A Cada Dia Que Passa escrita por Ocarina


Capítulo 4
Proximidade


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inserido nos episódios 7 e 8 da primeira temporada do anime.



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Akane até conseguia entender o porquê Ginoza havia decidido afastar Kogami da investigação, mas achava que mandá-la vigiar cada um de seus movimentos já era um pouco demais. Além disso, por conta dessa decisão, ela também era obrigada a se afastar do caso, o que não lhe agradava nem um pouco. Por diversas vezes, tinha a sensação de que o inspetor tentava dispensá-la de seus deveres, como se não a julgasse competente o suficiente para realizar o trabalho.

Encostada no batente da porta, ela observava o treinamento de Kogami. Irritado, o coator parecia descontar a raiva acumulada na marionete com o qual lutava. Akane sabia que a ordem de Ginoza também lhe deixava insatisfeito, e imaginou que tê-la ali o seguindo como a sua própria sombra provavelmente o aborreceria ainda mais. 

Defendendo-se da investida do boneco, Kogami avançou. Imobilizando aquele falso adversário com a força do próprio corpo, o prensou contra o chão. Enfurecido, os seus olhos ardiam em chamas, enquanto golpeava sucessivamente a marionete com brutalidade. Assustada com aquele comportamento, Akane decidiu intervir.

— Você está indo longe demais, Kogami! — ela o alertou.

Para o seu alívio, ele lhe deu ouvidos, deixando para trás o robô destruído da Divisão de Gerência de Propriedade. Akane o observou ascender o cigarro, alimentando o vício que o sustentava. Encarando-o sem parar, procurava vestígios de feridas em tronco nu, no entanto, logo percebeu que ele não continha nenhum arranhão sequer. Como podia lutar daquela maneira no nível mais avançado do programa sem se machucar? Observou os músculos definidos em seus braços, avaliando o quão forte ele era. Pra que treinava daquela maneira, afinal? Pra que queria se fortalecer tanto? As dúvidas cresciam dentro de Akane, deixando-a ainda mais intrigada pelo seu subordinado. 

— Tem alguma coisa na minha cara? — ele perguntou de repente, a fazendo voltar para a realidade. 

— Não, não tem! — envergonhada, ela recuou, negando veemente com a cabeça. 

Inconscientemente, Akane desejava que ele não tivesse percebido o estado hipnótico com que ela o encarava, no entanto, teve a impressão de ter visto um tom divertido em seu rosto quando desviou o olhar. Solicitou então que Kogami colocasse uma camisa, para que pudessem conversar normalmente. O assunto que tinham para tratar era sério e, portanto, ela não podia se distrair com qualquer outra coisa.

Naquele dia, Akane descobriu como o passado de Kogami o perturbava. Ao ver como ele se sentia impotente diante da morte de Sasayama, ela teve que controlar a si mesma para não confortá-lo de alguma forma. Por mais que ele não demonstrasse precisar daquele tipo de apoio, a inspetora notou como Kogami realmente sofria por dentro. Seus olhos frios e opacos eram reflexo da raiva e rancor que sentia, e o seu desejo de vingança tornava-se evidente em cada uma de suas palavras.

Paciente, ela ouviu o desabafo do executor do início ao fim, incluindo as suas suspeitas sobre o misterioso homem chamado Makishima. Convictos de que precisavam fazer algo a respeito, juntos começaram a investigar o caso. No entanto, o ânimo que timidamente crescia dentro dela se dissipou quando, de repente, ele pediu permissão para sair do edifício. Justamente quando pareciam estar evoluindo na investigação, ele pretendia deixá-la para trás? Sentindo-se descartável, ela crispou os lábios.

— Mas aí precisarei te acompanhar — Akane o respondeu constatando o óbvio.

— É por isso que digo para vir comigo — ele retrucou sorrindo.

Num misto de alívio e surpresa, automaticamente Akane retribuiu o sorriso. O fato de Kogami não tentar excluí-la da investigação — como Ginoza havia feito anteriormente — significava muito para ela. A inspetora não soube explicar o porquê, mas aquilo acalorou o seu peito.  De alguma forma, sentia-se mais próxima de Kogami. Pela primeira vez que desde que havia assumido o cargo, sentia-se importante para alguém.

Dando continuidade ao trabalho, juntos descobriam a existência de Rikako Ouryou e se dirigiram ao colégio Ousou, ignorando as ordens de Ginoza. Ao vê-lo aborrecido com a chegada dos dois, Akane não pensou duas vezes ao se colocar na frente de Kogami com o intuito de defendê-lo do inspetor. 

— Espere! Há uma suspeita entre as alunas! — ela gritou frente a Ginoza, deixando que Kogami seguisse o caminho. 

Observou o inspetor semicerrar os olhos em sua direção, furioso com a sua atitude. Ela sentiu os seus batimentos cardíacos se acelerarem ao receber aquele olhar furtivo, mas não arredou o pé de sua posição, mantendo-se firme em sua postura. 

— Pelo visto vocês dois são iguais! — Ginoza então vociferou, encerrando o assunto.

Apesar de todos os seus esforços, Rikako Ouryou conseguiu fugir da escola e a busca por Makishima não chegou ao fim. Cansada, Akane preparava-se para retornar a sua casa. Sua cabeça latejava de dor e suas pernas não conseguiriam sustentá-la por muito mais tempo. Toda aquela agitação havia lhe afetado muito mais do que gostaria.

Ela precisava de um bom descanso. 

— Inspetora...— o cheiro de cigarro preencheu o seu olfato mais uma vez — ...está disponível amanhã cedo?

Confusa, ela piscou os olhos ao franzir o cenho. Estava louca ou Kogami estava a chamando pra sair? Akane corou com a ideia.

— Amanhã cedo? Antes de ir para o trabalho?

— Sim. Tem um lugar que gostaria de levá-la.

— Um lugar? Que tipo de lugar, Kogami? 

— A casa de um amigo meu, Saiga Jouji. Costumava ser consultor psiquiátrico, especializado em psicologia clínica. Ajudou em muitas investigações.

— Acha que ele poderá nos ajudar no caso de Makishima? 

— Sim. 

— Entendi. Precisa que um inspetor o acompanhe, não é?

Ao dizer aquilo em voz alta, uma pontada de decepção atravessou-lhe o peito. Afinal, por qual outro motivo ele a chamaria?

— Não. Não é por isso — Akane arqueou as sobrancelhas — É porque acredito que você pode ajudar tanto quanto ele. 

— E-eu?! — surpresa e encabulada, ela arregalou os olhos. 

— Sim. Até agora foi a única inspetora que deu ouvidos a minhas suspeitas sobre Makishima. Graças ao nosso trabalho em equipe, conseguimos provar a existência dele, passando na frente da investigação de Ginoza, ainda que tenham nos deixado de lado. Eu te agradeço por isso.

Envergonhada, Akane desviou o olhar.

— Não precisa agradecer! Acho que formamos uma boa dupla no fim das contas — ela sorriu sem jeito e desajustada, arrependendo-se em seguida por ter dito aquilo.

— Com certeza — enigmático, ele a respondeu desfazendo o semblante sério em seu rosto — E como vai ser? Quer ir comigo?

— Sim!

Durante todo o percurso de volta até a sua casa, um sorriso bobo estampou o rosto de Akane. Naquela noite, ela foi incapaz de pregar os olhos. Apesar do cansaço, pilhada, sentia o coração se descompassar acelerado. 

E ainda que soubesse a razão de estar tão ansiosa, tentava ignorar a estranha sensação que se intensificava em seu interior.


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