Chama negra escrita por J S Dumont


Capítulo 2
Capitulo 2 - Não tem como fugir


Notas iniciais do capítulo

Olá, voltei com mais um cap. espero que gostem e deixem seu comentário ;)



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DOIS

Após a cena do beijo, absolutamente constrangedora e aversiva para mim, os convidados se adiantaram para cumprimentar os noivos separadamente. Draco foi tragado por uma multidão, que praticamente lhe engolfava com falatórios empolgados e tapinhas nas costas. Já eu tive que reprimir o sorriso de satisfação.

E com tanta atenção em cima de Draco, ele acabou me deixando um pouco de lado, o que foi bom, pois assim eu conseguia ficar mais tranquila com a ausência daquele homem frio e assustador. Quando pude, eu já escapuli para tomar um pouco de ar e beber algo, pois definitivamente eu estava me sentindo enjoada com aquilo tudo.

Eu juro que acreditei que conseguiria ter um pouco de paz, enquanto bebia água, perto de uma janela mais afastada, mas me enganei ao escutar uma voz conhecida e mais insuportável que eu poderia escutar naquele momento. Eugene, a minha tia voltou para me provocar.

—O que faz aqui isolada, Granger? Você deveria estar perto do seu noivo, como uma boa futura esposa tem que fazer! – ela comentou e então eu me virei para olhá-la, observei que ela me olhava com aquele olhar sarcástico, provavelmente por causa do meu comentário mais cedo, da qual eu tinha deixado bastante claro que eu não estava de acordo com o casamento. Eu ainda não sabia o porquê ela me odiava tanto, mas eu sentia que ela parecia estar feliz com a minha infelicidade.

— Por que não me chama de Hermione como todo mundo? – eu perguntei, não querendo entrar no assunto do meu noivo, mas eu não sabia se funcionaria. Afinal, quanto mais ela via que o assunto me desagradava mais ela tentava entrar.

— Está bem Hermione, se assim você prefere... – ela respondeu, olhando-me novamente com mais atenção, pelo que eu a conhecia, parecia que ela estava procurando algum defeito em mim, para apontar. – Você não me parece estar muito bem, apesar de muita maquiagem, percebo que os seus olhos estão meio inchados, anda com problemas para dormir querida? – ela perguntou, me fazendo suspirar. Eu não podia negar que desde que eu soube desse casamento o nervosismo e a ansiedade me impedia de dormir direito. Mas ela nem deu tempo para que eu a respondesse, pois logo continuou. – Ainda bem que minha querida filha e eu dormimos muito bem, dizem que a insônia acaba com a pele, eu acho que é por isso que a sua está tão ressecada... – ela me atacou, e naquele momento eu senti uma grande vontade de pular no pescoço dela, mas fora só eu pensar melhor, que a raiva fora passando, tanto que até eu tive que conter uma risada.

Eugene sempre gostava de falar muito bem da sua filha Judith, mas é claro, o amor de mãe é cego, mas em minha opinião as duas pareciam pertencer a uma família de sapos. Pois, a pobrezinha da Judith é tão feia.

— Judith volta quando da França? - eu perguntei, para tentar desanuviar aquele clima.

Judith tinha ido passar uns tempos lá, dizendo que ia estudar, mas eu não acredito muito nisso, afinal, ela nunca gostou muito dos estudos, sua partida já havia sido há um ano, e com todo esse tempo sem a filha, Eugene aproveitava para me perseguir mais do que o habitual.

—Ela volta em alguns meses!- ela respondeu com certa frieza.

—Hermione!- escutei a voz de meu pai me chamando, interrompendo aquela conversa, eu me virei para ver ele se aproximar de mim. - Onde você se meteu? Seu noivo está a esperando!

—Para quê?- eu perguntei assustada.

—Como para quê? Vocês são noivos, não podem ficar a festa inteira em cantos separados! Venha já! – Charlie respondeu, aproximando-se de mim e começando a me puxar pelo braço, de uma forma nada delicada. Quando estávamos numa distancia razoável de Eugene, eu iniciei:

— Eu já fiquei toda a minha vida longe desse homem, para que fingirmos ser um casal agora? – eu protestei, sentindo a mão do meu pai segurar-me com mais força.

— Já vai começar com esses seus comentários desagradáveis? – ele perguntou e em seguida me soltou, ele olhou ao seu redor e ao notar que não havia ninguém próximo voltou a olhar em minha direção, bastante sério. – Será que você pode tentar não agir com tanta infantilidade? Quando que você vai se dá conta que já é uma mulher?

— O que é ser uma mulher para você? Aceitar me casar com um homem que eu não amo? – eu perguntei, cruzando os meus braços e o encarando com o mesmo olhar que o dele. Ele demorou alguns segundos para me responder.

— Sabe qual é seu problema? – ele perguntou, mas não deu tempo para que eu respondesse. – Você sempre teve tudo fácil demais, sua mãe te mimou muito, então você nem imagina o que é querer algo e não ter, você nunca precisou de nada Hermione, não sabe o que é passar necessidades, então não queira com vinte e um anos perder todo esse luxo que você tem, pois acredite ser pobre é pior para quem está em cima do que quem já está lá embaixo, você vai querer nessa altura do campeonato ir morar num casebre medíocre? Vai querer trabalhar de garçonete num bar imundo? E a vergonha que nós vamos passar diante de todos os nossos amigos? Não queira Hermione Granger ser a razão da nossa ruína, isso eu nunca irei te perdoar e ainda, você quando tiver perdido tudo e perceber a desgraça que fez eu acredito que também nunca na sua vida irá se perdoar! – ele soltou de uma forma fria, e mesmo não querendo as lágrimas já foram se formando em meus olhos.

Eu engoli em seco enquanto sentia cada vez mais os meus olhos arderem de tanta vontade de chorar. Mas eu não faria aquilo diante de meu pai, respirei fundo e desviei o olhar para mesa que Draco estava sentado, naquele momento até ele me parecia ser uma melhor companhia do que meu pai, afinal, ninguém merece escutar aquelas palavras tão duras.

— Eu vou sentar com meu noivo, ele já deve ter esperado muito tempo! – respondi simplesmente, voltando a olhá-lo. Ele sorriu, parecendo ter ficado satisfeito com minha resposta, então dei as costas e me afastei.

Naquele momento logo eu pensei que a única coisa boa de me casar com Draco Malfoy, é que assim poderei ficar bem longe do meu pai.

~~~

Eu sempre concordei plenamente quando dizem que palavras doem muito mais do que tapas, afinal, a vida toda fui machucada por palavras cruéis, palavra que um pai nunca deveria falar para uma filha. E essas palavras pouco a pouco foram criando muitas feridas em mim, feridas das quais eu já comecei a acreditar que nunca na minha vida poderão cicatrizar.

A minha vida toda eu busquei o amor do meu pai, um amor que hoje acredito que dificilmente conseguirei, eu poderia casar com Draco, salvar minha família da ruína, mas eu já havia percebido que nem mesmo assim eu seria a filha que ele desejava que eu fosse. Eu nunca serei o suficiente para ele, sempre serei a fraca e frágil Hermione Granger. Então para que ser a vida inteira infeliz sem razão alguma? Antes minha liberdade, do que o meu sofrimento, sendo uma prisioneira dentro de um casamento da qual eu não desejava.

Por essa razão peguei todas as economias que eu tinha guardado. Dinheiro da qual meu pai havia dado a mim desde criança e que eu havia decidido não gastar, agora eu agradecia em pensamentos por isso, já que era esse dinheiro que me ajudaria nessa minha tentativa de fuga. Peguei minha mala e desci silenciosamente as escadas de minha casa. Já era tarde, e todos da casa já deveriam estar dormindo.

Escutei um trovão alto, e então eu gemi; estava caindo uma tempestade, eu teria que fugir de casa em meio aquela chuva toda. Respirando fundo, dei uma última olhada para trás, observei silenciosamente a minha casa, o local em que vivi toda a minha vida, onde tive muitas recordações ruins, mas também recordações boas, essas claro eram ligadas a minha mãe, da qual eu sentia que era a única que me amava de verdade, sim, eu sentiria muita falta dela.

Com cuidado eu abri a porta, passei por ela e fechei-a com leveza, corri pela parte de trás da casa, sendo obrigada a enfrentar a chuva, ela caia em mim com tanta força, que eu sentia como se estivesse sendo atingida por milhares de pedras. Em poucos segundos, eu já estava toda encharcada.

Andei firmemente até o muro alto e cheio de arbustos, e só então pensei em tentar proteger minha cabeça com a maleta que levava, mas o vento estava tão forte que não ajudou muito, minutos depois eu já havia desistido.

Após o inevitável eu decidi não me importar mais com a chuva, comecei a escalar o muro, escorreguei diversas vezes, mas por sorte não cai, algum tempo depois eu saltava para o outro lado. Suspirei com alívio, mas ao mesmo tempo surgiu um temor, eu não tinha mais a proteção da minha casa, agora eu estava sozinha, seria apenas eu e o mundo. Eu não sabia como seria dali em diante. Mas eu decidi não pensar nisso, pelo menos não naquele momento, pois eu sabia que se eu pensasse, eu poderia acabar desistindo e não era algo que eu queria fazer, não a essa altura do campeonato.

Tirei uma mexa molhada do meu rosto e me virei. A neblina da madrugada e os pingos torrenciais dificultavam a minha visão. Mal dava para enxergar, mas eu precisava correr antes que os cães de guarda da mansão percebessem a minha presença e começasse a latir, se isso acontecesse com certeza meu plano iria por água abaixo.

Comecei a andar depressa, abraçando a minha maleta, na tentativa de amenizar o frio cortante. Mas não estava adiantando muito, minha boca tremia e os meus dentes batiam. Eu precisava achar rapidamente um ponto de taxi ou de ônibus.

Dobrei a esquina e continuei a caminhada, cada vez em passos mais apressados, até que de repente, próximo de dobrar mais uma rua, eu parei ao avistar a ultima pessoa que eu queria ver naquele momento, no meio da chuva.

Devido o tempo ruim, ele apareceu diante de mim como numa fumaça. Primeiro eu avistei aqueles olhos, que brilhavam feito os olhos de um gato possuído, depois o rosto bonito, e em seguida o sorriso sarcástico e então por ultimo o corpo grande e atlético. Primeiro eu pensei que era uma miragem, mas depois de muitas piscadas e ele não sumir comecei a desconfiar que ele sim, era real.

—Não quer companhia para o passeio?- ele perguntou numa voz irônica, aproximando-se ainda mais de mim.

Eu engoli em seco e como a distancia ainda estava razoável, fiz a única coisa que poderia fazer naquele momento, fugir dele. Virei e tentei retornar para trás correndo, mas não consegui avançar muito, só deu tempo de dobrar a esquina e se aproximar de minha casa, que fui alcançada por Draco.

Ele me puxou pelo braço com força, depois desceu as mãos para minha cintura e me prensou contra a parede, sem delicadeza nenhuma. Então eu gritei e em seguida olhei para ele completamente apavorada.

— O que você pensa que está fazendo? – ele perguntou, num tom tão sério que me deixou muito, mais muito assustada. Eu ofeguei de medo, e uma fumaça branca saiu de minha boca devido ao frio. – Bem que eu desconfiei que você teria essa estúpida ideia de fugir... Antes de ir embora eu pensei em passar no seu quarto para falar com você e então pela brecha da porta eu vi você fazendo as malas, ai eu desisti, pois eu imaginei, qual o melhor horário para uma garota tentar fugir? Madrugada é claro... E acertei em cheio!

— Me deixa ir embora, eu não quero me casar com você! – eu implorei numa voz baixa, eu estava tão surpresa, tão assustada, que senti a minha voz cortar no meio da frase.

Draco continuou me encarando com aqueles olhos brilhantes, a chuva caia intensamente sobre nós dois, os cabelos molhados dele o deixava com um ar ainda mais sensual, seu rosto estava muito próximo do meu, e eu sentia uma grande desvantagem de tamanho, ele parecia um leão querendo devorar um coelhinho.

— Você vai querer mesmo ir Hermione Granger? – ele perguntou, afastando-se alguns centímetros de mim, eu não pude evitar dar um suspiro de alivio. – Você vai fugir que nem uma criancinha com medo? Vai ser tão egoísta a ponto de cometer um ato tão imaturo?

Eu engoli em seco, e decidi não pensar nas palavras de Draco, tentei me afastar calada, cheguei a dar alguns passos para frente quando escutei ele continuar a falar:

— Como seu pai irá reagir amanhã ao acordar e não ver você? Você consegue imaginar em como ele ficará desapontado em saber que a filha dele foi embora sem pensar nenhum minuto nas consequências que a sua fuga traria... – ele continuou, e no mesmo momento eu fechei os olhos e permiti que diversas lágrimas caíssem dos meus olhos, ele parecia saber qual é o meu ponto fraco, e estava usando-o maldosamente para me fragilizar. – Ele tem problemas cardíacos e você sabe disso, ele poderá morrer, com certeza ele não vai aguentar a falência... – notei que a voz dele estava mais próxima. – E você poderá carregar a morte dele em sua consciência para o resto da vida... – ele finalizou, agora com a voz próxima ao meu ouvido.

— Para com isso! – eu gritei, jogando a maleta no chão e colocando as mãos no meu ouvido, virei para ele e o olhei com raiva. – Por que todos ficam colocando a culpa em mim? Por que eu que tenho que carregar todos os problemas da minha família? Eu não tenho culpa, eu não tenho! – eu berrei em meio ao choro, em seguida comecei a chorar compulsivamente.

Depois eu comecei a cair em mim, lá estava Draco e eu, em meio á tempestade, discutindo uma relação que não existia, como se aquilo fosse normal, na realidade parecíamos dois malucos, mas Draco parecia nem se importar com isso.

Ele colocou as suas duas mãos em meu ombro e olhou-me no fundo dos olhos.

— Você não precisa sofrer tanto por isso Hermione, seria mais fácil se você aceitasse esse casamento... – ele aconselhou, aproximando-se ainda mais de mim. – É inevitável, não tem como voltar atrás, e acredite se você pegar essa mala e for embora deixando tudo isso aqui para trás, será bem pior para você, isso gerará consequências irreversíveis... Volte para casa Granger... Volte enquanto ainda dá tempo!

~~~

— Você não pode ser idiota Hermione, se esse cara quer tanto casar com você, e não tem outro jeito se case com ele, além do mais dá para você tirar um bom proveito dessa situação! – Gina Weasley, minha melhor amiga me aconselhou enquanto bebíamos um cappuccino.

Gina sempre fora a única amiga mulher da qual eu podia desabafar. Eu havia sentido muito a falta dela nesses últimos dias. Fazia pouco tempo que ela havia se casado com meu amigo Harry, e eles acabaram fazendo uma segunda lua de mel. Mesmo que ainda não fizesse nem um ano de casados. Infelizmente o meu pai decidiu a festa de noivado na ultima hora, e no final das contas, não deu para eles desmarcarem a viagem e comparecerem na minha festa de noivado. Eu também não fiz muita questão que eles fizessem isso, afinal, eles sabiam que eu não estava de acordo com o casamento e muito menos com aquela festa de noivado ridícula.

Harry e Gina haviam chegado de viagem ontem à noite, e claro, marquei de me encontrar logo cedo com Gina para colocarmos a conversa em dia.

Gina sempre fora uma grande amiga, ela era irmã de Rony, o meu amor de infância, eu podia contar tudo que quisesse para ela, sempre fora boa com os conselhos, porém uma coisa que nunca consegui falar fora do meu amor pelo irmão dela, que na verdade nunca consegui confessar para ninguém. Harry que também é meu amigo de infância sempre teve desconfianças dos meus sentimentos por Rony, que é o melhor amigo dele. Porém, nunca teve a minha confirmação.

E naquele momento, em meio á conversa sobre o meu casamento indesejado, eu não havia entendido o conselho de Gina, o que me fez encará-la com as sobrancelhas franzidas.

— Como? Você está me dizendo que eu posso tirar proveito do casamento? Agora você está pensando que nem o meu pai... – eu reclamei enquanto bufava e pegava minha xícara de café.

— Ah qual é Hermione, você não entendeu, tipo eu não tive a chance de ver ele, mas pelo que você me disse ele é bem gatinho não é? – ela perguntou, eu concordei com a cabeça. – Então pior seria se o cara fosse um velho caquético de setenta anos...

— Mas ele é esquisito, e ainda é um interesseiro, calculista, lembra muito o meu pai, eu acho que é por isso que meu pai gosta tanto dele, os dois são farinhas do mesmo saco... – reclamei enquanto dava um gole de café. Seria terrível ter que conviver com a versão do meu pai mais jovem.

— Bom, mas ele parece bem interessado em você, poxa ele soube que você ia fugir e mesmo assim no meio da tempestade foi atrás de você, te convenceu a voltar para casa e ainda não contou nada para os seus pais... Talvez ele não seja tão ruim assim! – ela insistiu.

— Ele fez foi chantagem emocional comigo, ele sabia o meu ponto fraco e o usou ao seu favor, ele mesmo me disse que está ganhando algo com esse casamento, o que ele está ganhando eu não sei, mas ele não quer se casar comigo porque foi com a minha cara ou porque me achou bonita, esse casamento é apenas um negocio que quem vai acabar saindo perdendo nisso tudo sou eu... – eu expliquei, e para minha surpresa Gina sorriu.

— Isso se você quiser sair perdendo... – ela disse.

— Como? – eu perguntei, franzindo as sobrancelhas. Novamente não havia entendido aquele comentário.

— Bom, é como você mesmo disse que não tem outra saída, terá que se casar com ele, se não vocês vão à falência e o seu pai nunca te perdoará... – ela disse e eu concordei com a cabeça. – Então, como eu falei, use o casamento ao seu favor... Bom o cara é rico, bonito, jovem, então o faça gastar com você, faça ele te levar a lugares caros, comprar coisas caras, se aproveite por um tempo e depois peça o divorcio, até lá o seu pai já terá resolvido os problemas financeiros dele, e você poderá arrancar um bom dinheiro dele com a separação, afinal, vocês não irão se casar com separação total de bens... – ela acrescentou dando de ombros, me fazendo encará-la com a boca entreaberta. – Hoje em dia ninguém é obrigada a ficar a vida toda casada com ninguém, por isso que existe o divorcio!

— Se eu pedir o divórcio assim do nada ele vai me matar, ainda mais depois de ter gastado um dinheirão salvando a minha família da falência, você não o viu Gina, ele não me parece ser uma boa pessoa, ele iria preferir me matar a dar uma parte da fortuna dele para mim quando nos divorciarmos!

— Você não acha que está o julgando cedo demais? – ela me perguntou, meio desconfiada, eu apenas dei de ombros.

— Não sei, ele só não me passou uma boa primeira impressão! – respondi meio contrariada.

— Você irá conhecê-lo depois do casamento, conviverá com ele então pouco a pouco você vai saber até onde poderá ir com esse cara, se você ver que a convivência com ele desde o inicio será difícil e não tem coragem de pedir o divorcio, faça ele pedir, é só não ser uma boa esposa, inferniza ele, irrita-o, e ainda não permita que ele te toque, nenhum homem suportará isso por muito tempo... – ela me aconselhou, me fazendo pensar por alguns segundos.

Gina tinha razão, o casamento já era algo inevitável, se eu continuasse insistindo a não se casar com Draco eu poderia arrumar sérios problemas com minha família, principalmente com o meu pai, e por essa razão eu tinha que mudar de tática, eu poderia estar sendo obrigada a me casar com ele, mas eu não era obrigada a viver com ele pelo resto da minha vida. Se eu aguentasse algum tempo, até meu pai resolver os seus problemas financeiros seria o suficiente para eu chegar e pedir o divórcio. Assim, eu não arrumaria problemas com o meu pai e também eu não seria obrigada a viver a vida inteira em um casamento que não quero, sim, isso já seria o suficiente.

Assim, a conversa com Gina me deixou um pouco mais calma, ela sempre conseguia arrumar soluções ótimas, para todos os problemas, diferente de mim. Antes da conversa com ela, eu nunca tinha pensado na possibilidade de usar Draco Malfoy ao meu favor, na realidade, era porque aquilo tudo estava indo contra os meus princípios. Mas, eu estava começando a enxergar que não existia mais o certo e o errado, eu não podia mais ser honesta enquanto todos á minha volta não eram, e ainda usavam e abusavam de mim, mandando e fazendo escolhas em minha vida contra a minha própria vontade.

Eles jogaram as cartas e eu precisava entrar no jogo. Se eu não quisesse sair perdendo naquilo tudo, eu precisava mudar de atitude e enquanto antes melhor.

Então daquele dia em diante eu não protestei mais, não briguei mais com meu pai e nem pedi para não me casar, eu comecei a fingir assim como eles, sorria sem vontade, concordava mesmo que por dentro eu sentisse completamente enojada com toda aquela mentira, e ainda, eu participava de cada detalhe do casamento, torcendo apenas para que tudo aquilo passasse de uma vez por todas, pois eu não aguentava mais aquelas conversas, que se repetiam quase vinte e quatro horas por dia.

~~~

Faltava menos de uma semana para o casamento, quando acordei cedo para escolher as flores do buquê. Era o único detalhe que estava faltando, e isso me deixava mais aliviada, pois para mim era péssimo ter que ficar escolhendo coisas para um casamento que eu não desejava.

Sinceramente, por mais que eu tentasse me animar e tentar ver o lado positivo da situação, eu não conseguia. Mesmo eu não discutindo mais e nem reclamando em relação ao casamento, meu pai continuava sendo frio comigo, e ainda para piorar eu não havia visto mais Draco o que me deixava um tanto aflita, afinal, isso não contribuía muito para que nós dois pudéssemos ter pelo menos uma relação amigável um com o outro, parecia que eu só iria conhecê-lo melhor mesmo depois do casamento e só de imaginar que eu iria começar a morar com um desconhecido eu ficava desesperada.

Entretanto, eu tentava não pensar mais no assunto, levantei-me da cama e comecei a me arrumar sem nem querer pensar para onde eu estaria indo, vesti um vestido branco básico e prendi o meu cabelo num coque bastante alto, e não quis passar nenhuma maquiagem. Eu estava desanimada demais para isso.

Quando comecei a caminhar em direção a sala de estar, eu escutei uma voz conhecida misturando-se com a da minha mãe, entretanto aquela voz me deixou um tanto surpresa, senti meu estomago embrulhar quando entrei na sala e encontrei Rony Weasley. Eu não tinha o visto mais desde a minha festa de noivado.

Seus olhos logo encontraram os meus e ele sorriu levemente, sorriso que eu correspondi, entretanto, o meu saiu um pouco forçado, talvez tenha sido a surpresa.

— Filha! Olha só quem veio te ver... – minha mãe comentou puxando Rony pelo braço e o levando em minha direção. Ela o parou bem na minha frente, ficamos parados, olhando um para o outro por alguns segundos. Eu não conseguia dizer nada, eu só conseguia sorrir e confesso que aquele silêncio estava um tanto constrangedor, agradeci mentalmente quando Rony decidiu quebrá-lo.

— É... Bom... Você está bem? – Rony perguntou, atropelando suas próprias palavras.

Mordi meus lábios e fiquei quieta por mais alguns segundos, antes de respondê-lo:

— S-Sim... – eu gaguejei. Sem conseguir por nenhum segundo desgrudar os meus olhos dos dele.

— Bom, eu vou pegar uma xícara de café para vocês, eu já volto! – minha mãe disse bastante sorridente, depois virou e se afastou indo em direção a cozinha, notei que Rony ficou observando-a até ela sumir de nossa visão, só depois ele voltou a olhar para mim.

— Eu soube que você vai escolher as flores do buquê do seu casamento hoje... – Rony comentou, enquanto passava a mão em seu cabelo.

— É, é a ultima coisa que falta! – eu respondi, o tom saiu mais desanimado do que eu gostaria que saísse.

— Parece que então você vai se casar mesmo com ele! – ele respondeu e notei que ele parecia tão desanimado quanto eu.

Eu concordei com a cabeça, enquanto sentia os meus olhos começarem a marejar, desde o dia que eu conversei com Gina eu não havia chorado mais, só que era difícil falar disso com ele, logo com ele, com o único homem que me interessou até hoje, com o único que eu já sonhei em me casar e que a cada dia que se aproximava meu casamento com outro homem, esse sonho tornava-se mais distante, mais difícil, praticamente impossível.

Sim, era impossível não me lamentar, não me perguntar como teria sido se eu tivesse revelado os meus sentimentos a ele. Talvez agora eu estivesse comprometida com ele e não com um desconhecido, talvez o meu pai não tivesse tido essa estúpida ideia de ter me jogado para Draco. Agora eu poderia estar feliz, e em vez de estar escolhendo o buquê para me casar com o Draco, eu poderia estar escolhendo o buquê para me casar com Rony. Mas agora eu sabia, era tarde demais.

Ele suspirou e desviou o olhar para o chão.

— Eu não vou poder estar no dia do seu casamento, então, eu vim aqui me despedir... – ele comentou. Então eu o encarei com as sobrancelhas franzidas.

— Como assim, se despedir? – eu perguntei, e só então ele voltou a me olhar.

— Eu vou viajar para Espanha e ficarei lá por algum tempo... – ele respondeu.

Novamente senti o meu estomago revirar.

— Quanto tempo? – eu perguntei.

— Eu ainda não sei... – ele respondeu, agora olhando no fundo dos meus olhos.

— Mas... Mas... Por qual razão você vai para lá? – eu perguntei, tentando disfarçar o meu desespero, mas acredito que não tenha funcionado, com certeza ele deve ter percebido o quanto fiquei abalada.

Rony não teve tempo de responder, pois logo minha mãe entrou na sala segurando uma bandeja com duas xícaras de café em cima dela, sorrindo ela parou ao nosso lado, e então eu peguei a minha xícara e Rony pegou a dele, começamos a beber ainda olhando um para o outro.

Dali em diante Rony não prolongou muito a conversa, ele sabia que sairíamos então ficou apenas mais alguns minutos em casa. Por todo o momento meu coração disparava, e ainda eu estava tentando digerir a ideia de que Rony iria embora para Espanha, sem dia certo para retornar.

Porém, infelizmente minha mãe não entrou no assunto que eu queria tanto saber, apenas ficou perguntando sobre a família dele e como eles estavam. Eu ainda pensei em insistir na pergunta que eu havia feito anteriormente: O por quê ele irá para Espanha? Porém, eu não conseguia mais perguntar, parecia que eu havia ficado muda desde que minha mãe havia retornado para sala de estar.

Quando ele se levantou do sofá dizendo que já iria, eu senti novamente os meus olhos marejarem, eu tive que engolir a vontade de chorar e principalmente a vontade de dizer para ele o que eu estava sentindo, por alguns segundos minha vontade foi de desistir daquele casamento idiota e de dizer a Rony que era por ele que eu me interessava. Mas não, eu não tive a coragem.

Ele abraçou primeiro a minha mãe e ela desejou uma boa viagem a ele, ela sorria de forma simpática, e Rony correspondeu o seu sorriso, entretanto pareceu um tanto forçado. Depois ele caminhou em minha direção, trocamos sorrisos fracos e Rony me abraçou, eu coloquei a minha cabeça no ombro dele e senti os braços dele me apertarem, senti um calor agradável e minha vontade era de não me soltar nunca mais daqueles braços.

— É uma pena eu não ser rico como o Malfoy... – escutei ele sussurrar, eu não sabia se era para mim ou se ele estava falando com ele mesmo. Após isso ele me soltou e pareceu evitar me olhar novamente.

Eu fiquei parada, com a boca entreaberta, pensando no que eu escutei. Pareceu que tudo havia parado depois daquela frase, tanto, que sequer escutei o que ele dizia para minha mãe, eu só consegui voltar á realidade quando ele abriu a porta e foi embora.

Naquele momento eu senti as lágrimas que eu tanto segurei caírem dos meus olhos, e minha mãe se aproximou meio confusa.

— Hermione, o que foi? O que você tem? – ela me perguntou, mas eu não consegui responde-la.

Eu limpei as lágrimas com minhas mãos, enquanto eu sentia o desespero voltar a tomar conta de mim.

— Hermione? Hermione? – escutei novamente ela me chamar, mas novamente não a respondi.

Em um ato impulsivo eu corri em direção á porta, eu a abri e sai de dentro de casa correndo, eu queria encontrar Rony, falar com ele, dizer que para mim não me importava que ele não fosse rico, e que se algum dia eu tivesse imaginado que ele poderia corresponder os meus sentimentos, eu nunca, nunca na minha vida pensaria nem na possibilidade de aceitar aquele casamento.

Mas quando sai de casa e parei no meio da rua, eu percebi que já era tarde demais, ele já havia ido embora, eu só apenas consegui avistar o carro dele dobrando a esquina.

— DROGA! – eu gritei, irritada comigo mesma, coloquei as minhas mãos na cabeça e voltei a chorar, agora de raiva. Por que eu demorei tanto? Se no mesmo momento eu tivesse pedido para ele não ir ainda teria dado tempo...

Continua...


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