O Dragão Negro escrita por HAlm


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Parece que alguém já favoritou a história XD é bom que estão começando a gostar. Continuem lendo e comentem, pls. Quero comentários, opiniões.



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Por um momento, pensou que estivesse sonhando, mas então viu que toda aquela água que o envolvia era real. Uma esfera de água que o cobriu e o elevou do chão. Henry olhou ao redor para tentar descobrir quem fazia aquilo e viu que errara feio sobre o poder da Afrodite Assassina. Então era assim que ela matava os seus "escravos particulares" que não queria mais. Afogados, e não com algum tipo de veneno. Podia ser conhecida por aquele nome, mas esse era o seu maior poder, aquele que a radiação verdadeiramente havia lhe carregado por inteiro, até os ossos.

E ela não o queria mais como seu brinquedo. Pelo menos, era o que seu olhar orgulhoso e o sorriso sádico diziam, enquanto enchia a boca do garoto com mais litros d'água.

Henry gostaria de mover as pernas, mas algo o estava agarrando, impedindo que fugisse da esfera aquática. Dois pequenos portais estavam sob seus pés, e deles surgiram uma mão em cada, segurando-o. Olhou para a arquibancada, onde os líderes da Forja estavam. Seu par de olhos, submerso, via tudo turvo, como um borrão, mas não o suficiente para impedi-lo de enxergar. Ao lado de Karlag, Ken tinha seus braços erguidos à sua frente, mas que não tinham mãos — eles seguiam esticados, mas acabavam, bruscamente, em dois vórtices —, então Henry entendeu que era ele quem estava criando os portais, e que aquelas mãos que o mantinham preso eram as dele.

À sua frente, o borrão dourado, que entendeu como sendo Jay, vinha em sua direção calmamente. De fora da bolha, o som psicótico de seu riso era claro. Em seu braço direito, o brilho da lâmina que vinha atravessá-lo mais uma vez. A mente de Henry pedia socorro. Procurou por Dustin nas primeiras filas, onde disse que estaria, mas encontrou seu assento vazio.

Ele o havia abandonado. "Sim, eu sabia! Eu sabia que ele me trairia!". Mas, no fundo, ele ainda queria que aquilo não fosse verdade. Sua amizade... tudo. Uma mentira.

O que veio a seguir foi o medo. Visceral, em sua forma mais bruta e verdadeira, espalhando-se por todo seu corpo, tão rápido quanto a água que o invadia e o matava. E ele tinha certeza de que isso acontecia. Henry sabia que morreria algum dia, mas não achava que fosse ser nesse. Não tinha mais fôlego para ser segurado e, literalmente, sentia sua vida se esvaindo. Nenhum filme passou por sua cabeça — não houvera tempo para lembranças. Somente ele, a água, que gelava seus pulmões desesperados, e a única e maior certeza de sua vida: de que ela estava no fim.

Nenhuma lembrança. Exceto, talvez, por um sorriso.

Aos poucos, a certeza deu lugar ao conforto. Aos poucos, ele se permita aceitar. À distância, a visão de sua assassina tremulava sob a visão turva subaquática, até que seus olhos começaram a se fechar. Seu peito foi parando de procurar ar. E, dali em diante, só a imitação daquele sorriso e o desejo ardente — tanto quanto o afogamento era — de que ela estivesse bem, e que vivesse o resto de sua vida feliz, restaram. Mesmo que fosse para sempre sem ele. Mas estava tudo bem. Não havia mais o que temer.

Não havia mais pelo que se entristecer.

E dali, somente a escuridão restou.

Escuridão e paz.

A água o abraçou por completo, tanto que mal podia sentir seu corpo ou ouvir o que acontecia ao seu redor. Era como se flutuasse em seu próprio universo. As vozes, todas abafadas, gritavam, mas tão distantes que nem pareciam reais. Henry queria saber o que realmente estava acontecendo, ao mesmo tempo em que queria que tudo cessasse logo. Ele não sabia mais decifrar a realidade. Também não entendia o porquê de seu corpo começar a doer tanto. Era uma dor poderosa, que latejava em seus joelhos e subia pelo seu tronco até se encerrar na garganta, que, na verdade, era o que mais doía. Algo tão intenso quanto uma corrosão, que parecia o rasgar por dentro, então sair pela sua boca. A gritaria, por todos os lados, só aumentava. Ele realmente não sabia o que estava acontecendo.

Enfim, conseguiu abrir seus olhos, vendo que não estava mais dentro da esfera. Estava no chão, caído numa poça gigantesca de água misturada ao seu próprio vômito. Seus pulmões, mas principalmente sua garganta por inteiro, queimavam em brasas, e ele se ajoelhou enquanto tossia e vomitava mais e mais água. Quando sua consciência finalmente deu sinais de estar voltando ao normal, olhou para o alto do coliseu, vendo aquilo que não esperava.

Dustin, em sua forma de metal completa, estava sentado sobre Ken, esmurrando seu rosto até cansar. Depois foi na direção de Thalia, que já havia soltado Henry — sem querer, no momento em que se assustara pelo garoto ter aparecido ali, pulando sobre eles sem medo —, e a socou também, sem piedade. Ela, que protegera seu rosto, de nada adiantou quando a mão metálica veio e arrancou um de seus dentes perfeitos.

Nenhum dos prisioneiros da plateia, muito menos Henry, acreditava que aquilo realmente pudesse estar acontecendo. Os adoradores de Thalia se indignaram ao vê-la com sua boca sangrando, então olhando furiosa para o garoto e o xingando com todas as forças. Parte de sua beleza se quebrara ali, caída a alguns metros no chão.

"Então, ele é mesmo meu amigo?", Henry, mesmo ainda desorientado e nauseado, percebeu o quanto seu temor o havia enganado.

— Valeu, Dustin! — ele agradeceu, de coração, mais como um pedido de desculpas por ter desconfiado dele.

Lá do alto da arquibancada, Dustin olhou para ele, meneando sua cabeça e sorrindo.

— Disponha — ele respondeu, mesmo sabendo que não seria ouvido. Em seu peito, a felicidade por vê-lo vivo.

Porém, seu sorriso sumiu, à medida que Henry também desaparecia do centro do coliseu, antes que Karlag o atacasse. Não houve tempo para impedir. Não houve tempo para sequer entender. O portal apareceu, ao mesmo tempo em que Ken sumia da área especial na arquibancada, então levou Henry.

...

Era um portal se abrindo? Henry semicerrou seus olhos para vê-lo melhor. Acabou sendo uma péssima ideia, pois duas mãos vieram e o puxou. Ken o havia pegado facilmente e o fez cair por outro portal, feito no alto do céu.

Ken o deixou cair. Talvez não o matasse, mas seria o suficiente para nocauteá-lo.

— Então aqui está, o último dos Gransys. — falou, cercando o garoto com seus passos, então parando à sua frente, rindo de seus berros de dor. Assistia seu corpo se contorcer com intenso prazer.

— O que isso quer dizer? — Henry se esforçava para olhá-lo, erguendo sua cabeça do chão. Entre um gemido e outro, sua voz saía como um grasnado. A queda com certeza havia lhe quebrado algo.

Ken riu despreocupadamente. Era assustador encarar seu rosto por muito tempo; os hematomas frescos, inchados e pingando sangue; machucados feitos pelos socos de Dustin, inclusive seu olho esquerdo, que se tornara uma bola cega que pendia quase solta, maior do que a cavidade ocular poderia manter do lado interno de seu crânio.

— Agora? — ele riu de novo psicoticamente. — Apenas temos que te matar antes que eles descubram quem você é.

— O que tem de mais em saberem que sou um Gransys?

O sorriso do membro do triunvirato sumiu no momento em que, inesperadamente, resolveu apanhar Henry pela gola do uniforme e o levou até a beirada do abismo, deixando-o de costas à queda e seus pés sem terem onde pisar.

Somente, então, ele notou onde estava. Ken o havia levado por seus portais até o alto do coliseu. Lá em baixo, Henry podia ver Karlag atacando Dustin. Acima de sua cabeça estava a primeira coisa que ele almejava olhar assim que estivesse livre: o céu. Imenso. Infinito. Bem maior do que a abertura do coliseu lhe permitia ver. Realmente toda a beleza que ele esperava encontrar. Porém, Ken havia conseguido tirar de Henry toda a felicidade que ele, provavelmente, fosse sentir ao, enfim, vê-lo, pois era justamente da beira da morte que ele o via.

Até mesmo isso eles conseguiram tirar dele. Sua raiva rugia, dizia que eles tinham que pagar.

Ken, sem demonstrar emoção alguma, soltou a gola de sua camisa de presidiário.

— Adeus, Henry!

— E eu digo o mesmo! — ele disse, sentindo seu corpo pairar em pleno ar, mas não caindo sem antes agarrar os ombros daquele que queria matá-lo, então apoiar seus pés no parapeito e puxá-lo com força, quebrando o concreto que o assegurava.

Os pedaços caíram na arquibancada e os prisioneiros saíram correndo do caminho para se protegerem. Pelo menos aqueles que conseguiram fugir. O restante foi esmagado, e poças de sangue marcaram a arquibancada limpa. Um coro de gritaria se instalou por todos os lados, no ar abaixo dos dois corpos que caíam em direção ao chão. Uma queda rápida, mortal.

Ken era esperto. Ele sabia disso, sabia que ambos morreriam se ele não fizesse nada. Mas não queria morrer junto daquele inseto, e sabia que esse era exatamente o planejado.

Então ele o fez.

Mesmo que isso não significasse a morte de Henry, que ainda estava agarrado a si, ele criou um portal momentos antes da queda terminar, então outro no chão. Poderia tudo ter terminado como Ken esperava, se não fosse Dustin o esperando ali junto de seu punho de ferro, que socou sua cabeça assim que os dois saíram por ele.

Assim como Henry na biblioteca, o membro do triunvirato caiu no chão com sua cabeça aberta.

"Pelo menos um já era", Henry pensou, mas então olhou para frente, vendo a mão de Karlag quase alcançando Dustin.

— Dustin! Cuidado! — gritou Henry, ao pular entre ele e sua luta.

Foi quando ele descobriu que aquele braço não era uma prótese, mas sim, revelou ter o poder de transformar suas partes nas de um canhão que disparavam ondas de energia enormes. Ele disparou um feixe de energia que cegou a todos ao seu redor, por toda a extensão da arquibancada. Ninguém, além deles, tinha que ver aquela luta. Aquilo era só entre eles e os rebeldes insolentes. Ficaram desnorteados, correndo feito ratos cegos; e Henry temia, agora, que apenas ele e Dustin podiam encarar os Três, enquanto Karlag escapava rindo. Inclusive os Três pareciam indignados ao verem-no saindo, obrigando-os a darem conta daquilo sozinhos.

Logo, as consequências da cegueira apareceram. Quando os presos, num ato de puro desespero, começaram a disparar seus poderes para todos os lados —, arrancando pedaços imensos de concreto ou atingindo a si mesmos —, então um banho de sangue e carnificina cobriu os degraus da arquibancada, dando início também às chamas que ardiam ao redor dos lutadores na arena.

Rapidamente, o coliseu desmoronava.

— Jay, escute! — Thalia sussurrou, alisando o inchaço em seu rosto, ainda atordoada pelo soco que recebera. — Tenho um plano para você derrotar Henry, mas o garoto de ferro é meu. — E entregou um pequeno cilindro roxo-metálico, discretamente, nas mãos do Áureo.

Ele sabia muito bem para que aquela injeção servia. Sorriu.

— Está bem — falou, esfregando os olhos cobertos de terra em movimentos rápidos, mas, quando sua visão voltou, ele apenas enxergou algo prateado acertando sua cara.

Dustin sempre gostou de nomear seus golpes para caso alguém escrevesse sobre ele, algum dia. Nomeou aquele soco metálico de "Heavy Metal", em homenagem ao seu estilo musical preferido e também, obviamente, ao fato de sua mão, literalmente, ser feita de ferro. O golpe direto na face de Jay o fez cambalear para trás, para longe de Thalia e do corpo caído de Ken, fazendo também a seringa voar de sua mão. Agora era Dustin quem estava sorrindo, pulando sobre ele e o socando, assim como fez com o outro.

Ao se ver sozinha, Thalia começou a correr do coliseu, fugindo para a prisão.

— Deixe que eu cuide desse cara. Vá atrás dela! — gritou Dustin para Henry.

Henry quis voltar a si quando ouviu a voz dele, mas só o que conseguia prestar atenção era na cacofonia de berros desesperados de milhares de pessoas cegas ou massacradas de um segundo para outro; e seus berros de sofrimento adentravam sua alma com a mesma violência que aquela luta, com a mesma força que tinha sua vontade de se vingar, e isso o fez não ver mais absolutamente nada.

Thalia saiu, deixando para trás somente um rastro de água pelo chão, marcando uma trilha. Era óbvio que o queria atrás dela.

— Henry, vá atrás de Thalia! Agora! — Dustin não entendia o motivo dele ainda estar parado.

O garoto finalmente voltou à realidade. Mas sabia que aqueles berros já faziam parte dele, para sempre aprisionados junto de seus outros tantos traumas.

— Sim! — ele disse, firmando seus olhos em Dustin e apenas nele, balançando sua cabeça. Porém, não era estabilidade que Dustin encontrava ali, naquele corpo estremecido. — Eu já vou, mas antes preciso que você comande os prisioneiros para fora. Liberte todos!

— Mas... — O Titã de Ferro engoliu em seco. Não sabia o que falar como resposta. — Eu não sou... um herói.

"Não é um herói?".

— Não é um herói? — Henry realmente queria entender o que aquilo significava para si. Realmente tentou, mesmo enquanto todas as partes de seu interior gritavam loucamente. Pensou no que o velho Gaemon o falaria nesse tipo de situação, mas nada veio. Olhou ao seu redor, para a arena em ruínas, e então suspirou: — Vivemos em um mundo em que você deve escolher rápido o que deseja ou em quem confiar. Eu aprendi isso da pior maneira. Muita gente morreu antes de eu saber quem eram meus verdadeiros inimigos, mas agora você também já sabe que deverá viver fugindo sempre, mesmo quando estivermos lá fora, certo? Todos sempre vão nos querer mortos, mas, mesmo assim, ainda é melhor do que continuar aqui, mas agora ! Não ser um herói com grandes características ou habilidades não o impede de fazer o bem ou lutar contra o mal.

"Afinal, não existem heróis perfeitos. A liberdade é uma utopia".

Quando terminou de falar, ele respirou fundo. Não sabia de onde havia tirado aquilo, mas, a partir do momento que saíra de sua boca, ele sabia que era verdade. Não era uma questão de ser ou não herói para poder libertar a todos, aquilo tinha que ser feito por qualquer um — condenado a ter a mesma vida derradeira que os outros presos ou não, eternamente julgados pela sociedade —, e era o que todos ali tinham em comum, inclusive Dustin.

Henry apenas recebeu um sim com a cabeça do garoto, como resposta. Parecia um pouco mais motivado, menos temeroso, e Henry se virou e correu atrás de sua oponente. Enquanto corria, seguindo a trilha molhada no chão, ele tinha certeza de aquilo era uma armadilha, mas sabia que só quando todos os líderes tivessem sido derrotados, a prisão poderia ser tomada e todos poderiam, finalmente, fugir. Ou seja, sendo uma armadilha ou não, ele tinha que seguir aquela trilha. Tudo estava em suas mãos e nas de Dustin, os únicos não cegos.

Os pisos eram brancos por baixo de toda a sujeira daquela ala da prisão — até então, desconhecida por ele —, e, cada vez mais que avançava, Henry via que o corredor ficava mais e mais escuro. As luzes piscavam, e ele teve ciência de que haviam sido as caixas de força que se danificaram quando vira uma pingando, completamente encharcada. Henry estava perto.

Continuou correndo, até que seus olhos mal conseguiam acompanhar e sucumbiam à falta de luz, e ele não sabia mais para onde estava indo. Ele podia ouvir som de água se espalhando — passos. Seguiu-os, guiando-se pelas paredes, engolindo em seco.

Lá estava. Uma única luz acesa, iluminando uma porta fechada. Henry passou por ela sem sequer ver se haviam armadilhas ali, ele já não se importava mais — queria dar fim nisso. Empurrou a porta do lugar mais limpo que já vira, talvez, em sua vida; então seu coração, subitamente acelerado, o alertou de que ele estava num lugar que jamais estaria se não fosse agora: era uma espécie de Olimpo, para os antigos deuses gregos; um lugar onde somente os mais importantes de toda a Forja do Dragão tinham autorização para entrar.

Aquele era o cume da montanha.

Com certeza o lugar mais assustadoramente belo de toda a prisão, também o teto mais alto de todos, revelando os rochedos apontados para o Oasis abaixo. Era impossível não querer olhar para cima antes de contemplar o restante do lugar amplo e extremamente confortável — muito contrário do que havia do lado de fora. Nos cantos, estátuas no formato de homens gigantescos decoravam o ambiente de forma sombria e imponente, junto de vários outros artefatos que Henry não tinha como saber o que eram, mas que lhe transmitiam a mesma sensação de estar num lugar proibido, feito para os torturadores, não para os torturados — feito para os chefes —; já a iluminação roxa era a luxúria, presente ali e em cada curva do corpo daquela mulher; e, por fim, no centro havia uma fonte de mármore branca de vários andares.

Depois de tantos anos preso ali, olhar para aquela água cristalina era como olhar para algo que tanto desejava, mas que parecia ter sido esquecido em outra vida. A mulher seminua, despejando água de seu jarro no alto da fonte, nem sequer, se comparava com a beleza daquela que estava ali, esperando especialmente por ele.

Thalia deu um passo à frente, revelando-se da escuridão. Mais uma vez o coração de Henry o dizia que estava em perigo.

— Então você seguiu as minhas pistas, meu pequeno escravo? — disse a voz feminina, sussurrante e sedutora de Thalia, com um sorriso malicioso no rosto moreno.

Thalia estava nua, com o corpo somente enrolado numa toalha e as roupas jogadas pelos cantos, como se não se importasse mais com elas.

— Isso é uma armadilha — ele disse, convicto. Olhou para a fonte à sua frente, onde a água escorria de andar para andar, suavemente, o que era um absurdo, comparado ao caos e desespero porta afora. Henry podia ouvir claramente o tiroteio que se iniciara. Como se não bastasse, do próprio corpo da mulher também emanava um vapor quente, que envolvia Henry e o enchia de desejo. — Me trouxe para o lugar que mais tem água aqui, só pra usar seus poderes contra mim. — Ele riu. — Mas deixa eu te contar um segredo: dentro da minha cabeça, existem mais demônios do que aqui fora. — Ele ergueu sua camisa, para a surpresa e prazer da assassina, mas logo viu as inúmeras cicatrizes que cobriam toda a extensão de sua pele. Todas as vezes que fora mutilado, todas as experiências científicas e cada dia como prisioneiro da Forja estavam marcados ali, coisas que a regeneração não conseguia curar, e isso enojou Thalia até a alma. — Além disso, em mim também residem traumas demais para que qualquer encanto seu tenha efeito sobre mim.

A mulher olhou nos olhos daquele que agora temia e não viu nada parecido com o que costumava ver naqueles que a observavam como sua maior tentação — pelo contrário, ali só existiam trevas e ela soube que ele queria a sua morte. Engoliu em seco.

O fato de Thalia tê-lo trazido até ali somente para descobrir que ela não conseguia chamar sua atenção assim como fazia com outros — e que, ao invés de olhos vidrados, o que ela tinha era um par de olhos vazios — significava que ela havia arquitetado seu próprio assassinato.

Mesmo assim, ela se permitiu sorrir, pois sabia muito bem o que havia no interior de cada homem. Não importava o quanto de verdade existia na fala dele. E estava certa no que estava prestes a fazer.

Henry não disse nada, não conseguiria mesmo dizer nenhuma palavra, após Thalia permitir que a toalha caísse ao redor de seus pés, revelando por inteiro seu corpo nu, sorrindo, seus olhos ardendo em chamas de luxúria e perversão. Sua pele bronzeada brilhava intensamente, até mesmo onde Henry não deveria estar olhando.

Então, assim era uma deusa...

O que antes era uma fera sangrenta, agora era um homem como qualquer outro. Ela os conhecia muito bem.

— Sim... — disse, com uma voz doce e irresistível. — Você é um lindo garoto, Henry. Posso deixá-lo vivo se impedir a rebelião. Podemos viver juntos, você e eu... É o que você quer, não é?

Henry ainda não acreditava que a estava vendo nua. Mais do que isso, sentia seu poder invadir suas trevas, e então o aprisionar dentro de si mesmo. Sentia que não podia se mexer, mesmo se quisesse.

— Sim, senhora — ele disse, sem querer realmente, enquanto seu peito queimava.

A Afrodite Assassina aproximou seu corpo ao dele, enrolando seus braços ao redor de seu pescoço. O fôlego do garoto desapareceu, sentindo seus seios colados a si.

— "Senhora"? — perguntou, num tom meio irônico e brincalhão. — "Senhorita", por gentileza.

— S-sim, senhorita. — Mais uma vez aquela não era a resposta que queria dar, mas sua vontade de se aproximar e tocar-lhe os lábios com os seus era uma tentação ainda maior.

"O que está acontecendo comigo?! Meus demônios... eles estão queimando! A prisão... todos que dependem de mim...", mas ele a queria, mesmo que soubesse que tudo não passava de um truque.

Naquele momento, ele respirava o mesmo ar que ela. Isso o excitava até os ossos.

"Não!", ele pensou, respirando entre seus dentes trincados. "Todos nós seremos livres. Eu preciso ter certeza de que ela está bem!".

"Todos os traumas, todas as experiências... tudo! Cada dragão branco tem que pagar.".

— Você vai parar a rebelião? — Thalia perguntou com sua voz de sereia, achando que ele estivesse sob o comando de sua beleza.

— Não! — respondeu, autoritário. "Meu peito está queimando... A prisão, todos que dependem de mim... Todos os dragões brancos têm que morrer!".

Um lampejo de surpresa passou pelos olhos da mulher, antes que eles fossem apagados imediatamente, voltando a forçarem sensualidade.

— Hum... — disse pensativa. Enquanto tocava-lhe o rosto com uma mão, a outra subia por dentro da camisa, tentando, de alguma forma, chamar totalmente sua atenção. — A beleza e o amor são uma das mais poderosas armas, sabia? Não acho que você deva resistir a nenhum dos dois. Também duvido muito que consiga. Vamos. Eu sei o quanto quer, sei o quanto o seu interior está dizendo o contrário.

Por mais que soubesse que podia receber qualquer resposta, a Afrodite Assassina não esperava que fosse um par de mãos pressionando seus braços com força, então a afastando.

— Eu posso dizer a você com toda a certeza do mundo que sim, sua idiota! — Henry gritou.

— O quê? — perguntou indignada, soltando-se e se afastando ainda mais.

Os olhos dele se decaíram, então voltaram a ela com certeza. Mais uma vez, a Afrodite Assassina podia ver o que temia nele.

— Tem uma garota... Ela invade todos os meus sonhos, principalmente os ruins, e a sua beleza, em todos os sentidos, me faz ter vontade de fugir daqui. Não sei se ela está me esperando lá fora. Talvez até já esteja morta, mas tudo em mim diz que não, e a única coisa que eu mais quero é ficar perto dela!

Henry arfava quando terminara de falar. Thalia estava brava. Parecia brava, mas fez o máximo para esconder e se jogou sobre Henry, para sua surpresa, beijando-o demoradamente.

Enquanto sua língua estava dentro da boca do garoto, ela mandava água para dentro dele. Era a forma que usava para matar as pessoas — sua jogada final. Usando de seu poder sedutor ao máximo, expurgando as trevas que pareciam estar fixas ao coração do garoto, seu golpe, enfim, obtinha resultado.

Rapidamente, os olhos dele iam revirando.

Henry se mexia o máximo que conseguia, mas não conseguia se soltar. Os braços da garota o envolviam e sua magia era forte demais, o envolvendo por completo. Aos poucos, Thalia ia revelando seu verdadeiro eu, à medida que o via morrendo. Sádica. Cruel. Infernal.

Não parecia mais haver uma saída. Exceto, talvez...

De certa forma, Henry acertou na teoria de que ela tinha um beijo venenoso. Gostaria de ficar ali, mesmo sabendo que aquele não era um beijo de verdade. Era como se um rio inteiro estivesse correndo para dentro de sua boca, e que iria estourar seus órgãos a qualquer momento.

Nenhuma saída. Exceto, talvez, por um sorriso.

Thalia continuava a beijá-lo, até que parou. Afastou-se alguns centímetros, o suficiente, apenas, para que conseguisse olhar Henry nos olhos, com uma expressão de pânico e dor intensa. Estava paralisada, mas, involuntariamente, seu corpo tremia como se um terremoto a abalasse toda — seus músculos se contraíam fortemente, e seu coração batia tão acelerado que parecia querer explodir. Ainda o olhava extremamente assustada e confusa sem saber o que fazer para impedir aquela sensação, mas Henry a puxou de volta para si, voltando a beijá-la à força. Um brilho azul esbranquiçado passou a iluminar ambos, espalhando-se por toda a sala, tão poderoso e claro que facilmente podia cegá-los. E havia mesmo, mas não literalmente.

Henry a estava eletrocutando. Seu poder de água agora só servia para prejudicá-la.

O que estava matando Henry era o que estava matando ela.

Sua língua era o plugue de uma tomada, pronto para mandar infinita eletricidade para dentro de si. Mais e mais ela tremia, até o momento em que somente o branco era visto em seus olhos revirados. Fumaça escapava de sua pele, que começava a carbonizar — onde isso acontecia, o cheiro de carne queimada podia ser sentido. Assim como seu cabelo que, em várias partes, expeliam pequenas labaredas coloridas.

Mesmo assim, Henry não queria parar, pois estava cego. Não pelo brilho de seus raios, mas pela ira que o dominara.

Henry...

Ele queria todos os dragões brancos mortos, um por vez. Queria a vingança por tudo que haviam passado, as humilhações e experiências que lhe concederam poderes que realmente não queriam ter. Vingança por cada jovem ou criança tirados de suas casas para serem mortos, pois aquilo não era viver.

Vingança por cada trauma que fora enraizado dentro de si. Urrava de raiva.

Henry...

Naquele momento os braços, pernas e partes do rosto ao redor da boca de Thalia já estavam pretos. Mesmo assim, Henry não queria parar.

Chamas e brasas começaram a nascer da mulher, que chorava.

Henry! Porra, para com isso, já chega!

Essa voz... Quis saber de onde vinha essa voz, mas nada o fazia parar. Jogou o corpo desmaiado para longe, que bateu contra a parede e caiu no chão num baque assustador. Ele não se importava mais. De suas mãos raios brotavam, brilhando intensamente, dançando ao redor delas até chegar aos cotovelos, aumentando sem controle até tomar a aparência de dois grandes faróis azuis.

Henry queria todos mortos. Aproximava-se dela, justamente, para terminar o que havia começado. Cada passo elevando mais seu desejo. Seus olhos faiscavam eletricidade, seu peito nem sequer respirava.

— HENRY! POR FAVOR, ME ESCUTA!

"Aren?".

— Aren? — O brilho azulado sumiu de seus olhos, assim como os raios ao redor de seus braços. Mas quem ele viu ali não era Aren, e sim uma jovem garota. Alta, magra e assustada. Talvez não passasse dos dezoito anos. Olhava para cima, então Henry olhou também, enfim, percebendo que o motivo do seu medo era que a Forja do Dragão por completo estava se desfazendo.

Rochas colossais despencavam, até mesmo ali, no Hall dos Campeões.

Porém, ao invés de fugir, a única coisa que Henry conseguia pensar em fazer era vomitar toda aquela água, fazendo isso no chão ao lado do corpo que carbonizara. De joelhos, ele olhou para Thalia. Seus membros negros e cabelos derretidos, olhos e ouvidos sangrando. Aquela que era a mulher mais linda de toda a Forja; agora, por sua causa, estava desse jeito. Sentiu culpa e muito medo de si mesmo. Até ver que, lentamente — muito lentamente — a pele dela ia se recompondo, deixando de ser uma crosta. E isso fez seu fôlego sumir.

Thalia estava viva. Mais do que isso: também tinha o poder de regeneração. Demoraria muito mais do que Henry para se recuperar, mas era certeza de que iria querer se vingar por isso.

Henry se levantou, ainda encarando a Afrodite Assassina, demorando-se ali. Podia sentir o poder dela voltando a emanar de si, e ele implorava para que a matasse. Uma ínfima luz nasceu da ponta de seu dedo pronta para isso, mas o nome "Gaemon" surgiu em sua mente, e então ele a apagou.

Não iria se tornar um deles.

A menina gritou mais uma vez, então Henry correu para junto dela, abandonando a segunda mais importante integrante do triunvirato para trás, queimada viva, entre rochas do teto que caíam.

A neblina dissipou e as águas pararam. Ele havia vencido.

...

Dustin ainda lutava contra o homem de ouro. Seus socos eram disparados com tanta força e velocidade que a arquibancada estava sendo despedaçada por seus corpos que iam de encontro a ela. Em um desses momentos, o soco do Titã de Ferro jogou Jay e o fez atravessar o telão de LED na lateral esquerda do coliseu.

Pelo visto, o nome de Henry não apareceria no ranking, de qualquer jeito.

A menina que salvara Henry, justamente por Dustin estar ocupado, agora era quem guiava os prisioneiros pela passagem lateral, que era uma saída de emergência para os corredores das celas, na parte mais profunda daquela caverna; e conduzia a todos tentando desviar das pedras e do fogo, que despencavam ou cresciam na direção de todos. Correr era o que existia, apenas, na mente daqueles condenados. A menina corajosa pedia para que um ajudasse aos outros, principalmente aqueles que teriam dificuldades em andar ali por conta própria, e tudo parecia estar tomando controle.

Mas Henry havia desaparecido na confusão. Ela teve que voltar.

Passou novamente pelo coliseu, onde a luta entre os dois homens, de ferro e de ouro, ainda acontecia; então chegou à outra ala, encontrando mais presos para guiar. Derrubavam guardas pelo caminho, pegavam seus escudos e armas e investiam contra mais soldados armados do Dragão Branco. Era como uma guerra. Algumas crianças tinham medo dos tiros e os mais velhos as protegiam, garotos e garotas ajudando uns aos outros, como deveria ser e, no final, todo mundo, principalmente os mais novos, que aparentemente não tinham mais que catorze anos, chegaram à mesma passagem lateral indo em direção ao portão.

Assim como da primeira vez, quando acabou de guiar os presos a menina voltou para encontrar Henry, deixando-os esperando diante do portão fechado.

Sair dali, aos poucos, deixava de parecer apenas um sonho. Alguns, até mesmo, se permitiam sorrir.

Porém...

— Abaixem-se! — gritou um rapaz. Então outros presos começaram a atirar.

Mas de nada adiantou.

...

Henry, finalmente, saiu do banheiro e colocou novamente a camisa, após ter aliviado todo o seu estômago da água que estava lá dentro. Ele pôde senti-lo diminuir de tamanho voltando, enfim. ao normal. Viu no corredor mais próximo uma fila de garotos e garotas correndo, se separando pelos corredores após terem invadido o horrível depósito de armas. Não importava o cheiro delas, ainda serviam e Henry correu para ir com eles.

— Ei! Quem é você? — perguntou um prisioneiro. — Quem é você de verdade?

— Meu nome? — Henry olhou para os rostos de todos os jovens ali, se armando, e viu na parte interna de seus olhos o que entendeu como sendo medo. Medo dele. Ele não os culpava. Depois de tudo o que acontecera por sua causa até estar ali, ele também sentiria o mesmo. Encheu seu peito de ar para o que iria fazer: — Henry D. Gransys. Meu nome é HENRY D. GRANSYS! — gritou.

Finalmente.

A expressão de espanto dos garotos e garotas ali não o impressionou, mas foram as lágrimas que vieram a seguir, caindo como chuva, que foi algo que Henry não esperava. Todas as vezes que se imaginava revelando sua identidade, em nenhuma delas o choro era uma reação, sequer, plausível. Era bizarro pensar que, ao se apresentar, alguém começaria a chorar, ainda mais tantas pessoas juntas.

Foi nesse momento que ele se sentiu um idiota. Apesar de já saber quem era seu verdadeiro inimigo, agora ele entendia a grandeza na frase "Não são os presos quem você deve temer".

O tempo todo Henry estava cercado de semelhantes, mas ignorava.

— Você... Você é um Gransys? — perguntou o mesmo garoto, aos prantos, mas suas lágrimas revelaram-se ser nada mais que de felicidade. — Ouvi dizer muito sobre vocês, os Gransys. Uma grande família, com importante atuação na política, que trabalhava pela liberdade dos que ainda viviam em escravidão. Eu sempre pensei que fosse uma lenda, mas o tempo todo você estava aqui pra nos ajudar.

Quando terminou de falar, todos os presos sorriram. Henry engoliu em seco, decidindo que era melhor esconder deles a verdade — de que, desde antes de sua chegada ali, os temiam mortalmente.

Mesmo que admitisse, tinha certeza de que ainda assim não o odiariam. Ele podia ver isso em seus rostos esperançosos, ansiosos por uma salvação, que precisava vir dele.

— Onde estão os outros membros da sua família? — disse um garoto loiro, segurando uma espingarda de cano cerrado, calibre 12. Todas as armas naquela sala eram igualmente consideradas "pré-históricas", vindas da época em que o mundo ainda era mundo. — Quero agradecê-los pelo que fizeram em Aldebaran. Foram eles que ajudaram o povo da minha terra natal a sobreviver.

Os olhos de Gransys se decaíram. Sua garganta, de repente, secou.

— Isso é impossível. Eles estão... — Ele não precisou terminar. Logo, mais daquela pequena plateia recomeçava a chorar, agora por causa daquela notícia.

"Como eles podem ficar tristes por pessoas que, nem sequer, conheceram pra valer?", ele se perguntava, imaginando o que seus pais poderiam ter feito por cada um ali.

Além de entender que era igual a eles, agora Henry também sabia o motivo de estar ali. Ele iria fazer jus ao nome Gransys. A verdade que Gaemon sempre quisera que soubesse, mas ignorava.

— Obrigado, velho — sussurrou, com uma lágrima descendo de seu próprio olho.

...

Ao verem Gransys correndo junto a todos, os presos nos corredores abriam espaço para que ele passasse. Para que ele os liderassem. Então o seguiam com suas armas nas mãos.

Pelo caminho ele reencontrou a mesma garota que o salvara de si mesmo.

— Henry! E agora? — ela perguntou, parecendo se segurar para não vomitar por causa do fedor da arma que tinha em suas mãos.

— Vamos ao portão! O garoto com quem falei agora há pouco vai para a sala de comando. Vamos nos encontrar lá fora, onde estaremos livres.

Ambos pareciam felizes, mesmo respirando o mau cheiro.

Dustin apareceu onde Henry estava mandando um Jay desacordado para longe, arrebentando algumas paredes e arrancando um urro de surpresa das pessoas; mas continuaram correndo para o portão, onde deveriam esperar que os rebeldes o abrissem, mas... Isso já era para ter acontecido, na presença de Henry ou não. A sirene os alertariam de que isso tinha acontecido.

Porém, nada. Algo estava errado.

— Eles não deveriam atrasar, deveriam? — perguntou a garota para Henry, arfando, cansada de tanto correr. Ela ficou constrangida ao estar do lado dele sem ao menos falar seu nome. Enrubesceu, deu uma leve tossida e tirou o capacete, mostrando os cabelos castanho-claros. — Prazer, Erika.

— Henry D. Gransys — falou sem mais temer. — Foram só alguns minutos, tenho certeza que tudo está bem. — Assegurou-lhe, apesar de só estar dizendo isso por não querer fazê-la ter medo.

— Mesmo? É melhor que você vá ver o que aconteceu. Eles devem estar precisando da sua ajuda.

— Você... quer dizer, vocês não precisam da minha ajuda?

Erika sorriu, olhando para Gransys.

— Conseguimos nos virar — ela disse, engatilhando seu rifle de precisão parando de correr, bruscamente, subindo em restos de metal retorcido caídos do teto e se deitando ali, esperando qualquer um de uniforme branco passar pelo corredor. — Eu não sou só uma garota, como você deve estar pensando. Apesar da radiação não ter tido efeitos positivos sobre mim, isso só me ajudou a ver armas de fogo como amigas melhores ainda.

Assim como ela, vários outros jovens também pararam ali, apontando suas armas já prontas para matar, enquanto o restante continuou a correr para se juntar àqueles que já estavam no portão.

Entretanto, ninguém imaginava o que encontrariam lá.

...

Henry nunca tinha ido para a sala de comando.

Independentemente se tivesse sorte ou azar, sabia que encontraria Karlag, mas era um preço a ser pago. No mundo lá fora sabia que ainda teria muito mais a ser enfrentado. As paredes ali eram mais estreitas, porém igualmente feitas das rochas da caverna com estalactites no teto, apontando mortalmente para si. Algo, obviamente, proposital, para intimidá-lo.

Isso o fez ter lembranças que não queria realmente ter.

"Liberdade", pensou Henry consigo mesmo, encarando a gigante porta de metal impenetrável, já imaginando o que iria encontrar quando a atravessasse.

— Liberdade é uma...

— Eu vou com você — disse uma voz às suas costas.

Gransys se virou, vendo Dustin parado ali. A luta com Jay o havia deixado ofegante e cheio de hematomas, mas em seus olhos ainda havia determinação.

Mais do que isso...

Em seus lábios, seu familiar sorriso malicioso, quase o de uma serpente, estava novamente presente.

Henry retribuiu o sorriso, meneando a cabeça; então empurrou a porta.

...

Dedos ossudos e enrugados percorriam suavemente as lombadas dos livros nas estantes, acariciando-os. Tanto tempo guardados ali — tanto os livros, como também o homem — era natural que sua relação fosse estreita, especial. Aquelas seriam as últimas pessoas que ele veria, e nada poderia deixá-lo mais feliz.

O velho Gaemon sorria, mostrando sua escassez de dentes para ninguém. Sabia que o fogo que queimava toda a Forja logo chegaria ali, mas ele não se importava.

Por isso, despedia-se.

Nada poderia deixá-lo mais feliz do que ver a todos, enfim, livres...

Nada.

...

Henry e Dustin estavam convencidos de que a devastação que se iniciara no coliseu havia alcançado até mesmo ali. Pouco tempo após nadarem sobre um chão deformado e passarem pelas paredes de minérios e estalactites mortais que, a qualquer queda, mataria alguém, eles enfim argaram ao seu destino final. Grande parte das plataformas, que se emaranhavam pelo coração da Forja, estava destruída, o que os obrigara a escalarem imensos pedaços de metal retorcido, até darem de cara com outra porta de ferro. Porém, essa estava aberta e, do outro lado, um grupo de jovens caídos assustou os dois. Muitos deles se encontravam desmaiados, outros agonizavam sem conseguir se mover.

— Não vá... Ele é forte demais — disse um dos meninos caídos, que segurou o pé de Henry. O coração em seu peito teve um sobressalto, e ver nos olhos dele toda a dor tirou de si seu fôlego. Ele sabia de quem o preso estava falando.

Foi naquele momento que Gransys percebeu que Dustin seria um líder muito melhor que ele... pois, ao ver a cena, o Titã de Ferro se abaixou, acolhendo o jovem em seus braços.

— Não se preocupe conosco, somos mais fortes do que você pensa — falou Dustin, sorrindo com ternura e tranquilidade. — Agora descanse. Você já fez o suficiente. — O jovem sorriu de volta, então fechou seus olhos, esperando que tudo realmente terminasse bem, se embalando num sono profundo.

Henry simplesmente abaixou sua cabeça, preocupado, e respirando fundo.

A sala de comando era um lugar amplo e gelado. Um labirinto de processadores do tamanho de casas, com um único corredor central, que levava direto à mesa que controlava, absolutamente, tudo. Cada centímetro da Forja do Dragão só existia por causa daquele lugar, o responsável por manterem-lhes presos.

Sobre o painel de controle, todos os botões se iluminavam numa cor diferente. E somente um — o maior, de um tom de vermelho alarmante e protegido por uma pequena caixa de acrílico transparente — estava sem brilho...

Ainda.

Atrás da mesa uma enorme cadeira virada os esperava pacientemente. Ambos sabiam quem estava sentado ali, mesmo que não o vissem. Entraram na sala já sabendo disso, temendo. O punho de Henry começou a se carregar de energia, espalhando eletricidade ao longo de seu braço. Dustin também fez o mesmo, se preparando. A partir de sua mão, transformou seu corpo por completo em aço puro.

— É só isso que vocês têm? — disse a voz de trás da cadeira, risonha e cruel ao mesmo tempo. — Ainda não é o bastante para o mundo lá fora, garotos.

O homem levantou-se lentamente para lutar, revelando mais uma vez seu braço mecânico. O que antes parecia ser uma prótese, agora, olhando de perto, revelava-se ser sua própria pele, modificada pela radiação. Apesar do sorriso no rosto, seus músculos tencionados deixavam claro o ódio que sentia pela queda iminente de sua prisão, pelas mãos dos dois que encarava naquele momento.

O segundo grão-mestre do Dragão Branco estava ali, diante deles.

"É agora", Henry pensou. A luta que ele tanto esperara desde o momento que fora trazido à força para aquele lugar, então subjugado a um mísero rato numa gaiola. A luta que o separava de sua liberdade. "É agora!". Os raios em sua mão chiavam, crescendo aos montes, prontos ara atacar.

Tudo aconteceu rápido demais.

Inesperadamente, antes mesmo que Henry tivesse qualquer reação por instinto, o braço de Karlag se iluminou por completo, então explodiu feito um canhão em direção ao chão, espalhando sua onda de energia aderosa. Jogado para trás, como se tivesse tido seu corpo impactado contra uma parede, Henry caiu no chão. Sua visão ficou turva, mas não o suficiente para deixar de ver o que aconteceu a seguir. Tudo aconteceu rápido demais. Dustin mal teve dificuldade em desviar do golpe do líder da Forja. Correu na direção dele, pulando e direcionando seu punho em pleno ar, a cabeça de seu alvo. Sentir o aço de seu corpo se chocando no osso do crânio de Karlag trouxe um prazer indescritível para o Titã de Ferro, principalmente ao vê-lo caindo de joelho aos seus pés. Sua mão dormente queimava, mas ele queria mais. Seu sorriso mordaz pingava, pois iria matar um deus.

Karlag ainda se recuperava. Parecia que o soco o havia desnorteado para valer.

Obviamente Dustin iria tirar proveito disso, impulsionando seu pé para trás e o trazendo a toda velocidade para a frente. O metal brilhou um segundo antes de acertar a cabeça abaixada, mas parou sem que realmente o fizesse. Havia sido facilmente bloqueado por uma mão imensa, então outra que cobriu sua cabeça por completo.

Dustin ainda tentou contra-atacar, mas foi forçado a cair de cara no chão. Karlag se defendeu com apenas um braço, então o pegou novamente pela cabeça. Dessa vez com as duas mãos. Henry conseguiu assistir ao momento em que seu amigo foi erguido, seus pés balançando, descontroladamente, sem ter onde pisar.

Seu fôlego sumiu por completo quando viu... Foi como ver uma lata sendo amassada.

A crosta de metal que o protegia rachou ao meio, de onde um aqueno fio de sangue quente escorreu de dentro dela passando pelos dedos daquele que o matara, então pingando no chão.

Sem demonstrar o mínimo de remorso, Karlag largou o corpo de Dustin. Na verdade, ele sorria de orelha a orelha.

A respiração de Henry se tornou algo inexistente. O choque que tivera do canhão de Karlag, mesmo que não apontado diretamente para si, o havia deixado parcialmente cego e zonzo o bastante para que não soubesse o que fazer, enquanto a imagem borrada dele crescia, aproximando-se lentamente.

Dustin estava morto. Ele não conseguia acreditar, mesmo vendo seu corpo metálico no chão.

Desde que fora tirado de sua vida, desde que chegara àquele lugar, todos morriam. Por que todos tinham que morrer? Ele simplesmente não conseguia entender. Primeiro seus pais, depois Flen, supostamente Vrad, logo depois, os adolescentes que vieram consigo em outros aviões... aqueles que não resistiram à radiação, as experiências ou as lutas... Por que o mundo tinha que ser assim?

Por que ele tinha que sempre perder tudo e todos?!

— Não mais... — ele disse, com lágrimas compulsórias caindo de seus olhos quase cegos pelo ódio profundo no coração.

Quando ergueu sua cabeça uma raiva muito maior do que qualquer outra que já tivesse sentido havia florescido dentro de si, capaz de fazer raios dançarem freneticamente ao longo de todo o seu corpo. Tão grande era, que seu poder mais se assemelhava com a miniatura de um sol azul, espalhando-se e dominando a sala onde estava quase que por completo.

Não havia mais nada que pudesse ará-lo.

Porém, Karlag não se intimidou pelo tamanho do seu poder. Pelo contrário, de seus olhos gélidos sentimento algum era visto.

— No mundo haverá muitos inimigos fortes. Mais fortes do que eu, Henry — ele disse. — Fará a Forja ser um sonho comparado ao pesadelo lá fora.

— Eu não me importo! — gritou Henry sedento por vingança. Estalava os dedos com punhos fechados. — Apenas sermos livres já é suficiente! Eu tenho que me tornar mais forte se quero proteger alguém! Isso que realmente importa!

— Alguém? — Karlag sorriu. Achou aquilo interessante: sua inocência. — E quem você pretende proteger?

Aquilo machucou um pouco a raiva que Henry estava sentindo. Trouxe de volta à tona o sentimento de medo e insegurança. De finalmente conseguir ser livre, mas descobrir que todos estavam mortos; desde o começo sempre estiveram... "Não! É isso o que ele quer. Ele quer me deixar mais fraco, mas não vai acontecer. Ela está viva. Todos estão. Vamos todos sair e todos os Dragões Brancos vão cair".

Pelo menos, era isso o que ele mais queria que fosse verdade.

— E o que você vai fazer ao sair daqui? — falou Karlag, avançando na direção de Henry sem medo de ser atacado. Isso fez com o que o garoto recuasse alguns passos, mandando mais de seu poder para suas mãos. O segundo grão-mestre não se amedrontou. Sorria ao dizer: — Não há nada te esperando lá fora, do mesmo jeito que não há mais ninguém pra você aqui dentro...

"Ninguém?", Henry olhou para o corpo de Dustin no chão e para as várias telas que monitoravam a Forja do Dragão, vendo o que havia do lado de dentro do portão. Uma lágrima caiu de seu olho, que queria manter a raiva viva, mas, ao mesmo tempo, tudo em si dizia que toda aquela luta era em vão, e que todos do lado de fora já deviam estar mortos por causa da guerra.

Seu maior medo tomava forma, se concretizando... "Ninguém".

— É isto mesmo que você quer? Sair daqui para não ter aonde ir? — Karlag andou pelo cômodo tentando deixar Henry no centro. — Vocês estão perdidos. Mas com sorte vou conseguir recuperar alguns. Ainda serão soldados valiosos. — Articulou vitorioso.

Henry se forçou a manter a calma. Tentou fazer sua energia fluir, mesmo com dificuldade pelo corpo.

Mas não era ele quem faria parte daquele pedaço do plano. Karlag se abriu com os braços enormes para frente ao lado do corpo em posição inclinada ao ataque com um sorriso louco no rosto.

— Você não vai vencer, Karlag, sabe por quê? Porque eu sou o Gransys aqui. E você nem percebeu que usou sua mão normal contra ele.

— Não importa o que você é! Eu sou o mais forte!

— Não... — Um sussurro inaldível foi dito por Dustin.

Karlag avançou e caiu com o rosto no chão.

— Eu serei o mais forte! — Gritou Dustin levantando-se do chão.

— O mais forte e o maior caçador de tesouros? Nunca conseguirão. — Falou Karlag.

Ele olhou para a palma da mão que segurou Dustin. A mão normal sangrou um pouco por causa de uma mordida. No momento da ação poderia não ter sentido aquele golpe.

— Então, né... Já conseguimos uma parte. — Disse Henry apontando para Dustin. Suas mãos energizadas se uniram e manteve a direita um pouco atrás da esquerda, abertas e prontas para usá-las como defesa.

Karlag poderia ser o maior da prisão, mas era lento demais. Seu braço mecânico parecia pesar muito para ele, mas no final somente uma pequena parte de sua lerdeza foi suficiente para que Dustin abrisse o portão.

— Mas que droga é essa?! — Berrou.

— Eu ainda não sou tão forte, mas sou um pouco rápido até. — Falou Henry desviando de um soco, e um disparo passou de raspão por ele. Outro soco e... Conseguiu. Tirou uma seringa do bolso e colocou o líquido dentro de Karlag através de seu braço. Era uma das várias coisas que resultavam em desligar os poderes de alguém por um tempo.

— Então foi isso que vocês fizeram. Ficaram no chão de propósito para conseguirem que a minha atenção fosse para apenas um de vocês enquanto pensava que o outro estava lá. Acho que isso foi idiota demais até para mim.

— Na verdade ficamos no chão para Dustin me dar o que realizaria o plano e então eu injetei em...

Karlag o atacou com um soco que Henry, facilmente, desviou. Seus braços eram enormes, mas também tão lerdos quanto o resto do corpo ou o cérebro. Com um chute, Henry o fez cair. Talvez não fosse tão fraco assim.

— Boa sorte, garoto. Vai precisar. — Disse Karlag, pouco antes de levar um soco de Dustin. O que o nocauteou.

— Por falar nisso, onde você encontrou o anulador de aura? — Perguntou Henry.

— Estava com Jay. Acho que ele queria usar em você para garantir a vitória na luta e...

— Minha regeneração já iria para o inferno. Legal.

Finalmente, Henry olhava pela janela que ficava naquele monte de pedra, que visto de fora era como uma rocha gigante, e viu entre os pinheiros espalhados pela paisagem os jovens correndo por todo lado felizes por, finalmente, terem conseguido fugir. Estavam livres.

— E o velho? — Perguntou Dustin. Essa pergunta foi até importante para Henry, pois lembrou de que ele ainda estava lá.

— Dustin, vá com eles! Eu vou buscar o velho Gaemon.

— Mas...

— Vá com eles. Pode ir agora que está livre.

— Está bem... Nos encontramos algum dia, Henry?

— Talvez.

— Henry. — Perguntou Dustin, quando ele estava quase saindo da sala. Henry parou para ouvi-lo. — Como você conseguiu ganhar dela?

— Eu consegui manter o foco.

— Não, não foi isso.

— Está bem... Eu quero sair desta prisão para... Eu quero encontrar uma garota. Não sei se ela está viva, mas...

— Então o herói da Forja gostava de uma garota? Só assim para ganhar da mulher mais bonita daqui. Se fosse eu, estaria morto.

— Já terminou?

— Vá ver o velho logo! Ele deve estar lendo algum livro para não ter saído de lá.

Henry assentiu e correu o mais rápido que pôde para dar a notícia ao homem. Ele sempre sonhou com esse dia e gostaria de ver como era lá fora. Fazia tanto tempo que Henry até havia se esquecido dos gostos, das cores, de quase tudo, mas a possibilidade de ver tudo de novo fez com que ele ficasse feliz até mesmo por estar feliz naquele momento.

— Senhor Gaemon! — Berrava Henry repetidamente até entrar na sala. — Senhor Gaemon! Conseguimos! Estamos livres! Você estava certo, senhor!

Abriu a porta de ferro pesada e entrou na biblioteca. Organizada totalmente, com alguns carrinhos cheios, e viu na escrivaninha no fundo da sala o velho debruçado sobre a mesa.

— Senhor? — Perguntou Henry correndo até o bibliotecário.

Henry colocou a mão nos ombros dele como se estivesse dormido e balançou na tentativa de acordá-lo. Uma tentativa falha, pois o velho nunca mais voltaria a vê-lo. Dormiu de modo que nunca mais voltaria a acordar.

— Senhor? — Perguntou Henry tentando acordar o velho ainda tirando da cabeça as ideias de que ele estava morto. — Acorde, a gente está livre. Vamos lá, você queria ver lá fora também, não queria? Droga! Você me aceitou aqui e me tirou do caos! Eu vou tirar você daqui... Droga!

Henry não acreditou que o velho estava morto. Não podia acreditar, afinal, queria vê-lo fora dali. Começou a chorar instintivamente, pois ele foi o homem que o ajudou.

Não havia nada... Oh! Uma carta. O velho sabia que tudo iria acontecer? Ele disse para Henry ler tudo aquilo ao vencer, então conseguiria ler agora a carta:

Não me chame de "senhor", idiota! Sei que você vai falar isso quando estiver me procurando. Ok, desculpe.

Você está livre agora, então vá sem mim. Claro que você consegue! É um garoto forte, portanto, vai conseguir conquistar, até mesmo, o mundo; mas não é porque a liberdade é uma utopia que ela não existe. Sabia que "utopia" é algo que é impossível, mas com um pouco de esforço você consegue? Admito que você estava certo sobre liberdade ser uma utopia, como eu previ que você diria.

É hora... Mais que hora de você saber da minha radiação. Sou um homem que tem a radiação do oráculo, e sou um tipo de vidente ou profeta dessa prisão. Na verdade era, pois você está lendo depois de eu ter morrido... hehehe. E como essa prisão já era, então não tem como o oráculo ficar vivo, mas, de certa forma, eu ainda vou ficar aqui para sempre. Não leve meu corpo para nenhum lugar, é aqui que tem que ficar, ok?

Obrigado por ter sido o melhor amigo de um velho como eu. Acho que entendi o mito da casa de Gransys. Dizem que eles levam esperança por onde passam. Acho que consegui ver isso de perto.

Obrigado por ter ficado sempre por perto, Henry. Até algum dia. Acho que a gente pode se encontrar aqui no céu, não podemos? Ops, agora vá! Tem muita aventura pela frente ainda. Opa, opa, nada de "spoiler"!

Faz muito tempo que eu queria te conhecer, saber como você era. Gostaria muito de vê-lo assim jovem e ver como seguiu em frente. Obrigado, Henry".

— Descanse em paz, velho! — Falou Henry vendo a cara serena que o velho tinha. Parecia calmo e tranquilo como se não devesse mais nada ao mundo, pois já não fazia mais parte dele.

Henry enxugou as lágrimas que estavam caindo e, finalmente, saiu da prisão sentindo o vento pela primeira vez penetrar em sua pele. Havia anos que não sentia isso.

Todo mundo foi embora e ele estava lá na entrada da prisão dando uma última olhada no lugar que não veria nunca mais. Fechou os olhos sentindo o vento da melhor forma possível, prestando ainda mais atenção na brisa que o batia e esvoaçava sua camisa.

Tudo pelo que passou, todas as coisas ruins não eram para serem esquecidas. Óbvio que ele não gostava de nenhuma delas, mas são coisas que devem ser lembradas, especialmente por fazerem com que ele seja quem é hoje. O mal que lhe fizeram ou o bem que lhe ocorreu são coisas que fariam a maior diferença para ele até mesmo ali. E nas suas próximas escolhas.

Dustin não estava mais com ele. Deveria estar um pouco longe agora começando a curtir a vida de maneira diferente, afinal nenhum daqueles jovens iriam ter uma vida normal. Poderes ou habilidades aprimoradas não seriam bem vistos por aí, além de que todos os registros de todos foram apagados. Já deixaram isso claro antes, quando disseram que para o mundo afora eles eram pessoas mortas.

Tirou os sapatos e a camisa sujos com sangue e suor e olhou para trás dando a verdadeira última olhada para a lúgubre prisão. Deveria sair logo dali antes que algum dos líderes da prisão acordasse e, de certa forma, uma aventura de verdade começou.


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