Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 98
Contagem Regressiva


Notas iniciais do capítulo

Enfim o vestido de Kelly está pronto!! E adivinha quem não gostou da notícia? Mas, como sempre nem tudo são flores... um pequeno problema vai assombrar o capítulo.
Espero que gostem!
Boa leitura!



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E, depois de muito adiar, de muito tentar não pensar nisso, meu vestido estava finalmente pronto. Perfeito e devidamente ajustado às minhas medidas. Era a minha última ida a NY e agora eu tinha que voltar com essa gracinha para Washington e com o lindo vestidinho de Dama de Honra de minha irmã que também já estava pronto.

Olhei para o saco onde o vestido estava. Senti um frio na barriga. Estava chegando, mais dois meses e eu estaria sendo conduzida ao altar pelo meu pai. E eu ainda não sabia se estava pronta para deixá-lo sozinho dentro daquela casa.

Sozinho não! Ele não estava mais sozinho. As coisas entre ele e Jen tinham se acertado e os dois estavam bem no último mês. Ele tinha até voltado a usar aliança, agora no dedo e mão certos!

Coloquei meu vestido com todo o cuidado no banco de trás do carro, estava indo para Alexandria, com uma pequena parada em Georgetown, já que o vestido ficaria lá, meu pai não precisava dormir debaixo do mesmo teto que o meu vestido de noiva, além do mais, o closet da minha irmã tinha bastante espaço para ele. Ia ser divertido ver o meu vestido e o dela lado a lado dentro daquele cômodo.

Suspirei... minha pequena e fashionista irmã estava aprontando algo, disso eu tinha certeza, se aquele brilho nos olhos dela dizia alguma coisa. Agora o que era, eu não faço a menor ideia.

Me preparei mentalmente para a viagem de seis horas que tinha pela frente, coloquei o pendrive para escolher a minha parte das músicas que tocariam na festa e acelerei, não tinha muito o que fazer se eu quisesse escapar do trânsito dos infernos até passar Nova Jersey.

No meio do caminho, comecei a imaginar a minha vida de casada e de médica da Marinha. Tudo o que eu ganhei foi uma dor de cabeça e uma vontade imensa de chorar... estava precisando de uma sessão de terapia com a minha mãe adotiva e dos conselhos que eu sei que ela me daria. Suspirei, mais três horas, sem contar o trânsito e eu estaria na casa de Jen. Espero que tenha alguma comida pronta, pois eu estou morrendo de fome!

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Essa casa estava uma bagunça. Essa era a definição do que estava acontecendo aqui. E eu pensando que seria uma noite calma só com Jen e Sophie.

Mas acontece que hoje é dia de aula de defesa pessoal da Ruiva e por isso, Ziva e Tony chegaram duas horas atrás e já foram arrastando a pequena para o estúdio de dança/academia que tinha por aqui.

Fiquei por perto, só para ver o que Ziver estava ensinando, até que escutei os passos de Jen.

— É muito feio ficar ouvindo atrás da porta. – Ela disse e se sentou do meu lado.

— É sempre divertido assim? – Apontei para a porta da sala.

— Se você estiver comentando das reações de DiNozzo, sim, ele sempre foi esse palhaço, mas Ziva também não colabora.

— Soph me disse que você costuma se intrometer. – Joguei verde.

— Se você for, eu topo.

Nós dois paramos na porta, bem a tempo de ver Sophie tentar, sem muito sucesso, dar um golpe com o pé, em um saco de areia.

— Tá alto. – Ela chiou.

— Pule mais alto! – Ziva instruiu.

— Mas tia, é o mais alto que eu posso pular!

— Não, não é! Você pode fazer melhor do que isso e vai fazer. – É claro que David não daria moleza para a pequena.

Sophie se levantou do tatame. Parou na frente do saco e pulou, girando para poder dar o chute.

Errou de novo, caiu sentada e não gostou de ter errado.

Ziva nem abriu a boca e Sophie já estava de pé novamente, parada, concentrada no que tinha que fazer.

— Um...dois...três... – Ela falou e pulou. Acertando o alvo.

— Falei que você conseguia! – Ziva disse. – Agora, você vai tomar uma distância ainda maior e chutar assim. – Para a israelense, era esse o máximo de elogio que faria. Tony, por sua vez, se levantou e estendeu a mão na direção da minha filha.

— Boa, Peste Ruiva!! Tá ficando melhor do que a Zee-vaah!

Foi nessa hora que os três notaram as nossas presenças.

— Vieram treinar também? – Ziva perguntou.

— Eba! Agora eu fico só olhando!! – Sophie se aninou e já foi saindo de perto do tatame.

— Por que não? – Jenny sorriu.

Tony olhou torto para o meu lado.

— Que foi, Meu Italiano de Araque Preferido? – Sophie perguntou pulando ao lado de Tony.

— É que eu meu lembrei da última vez que eu treinei do lado do seu pai... saí de lá com um tremendo torcicolo.

— Eu não me lembro disso... – Ziva falou.

— É que foi antes de você chegar... – Ele tentou se esquivar e Jenny me olhou curiosa.

— Foi quando a Kate estava na equipe. Ela deu uma surra no Tim, papai fez a mesma coisa com o Tony. – Kelly apareceu na porta, segurando dois sacos com roupas. Tenho certeza de que eram os vestidos.

— Isso aí é o seu.... – Ziva perguntou abrindo um sorriso.

— É... ele vai ficar aqui. E não só o meu. Moranguinho o seu também está pronto! – Ela confirmou as minhas suspeitas ao levantar o saco menor, onde estava o vestido da irmã. – E todos dois vão ficar dentro do seu closet, Sophie. Cabe a você não deixar ninguém chegar perto dele. – Kelly piscou para a irmã.

— Depois você nos mostra... eu preciso ver se ficou tão bonito quanto o que vimos! – Jenny disse.

— Tudo bem. Me esperem! Eu faço dupla com a Sophie!! – Kells gritou da escada.

Eu ainda estava assimilando que o vestido de noiva de Kelly estava pronto e no mesmo lugar que eu.

— Calma Jethro. É só um vestido. – Jen veio para perto de mim.

— Não, Jen. É o vestido. – Não tinha emoção na minha voz.

— Na verdade, são os vestidos. O de Sophie está aqui também agora.

— Sophie não está se casando.

— Ah, não... ela só está levando as alianças até a irmã e o cunhado. Você ainda vai ter muito tempo para aturá-la fazendo bagunça – Ela apontou para o lugar onde a Ruiva e Tony estavam. Um tentando derrubar o outro, lógico que Ziva estava ajudando a menina.

Com pouco Kelly desceu, com roupa de ginástica e pronta para derrubar a irmã no tatame.

— Hoje, Moranguinho, vai ser a minha forra. Eu vou fazer você me pagar por todo aquele chocolate que você jogou em mim!!

Sophie deu uma gargalhada e soltou:

— Quero ver você tentar!!

Estava iniciada a briga.

Ziva dava os comandos e nós tentávamos obedecer, a certa altura, Tony, cansado de apanhar, trocou de dupla, indo treinar com Sophie. Ela só não o jogou no chão, porque não tinha forças, mas ele também não ganhou dela.

  Achei que depois da “aula”, Ziva e DiNozzo iriam embora, mas estava enganado, eles simplesmente resolveram que precisavam de um banho e depois se jogaram na sala. Foi o tempo exato para que McGee e Abby chegassem.

E foi aí que eu perguntei o que estava acontecendo.

— Sexta-feira de filme. – Todos me responderam.

E lá íamos nós para outra sessão de desenhos. Só que não era desenho. Era o filme que Tony tinha dado a Sophie no aniversário de 6 anos dela. As Crônicas de Nárnia.

Nos ajeitamos para ver o filme, como sempre, Ziva era a que menos acreditava no que estava vendo, Sophie teve que jurar para ela que o filme era bem fiel ao livro, o que acalmou um pouco a israelense.

Duas horas depois, o filme acabou, e por incrível que se pode parecer, ninguém atrapalhou, ninguém fez piada e Sophie ficou acordada o tempo inteiro. Assim que os créditos começaram a subir, Abby perguntou:

— E o próximo, qual vai ser?

Olhei para Jen, que dessa vez tinha se sentado do meu lado o filme todo e estava com a cabeça no meu ombro.

Piratas do Caribe!!! – Ziva gritou. – Eu estou querendo ver esse a um tempo!

— Tem que ser antes do jantar de ensaio para o casamento da Kelly. – Tony completou.

— Por mim tudo bem! Sophie, você tem esse filme? – Kelly entrou na conversa.

— Esse não... – A pequena apenas olhou para Tony. – Tony?

— Eu tenho, mas acho que vou comprar uma cópia para você.

— Ah, eu me lembrei de algo! – McGee trocou o foco.

— De que, Tim? – Abby olhou para ele.

— Ficamos de discutir, qual filme era mais fiel ao livro, Harry Potter ou As Crônicas de Nárnia.

As Crônicas de Nárnia!!— Todos responderam.

— É a primeira vez que vejo unanimidade entre vocês! – Jenny comentou. – Um milagre que só a Disney poderia fazer.

Sophie deu uma risada, porém, dessa vez foi Ziva quem trocou o foco da conversa.

— Mudando de assunto, o vestido!

— O vestido!! – Sophie deu um pulo.

— Que vestido? – Abby olhou para todos.

— Qual vestido, Abbs? – Kelly revirou os olhos.

Aquele vestido? Ele já tá aqui?

— Sim!! – As meninas responderam e se levantaram correndo. No meio do caminho, gritaram: - NOEMI!!! VOCÊ TEM QUE VER TAMBÉM!!

Só escutei as cinco subindo as escadas.

— Isso é algo que eu não quero ver! – Tony comentou, tirando o DVD do aparelho e guardando na caixa.

— Nem eu... – McGee deu de ombros.

Eu não respondi nada, era sexta à noite, deveria ter algum jogo na televisão.

Achei o campeonato universitário e tentei me concentrar no que via, mas era difícil já que as meninas ficavam falando qualquer coisa como “ficou perfeito!” “Nossa maravilhoso!” e “Kelly, você vai ser a noiva mais linda que já vi!”

Depois de quase uma hora, elas desceram, Kelly estava vermelha, Sophie não estava lá muito acordada mais e pulou no meu colo, já Ziva e Abby estavam comentando como tudo iria ficar perfeito. Foi Jen quem pôs fim na conversa.

— Tudo bem, meninas, o que foi que combinamos? Nada de falar de casamento na frente dos meninos.

E as outras três assentiram sem discutir e se sentaram para ver o jogo. Sophie dormiu com menos de quinze minutos, Kelly também não resistiu e cochilou no sofá, Abby e Ziva estavam trocando mensagens uma com a outra, com certeza falando do casamento. Jen tinha pedido licença e ido trabalhar.

Ao final do jogo, os quatro, depois de acordarem Sophie, se despediram e afirmaram que só nos veríamos na segunda-feira.

Era o início do meu final de semana. Com uma companhia não muito agradável, dependurada no closet da minha filha mais nova. Começava a contagem regressiva para o casamento de Kelly.

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Estava planejando sair com Sophie para poder resolver as duas últimas partes do casamento de Kelly.

Com o presente já comprado, Kelly havia se esquecido de um pequeno detalhe.

Os sapatos. Ela já tinha olhado tudo, menos os sapatos, se deixasse ela ia para o altar calçada em um par de Converses...

Assim, em uma tarde, depois de sair de uma reunião no Capitólio e sabendo que tinha pouco serviço me esperando no Estaleiro, resolvi pegar Sophie mais cedo na escola e a deixei faltar nas demais aulas extracurriculares. Kelly precisava urgentemente de alguém para escolher aquilo que ela vinha adiando.

Nem preciso dizer que minha filha tinha ficado em êxtase ao saber da tarde de compras não programada.

— Mas mamãe... não tem problema eu faltar nas minhas aulas? – Sophie disse entre a animação de estar fora da escola e o pesar por estar perdendo algum conteúdo importante.

— Quais aulas você tem hoje? – Perguntei, mesmo que eu soubesse os horários dela.

— Bem... idiomas.... francês, alemão, italiano e espanhol.

— E a senhorita como está nessas aulas?

— Tá fácil... o que a professora está explicando eu já sei... mas eu presto atenção mesmo assim! – Ela me garantiu.

— Então, assim que terminarmos aqui, você chega em casa e faz a lição. Eu acho que posso te ajudar em algumas dessas. – Pisquei para ela.

— A senhora fala todas essas línguas!! – Ela me acusou.

— Então eu posso te ajudar, não é mesmo?

Ela gargalhou em concordância. Um pouco atrás de mim, escutei o pobre Melvin que estava como meu segurança, rir junto, esse era outro que sempre caia na gargalhada com a quantidade que Sophie falava.

— Tudo bem, mamãe... aonde a senhora pretende ir?

— Por que a pergunta? Eu não planejei isso! – Me defendi.

— A senhora sempre planeja tudo! – Sophie disse convicta.

Ah se ela soubesse que justo ela não estava nos meus planos... e nem o pai dela...

— E se eu não tiver planejado nada?

— Mamãe... então por que estamos na frente dessa loja?! É a sua marca preferida de sapatos!!

Olhei para a fachada da Louboutin...

Talvez... só talvez, eu já tinha uma ideia do que eu iria comprar para Kelly.

— Bem... talvez você tenha razão Sophie. Mas sabe por que essa loja?

Quando eu disse que ela tinha razão, minha filha fez a mesma expressão de “eu estou sempre certa” que Jethro sempre carrega quando um caso vai exatamente da maneira que ele sabia que iria.

— Porque é a sua preferida! Fácil! – Sophie deu de ombros e foi abrir a porta.

— Não. Porque o primeiro presente que eu dei para Kelly foi um par de sapatos, que ela tem até hoje, comprei dessa marca para ela. Foi o presente de formatura dela no primeiro ano e, diga-se de passagem, o primeiro salto que ela ganhou. – Contei para minha filha, e me lembrei da reação de Jethro ao saber o que eu tinha enviado para a filha dele.

— E papai deixou? Ele vive falando que eu só vou usar salto alto quando tiver 40 anos!! E quando eu chegar aos 40, sempre aumentará um ano...

— Vamos dizer que ele não gostou nenhum pouco, mas acabou aceitando.

Minha Miniatura me olhou desconfiada.

— O papai? Aceitando fácil um presente desses? Não acredito!

— Vamos dizer que ele aceitou tão bem quanto o fato de você ter escolhido a roupa que ele iria trabalhar durante a semana em que estive em Paris...

— A senhora ficou sabendo disso?! – Sophie deu uma pirueta e parou na minha frente com seus olhos coloridos arregalados.

— Eu recebi uma atualização diária das roupas do seu pai naquela semana.... Tenho até fotos, porque nem eu acreditei.

— Abbs!!! – Ela disse estreitando os olhos.

— Pode ter certeza de que foi ela! Agora, vamos deixar o papo de lado, temos que escolher os sapatos para o Grande Dia da Kelly.

— E os nossos?!

— Você já tem uma sapatilha que vai combinar com o seu vestido filha! – Disse.

Sophie parou e ficou olhando para uma determinada sapatilha.

— Não... eu não vou comprar aquela sapatilha para você.

— Mas eu não posso usar salto alto!!

— Não, não pode. E só vai calçar salto depois dos dezesseis.

— Mas mamãe.... – Ela implorou.

— Seu pai vai me matar se eu te comprar essa sapatilha!

— E olha aquele ali... combina perfeitamente com o seu vestido!! – Ela andou até outro par de sapatos que estava em exposição. Nem preciso dizer que Andrea, a vendedora que estava nos atendendo, ficou alegre com as escolhas da minha filha.

Eu estava perdida. Ia deixar uma pequena fortuna naquela loja... por que eu tinha que ouvir a minha filha?

Se o pai dela estivesse aqui, ele diria que eu não estava ouvindo a minha filha, estava apenas seguindo os meus desejos que, coincidentemente, – e olha que ele não acredita em coincidências - são os mesmos de minha filha.

Como Sophie já tinha me mostrado o meu sapato e o dela foram escolhidos pelo olho e em menos de cinco minutos... já o de Kelly, ficamos em uma dúvida. Sophie queria um, eu queria o outro.

— Esse é muito sério!! E é todo branco e sem graça! Onde mais se usa sapatos assim senão em um casamento? – Ela argumentou enquanto segurava o modelo que ela achava o mais justo. – Já esse aqui, olha para ele. Ela pode usar depois do casamento!!

— Brilhante desse jeito? – Perguntei descrente.

— Kelly tem que aprender a se vestir primeiro, é claro. Mas ela pode usar, além do mais, ela vai ter que ir a bailes junto com o Henry... e aqui já tem um par de sapatos. Kelly tem que ser menos básica. E não se esqueça, mamãe, o vestido dela não tem brilho nenhum!!

Sim, minha filha de seis anos tinha acabado de fazer uma tese de doutorado sobre as escolhas de roupa da irmã mais velha. Dei graças à Deus que Jethro não estava por perto!

Eu ainda não estava convencida, foi a Andrea quem deu o voto de Minerva. Escolhendo o modelo que Sophie tanto defendia.

— Vocês duas deveriam formar uma dupla. – Falei em direção à Andrea e à minha filha. As duas só sorriram de maneira cúmplice. Era incrível como Sophie arranjava uma amizade onde quer que ela pisasse!

Depois de pagar a conta e agradecer que eu tinha o meu próprio dinheiro. - Só Deus sabe o quanto Jethro já falou na minha cabeça sobre o preço do vestido de Kelly. – Vi que ainda era cedo o bastante para poder ajeitar o último presente que daria para Kelly.

A tradição mandava uma coisa azul, uma coisa velha, uma coisa emprestada e uma coisa nova.

O vestido e os sapatos são novos.

Sei que ela usaria um bracelete que Jethro dera à Shannon e que pertencera à mãe dele, logo a “coisa velha” estava resolvida.

Faltava a coisa azul e a coisa emprestada.

E eu daria um jeito nas duas ao mesmo tempo.

— Onde vamos agora, mamãe? – Sophie me perguntou, levando a bolsa onde o sapato dela estava.

— Em um joalheiro.

— A senhora vai comprar uma joia?

— Não, vou pedir para arrumarem uma.

— Vai usar no casamento da Kelly?

— Na verdade, a Kelly vai usar.

— Vai ser a “coisa emprestada”?

— E a “coisa azul”.

— Uma joia azul? – Sophie quis saber.

— Eu vou te mostrar quando chegarmos lá.

Não demorou e estava na frente do joalheiro, Sophie ficou na ponta dos pés quando tirei a presilha de cabelo da bolsa.

— É bonita!! – Ela disse. – Mas não vejo nada de azul!

— Pode ter um pouquinho de paciência? Está parecendo o seu pai!

Sophie fechou a carranca e ficou observando a minha conversa com o joalheiro.

— Entendeu agora? – Perguntei, assim que deixamos a joalheria.

— A senhora vai trocar as pérolas por safiras... safiras são azuis... e vai emprestar para Kelly... agora eu entendi... mas por que a senhora não explicou antes?

É muito filha de Jethro mesmo. Quer saber de tudo e tem que ser sempre na hora que quer.

— Acha que Kelly vai gostar? – Perguntei para ela.

— Se ela não gostar, eu gostei e vou usar!! – Disse alegre.

— Quando for a sua vez... sim, você vai poder usar.

De repente Sophie parou, ficou petrificada no lugar. Não ia nem para frente nem para trás.

— Que foi filha? – Tive que voltar para parar ao lado dela.

Sophie apenas meneou a cabeça para o lado e apontou para um café do outro lado da rua. Segui a direção que ela apontou e tive que me manter composta.

— Sabe no meu aniversário do ano passado? Quando um homem desafiou a Tia Ziva? – Ela disse em um murmúrio. – Era ele. Ele tá sentado do outro lado da rua! – Sua voz trazia todo o pânico e medo.

O problema é que eu conhecia aquele homem. Tony o tinha encontrado durante a missão. Era Trent Kort. E assim que levantei a minha cabeça, ele me cumprimentou com um sorriso sarcástico nos lábios.

Agora ele sabia que eu tinha uma vulnerabilidade e temi que ele usasse a minha filha como meio de coerção.

Era até surpreendente, era como se ele soubesse que algo estava errado, como que ele pressentisse o perigo, pois Jethro me ligava naquele mesmo instante.

— Onde vocês duas estão? – Ele perguntou assim que atendi o telefone.

— Estamos bem, Jethro. Só fazendo compras. – Respondi e comecei a andar com Sophie para o carro.

— Sua voz não é a de quem parece bem, Jen. O que aconteceu?

Como ele faz isso?

— Está tudo bem, só estou cansada, você não faz ideia de como foi difícil escolher o sapato que Kelly irá usar. – Sei que era jogo sujo dizer isso, Jethro não queria ouvir nada do casamento, mas era a minha melhor saída.

— Você está blefando, Jen.

Comecei a achar que ele estava nos seguindo, não era possível ele ter acertado três vezes estando tão longe.

— Em casa eu converso com você. – Cedi, esse não era um assunto que eu poderia fugir, não mais.

— Estou indo para a sua casa agora. Como Soph está?

Olhei para a minha filha que a cada segundo agarrava mais forte a minha mão.

— Mamãe... – Ela gemeu e olhou por sobre o ombro.

Não olhei para onde ela olhava, ao invés usei a vitrine como espelho e pude constatar o que tinha apavorado a minha filha, Kort estava nos seguindo.

— Jethro, te encontro em casa. – Disse e desliguei o telefone, sabendo que ele deveria ter ficado possesso.

Discretamente, apertei a mão de minha filha e chamei a sua atenção, em hebraico perguntei:

— Consegue andar mais rápido do que isso?

— Consigo. – Ela me respondeu no mesmo idioma.

— Ótimo, me dê a sua sacola. Finja que vai sair correndo de mim, como se estivesse brincando e vá na direção do carro. De tempos em tempos, pare e olhe na minha direção. Mas eu vou precisar que você me diga se o homem estará mais perto ou mais distante de nós. Você pode fazer isso?

— Posso.

— Então faça. – Falei.

Sophie olhou para a vitrine e depois atuando muito melhor do que eu achei que ela era capaz de fazer, puxou meu braço.

— Tô cansada... carrega pra mim? – Ela me pediu.

— Mas é o seu sapato, filha!

— Mamãe...

Peguei a sacola e ela ainda ficou uns segundos do meu lado. Depois saiu saltitando na minha frente.

— Você não falou que estava cansada? – Perguntei entrando no jogo que tinha inventado.

Ela deu uma pirueta, ficou de frente para mim e para Trent Kort. Depois se virou e antes de dar outra corrida bateu o pé duas vezes no chão.

Uma é sim. Duas é não. Um código básico que eu sempre ensinei a ela.

Não. Ele não estava mais perto. Mas o quão longe?

Sophie, muito esperta, apontou para a vitrine e depois entrando na minha frente fez o sinal do número 5.

Ele estava há cinco lojas de distância.

Nosso carro estava em um estacionamento três quarteirões à frente. Nosso único problema era a avenida que teríamos que atravessar. O tempo do sinal de pedestres é enorme, por conta do fluxo de veículos. Teria que ser bem rápida para atravessar com o sinal quase fechando e o deixar para trás. E pelo visto, Sophie também pensou nisso, pois apressou a corrida, acompanhei-a com passos rápidos, ela parou na esquina, me esperando. Assim que fiquei do lado dela, minha filha disse.

— A distância diminuiu.

Esperei um pouco, pelo sinal sonoro para deficientes visuais vi que ainda tinha um tempo até o sinal fechar. Quando esse tempo diminuiu consideravelmente, peguei a mão de Sophie e disse:

— Vamos ter atravessar correndo.

— Sim, mamãe.

Foi a conta, assim que cruzamos as duas pistas, o sinal para automóveis abriu. Virei para saber se meu plano tinha dado certo. Kort estava parado do outro lado. Sem soltar a mão de minha filha, andei o mais rápido que pude até o estacionamento. Melvin nos esperava.

— Algum problema, Senhora? – Perguntou assim que nos viu.

— Para casa, o mais rápido possível. E evite qualquer rua congestionada.

— Sim, Senhora.

Não me dei o trabalho de colocar os embrulhos no porta-malas, coloquei no chão do carro, entre os bancos dianteiros e o traseiro. Sentei do lado de Sophie e a coloquei no meu colo.

— Você foi muito bem hoje, Miniatura. Muito bem mesmo! – Falei contra os cabelos dela.

— Por que ele estava nos seguindo?

Como eu explicaria para ela sobre a confusão que eu tinha me metido?

— Lembra que eu te falei que o meu trabalho era perigoso e tinha algumas pessoas que poderiam usar isso contra mim?

— Lembro. – Sophie me encarava, prestando atenção em cada palavra minha.

— Esse homem é uma dessas pessoas. – Falei. – E agora ele conhece você.

— E vai tentar usar isso para prejudicar a senhora?

— Não sei. Mas é uma informação que muita gente gostaria de ter.

— Ele também sabe onde eu estudo, já que eu tô de uniforme.

— É, isso também.

— Vou andar com segurança agora?

Era uma ótima pergunta. Por mim, sim. E eu colocaria Ziva nisso. Teria que conversar com Jethro.

— Vamos conversar isso com seu pai.

— Tá bom. – Sophie apoiou a cabeça no meu ombro e ficou quietinha. Eu estava observando os arredores. Melvin realmente conseguiu sair do trânsito pesado e estava usando uma das rotas traçadas como de fuga. De tempos em tempos ele conferia os retrovisores para ver se não estávamos sendo seguidos.

— Alguém, Melvin? – Perguntei.

— Ninguém, senhora. Nenhum carro por mais de um quarteirão.

Assenti e dei uma olhada pelo vidro traseiro, não tinha nenhum carro.

Vinte minutos depois, ele parava na entrada de carros de minha casa, vi que o carro de Jethro já estava parado ali e antes que eu me mexesse para abrir a porta, ele a abriu para mim. Olhou para nós duas e pegou Sophie do meu colo e a mandou correr para dentro de casa, assim que a pequena estava longe da porta, ele pegou nossas bolsas e me encarou.

— Ande Jen. Entre. – Ordenou.

Melvin deu uma olhada nos arredores e parou na calçada, nenhum carro vinha.

— Tudo limpo, senhora. – Me informou.

— Muito obrigada, Melvin. Está dispensado por hoje. – Agradeci. Ele voltou para o carro e arrancou. Com certeza faria uma outra rota até o Estaleiro, passando o mais longe e andando o máximo que pudesse para que não deixasse claro de onde ele tinha saído.

Jethro estava parado do meu lado, uma mão na base da minha coluna e me empurrava gentilmente para dentro de casa.

— Quem era? – Ele perguntou assim que fechou a porta.

— Trent Kort. O mesmo homem que apareceu no aniversário de Sophie no ano passado.

Ele não gostou disso.

— Sabe de mais alguma coisa? – Ele inquiriu. No silêncio que se seguiu pudemos ouvir os passos de Sophie no andar de cima.

— Ele está envolvido com o La Grenouille.

Jethro xingou por sob a respiração.

— Você sabe o que isso significa, não sabe?

— Benoit sabe de Sophie. – Falei o que o meu cérebro tinha constatado assim que vi Kort naquela tarde.

— É, ele sabe. – Jethro confirmou.

Me sentei no último degrau da escada e olhei para a porta. No que eu tinha envolvido a minha filha?

— Precisamos saber onde o rã está, Jen. Temos que dar um jeito nisso antes que ele chegue perto de Sophie.

— Esse é o problema, Jethro. Eu não tenho pistas de Benoit desde que voltei de Paris. Ele simplesmente sumiu no mapa.

— Acha que alguém o informou sobre a sua visita ao hospital russo?

— É a única coisa que consigo pensar. Coloquei alguns contatos que tenho em alerta. Se ele aparecer, eu vou ficar sabendo. Rene Benoit não vai chegar perto de Sophie de jeito nenhum. – Falei mais baixo, pois pude ouvir as passadas dela mais perto da escada.

— Ele não vai, Jen. Não mesmo.  – Jethro se sentou do meu lado. – O que você vai querer fazer quando ele aparecer?

— Puxar o gatilho. Só isso. – Foi a minha resposta.

Tenho certeza de que Jethro iria protestar, porém Sophie apareceu no alto da escada e perguntou:

— Ninguém seguiu a gente, né?

Jethro fez um sinal para ela descer e rapidamente ela estava no colo do pai.

— Não, Ruiva. Ninguém seguiu vocês. – Ele deu um beijo no alto da cabeça dela.

— Eu vou ter segurança agora? – Ela novamente perguntou e Jethro me olhou enviesado, eu não tinha contado sobre a pequena perseguição.

— Respondendo à sua pergunta, Jethro. Ele nos seguiu a pé, perto da Dupont Circle. Tivemos que improvisar e essa aqui – belisquei a barriga de Sophie – Foi uma excelente atriz para poder me passar a informação enquanto tentávamos abrir uma boa distância.

— Sophie te ajudou?

A pequena balançou a cabeça confirmando. Deu para ver que Jethro não gostou nem um pouco.

— Mamãe pediu que eu saísse correndo dela... como se eu a estivesse chamando para brincar... eu fiz isso. E ainda pude falar para ela se o cara mau estava mais perto ou mais longe da gente.

— E como você fez isso?

— Batendo o pé no chão. Uma vez era sim. Duas era não. E depois apontei para uma vitrine. E, quando vi que ele não estava olhando para mim, fiz o número cinco com os dedos.

— Era a distância, em lojas, entre nós. – Terminei a explicação de Sophie.

Jethro olhou para nós duas, com certeza vendo que não tinha outra saída para a situação em que estávamos a não ser essa.

 - Bem, já que parece que temos duas Mulheres Maravilha aqui, creio que podemos trocar de assunto. – Ele, deliberadamente, queria fazer Sophie esquecer o que passou.

— Papai, a Mulher Maravilha não é ruiva. Tem uma heroína dos quadrinhos que é ruiva.

— É mesmo? Quem é? – Se a intenção dele era distrair Sophie, ele tinha conseguido.

— A Natasha Romanoff. Ela faz parte dos Vingadores.

— E quem te falou isso?

— O Tim.

— Pelo visto ele tá te ensinando muito mais do que informática, hein? – Jethro levou a filha para a sala de TV, e por cima dos ombros dela me indicou que a nossa conversa não estava finalizada.

— E o que essa Natasha Romanoff faz? – Escutei a pergunta dele mais ao longe.

Aproveitei que ele distraía nossa filha e resolvi guardar nossas coisas, antes de me sentar com Sophie para que ela fizesse o dever de casa e colocasse as matérias que ela tinha perdido em dia.

— Essa vida mansa daqui a pouco acaba, hein? – Falei da escada e escutei o pedido da pequena para que ela deixasse a escola de lado por um dia.

— Nem pensar, já teve a sua folga essa tarde. Pode pegar sua mochila e ir para o estúdio que eu sei que você tem tarefa para fazer.

Sophie podia reclamar, podia pedir para não fazer, mas jamais me desobedeceria quando eu mandava.

— Tudo bem, mamãe. Eu já tô indo.

Foi onde ela passou as próximas duas horas e meia, concentrada no que tinha que fazer e sem se distrair. Quando terminou, mandei que tomasse banho para jantar.

Ficamos fazendo hora depois do jantar, vendo um jogo com Jethro e isso foi o sonífero que Sophie precisava, pois antes que o primeiro quarto terminasse, ela já estava dormindo um sono solto.

No intervalo a colocamos na cama e voltamos para ver o jogo, parece que tinha uma aposta contra o Tony rolando, e ele estava perdendo.

Quase no final do jogo, alguém bateu na porta e logo em seguida faróis iluminaram a janela da sala e um carro saiu cantando pneus.

Corremos para meu estúdio, cada um pegou a sua arma, voltamos para o hall de entrada, pelo olho mágico não tinha ninguém parado do lado de fora. Eu abri a porta e Jethro olhou ao redor, não tinha mais ninguém, a única lembrança do episódio era um bilhete jogado no degrau.

Chutamos o papel para dentro de casa, fechamos e trancamos a porta, depois busquei uma luva e levantei o papel. Era uma mensagem impressa em uma folha comum. A mensagem:

BENOIT MANDA LEMBRANÇAS.

E VOCÊ TEM UMA BELA GAROTINHA, JENNIFER.

Engoli em seco. Depois guardei o papel em um saco ziploc. Abby reviraria aquela folha do avesso para achar qualquer coisa.

— Agora ele foi longe demais. – Sibilei.

— Você tem certeza de que não quer que eu dê o tiro, Jen? – Jethro me perguntou olhando para o bilhete.

— É a minha vingança, Jethro. Eu dou o tiro. Mas primeiro eu tenho que achá-lo.

— Tenho certeza de que Abby vai achar alguma pista nesse bilhete.

— Ele está perto, Jethro. Bem perto. E as respirações dele estão contadas.

— Já estavam Jen, agora ainda mais. – Jethro me abraçou.

Conferimos todo o primeiro andar, não tinha uma única janela que não estivesse trancada. As portas igualmente fechadas, pedi que o detalhamento varresse o perímetro com o menor espaço possível. No segundo andar, o primeiro lugar que fui foi ao quarto de Sophie, as duas janelas estavam trancadas e as cortinas com seus blackouts fechadas. Por alguns minutos me sentei na cadeira da escrivaninha dela e fiquei vendo a minha menina dormir, com medo de atravessar o corredor e deixá-la ali.

— Se Soph acordar e te ver aqui ela vai ficar apavorada, Jen. Ainda mais depois do que aconteceu hoje. – Jethro me disse baixinho.

— Não posso deixá-la aqui, Jethro. Não mesmo. Não quando eu sou a culpada por isso.

— Nós vamos estar do outro lado do corredor, Jen. Deixe as portas dos quartos abertas se você quiser, mas ninguém vai entrar aqui. Não hoje e em nenhum outro dia. Ela está segura, assim como você também está. – Ele me garantiu.

Relutei em deixar a minha menina dormindo ali. Ela parecia tão pequena, tão vulnerável, tão inocente enquanto abraçava seus bichinhos de pelúcia e falava coisas sem sentido.

— Vem, Jen. – Jethro me pegou pela mão e me levou para a porta. – Soph vai ficar bem. Nós estaremos bem ali. – Ele apontou para a porta do nosso quarto.

Com muito custo cedi. Tomei um banho, uma tentativa fraca para me acalmar e antes de me deitar, tornei a conferir Sophie. Ela estava sonhando e chamava meu nome. Fiquei parada no meio do corredor, tentando ouvir os sons da noite, tentando ver se tinha algo que não era para estar ali, mas tudo o que escutei foi o ressonar da minha filha e os passos dos seguranças que contornavam o perímetro da casa. Voltei para o quarto e me deitei, mesmo sabendo que dormir era algo que eu não conseguiria. Jethro me pegou pela cintura e me apoiou em seu peito, me colocando na posição exata que eu sempre dormia.

— Isso não vai funcionar hoje. – Murmurei.

Ele não me respondeu, apenas continuou afagando minhas costas e apoiando seu queixo no alto da minha cabeça, começou a murmurar que Sophie iria ficar bem.

Seria uma longa noite.


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Notas finais do capítulo

Ter Ziva David de treinadora deve ser o ó... só a Sophie para aturar!
Apostas de como será o vestido de Kelly? E o de Sophie?
E o fim de La Grenouille?
Obrigada a quem está lendo! E também comentando!
Até terça com mais capítulo!
xoxo
Terça tem mais capítulo...



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