Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 7
Capítulo 7




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Uma semana depois, Darcy ainda estava incomodado com o beijo de Elisabeta e Edmundo. E por isso, naquele final de tarde, quando todos estavam reunidos no pequeno jardim dos Williamson, Darcy sentia-se induzido a retrucar tudo o que Elisabeta falava. E o irritava ainda mais o fato de ela parecer ignorar propositalmente tudo o que ele dizia, seguindo a conversa quase como se Darcy não estivesse ali.

A verdade é que ela também estava bastante irritada. Sentia-se incomodada por Darcy querer interferir em sua vida. Por algum motivo, desde criança Darcy fazia questão de mostrar superioridade. Sempre agia como se soubesse o que era melhor para todos, como se Elisabeta fosse incapaz de tomar uma decisão correta. Mas havia um limite, e certamente ela não deixaria Darcy interferir em sua vida amorosa.

Especialmente porque a vida amorosa de Darcy era um desastre. Ela lembrava-se de um ou outro namorico dele na adolescência, e eles sempre terminavam de forma espalhafatosa. Além disso, não aceitaria que Darcy censurasse o que tinha com Edmundo, principalmente depois que ele dissera que também estava saindo com alguém.

Por isso, estava decidida a fazer o que sabia que o irritava mais do que qualquer coisa: ignorá-lo. Respirava fundo todas as vezes em que Darcy contestava o que ela dizia, nos mais diversos assuntos, e fingia não tê-lo ouvido. Também evitava olhar para ele, e passado um par de horas, sabia que Darcy estava furioso. E era exatamente como ela queria que ele se sentisse.

Após o almoço, como sempre, seus pais retornaram para casa. Lídia e Charlotte foram até o quarto de Charlotte fofocar, Cecília lia no banco do canto do jardim, Mariana e Ernesto discutiam a respeito do jogo de cartas, enquanto Jane e Camilo optaram por sair para um passeio. Elisabeta despediu-se de todos e entrou na casa dos Williamson, para pegar suas coisas e retornar.

Não percebeu, porém, que Darcy havia saído em disparada atrás dela, parando em frente à porta, bloqueando sua passagem de volta ao jardim.

— Você está me ignorando. – ele disse, certeiro.

— Eu? – Elisabeta fingiu inocência. – Por que faria isso?

— É o que eu quero saber. – Darcy manteve o tom arrogante.

— Eu não tenho motivos para ignorar você. – Elisabeta deu de ombros. – Ou falar com você. – ela sorriu, com ironia.

— Isso tudo é porque eu critiquei seu namorado? – Darcy bufou.

— Edmundo não é meu namorado. E eu certamente não me preocuparia com o que você pensa. – ela riu.

— Então por que está me ignorando? – ele deu um passo a frente.

— Eu estou ignorando as suas tentativas de iniciar uma discussão, Darcy. Mas você parece decidido a me irritar. – Elisa revirou os olhos. – Justamente quando achei que estávamos chegando a algum lugar.

— E o que isso quer dizer?

— Que por um breve período eu acreditei que você pararia de agir como um menino de quinze anos, e passaria a agir como o adulto que é. – Elisabeta o acusou.

— Eu? Você me ignora como fazia quando tinha dez anos de idade, e eu que sou infantil? – Darcy irritou-se.

— Pronto, ai está sua discussão, está satisfeito agora? – ela fingiu um bocejo.

— Se havia uma coisa boa de morar em um alojamento com 30 pessoas, dormindo em um colchão que mais parecia um papelão, era não ter que lidar com você. – Darcy passou a mão pelos cabelos.

— Você é quem está provocando! – Elisabeta o acusou. – O que foi? Por que é que está tão incomodado comigo?

— Eu não estou incomodado com você. – Darcy elevou o tom de voz. – Só não gosto de ser ignorado.

— Parece que voltamos à adolescência, quando você agia feito um descontrolado toda vez que seu amigo Olegário falava comigo.

— Você quer dizer a época em que você discutia comigo três vezes por dia só porque aquela sua amiga ruiva não saia do meu pé? – Darcy a acusou.

— Eu não fazia isso. – Elisabeta revirou os olhos.

— Ah, você fazia sim. E fez o mesmo quando eu e Briana começamos a sair juntos.

— Você iludia as minhas amigas, Darcy. – Elisabeta o acusou. – Você queria que eu ficasse quieta?

— E Olegário iludia você. Do mesmo jeito que esse tal Edmundo está tentando fazer. – Darcy bufou.

—  Edmundo e eu saímos de vez em quando. Qual é o seu problema? – Elisabeta se aproximou dele. – Por que é que você não briga com Jane por namorar Camilo, arruma confusão com Brandão? Ou, tenho uma novidade pra você, Cecília está interessada em um rapaz. Você poderia incomodar minha irmã, ela está no jardim.

— Deixe de ser infantil, Elisabeta. Todas as suas irmãs são muito mais ajuizadas do que você. Tenho certeza que Cecília não vai se meter em nenhuma confusão. – Darcy respondeu como se fosse óbvio.

— Eu não estou em nenhuma confusão!

Nenhum dos dois percebeu que cada vez se aproximavam mais. Queriam falar cada vez mais alto, mas com tantas pessoas na casa precisavam manter o tom de voz. E por isso se aproximavam como forma de marcar suas palavras naquela discussão sem sentido. Elisabeta não percebeu que uma ponta do tapete estava caprichosamente dobrada, e quando deu um passo a frente, tropeçou no tecido.

Sua queda foi evitada pelos braços fortes de Darcy, que seguraram seus cotovelos antes que ela pudesse cair. O rosto dela ficou perigosamente perto do peito dele, onde os primeiros botões da camisa estavam abertos. Elisabeta ergueu o olhar, e foi a pior decisão que poderia tomar. Ao invés dos dois se afastarem, Darcy a ajudou a estabilizar, mas não foi capaz de soltar seus braços.

Mal notaram que o corpo todo de Darcy estava em contato com o dela. Seus olhos estavam em contato, e a necessidade de Darcy olhar para baixo, ao mesmo tempo em que ela olhava para cima, fazia com que estivessem com os rostos perigosamente perto. Elisabeta de repente percebeu que tinha uma das mãos espalmada no peito de Darcy, enquanto a outra segurava um de seus braços.

Ela engoliu em seco quando seus olhos procuraram a boca de Darcy. De repente era como se não fosse mais capaz de raciocinar. Ele mantinha um aperto firme em seus braços, e logo ela estava consciente da forma como o corpo dele aquecia o seu. Era intenso, e nenhum dos dois parecia capaz de se mover. Mas Darcy o fez, dando um passo para trás, fazendo com que o ar retornasse à seus pulmões.

— O que foi isso? – ela perguntou, em um sussurro, mais para si mesma do que para ele.

— Você quase caiu. – ele deu de ombros, fingindo uma indiferença que não sentia.

O que sentia era muito diferente. Um desejo avassalador, que não lembrava de ter sentido antes por mulher nenhuma, e certamente não por Elisabeta. Tão intenso que ele precisou se afastar para que ela não notasse os sinais que seu corpo começaria a mostrar. Sua boca estava seca e o coração acelerado.

— E precisava me segurar assim? – Elisabeta pareceu recobrar a consciência.

— Você preferia que eu deixasse você cair? – Darcy respirou fundo.

— Você me machucou. – ela disse, mas não era verdade.

Apenas sentia os braços formigando onde ele a tocara. Mas não havia dor. Era tudo, menos dor.

— É claro que não, eu só impedi que caísse. – Darcy balançou a cabeça.

— Acho que está bom por hoje, não é? Está satisfeito com a sua discussão? – Elisabeta perguntou, irônica.

— Chega, Elisa. – ele disse, irritado.

— Ótimo, então eu vou para casa, preciso trabalhar. – ela revirou os olhos.

— Ótimo. Eu também preciso ir para o bar daqui a pouco, se me dá licença.

Mas nenhum dos dois conseguiu parar de pensar naqueles momentos, naquele pouco tempo em que seus corpos estavam colados, em que a casa dos Williamson pareceu pequena demais, o dia pareceu quente demais. Não havia uma explicação lógica para aquilo, nenhum deles parecia capaz de entender o que tomara conta de seus corpos.

De repente, tudo o que Elisabeta conseguia pensar era na hora como Darcy a segurara, na firmeza de suas mãos, nos músculos que ela tocara por cima do tecido fino. E não estava acostumada a pensar em Darcy daquela forma. Ele era seu amigo, o conhecia de uma vida inteira, beiravam o ódio por metade dela. Não estava acostumada a pensar nos olhos azuis dele, na forma como a barba cobria seu rosto.

E Darcy não estava acostumado a pensar em Elisabeta com desejo. E agora seu corpo parecia ter vida própria cada vez que pensava nela, na forma pequena encaixada em seu corpo, a respiração acelerada. E tudo isso o levava a pensar nela de outras formas, a lembrar do beijo que ela trocara com Edmundo, e a desejar que fosse com ele. Seria possível?

Seria possível que Elisabeta visse todos os Williamson como seus irmãos, exceto por Darcy? E seria possível que ele nunca tivesse visto qualquer uma das Benedito como algo além de membros de sua família, exceto por Elisabeta? Sabiam apenas que naquela noite, tiveram sonhos vívidos e pecaminosos demais para compartilhar com outras pessoas.

E, no dia seguinte, quando cruzaram-se na rua, nenhum dos dois sequer tentou conversar. Mas algo havia mudado, e eles sabiam disso.


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