Primeiro Beijo escrita por Lua Calixto


Capítulo 1
Primeiro Beijo


Notas iniciais do capítulo

Conto escrito por Lua em 2012, achado em uma gaveta perdida no tempo.



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O perfume de flores corria pelo quarto branco, o cheiro de Amanda, suave, mas sempre marcante. Era impossível confundi-lo, um aroma produzido por ela mesma, era hipnótico, quase mágico, como tudo o que ela fazia. Era incrível poder estar no quarto dela, me sentia especial por poder chamá-la de irmã, mesmo que não fôssemos irmãs de verdade, gostava de fingir que sim.

— Eu queria entender por que todos amam esse perfume.

— É porque ele foi feito para isso. - Amanda sempre soava calma com sua voz tranquila, mas eu sabia que, por dentro, ela também tinha suas preocupações. - Você sabe, é uma combinação de flores que a minha mãe criou.

— Isso eu sei! Mas que flores são essas?

— Se as pessoas soubessem, não seria especial.

— Mas você já é completamente especial, não doeria dividir um pouco com a sua irmã.

— Não vou te contar o segredo, bobinha. - Amanda pegou um frasco de vidro com o perfume em sua mesa de cabeceira, soltando uma suave nuvem do líquido em mim. - Mas você não veio aqui para isso, não é?

— Eu vim falar sobre ontem…

— Sobre o seu primeiro beijo? - Amanda sentou em sua cama, ao meu lado, passando a mão em meu cabelo para tirar a franja que cobria meu rosto, enquanto me encarava com seus lindos olhos brilhantes, num tom avermelhado que só ela possuía.

— Eu não esperava que fosse daquele jeito.

— Eu não esperava que fosse com ela.

— Nem eu. Eu estou bem confusa com isso... Sempre tive curiosidade em beijar uma garota, mas nunca achei que fosse fazer isso…

— Sério? Eu sempre soube que você beijaria uma um dia. Sabe, é meio natural as pessoas fazerem isso, e como você nunca se sentiu confortável com nenhum menino, uma hora você…

— É, eu sei, ia acontecer mais cedo ou mais tarde…

— Então, por que está confusa?

— Não sei. - Me deitei na cama olhando para cima. Pinturas de flores subiam pelas paredes e se encontravam no teto, cercando o lustre como se aquele fosse o coração do quarto, a natureza particular de Amanda. - Acho que matar a curiosidade tem esse lado ruim. Agora eu já sei como é, nunca mais vou poder descobrir essa sensação de novo.

— Você gostou?

— ... - Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu não tinha pensado sobre aquilo, estava distraída pensando no que estava acontecendo, e nem ao menos me preocupei em gostar. - Sim... Eu acho.

— Então faça de novo. Se quiser se livrar desse sentimento de vazio, ocupe sua mente com outra coisa. - Amanda deitou ao meu lado, virando meu rosto com a mão para me olhar de perto. - Talvez não fosse apenas curiosidade.

— E o que mais seria?

— Acho que você viu algo nela que te deixou confortável.

— Eu só queria saber como era.

— Se fosse só isso, por que não matou sua curiosidade comigo? - Amanda se aproximou de meu rosto passando o dedo delicadamente pelos meus lábios. Eu olhava os dela, brilhantes, suaves e macios, tão desejados por todos, eu não ousaria tocá-los. - Você sabe que eu faria.

— Não seria a mesma coisa... - Me afastei dela, virando o rosto para o outro lado, me livrando daquele olhar sedutor que pouco me atingia. - Você teria feito só por que eu pedi, seria muito…

— Então você queria um romance de verdade? Quis um beijo que significasse algo?

— Não significou. Eu apenas quis provar, ela também, e aproveitamos o momento... Sem romances.

— Ela te disse isso?

— Disse... - Eu parava para pensar no que aconteceu na noite anterior. As palavras não se formavam em minha mente, mas as intenções sim. Eu sabia que queria tocá-la, e ela percebia isso, e me deixava chegar perto, me puxava para perto, demonstrava que, assim como eu, queria provar daquilo. "Foi só um beijo", repetia para mim mesma, mas sabia que seria muito mais do que isso se Amanda não nos interrompesse por acidente. Agora eu estava feliz por ela ter nos interrompido, percebia que eu devia ter ido mais devagar em explorar aquele mundo novo. - ...Eu não sei, ela não disse, mas…

— Você não sabe se foi só curiosidade.

— Eu estava curiosa, não estou mais.

— Mas na hora você não pensou nisso, não é? Você mesma disse não gostaria que eu fizesse para matar sua curiosidade, então por que deixá-la fazer?

— Eu não sei... Eu só senti que devia fazer. Ela também queria saber como era.

— Ela te disse isso? Você não devia deduzir o que ela sente com base no que você sente.

— Se ela não quisesse, por que faria?

— Isso eu não posso dizer. Como eu saberia?

— Você acha que ela gosta de mim?

— Você acha? - Amanda levantou da cama e caminhou até a porta de seu quarto. Seus passos silenciosos marcavam o fim da conversa, e logo eu estaria sozinha com meus pensamentos. - Porque eu acho que você é que gosta dela.

— Não seja tão cruel... - Eu me via sozinha no quarto, cercada pelo maravilhoso cheiro de flores secretas, rodeada por pensamentos explosivos que pareciam surgir apenas para me atrapalhar. Eu tentava me distrair, mas os lapsos daquela noite me deixavam desorientada. Eu queria saber por que parecia tão importante, mas só conseguia pensar que era bom, e como era bom... A cada segundo que pensava sobre aquilo, mais queria repetir aquilo. Talvez Amanda estivesse certa, e se eu estivesse apaixonada?

 

— Lua Calixto


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