O abraço do urso escrita por Ragnar


Capítulo 2
Capítulo 1 — Seja minha amiga




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Aquela era uma das vezes em que Ahri acabava de ter, de certa forma, o seu precioso café da manhã. Foi sortuda de um pirata ter passado perdido naquela parte da floresta e ainda, faminto e fraco pela carne de uma mulher, uma presa fácil para Ahri e nem menos saborosa. 

Observando de um lado que não fosse a da comida e sim, pela visão dela como mulher mediante aquele homem e muitos da qual devorou, todos em sua maioria eram nojentos. Traziam asco para si e só mostrava que em sua maioria, os machos humanos eram realmente um asco para poderem lidar.  

Seu orbe estava mais forte e se sentia menos fraca, seus sentidos e percepção de mundo tinham voltado ao normal e aguçados para conseguir caminho normalmente até o rio e se banhar, tirar o que de certa forma ela tinha assim como qualquer ser pensante e de consciência, tirar a culpa. 

Mas a culpa de Ahri era diferente, não era a culpa comum. 

O som d’água caindo nas pedras e em queda denunciaram a localização do rio, um dos locais menos frequentados por Ahri naquela região por ser quase como um paraíso para qualquer viajante e desse paraíso, desfrutou poucas vezes e naquela vez, queria apenas relaxar, sem a presença de ninguém ao seu lado para seduzir. 

Ser uma mulher comum por poucos minutos. 

Despindo-se, se banhou na água cristalina e gelada, fresca para aquele dia. Tranquilo e sem mais invasores, era uma paz diferente da qual estava acostumada. 

Então gritos vieram da floresta e a paz de pouco foi quebrada. Ahri iria ignorar e se afastar para a outra beirada se tais gritos não fossem de um filhote. O choro que vinha dele e o cheiro de medo a deixaram tão alerta e a fez levantar, deixando de se banhar e seguindo em direção ao barulho, ignorando a própria nudez e vendo um felino perseguir o filhote. 

Rapidamente, usou sua cauda já tão perto e a envolveu, olhando face a face a criatura e com uma mão invocou um orbe, o atacando na cabeça com o impacto da perseguição e o arremessando consideravelmente longe, o vendo se erguer pronto para uma próxima e Ahri não se poupou, mesmo que tivesse acabado de receber energias e devorar uma alma. 

Sorriu com o desafio e se deixou mostrar da sua verdadeira forma, suas outras oito caudas restantes e seu orbe ficar maior, largando o filhote e partindo para cima da criatura, o derrubando novamente e o matando, pegando a energia vital do ser e nem mesmo parecendo que gastou sua própria magia para invocar suas forças. 

Suja de sangue e de costas para o filhote. Sentia cheiro de humano e mesmo sendo pequeno, sentia algo peculiar, talvez magia, vindo dela. Mas ignorou. 

Depressa, se voltou para suas roupas para ficar apresentável e assim vestida, viu a criança de olhos fechados e refletiu que ela deveria tê-lo feito ao sentir o combate ali ao invés de claramente ter fugido. O corpo tremulo, choramingando de medo e horror por ter visto a morte tão de perto. Pela primeira vez, a magia de Ahri se consumiu em si, trazendo memórias calorosas de uma de suas vítimas e mostrando, a muito tempo, um homem com sua família. 

A pior parte da sua magia era sentir e ver aquilo que era característico dos homens e mulheres da qual devorou, do pior ao melhor de cada um deles.  

“Ei, ele já se foi...” Falou, a voz suave e melodiosa saindo por fim, mas Ahri e aquela criança não eram bobas do que tinha acontecido ali “Não vai mais machucar você, não vou deixar...” 

Cabelos vermelhos como fogo, mas nenhum traço vastayes. Nenhuma orelha felpuda, pena ou perna característica de vastayes, cauda... Ela era nada do povo daquela região, humana por completo, mas ainda era um filhote e não tinha traço algum de ter maturidade para sobreviver. A pergunta maior era como ela tinha parado ali sendo que apenas piratas e caçadores se aventuravam na região. 

“Ele me fez perder o Tibbers...” Fungou, chorando ainda mais e tremendo, trazendo curiosidade para o novo nome ali falado “Ele tá sozinho, eu tô... Tô sozinha”  

“Não está... Olhe” A chamou e ela viu o rosto inchado pelas lágrimas da criança, o olhar curioso e a encarando por inteiro, tentando a reconhecer, mas Ahri deixou que o fizesse caso fosse para confiar melhor nela “Me chamo Ahri” Se apresentou, sorrindo mostrando os dentes e se ajoelhado, ficando na altura do filhote “Qual o seu nome, pequena?” 

Sentia a desconfiança nela e depois do que acabou de passar, Ahri sentiria o mesmo caso estivesse em seu lugar. 

“Annie...” Contou. 

“É um nome lindo o seu, Annie” Sorriu “Aquele animal não vai mover mais uma pata, mas se você quiser, podemos procurar o Tibbers agora” Sugeriu. 

Toda criança era ensinada desde bem filhote a não confiar em estranhos e aquela pequena estava confiando em um, mas depois daquela cena, confiar em estranhos conseguia seguir em pequeno plano e Ahri se via perguntando aquilo assim que encontrassem esse tal Tibbers pelo caminho da qual a outra veio correndo. 

Estendendo a mão e com a criança segurando, Annie liderou o caminho. Folhas estava caídas no chão, árvores tombadas para os lados e arranhadas pelo impacto, garras enormes que deixavam até a seiva do tronco escorrer em vermelho e laranja. Parecia que teve uma batalha ali... 

O caminho estava livre e quando chegaram na parte menos destruída, Annie encontrou o que seria o tal “Tibbers”. Um urso de pelúcia e com um olho de botão faltando, parecendo velho e estava sujo demais, desgastado pelo tempo e mesmo assim, a garotinha humana correu até ele e o abraçou com força, chorando e se ajoelhando no chão, sentida demais pelo “amigo”. 

“Annie, minha cara?” A chamou, segurando seu ombro antes de qualquer toque que a fizesse ter medo de si, vendo a mesma levantar o olhar receoso e agradecido para ela “Vamos nos afastar daqui, essa parte da floresta é perigosa demais, temos que manter distância caso outra criatura feia e horrorosa queira aparecer” Aconselhou e a pequena parecia ponderar, absorvendo suas palavras e tentando, pelo visto, entendê-las. 

“Não quero me machucar, quero ficar com você” Falou e Ahri sorriu fracamente. 

Se ela pelo menos soubesse..., pensou. Mas o faria, ficaria com a pequena até saber o que fazer com ela. Era uma criatura pequena e o senso de preocupação era limitado, mas cuidaria dela. 

Começou pela fome. A garotinha, por suas palavras e cheiro, parecia ter vagado por um longo tempo na floresta, mas pela falta de lembranças e conhecimento dos humanos, Ahri notou que Annie poderia ser tanto uma armadilha como uma arma, sentia a magia dentro da criança, mas não sabia se era aquela terra que alterava sua percepção. 

A alimentou com fruto e logo, com carne de pequenos animais, usando o fogo para não tornar a comida desagradável. Frutas grandes e pequenas, rindo com ela ao vê-la suja de vermelho e notando a leve semelhança dela com um filhote vastayes. Demorou um dia inteiro, mas a fez ficar mais forte e quando a mesma descansou, dormindo durante a noite, Ahri preparou o local da qual estavam dormindo.  

Por que abandonariam um filhote de um humano sendo que aquela parte do continente nem era seu lugar natural? 

Aquela pergunta ficaria para ser respondida depois... Primeiro, focada no bem-estar da pequena até achar um lugar segura para ela, longe de uma faminta que devorava almas. 

Foi tudo muito rápido, se tinha passado uma estação depois que Annie encontrou Ahri. Ela a educou e contou mais do porquê ter uma orelha felpuda, uma cauda macia e um olhar tão amarelo e brilhante como uma estrela. Ahri explicou que Annie não tinha nada de parecido com ela porque ela era uma humana e a outra uma vastayes.  

Que ela deveria ter se perdido de casa e batido a cabeça, se perdendo de vez. Mas Ahri também disse que encontraria uma casa nova para ela, com uma família que a amasse e a protegesse de todo o mal.  

Ela gostava da Ahri. Era gentil e legal. Cuidou até mesmo do senhor Tibbers, o deixando limpo e arrumando as roupas dela mesma, a tornando menos aquilo do que era e se lembrava do início, quase uma vastayes. 

“Você é minha amiga, Ahri?”  

A pergunta pode ter vindo do nada, mas Annie queria uma pequena resposta, curta e breve para sanar suas dúvidas de uma criança. A curiosidade era demais para ela até mesmo para questões mais simples. 

“Claro, Ann” A vastayes sorriu para ela, a pegando no colo e fazendo um leve carinho em sua cabeça. 

“Espero nunca esquecer de você, tenho medo de esquecer...” Contou, receosa e Ahri a apertou em um abraço. 

“Jamais, pequena” Sorriu “Jamais” 


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