O Colapso de Oak Falls escrita por Lótus Brum


Capítulo 4
Capítulo Quatro: O Caso Baker


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pelo atraso, ocorreu por razões criativas, mas felizmente deu tudo certo. Uma ótima leitura a todos!



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— Trevor, na escuta? — William Hayes segurava o rádio da viatura com a mão trêmula, extremamente impaciente. O rádio apenas chiava, vítima de alguma maldita interferência que o xerife associava, obviamente, ao meteorito caído a cem metros dali. — Trevor, na escuta, droga?!

Não havia resposta do amigo. O contato, provavelmente, sequer chegava até o rádio da cidade naquele momento. Hayes sabia que não tinha tempo de ir até a delegacia novamente e trazer mais gente, pois se algo havia acontecido ali, não fazia muito tempo. Na melhor das hipóteses, após a queda do meteorito na casa, os Baker teriam abandonado o isolamento social e ido até Oak Falls em busca de algum auxílio ou explicação que pudessem obter da prefeitura. Ele teria que investigar, de qualquer forma, mas não deveria se aproximar daquela coisa. Se esperava ajudar Jonathan de alguma forma, não poderia acabar como ele, vítimas da mesma situação.

O xerife conferiu as baterias da lanterna, chacoalhando-as antes de coloca-las novamente, como se fosse uma espécie de simpatia para que não falhassem. Decidiu segurar o objeto cilíndrico com a mão livre, desta vez. Em uma investigação era necessário que a luz fosse sempre precisa, e com a lanterna no ombro, não contaria com tal precisão. Desabotoou o coldre em sua cintura e secou o suor da palma da mão na lateral da calça antes de retirar a arma de dentro do suporte. Assim como outros policiais da região, sua delegacia contava com as populares, mas antigas, pistolas da marca Beretta, modelo 92. Sentia-se confortável com o tranco da arma e o material utilizado era de alta qualidade. Pressionou um botão na lateral da arma e ejetou o carregador, conferindo se estava completo. A pistola possuía capacidade para quinze balas, e as quinze estavam lá, prontas para uso. Certamente não precisava utilizar nenhuma, mas se Geralt Baker, conhecido por ser um homem problemático, estava tendo um dia ruim por causa de um objeto espacial que destruiu parte de sua casa, era melhor estar preparado. O xerife puxou o ferrolho para trás e deixou-o retornar, agora com uma bala na agulha. A arma emitiu um estalo e estava pronta para uso, contida apenas pela trava de segurança.

Respirou fundo uma única vez e então, avançou por entre os lençóis novamente, em direção à entrada do casarão. Desta vez, não precisou ser silencioso ou sequer cuidadoso, então não demorou até atingir seu objetivo. A construção se mantinha imponente à sua frente, enorme, escura e silenciosa. O vento sequer soprava agora, mantendo o moinho ao lado da casa totalmente parado. Enquanto avançava pelos degraus da porta da frente, Hayes lançou o facho de luz da lanterna em direção às janelas, procurando alguma silhueta ou anormalidade, mas as grossas cortinas impediram que conseguisse extrair algo dali. Deu mais alguns passos e girou a maçaneta uma vez, mas como esperado, a porta estava trancada.

— Polícia de Oak Falls! Estou aqui para ajudar, abram a porta!

O silêncio foi dado como resposta à abordagem de Hayes, fortalecendo a terrível e opressora aura de medo que se estabelecera ao redor da casa. O xerife deu um passo atrás, acompanhado pelo rangido das tábuas velhas que compunham a mal cuidada varanda, hesitante. Pensou em chamar mais uma vez, mas sabia que não haveria resposta. Cortou a distância entre ele e a porta com um passo rápido e ergueu a perna direita com toda sua força em direção à maçaneta, estilhaçando a madeira ao redor do metal e lançando a porta bruscamente até o final do caminho de suas dobradiças. Um barulho altíssimo ecoou pelo casarão quando ela bateu na parede, totalmente aberta. William Hayes avançou para dentro do casarão com o coração batendo violentamente, tomado pela adrenalina. Passou rapidamente a luz da lanterna pela sala em que se encontrava.

Era uma sala ampla, com pouca decoração. Havia dois ou três quadros com paisagens genéricas e um lustre velho que não se encaixava no ambiente. Só possuía a luz central, com os outros suportes permanecendo vazios. O xerife olhou ao redor, procurando o interruptor que acendesse a lâmpada, mas assim que encontrou e o moveu para baixo, percebeu que a parte elétrica da casa havia sido danificada com a queda. Havia três batentes de madeira que levavam a outros cômodos a partir daquela sala, e uma escadaria estreita no canto de uma das paredes que dava passagem ao segundo andar, onde provavelmente ficariam os quartos. Hayes decidiu seguir pelo batente que ficava de frente à entrada da casa.

Uma enorme mesa de jantar ainda estava servida no centro do cômodo, como se a refeição dos Baker tivesse sido interrompida. Havia uma travessa com restos de um frango assado e outra com o que se parecia com o clássico macarrão com queijo. Ambas possuíam um cheiro horrível, pois provavelmente eram do dia anterior e haviam sido vítimas do calor que estragava os alimentos com rapidez. Apenas um dos três pratos ainda tinha restos de comida, indicando que os outros dois teriam terminado antes de serem interrompidos. Notou que a cozinha ficava à sua esquerda, mas quando deu o primeiro passo em direção a ela para prosseguir com a investigação, ouviu novamente um rangido que correspondeu ao seu movimento. Sem sair do lugar, ergueu a mão que segurava a arma em direção à cozinha e também a lanterna, apontando as duas para o mesmo lugar. Suas mãos estavam cruzadas, a que continha a pistola por cima, a da lanterna por baixo. Uma gota de suor cruzou sua testa, mas foi contida pela sobrancelha. O ambiente já era sufocante por si só e as grossas cortinas e janelas cerradas impediam qualquer corrente de ar dentro da casa, mas o xerife sabia que a causa de seu suor não era o calor.

Ainda imóvel, ouviu o segundo rangido e agora pôde ter certeza de que não era o causador do barulho. Hayes refez seus passos até a sala principal com o coração a mil, apontando a lanterna e a arma diretamente para o topo dos degraus que levavam ao segundo andar. O facho de luz destacava a enorme quantidade de poeira, que flutuava em forma de pequenas partículas à frente de William.

— Geralt? — perguntou, em vão. — Martha?!

Mais um rangido veio até ele como resposta, e desta vez, o xerife correu pelo lance de escadas e alcançou o segundo andar. Respirava pela boca, registrando o ambiente ao seu redor com a pouca luz que lhe restara. Estava em um pequeno hall que só continha duas passagens: uma porta aberta que dava lugar a um apertado banheiro, e um longo corredor que levava aos quartos. Hayes ignorou o banheiro e avançou pelo corredor a passos lentos, sempre com a arma pronta, apontada em direção à passagem dos quartos. Quando estava na metade de sua extensão, ouviu um longo e agudo rangido que se arrastou por alguns segundos. “Merda!” pensou, relacionando imediatamente o som ao decrépito moinho metálico do lado de fora da casa.

Quando terminou de cortar a distância até o final do corredor, encontrou-se em um pequeno cômodo quadrado com uma porta em cada lado. Uma estava completamente fechada e a outra entreaberta. Uma janela no meio da parede entre as duas dava visão à enorme plantação de milho dos Baker. William decidiu entrar no quarto com a porta entreaberta da maneira mais silenciosa possível. Terminou de abri-la vagarosamente com o pé, avançando com a arma empunhada e colocando as costas contra a parede para não ser surpreendido.

O quarto estava vazio.

Havia manchas negras sobre a desarrumada cama de solteiro no canto do cômodo e as cortinas esvoaçavam vez ou outra devido ao vento que entrava pela janela aberta. O rangido vinha de uma cadeira de balanço no canto do quarto, que ajudava a compor um macabro cenário quando se movia sem que alguém estivesse sentado sobre ela. Hayes estava certo em seu pensamento inicial. Os Baker haviam ido até a cidade em busca de ajuda, não tinham sido afetados pela substância que provocara o acidente com o filho. Respirou, aliviado, e abaixou a arma, indo em direção à cama do filho do casal para checar as manchas. Estavam secas, mas ainda assim eram extremamente mal cheirosas. William decidiu que não tocaria nelas, mas sabia que não era sangue. Fluídos corporais, sim, mas não sangue.

O xerife decidiu voltar até o cômodo anterior, mas enxergou algo que causou uma torção tão forte em seu coração devido ao susto, que temeu uma parada cardíaca imediata. Um par de olhos espiava pela porta oposta àquela, através de uma pequena fresta. Apontou a arma e a lanterna naquela direção e a porta se fechou imediatamente, com uma exclamação de susto por parte da outra pessoa. Hayes avançou correndo até a maçaneta e girou-a com força, empurrando para trás quem quer que a estivesse segurando, e se lançou para dentro do quarto. Havia derrubado alguém no chão.

— Parado! — gritou, apontando a Beretta e a lanterna em direção à pessoa caída, mas quando pôde ver seu rosto, abaixou a arma de imediato. — Merda!

Os cabelos extremamente mal cortados, o pequeno cavanhaque falhado e a estatura esguia revelavam a identidade da pessoa à frente do xerife: Ernest Baker, o filho do casal que habitava o sinistro casarão.

— Não atira, não, seu Hayes! — o garoto que devia ter seus recém-feitos vinte anos colocava as mãos à frente do rosto, tentando evitar a luz da lanterna e, de alguma forma, se proteger da arma apontada para o seu rosto.

— Droga, garoto! Por que diabos não respondeu nada quando entrei na casa? — o xerife deu um passo à frente e agarrou o braço de Ernest, ajudando-o a levantar. Seu rosto aparentava extremo cansaço, mas seus olhos permaneciam atentos e impacientes. Seu cheiro era ruim e podia ser sentido sem muita proximidade, indicando que não havia tomado banho há um ou dois dias. — Você está bem?

— Meu pai, é o meu pai...

— O que tem o seu pai, Ernest? Ele não foi até a cidade? Eu vi o meteorito e...

— Ele e a minha velha discutiram, seu Hayes! Brigaram feio! Eu entrei no meio, mas ganhei isso aqui... — o rapaz virou o rosto para o lado, revelando uma grande marca escura abaixo do olho. — Ele a levou para algum lugar! Disse que era culpa dela, que tudo o que acontecia nessa maldita casa era culpa dela... — Sua voz estava embargada, contendo o choro. Apesar de já ser quase um adulto, o xerife não culpava o garoto por isso. Não deve ter sido fácil de ver. — Meu pai enlouqueceu de vez! Eu vi pela cara dele!

— Você viu para onde eles foram? A camionete de vocês está na garagem?! — William olhou para o lado de fora da janela do quarto, tentando encontra-la com uma segunda olhada pela extensão da fazenda, mas não percebeu nenhum sinal do veículo.

— Ele disse que ia vender aquela coisa... Disse que ia ficar rico e daria um pé nela, que só atrasava a vida dele!

— Que coisa, garoto? Eu preciso de detalhes!

— Aquela merda que fica saindo da pedra, porra! — gritou o garoto, extremamente irritado. — Ele pegou todos os galões de leite para encher com aquela porcaria roxa e levar até a cidade! Eu só quero saber o que o desgraçado fez com a minha mãe...

— Vou tentar entrar em contato novamente com o policial Trevor. Caso Geralt Baker retorne, é melhor que esteja comigo. — William foi até a porta e apontou a lanterna contra o final do horripilante corredor, apenas para checar que estavam sozinhos ali. Sem o menor sinal de movimento naquele lugar, fez um sinal para que Ernest o acompanhasse. O rapaz o seguiu prontamente, e enquanto os dois caminhavam lentamente pela casa, o xerife fez mais algumas perguntas. — O que aconteceu durante o jantar? Vocês foram claramente interrompidos.

— Aquela coisa caiu nos fundos da casa. Meu pai saiu correndo para ver e mandou que a gente ficasse, mas é claro que eu não consegui enfiar mais nada na boca depois de ouvir um barulhão daquele! Ele voltou todo manchado daquilo e disse que ia pegar os galões, que o Governo ia pagar uma fortuna pra ele ficar de bico fechado...

— Merda... Ele entrou em contato com o líquido diretamente?

— Em contato? O desgraçado se atolou naquela lama roxa e brilhante, queria saber se tinha cheiro, se era tinta de alguma pegadinha das fazendas vizinhas ou qualquer outra porcaria assim... Depois que ele percebeu que não tinha como ser coisa normal, saiu, como já te contei. Tinha vômito na varanda quando fui atrás dele, mas já tinha saído na camionete. Deu umas três ou quatro horas até ele voltar e levar a minha mãe com ele.

Passando pela sala, Ernest deu uma olhada por cima do ombro em direção à mesa de jantar e engoliu em seco. O xerife seguiu pela porta arrombada e parou na varanda, olhando para o milharal com certa inquietude.

— Você disse que ele demorou quando foi buscar os galões de leite. — O rapaz concordou com a cabeça, olhando fixamente para o policial. — Onde eles ficam guardados? É longe daqui?

— Não. Na verdade, dá pra ir a pé. Ele sempre me mandava ir a pé. — Pensando por alguns instantes, o garoto chegou a uma conclusão. — Talvez uns dois quilômetros. Eu sempre ia pelo milharal para encurtar o caminho, mas se for de carro, o caminho é pela estrada de terra que o senhor usou para chegar aqui, na fazenda. Antes da porteira tem uma entradinha meio escondida pelo mato. De noite, mesmo, é duro de ver...

— Preciso que me leve até lá. É o primeiro local onde procuraremos a sua mãe. — Hayes olhou fixamente para Ernest, que concordou sem pensar duas vezes. Atravessando pelos malditos lençóis novamente, o xerife entrou na viatura policial e destravou a porta do outro lado para que o rapaz se sentasse. Enquanto ele se ajeitava e colocava a contragosto o cinto de segurança, Hayes ligou o carro e apoiou o braço sobre o banco para olhar em direção ao para-brisa traseiro e dar marcha ré em segurança, fazendo a volta e retornando à estrada de terra que os levaria até o local mencionado.

Como precisavam cruzar a estrada lentamente para não danificar a suspensão do carro nas irregularidades do terreno, o xerife aproveitou para tentar mais um contato com Trevor quando já haviam se afastado consideravelmente do meteorito. O chiado mais baixo e bem menos frequente era um bom sinal.

— Trevor, na escuta? Câmbio.

— Sim... or, câmbio. — A voz do amigo era um alívio para Hayes, mas o sinal ainda não estava perfeito. A mensagem havia chegado cortada.

— Onde você está? Já levou os garotos em casa? Câmbio.

— Est... guros, chefe. Tô vol... cia... Câmbio.

— Mal consigo te ouvir, cara. Estou na fazenda dos Baker, o Geralt endoidou e fez alguma coisa com a esposa. Estou com o filho deles, vamos checar um local afastado da fazenda. Câmbio.

— Mais essa agora? Já não... pital, câmbio! — o sinal havia melhorado um pouco, mas a voz de Trevor ainda falhava.

—Pital? Que? — Hayes perguntou, franzindo o cenho. Até esquecera-se de anunciar o câmbio ao final, irritado com o sinal fraco do rádio policial.

— Hospital! Recebi uma... mada da doutora, os mili... tomaram conta do prédio! Câmbio. — Repetiu o amigo, explicando melhor o resto da frase.

— Merda... Chego aí assim que terminar, vá até lá e veja o que está acontecendo! Câmbio e desligo. — O xerife colocou o rádio de volta no suporte, ao lado do volante. Ernest olhava para ele com certa apreensão, mas logo voltou a encarar a janela. — Já estamos chegando na porteira, onde é a tal entrada, garoto?

— Ali na frente. — Ernest Baker apontou em direção a um matagal que se erguia ao lado da estrada, mas assim como havia dito, realmente existia um caminho ali. Era possível ver com clareza as marcas de pneu adentrando a vegetação e deixando sulcos na terra fina, junto com o mato amassado pela intrusão de um veículo.

Hayes não demorou a girar o volante para a direita e se colocar naquela trilha, mudando os faróis para a luz alta. Pelo canto dos olhos, viu que o rapaz torcia as mãos nervosamente, talvez temendo o que fosse encontrar, mas o xerife não era capaz de lhe dizer nada positivo neste momento. Deveria estar satisfeito com a chegada dos militares ao hospital, mas Trevor não soara otimista. “Tomaram conta do prédio”, pensou ele, lembrando-se das palavras do amigo. Balançou a cabeça, afastando aqueles pensamentos.

— Posso seguir por aqui? — perguntou para o rapaz, que apenas concordou com a cabeça.

Aproveitando-se do terreno um pouco menos acidentado, William impôs mais velocidade no carro e em menos de cinco minutos, encontrava-se em uma área mais aberta. Ainda conseguia ver o milharal à direita, mas agora tinha mais liberdade para movimentar o veículo para além da trilha feita pela camionete. A lua permanecia imponente nos céus, auxiliando na iluminação do caminho que percorriam. “E pensar que de todos os problemas e crimes previstos na lei, eu teria que me preocupar logo com coisas caindo do céu e machucando pessoas. Que dia de merda para ser o xerife...”, refletiu Hayes, em silêncio.

— Ali! — o garoto deu um salto do banco, pressionando o indicador contra o para-brisa do carro. — A camionete do meu pai!

A enferrujada camionete de Geralt Baker se encontrava ao lado de um pequeno galpão de madeira, tão decrépito quanto as outras construções da família. As tábuas já se encontravam soltas e mesmo do lado de fora, era possível enxergar as ferramentas guardadas lá dentro, inutilizando a pequena portinhola trancada. Desligou os faróis da viatura e parou logo ao lado do outro veículo, saindo do carro com a arma em uma mão e a lanterna na outra. Ernest também desceu, correndo em direção ao pequeno depósito.

— Espere, garoto! — Hayes gritou para ele, mas o rapaz sequer olhara para trás, continuando desvairado em seu caminho. O xerife não teve outra escolha a não ser segui-lo com a mesma velocidade. Contornou o galpão de ferramentas e ergueu a arma imediatamente.

Cerca de dez metros à frente de Ernest, Geralt Baker se encontrava cavando. O velho homem sequer parecia tê-los notado, continuando a fazer seu trabalho de maneira monótona e vigorosa. O mais impressionante não era vê-lo cavando, mas sim o quê. O homem havia criado uma circunferência ao redor de alguma coisa, como se fosse uma grande cratera. Hayes não conseguia enxergar o que estava no centro, mas a sensação ruim que tomou conta de seu estômago lhe dava um mau pressentimento. O buraco que ainda estava sendo cavado já contava com, pelo menos, três metros de profundidade, mas ainda assim, Baker não parecia satisfeito.

— Cadê a minha mãe?! — gritou Ernest para o outro homem, que levantou a cabeça e franziu o cenho em direção a ele, cuspindo no chão. O velho Baker deu uma espécie de grunhido e continuou a cavar, colocando os olhos de volta na pá. — Responde, seu...! — O rapaz se adiantou para pegar uma pedra que se encontrava logo ao seu lado, mas William, que já estava perto, correu e agarrou seu braço antes que o fizesse.

— Eu tomo conta daqui, garoto. Seu pai não está nada bem. — O xerife apontou para as mãos do fazendeiro, totalmente ensanguentadas. O cabo da pá também estava manchado pelo vermelho, indicando que o homem estava trabalhando naquilo há muitas e muitas horas. Ernest engoliu em seco e deu um passo atrás.

O policial foi até a borda da cratera e deslizou em pé até lá o chão, aproximando-se de Geralt, mas mantendo uma distância segura. Deixando a arma abaixada, lançou apenas a lanterna em direção a ele, que não demonstrou nenhum incômodo e continuou trabalhando. William moveu o facho de luz para o centro do buraco para identificar o que diabos era aquilo, mas mesmo estando bem perto agora, ainda era difícil discernir. Parecia coberto por uma manta negra, ou uma espécie de piche. Pequenos filetes escuros se espalhavam ao seu redor como se fossem pequenas raízes, mas não iam muito longe. Ele deu mais dois passos em direção ao outro homem e desta vez, conseguiu arrancar-lhe uma reação.

Geralt Baker parou de cavar e virou-se para encará-lo, visivelmente irritado. Seus cabelos brancos e curtos estavam ensopados de suor, caídos para o lado direito. Ele já não usava camisa, mas ainda estava com uma calça jeans e galochas, como se tivesse planejado a tal escavação.

— O que está fazendo, Geralt? Sua casa está largada, seu filho estava assustado e disse que você e Martha brigaram... — os dois homens estavam se encarando, e Hayes havia abaixado um pouco a lanterna para que não ficasse nos olhos do outro. Como não obteve resposta, continuou a falar, firme e vagarosamente. — Onde está ela, Geralt?

O velho à sua frente deu mais um grunhido raivoso e arrancou a pá do chão, segurando-a com as duas mãos contra o peito. Hayes apertou os dedos ao redor do cabo da Beretta, posicionando o indicador ao lado do gatilho.

— Não quero ter que prendê-lo, Geralt. Somos adultos, e se você fez alguma besteira, é melhor que me diga agora! — O tom de voz de William era alto e agressivo agora. — Diga! — Gritou ele, avançando mais dois passos em direção ao centro da cratera.

Aquilo despertou a fúria do velho homem, que ergueu a pá acima da cabeça e gritou enraivecido enquanto avançava para golpear o policial com a ferramenta. Hayes arregalou os olhos e se jogou para o lado, desviando-se por pouco do ataque ensandecido de Baker. Sem pensar duas vezes, segurou a pistola com ambas as mãos e pressionou o gatilho, mirando em um dos joelhos do velho. O projétil varou o jeans e a carne, arrancando de Geralt um grito curto de dor, abafado pelos seus dentes cerrados. Ele caiu sobre o joelho ferido por um breve momento, mas usando a pá como apoio, colocou-se de pé novamente. O xerife apontava a arma diretamente para ele, mas isso não o fazia hesitar nem por um segundo.

— Fica parado, seu bastardo maldito! — William gritou para ele, que continuou caminhando em sua direção com a arma erguida. O velho Baker estava claramente fora de si, mas naquela situação, Hayes não conseguiria imobilizá-lo. Quando o maldito arrastou a pá para o lado e fez menção de atacar novamente com a ferramenta, William disparou três vezes contra o seu peito.

Geralt Baker caiu para trás, vítima do impacto dos tiros, e não fez mais menção de se levantar. O homem agonizou por um momento e o xerife se aproximou dele para verificar seu estado. Os olhos do velho se arregalaram como se só agora estivesse percebendo o que acabara de fazer, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa em suas últimas palavras, ele se empertigou todo, contorcendo-se violentamente por longos segundos enquanto o xerife e o filho daquele pobre infeliz permaneciam em choque com a cena que se desenrolava na frente dos dois. O maldito Baker, em seus espasmos de morte, fez jorrar de sua boca uma quantidade infindável de um muco completamente negro que se espalhou no fundo daquela maldita cratera.

— Hayes, aqui! — Ernest gritou, estendendo a mão na direção do policial para ajuda-lo a sair do buraco. William agarrou-a e foi puxado para cima pelo rapaz antes que o líquido viscoso o tocasse. Os dois observaram aterrorizados enquanto o fundo da cratera era preenchido por aquele líquido viscoso e extremamente fétido até ganhar uma profundidade de aproximadamente trinta centímetros, suficiente para cobrir o corpo de Baker e o que quer que estivesse no centro daquele buraco amaldiçoado.

— Vamos sair daqui, AGORA! — berrou Hayes enquanto corria até a viatura.

Ele não precisou dizer duas vezes e tão logo entrou no carro, Ernest também ocupou seu lugar. Sem dizer uma palavra, o xerife acelerou o carro e girou completamente o volante para a esquerda, fazendo com que os pneus deslizassem no chão e formassem uma meia-lua na terra, erguendo uma nuvem vermelha no local. Pedregulhos saltaram quando o policial colocou o carro novamente na trilha em uma velocidade bem superior à que tinham utilizado para chegar até ali. Conseguiu respirar mais tranquilamente apenas quando colocaram-se na rodovia que levava até Oak Falls, quando finalmente agarrou o rádio e pressionou o botão para falar.

— Trevor, sou eu. Estou a caminho do hospital. Vá até o chefe do pelotão militar e diga para me esperar pronto. Eu quero informações e quero assim que eu chegar! Câmbio, desligo. — Rosnou o xerife, por entre os dentes.

 


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