Aquela Menina escrita por LenyCSM


Capítulo 1
Capítulo Único




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Lembro-me de uma rapariga. Ela era muito tímida e reservada. Adorava ficar no seu cantinho, a explorar as imagens dos livros que a acompanhavam. Acompanhavam-na sempre, pois era o seu refúgio, o único local onde não a incomodavam.

Naquele tempo, ainda era uma criança, de cabelos negros e olhos brilhantes – brilhantes de todas as vezes que folheava um novo livro -, com uns grandes óculos circulares e sempre encolhida, sempre no seu canto. Vivia com medo. Medo de todos os outros moleques que a rodeavam. As crianças conseguem ser bastante cruéis entre si… as pessoas são tão cruéis entre si ao longo das suas vidas…

Não aceitavam a sua aparência – os óculos, o cabelo preso em dois totós, a admiração pelo conhecimento, a calma – por isso ela se isolava. Por isso tinha medo. Por isso era solitária.

Puxavam-lhe a bainha dos vestidos, puxavam-lhe os cabelos, tiravam-lhe a sua companhia de capa e papel, faziam-lhe inúmeras atrocidades. Constantemente a incomodavam e discriminavam.

Porque a discriminavam?

A sua pele é tão clara… o corpo magrinho… Já sei! A sua fragilidade e sede de conhecimento! O simples facto de ser diferente. Fazia-lhes confusão.

Nunca tolerei quando lhe faziam tais coisas, por isso protegi-a. Protegia-a sempre que pude. Sempre respeitei o seu espaço. De certa forma, simpatizei-me com a sua singular e particular maneira de ser. Fiz tudo o que pude para lhe aliviar as infelizes situações a que a submetiam.

O seu nome? Nunca lho perguntei. Mantivemos uma relação silenciosa.

Foi então que terminou a creche e cada um de nós seguiu o seu caminho. Nunca mais a vi…

E agora reencontrei-a. Seis anos passados, os nossos destinos de novo de cruzam.

Pouco ou nada mudou nela. Continua com a mesma aparência que me era familiar. Os mesmos óculos, o mesmo penteado – apesar do cabelo mais comprido -, a mesma brancura, a mesma timidez, a mesma expressão medrosa... Nas mãos sempre um livro e… os mesmos importunos.

Ainda não respeitam os gostos, apesar de já crescidas as “crianças”. Repetir-se-á o ciclo. Mas com uma diferença: ficou para trás o silêncio e já sei o seu nome.


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