Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 2
Capítulo 2




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Os Williamson e os Benedito, desde muito antes de tantos filhos, criaram o hábito de fazer refeições em conjunto semanalmente. Eram como uma pequena família, que virou uma enorme família, e agora, com Darcy de volta depois de um ano, Veridiana e Archibald não poderiam estar mais felizes. Por isso, naquela noite em especial, havia tudo de bom e do melhor, mesmo com as pequenas dificuldades que duas famílias de classe baixa enfrentavam.

Como já era comum, os filhos se espalhavam pela grande sala dos Williamson. Quando crianças, quase todos ficavam confortáveis sentados no sofá. Hoje em dia era comum ver os meninos Williamson espalhados pelo chão, geralmente acompanhados de Elisabeta ou Mariana. Charlotte e Lídia, como as melhores amigas que eram, passavam muito tempo cochichando longe dos mais velhos.

Jane e Camilo tentavam ser discretos, mas não havia um só membro das duas famílias que não apostasse naquela união. E, quando o fracasso de Elisabeta e Darcy ficou claro, Veridiana e Ofélia depositaram todas as esperanças na relação de Jane e Camilo, que pareciam ansiosos para corresponder às expectativas e juntar oficialmente os Williamson e Benedito em uma só família.

Naquela noite também estavam presentes os mais famosos agregados, como Ema Cavalcante, uma moça rica que morava duas ruas acima. Era a melhor amiga de Elisabeta, desde que, aos dez anos, a mais velha dos Benedito ajudou Ema a salvar seu gato de estimação. Apesar da diferença financeira entre suas famílias, a amizade fez com que Elisabeta frequentasse aulas de piano, inglês e francês – presentes do avô de Ema, feliz por sua única neta finalmente se recuperar da tristeza de perder a mãe.

Mais recentemente, Ema e Ernesto ensaiavam um namorico. Elisabeta não conseguia parar de sorrir com a perspectiva do casal, mas os dois eram teimosos demais, e por isso ela optara por não pressioná-los. E isso a fazia lembrar de Darcy. Ele claramente já sabia sobre isso – e Elisabeta duvidava que Ernesto tivesse contado à Darcy. E certamente Ema não o faria. Camilo, em contrapartida, era romântico como Jane, e Elisabeta quase conseguia ouvi-lo compartilhando as notícias com Darcy.

O carrancudo Darcy. Não que ele fosse de fato carrancudo. Mas estava agindo assim com ela, desde aquela discussão, dias antes. E, como Elisabeta odiava admitir que estava errada, também não pedira desculpas à ele. Estava começando a ficar cansada dos comentários azedos, por isso aproveitou as conversas generalizadas para se aproximar de Darcy e puxar assunto.

— Parece delicioso. – Elisabeta disse, corando em seguida. – O assado, eu quero dizer.

— E o que mais seria? – Darcy abriu um sorriso malicioso, contente com o embaraço dela. – Você certamente não estaria falando de mim.

— Idiota. – Elisabeta revirou os olhos.

— Mas não seria a primeira a dizer isso. – ele piscou, e Elisabeta franziu o cenho.

— Você sabe que não deveria falar essas coisas na frente de uma dama, não sabe? – ela cruzou os braços.

— Ernesto fala coisas piores e você nunca se importou. – a expressão de Darcy se fechou.

— Soa diferente vindo de você. – Elisabeta deu de ombros.

— Ah, é? Por que? – foi a vez dele cruzar os braços.

— Porque eu sei que ele só está brincando. – Elisa desviou o olhar para Ernesto.

Darcy ficou alguns segundos em silêncio, tentando entender o que Elisabeta havia acabado de dizer.

— Sobre ser delicioso? – ele arriscou, confuso.

— O que? Não! – Elisabeta falou um pouco mais alto do que o normal. – Sobre ser experiente.

Darcy engoliu em seco, incapaz de entender como uma brincadeira havia parado em um assunto tão delicado.

— Ernesto é um falastrão. Você não. – Elisabeta deu de ombros de novo.

E então o observou. As diversas emoções que passaram pelo rosto de Darcy em questão de segundos. Até que um grande sorriso surgiu em seus lábios e uma risada ecoou em seus ouvidos.

— Céus, Elisa. Você não tem filtro nenhum. – Darcy passou a mão pelo rosto, levemente envergonhado.

— Foi você quem começou... – ela defendeu-se.

— Era uma brincadeira. Eu jamais falaria nada sobre... Meu Deus, Elisabeta. – Darcy riu novamente.

— Isso quer dizer que eu teria sido a primeira a dizer que você parece delicioso? – Elisabeta abriu um sorriso de gato, tentando retomar o controle daquela estranha conversa.

E pareceu funcionar, pois ao invés de responde-la, Darcy simplesmente passou por ela, ainda sorrindo. Mas, antes que ele pudesse se afastar mais, Elisabeta o chamou.

— Darcy? – ela disse, fazendo-o virar novamente.

— Sim? – ele perguntou, curioso.

— Me desculpe... – ela disse, e ele pareceu confuso. – Por aquele dia, eu não deveria ter dito nada daquilo.

— Tudo bem, Elisa. Já esqueci. – Darcy respondeu, com um sorriso tranquilo.

— Mesmo? – ela perguntou.

— Talvez você tenha razão, as vezes sou duro demais com meus irmãos. – ele deu de ombros. – Mas é apenas porque quero que eles tenham uma vida melhor. Tenho certeza que você entende.

Se fosse possível, Elisabeta cavaria um buraco naquele mesmo momento e sumiria daquele lugar. Apenas engoliu em seco, sem saber o que responder.

— Eu passei um ano longe de casa, e você tem toda razão, tudo continuou igual. Ainda assim, agora que eu estou aqui, quero ser um bom exemplo. – Darcy sorriu.

— Eles sentiram sua falta. – Elisabeta disse, rapidamente. – Todos nós sentimos sua falta.

— Eu não acreditaria nisso vindo da sua parte. – Darcy riu. – Mas obrigado por tentar me consolar.

— Ficou tudo muito pacífico na sua ausência. – Elisabeta deu um sorrisinho.

— Eu imagino. É mesmo muito difícil tirar Camilo do sério. Ainda sobraria Ernesto, mas eu nunca vi vocês dois brigarem. E brigar com suas próprias irmãs não teria graça. – Darcy deu uma piscadinha.

— Mas ela tentou. – Mariana surgiu por trás de Darcy, e logo encostou a cabeça no peito dele.

— Brigar com você? Impossível. – Darcy beijou o topo da cabeça de Mariana. – Mas eu ouvi dizer que você tem alguém pra me apresentar. – ele fingiu um tom sério.

— Não é nada demais. – Mariana revirou os olhos. – Ele é coronel no interior, você vai gostar dele.

Elisabeta observou os dois por mais alguns segundos. Mariana e Darcy eram melhores amigos, assim como ela e Ernesto. Mariana era cinco anos mais nova do que Darcy, e por causa disso, era sua grande protegida. Principalmente porque tinha o mesmo dom de Elisabeta para arrumar confusão. E Darcy sempre surgia como seu herói, resolvendo todos os seus problemas.

Mas, naquela noite, observando as famílias reunidas, Elisabeta admitiu para si mesma que era bom ter Darcy de volta. Era verdade que brigavam por quase qualquer coisa, e que ele a irritava mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Era arrogante, sarcástico e mandão. Mas era seu amigo mais antigo, fora seu companheiro para derrotar monstros e dragões, estivera a seu lado nas mais diversas jornadas, nas quais ela era princesa ou policial. Por isso, era bom ter Darcy de volta.

E, quando todos se despediram, e Darcy insistiu em acompanhar os Benedito até sua casa, mesmo que fosse apenas atravessar a rua, Elisabeta sorriu para si mesma, ficando para trás.

— Ei, Darcy? – ela o chamou, e Darcy, que estava quase do outro lado da rua, retornou até onde Elisabeta estava.

— Sim?

— Por que é que você insiste em nos trazer até aqui? – Elisabeta perguntou, curiosa.

Darcy olhou para os dois lados da rua, e depois deu um passo em direção a ela, como se para compartilhar um grande segredo. Não esperava que o perfume de Elisabeta chegasse à suas narinas com tanta força, assim como ela não esperava que a colônia dele cheirasse tão bem.

— Muitas coisas podem acontecer ao atravessar uma rua. – Darcy disse, e Elisabeta quase sentiu o sorriso dele.

Ele se afastou, tão rápido quanto se aproximou, e virou as costas, indo em direção à sua casa.

— Eu vou ficar aqui, então. Para ter certeza de que você vai chegar em casa. – Elisabeta disse.

— Você não me engana, está a espera de Ernesto. – Darcy disse, quando chegou ao outro lado da rua.

— Ernesto foi levar Ema em casa. – Elisabeta riu. – E como é que você sabe sobre eles?

— Camilo me contou. – Darcy deu de ombros, e então atravessou novamente a rua, em direção à Elisabeta. – Você não está incomodada?

— Com o que? – ela perguntou, confusa.

— Ernesto e Ema. – ele disse, como se fosse óbvio.

— Você sempre insistiu nisso. – Elisabeta bufou. – Eu já perdi as contas de quantas vezes disse que não sinto nada por Ernesto.

— Vocês sempre foram próximos. – Darcy fez uma careta. – Sempre me pareceu um caminho lógico.

— Ernesto é um menino. – Elisabeta riu.

— Vocês tem a mesma idade. – Darcy cruzou os braços.

— Apenas não. – ela balançou a cabeça.

— Não sei se acredito em você. – ele a encarou desconfiado.

— E, de qualquer jeito, por que é que você se importa?

E sem querer ouvir uma resposta, Elisabeta entrou em casa, enquanto Darcy ficou parado no mesmo lugar, pensando. Não sabia porque se importava. Nem se realmente se importava. Apenas sabia que ele, Elisabeta e Ernesto viviam grudados desde pequenos, e que em determinado momento ele parou de fazer parte daquelas brincadeiras. Mas, mesmo crescendo, Elisabeta e Ernesto permaneciam confidentes, melhores amigos.

Acreditava que quando voltasse para casa descobriria que estavam juntos, como sempre acreditou que aconteceria. Mas, surpreendentemente, Ernesto tinha outra pretendente, e Darcy não sabia o que fazer com a informação. E nem com as possibilidades que se abriam em sua mente.


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