então, cansadas e ofegantes. Os fios negros de seu cabelo estão espalhados em uma bagunça por seu rosto. Hermione está em cima dela, a respiração em seu pescoço, mordidas e beijos suaves na pele delicada. É um contraste interessante, sua pele pálida contra a negra dela e é tão bonito. Tão, tão bonito.

“Vidas belas, emocionantes e trágicas.” Hermione repete e o sussurro é alto agora que a sala ficou mais silenciosa “E agora, somos só nós duas.”

O silêncio sempre foi mágico com elas, explodindo em sua forma ao redor. Hoje, Pansy não diz e não vai dizer nada, mas não apenas por sua costumeira quietude. Hermione tem que falar essa noite. É a música dela para compor, para cantar e para afogar Pansy com ela.

“Nós existimos, apenas por um momento, e então não somos mais — mas deixamos nossa marca no mundo, por mais insignificante que seja. E isso — isso brilha.”

Hermione se afastou o suficiente para poder olhá-la nos olhos e agora, elas brilhavam. Eram as estrelas em seu olhar.

(Eu olhava para elas, toda noite. E ansiava por tocá-las. Sentia o desejo de levantar no ar, me afundar nelas)

(E) mesmo assim (eu estaria completamente sozinha.)

“Você me ensinou isso.” declarou “O quão lindo é isso. O mundo de possibilidades. Quão raro e belo é apenas existirmos.”

Seus olhos eram selvagens. E brilhavam. Como estrelas.

(Você não é um cometa, a voz de Hermione pode ou não ter sussurrado. Pansy sabia que de tudo que havia ouvido aquela noite, essa frase é aquela que talvez não fosse real. Hermione pode ou não ter sussurrado. Mas ela ouviu.)

(Eu irei contar as estrelas sobre você, Pansy pode ter sussurrado em resposta e isso, apesar de talvez não ter saído de seus lábios para ser enunciado em voz alta, era real.

Ali, elas eram eternas.)


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Notas finais do capítulo

Eventualmente, Hermione volta para Rony. Não que eles estivessem juntos, mas, como dizer, os livros seguiram seu rumo. Eu não defini uma data, mas a fanfic se passa por volta do quinto ano e o peso da guerra eminente estavam ali para todos, principalmente para as protagonistas da história e, depois do que acontece no final do quinto ano, com a morte de Sirius e o retorno anunciado de Voldemort — um relacionamento era insustentável. Não que elas fossem “um relacionamento”. Era ao mesmo tempo mais e menos que isso. Mas acabou e não há mal nisso. Não houve nenhuma grande conversa sobre isso, nem nada. Acho que só não voltaram a se falar no inicio do sexto ano; haviam outras prioridades. E é isso. Histórias não são menos eternas porque terminam.

Tenho que dizer também que a história foi escrita sob forte influência da música Under Stars, da Aurora e isso é algo que acho importante dizer. É como nas palavras da cantora “uma música que às vezes a faz chorar, principalmente em pensar quão bom e ruim o mundo pode ser.” e, talvez, se você ouvir a música, pode ficar mais claro tudo o que Pansy passou para Hermione, o que elas queriam dizer com “observar as estrelas” e eu não sei se consegui passar isso aqui, mas não consigo explicar melhor também. >EDIT: Assim como o “ver uma pessoa pela primeira vez”, o que, depois que reli, percebi que talvez também não esteja claro. Até pensei em adicionar mais um capitulo e tentar explicar, mas quando pensava em como fazer isso, percebi que não conseguia. São pensamentos que ainda não consigo alinhar em palavras e, se tentar, vou diminuir a coisa toda e sentir vergonha das palavras que não serão minhas. Quem sabe um dia.

(“Talvez eu devesse arrancar estas últimas páginas. Talvez eu não tenha ideia do que estava tentando dizer. Ou deveria ter passado mais dias elaborando cada uma das frases em numerosos pedaços de papel, sem juntá-los, até que cada palavra tivesse sido escolhida com precisão.” A Menina Submersa, de Caitlín R. Kiernan. Mas Imp continuou escrevendo ??” não pare agora ??” e eu também vou. Eu preciso.)

Assim como Pansy (que é totalmente OOC, eu em forma de personagem), também tenho medo que histórias como essa, detalhes que revelem o que ou que algo está errado comigo, mas isso é pequeno perto da felicidade que finalmente postar isso está me dando. É paz, e é carinho, porque eu me apaixonei pela história dessas duas, e é alegria, por que eu ainda consigo tirar as coisas da minha cabeça e colocar no papel, na forma que for. Espero realmente que você, leitor, se chegou até aqui, tenha gostado. Deixe seu comentário, se for para perguntar alguma coisa, criticar negativamente eu só um simples “gostei”. Muito, muito obrigada por ler ♥

>>EDIT2: Sabe o que eu falei sobre um segundo capítulo? O “ver uma pessoa pela primeira vez”? Então, ele vai acontecer. É a visão de Hermione das coisas. Ele está por vir, esperem por ele. E, novamente, muito, muito obrigada.



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