No Title escrita por drmelancholy, heartshapedcake, LoNickii


Capítulo 6
Casca Quebrada


Notas iniciais do capítulo

boa leitura! sz
Recomendação para escutar enquanto lê: dvdkm - lonely



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O teto do apartamento de Nick era o mesmo, mas Nick não parava de olhá-lo; ela não conseguiu dormir nessa noite, seus pensamentos não deixaram, os mesmos pensamentos de sempre sufocaram a mente de Nick e ela simplesmente não conseguiu relaxar.

Seu celular começou a vibrar, ela havia silenciado o mesmo para ver se o sono chegava, ela o pegou para ver do que as notificações se tratavam; era uma mensagem de Amy no grupo onde estavam todas suas amigas:

Amy [06:23]: bom dia gente

Nick ignorou a mensagem, já que sabia que alguém responderia por ela; seu celular vibra novamente:

Amy [06:30]: gente

Nick ignora novamente.

Amy [06:32] to me sentindo muito sozinha nessa casa enorme, venham aqui depois da escola

Amy [06:35] saiu um filme novo, tava querendo ver

Naki [06:40] tão falando que é horrível

Naki [06:41] mas vamo

O tempo passa e Nick ainda não levantou da cama, de vez em quando seu gato miava ou se esfregava nas pernas de Nick, deixando seus pelos cinzas nela, a fim de fazê-la acordar; ela só consegue pensar que está gastando seu tempo: “Tanto faz, um dia de falta não faz tanta diferença”. Nick se cobriu até o pescoço com um cobertor preto e fixou seu olhar à parede, começando a imaginar como suas amigas estariam na escola delas:

“Amy deve ter várias amigas, ela é bem sociável.”

“A Naki é bem engraçada, acho que ela também faria amigos facilmente.”

“A Lolo não é bem do tipo que tem várias amigas, mas não acho que ela teria dificuldade com isso também.”

“A Kyoku é extremamente espontânea e energética, até um pouco escandalosa, é difícil que ela passe despercebida.”

“Já a Rubby… ela é meio tímida, na verdade, é meio raro que ela fale com outras pessoas que não sejam a gente”. Enquanto Nick se perdia em seus pensamentos, dessa vez diferentes, a garota fechava os olhos lentamente e, finalmente, sem se esforçar muito, adormeceu.

Nick estava em um lugar completamente preto, sem nenhum objeto a não ser um beliche velho; deitada na parte de baixo, estava ela, tinha cabelos castanhos claros amarrados por um elástico branco, usava uma camisa branca e um moletom amarelo sem mangas, que fazia parte de seu uniforme, amassava sua saia azul com suas pernas que agora mexiam-se para fora do beliche, agora Nick finalmente poderia ver seu rosto, era-

— Nick! ACORDA! — Kyoku gritava pela janela, assim, acordando Nick, que levantou da cama rapidamente e abriu a porta irritada.

— O que você tá fazendo aqui? — Nick perguntou, com uma voz um tanto indignada, ela estava de pijama e seu cabelo estava solto, o que era algo incomum.

— Sabia que você tava dormindo; então você não deve tá com fome, né? — Kyoku disse, sem realmente responder a pergunta de Nick.

— Como assim? — Nick perguntou, Kyoku então tirou duas sacolas de plástico com pratos envoltos a alumínio.

— São marmitas? — Nick pergunta, estranhando a caridade de Kyoku.

— Sim.

— Que horas são?

— Uma da tarde.

Nick abre a porta do apartamento para Kyoku, ela entra entusiasticamente e vai em direção à cozinha, deixando os pratos de comida na mesa.

— Então, você faltou na escola? — Kiyoko pergunta sorrindo, se virando à Nick para falar.

— Sim. — Nick responde, sem dar muitos detalhes.

— Entendi, então você mora em Swindmore, a cidade com as melhores escolas do país, pra ficar faltando?  — Kyoku diz como se estivesse dando um sermão, mesmo que continuasse com o mesmo sorriso no rosto.

— Isso mesmo. — Nick responde com um tom sarcástico. — Uma falta não vai causar problema.

— É o que todo repetente já disse. — Kyoku comenta.

— Tá, tô com fome, o que você fez? — Nick pergunta olhando para os pratos.

— Panquecas.

— Doces?

—Não. — Kyoku responde enquanto tira o alumínio.

Kyoku pega os talheres da gaveta próxima à pia como se estivesse em casa e coloca ao lado dos pratos com panquecas; ela se senta em uma das cadeiras e espera com que Nick faça o mesmo.

Nick também se senta, embora estivesse sentindo que Kyoku estivesse fazendo muito por ela.

Elas começam a comer as panquecas:

— Nossa, tá muito bom. — Nick comenta. — Qual seu segredo?

— Secreção vaginal.

Nick arregala os olhos e começa a tossir desesperadamente. Kyoku ri da ingenuidade de Nick:

— É brincadeira! Que nojo.

— Não duvido nada quando quem fala isso é você — Nick responde sarcasticamente.

Elas continuam a comer a comida preparada por Kyoku normalmente enquanto o gato de Nick as observava.

— Então... O que você veio fazer aqui? — Nick pergunta.

— Por quê? Não posso querer almoçar com minha amiga? — Kyoku responde fingindo não ter nenhuma segunda intenção.

— Não — A garota responde brevemente.

— Que fria! — Kyoku diz fazendo drama.

— Tá, qual é o motivo de você vir aqui e me trazer comida? — Nick insiste na pergunta.

— Eu sei que você não iria se não tivesse incentivo! — Kyoku responde como se Nick já soubesse de tudo.

— Ir? Aonde? — Nick pergunta, extremamente confusa.

— Pra casa da Amy, ver aquele filme que lançou agora, o nome é A Perfídia, coisa assim.

Quando Nick ouviu aquelas palavras, foi como se seu corpo tivesse entrado num imenso mar de preguiça.

— Ir na casa da Amy? Por que não vão sem mim?

— Não seria a mesma coisa! Sem você a gente não seria o clube... — Kyoku parou um pouco e tentou pensar num bom nome para aquele grupo que significava tanto. — O clube... sem nome? TANTO FAZ, VOCÊ ENTENDEU!

— Ah, me deixa terminar de comer antes. — Nick disse, que, mesmo que estivesse com o prato quase vazio, estava tentando gastar tempo. Kyoku ficou olhando Nick comer os últimos minúsculos pedaços de carne moída com uma expressão séria, de quem já sabia que Nick estava enrolando pra ir na casa de Amy.

Assim que Nick terminou de comer, Kyoku disse:

— Vá se trocar.

— Credo, parece minha mãe. — Nick respondeu indo em direção ao quarto dela.

Fechou a porta e depois de alguns minutos, saiu de lá, com o mesmo coque de sempre, e estava usando amarelo.

— Amarelo? — Kyoku estranhou, ela estava sentada no sofá da sala de estar, brincando com o gato da Nick.

— Sei lá, tava com vontade. — Ela respondeu, se dirigindo ao banheiro para escovar os dentes.

— Qual o nome do seu gato?

— Bonnie.

Assim que Nick terminara de escovar os dentes, Kyoku a puxou para a porta.

 – Tchau, Bonnie! A Nick volta logo!

Ao chegar na casa de Amy, perceberam que todas suas amigas já haviam chegado.

— Oi! — Kyoku diz entusiasticamente.

Amy corre até elas para abraçá-las.

— A gente tava esperando vocês. — Falou Amy, andando até a sala de estar.

Lá estavam as quatro amigas: Lolo, Tahira e Rubby estavam sentadas num sofá grande e branco de aparência extremamente cara, enquanto Naki estava de joelhos no tapete, colocando o filme no notebook de Amy, que estava apoiado em uma mesa e conectado à TV.

— Que filme vai ser? — Nick perguntou, embora Kyoku já houvesse dito a ela.

— La Perfidia!  — Naki respondeu exagerando no sotaque — É mexicano.

— Parece que é tipo aquelas novelas mexicanas, só que... em um filme. — Tahira complementou explicando melhor o filme.

— Entendi — Nick respondeu.

Kyoku e Nick se sentaram no mesmo sofá em que suas amigas estavam, já que ainda restava um pouco de espaço, enquanto Naki e Amy sentaram-se em poltronas, tão valiosas quanto o sofá; Amy realmente vivia cercada de luxo.

O filme havia começado, parecia ruim logo nos primeiros minutos, provavelmente era a coisa mais clichê que elas haviam visto em suas vidas, a dose de drama era exagerada e tornava o filme mais cômico do que dramático.

“Paloma, minha irmã, me casarei com Paolo e você não poderá me impedir.” Kyoku ria:

— Parece eu toda vez que conheço alguém!

O filme ia passando e a história, mesmo que extremamente confusa e desnecessariamente complicada, ia progredindo.

— Pera, deixa eu ver se eu entendi, a Roberta e o Paolo eram impedidos de se casar pelos pais já que as famílias se odiavam porque a mãe do Paolo tinha envenenado a tia da Roberta pra que ela conseguisse se casar com o marido dela, mas que acabou se matando porque ficou viúvo? — Lolo perguntou, extremamente confusa.

— Sim, é isso mesmo. — Rubby respondeu.

— E agora a Paloma, irmã da Roberta, virou amante do Paolo?

— É.

O filme estava quase no final, provavelmente era o clímax, mas as revelações eram tantas que se tornaram banais com o passar do filme.

“Você vai pagar pelo o que fez, Paloma!”

Roberta empurra sua irmã para a estrada, onde está passando um ônibus, a cena inteira é em câmera lenta e isso torna tudo muito mais cômico do que deveria, as sete amigas não param de rir do filme.

A próxima cena se passa num hospital, a protagonista parece arrependida dos seus atos vingativos e chora enquanto olha para sua irmã toda machucada, de repente, a voz de Paloma consegue ser escutada:

“Roberta, me desculpe.

Eu te amo!

Eu não quero te deixar, Roberta...”

— “Eu não quero te deixar, Nick…” — Nick sussurra enquanto chora silenciosamente no canto do sofá.

Todos os olhares se viram para Nick, a maioria deles sabe de tudo, toda a dor que Nick vem escondendo. Os créditos sobem na tela da TV.

— Foram as últimas palavras dela… — Nick estava soluçando, ninguém havia visto Nick chorar antes, foi como se uma casca que a protegesse por todo esse tempo houvesse quebrado.

— As palavras de quem, Nick? – Tahira pergunta, preocupada com Nick, ela não estava conseguindo entender o que estava acontecendo.

Nick levanta sua cabeça, que estava olhando para baixo tentando esconder seus sentimentos, a face de Nick estava vermelha e muitas lágrimas escorrem de seus dois olhos, todas elas descem rapidamente até o queixo e caem no colo de Nick, molhando a blusa amarela que ela havia colocado aquele dia; ela responde:

— Minha irmã, Mary. Ela era amiga das que estão aqui hoje, podia se dizer que ela era a líder do grupo, até porque foi ela que nos uniu…

Os olhos de todas as que a conheceram copiam os de Nick e também derramam lágrimas saudosistas, elas sentiam tanta falta dela.

— Mas um dia ela ficou doente, pneumonia; os médicos falavam que ela ia se recuperar mas ela só piorava. Eu vi ela indo embora, deixando de respirar por aqueles tubos, seus olhos se fechando… — O tom da voz de Nick aumentava e elas finalmente podiam escutar o que ela estava sentindo, na intensidade que ela estava sentindo, era algo que estava entalado há anos.

— Mary costumava ser a quem todas nós idolatrávamos, ela era simpática, generosa e linda. A Nick virou nossa amiga porque a irmã dela fazia parte do grupo, se a Mary não existisse talvez nenhuma de nós nem se conhecesse… — Amy explicou quem era Mary e porque ela era tão importante para todas.

Tahira entendeu o porquê de terem evitado sua pergunta na festa do pijama, não era algo que Nick poderia falar tão facilmente, ela estava fazendo tanto esforço para dizer tudo aquilo.

— Eu me sinto tão só, eu queria… — Nick foi interrompida por um abraço de Kyoku, ela conseguia sentir as lágrimas de sua amiga.

— Nós estamos com você. — Kyoku soluçava nos braços da amiga. — Nick, você é incrível.

Kyoku reconheceu que o que Nick precisava não era de algo romântico, ela precisava de sua companhia como amiga, e que, embora fosse difícil, deveria deixar de lado seus sentimentos passionais, que já não eram mais recíprocos.

— Ah, mas só você acha isso — Nick falou, as suas lágrimas já não eram tantas.

— Eu também acho! — Rubby respondeu em um tom alto, mesmo que chorando.

— Eu também. — Naki complementou.

— E eu... — Amy disse, limpando as lágrimas de seu rosto.

— Você é maravilhosa, Nick! — Lolo dizia com a mesma voz angelical.

— Eu te conheço há pouco tempo, mas já te acho incrível. — Tahira ria de um modo meigo, mesmo que houvesse chorado junto com todas.

Seus comentários de apoio não diminuíram o número de lágrimas no rosto de Nick, mas mudaram o motivo delas; algo que não acontecia há um bom tempo aconteceu: Nick sorriu.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenha gostado!



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