Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 83
Confusão


Notas iniciais do capítulo

Vamos descobrir o que Sophie tem e teremos uma nova personagem na história....
Segurem-se porque tem muita informação por aqui.
E sim, eu amo Tony DiNozzo sendo uma criança grande perto de Sophie!
Boa leitura!!



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Foram vários exames adicionais após a consulta médica. Sophie, pacientemente, se submeteu a todos eles, sem qualquer birra. Com a exceção da ressonância.

Foi complicado convencê-la a entrar na máquina e ficar quieta, tive que prometer que ela não ficaria presa lá dentro.

Depois de longos trinta minutos, ela saiu e me pediu que nunca mais fizesse isso com ela.

E entre idas e vindas do hospital para as consultas e exames, algumas semanas se passaram, tinha dias que ela reclamava de dor, outros tudo estava bem. Enquanto isso, a equipe se via às voltas com um caso curioso.

Uma explosão em um mausoléu da Marinha.

Estava no hospital com Sophie, que sentada ao meu lado, balançava as perninhas nervosa.

— Papai não vem? – Ela me perguntou. É claro que ela perguntaria por ele. E falando em Jethro, bastou que as filhas comentassem que não tinham gostado de seu novo visual e, no outro dia, ele tinha aparecido sem aquele bigode horroroso. Claro que ele não falou o motivo, mas pelas costas dele correram várias apostas quanto ao motivo do fim do visual de homem de meia idade. A única pessoa que ficou triste ao ver o velho Jethro de volta foi Abby. Eu, particularmente, fiquei aliviada de não ver mais aquela coisa... Jethro ficara uns 15 anos mais velhos ostentando aquilo.

— Não, tem um caso estranho para ele resolver. – Respondi para minha filha.

— Daqueles casos que o Tim colocaria no livro dele? – Sophie me olhou esperançosa.

— Ah, não, você já sabe do livro?

Era a última fofoca da Agência. McGee era um escritor e usava um pseudônimo para publicar os seus livros, que eram inspirados nos casos (e nas vidas dos agentes) que o NCIS pegava. Um pesadelo midiático se alguém fizesse a ligação.

— Sei sim. O Tony me falou ontem, quando foi lá me casa...

Outro ponto interessante. Tanto Tony quanto Ziva iam dia sim e outro também visitar Sophie desde que Jethro voltara, e depois da crise de dor de cabeça forte que ela teve, os dois estavam ainda mais apegados a ela, como dois seguranças, ou duas águias protegendo algo. Era até estranho.

— E mais o que ele falou? – Quis saber. Ainda não tinha visto o livro em si, mas tinha ouvido alguns boatos sobre os personagens.

— Que eu estou no livro... a senhora também e a Kells. Disse que o novo nome do papai era Tibbs... achei meio parecido demais. – Ela deu de ombros.

Eu quis gargalhar de nervoso. McGee tinha colocado a minha filha no livro dele, que ótimo!

Ia voltar no assunto, quando Sophie soltou.

— Mamãe, a senhora acha que depois do casamento da Kelly, o Tony e a Tia Ziva vão se casar?

Levantei uma sobrancelha para a ruivinha do meu lado. Ela era mais perceptiva que eu já tinha imaginado. Não que fosse a primeira vez que ela falava isso...

— Por que você acha isso?

— Eles estão sempre juntos. Desde que o papai foi para o Safári da Margarita, os dois não se desgrudaram mais. – Ela parou. E eu vi que tinha algo mais ali.

— Mas o que? – Às vezes era assim que eu sabia das fofocas também.

— Mas toda vez que eu pergunto para o Tony se ele gosta da Tia Ziva, ele troca de assunto e me pergunta qual desenho eu quero ver na próxima sessão pipoca.

— E a Ziva? – Perguntei sem finalidade nenhuma, a não ser satisfazer a minha própria curiosidade, mesmo já tendo interrogado a israelense e ela ter me confirmado o romance.

— A tia Ziva fala que eu tenho que me preocupar em aprender a me defender e não ficar xeretando na vida dos outros.

Se o livro era o problema um, Tony e Ziva mandando a regra #12 para o espaço era o problema dois. O problema três era justamente esse: Ziva vinha ensinando Sophie aulas de defesa pessoal. Tudo desencadeado pela ausência de Jethro e o fato de a equipe querer ficar perto da pequena. Um dia por semana um deles a pegava em minha casa e tinha a permissão de levá-la para dormir fora, e cada vez que isso acontecia, Ziva ensinava um pouco. As aulas agora são três vezes por semana – se o caso em que a equipe estiver envolvida não for tão complicado – e, geralmente, envolvem Tony como a cobaia. A sala que eu fiz de estúdio de balé dentro da minha casa, virava um enorme tatame e não raro, era fácil de ouvir os gemidos de dor de Tony, e as consequentes gargalhadas de Sophie quando isso acontecia.

— Só isso? – Respondi decepcionada. Achei que teria mais o que observar entre esses dois.

— É... mas eu tô bolando um plano.

E lá vinha o problema número quatro.

— É mesmo? Que tipo de plano?

Sophie me sorriu enigmaticamente. E, com um frio na espinha eu reconheci aquele sorriso. Era o meu próprio sorriso quando eu cismava que iria fazer algo.

— Mamãe, até o casamento da Kelly, eles vão estar juntos!

Essa eu queria ver. Dobrar Tony não era lá um problema para Sophie. Agora dobrar a Ziva... se a Ruivinha conseguisse isso, ela poderia ser considerada a primeira a enganar e trapacear para cima de uma oficial do Mossad.

— Se você está dizendo. – Dei um beijo na cabeça dela. Isso era algo que eu gostaria de ver de camarote.

Ela ia me responder com alguma coisa bem típica de Jethro, mas o nome dela foi chamado. Era a hora da verdade.

Quarenta minutos e  muito choro e desespero por parte de Sophie depois, saí do consultório completamente aliviada.

— Mas mamãe... – Ela fez um beicinho enquanto eu a conduzia pelo corredor.

— Se a sua médica disse que chocolate está proibido durante as suas crises de enxaqueca, está proibido. E eu vou me certificar de que você não coma todos os dias.

— Isso é injusto!! Eu amo chocolate!

— Eu já falei, Sophie.

— E se fosse a senhora com café? Café também não pode. – Ela retrucou.

— Não sou eu quem sofre de enxaqueca, é você. E nós vamos seguir essa nova dieta para que novas crises não sejam tão comuns.

Sophie fechou a cara do meu lado e tentou ignorar a minha presença. Tão absorta em reclamar consigo mesma, que até errou o caminho para o carro e teve que sair correndo atrás de mim.

— E eu vou ter que deixar de comer chocolate pelo resto da minha vida?! – Ela aumentou ainda mais o drama quando entramos no carro. Melvin nos olhou pelo espelho retrovisor.

— Vai. Enxaqueca não tem cura, pode ter controle, mas a senhorita vai ter que se acostumar com as crises. E sabe muito bem quais tipos de alimentos podem desencadear uma crise agora. – Falei de forma firme.

— Mas chocolate?!! Mamãe!! – Ela agora fingia que iria começar a chorar, estava até forçando o lábio inferior a começar a tremer.

— Choro falso também não é bom para dor de cabeça. – Informei.

Ela me olhou com uma cara de ultraje e começou a olhar para a janela.

— Se não vai conversar comigo, posso desistir da ideia de te comprar seus óculos de sol então... – Soltei como se não tivesse interesse no que ela estava fazendo no momento. Notei que meu motorista deu uma risada. Até ele já conhecia as manhas da minha filha.   

Foi como pôr fogo na pólvora, em menos de um segundo ela já estava virada na minha direção, seus olhos brilhando com a expectativa de “fazer compras”.

Seria uma tarde interessante longe da agência. Jethro e os demais que se virassem com o Mausoléu explodido.

Três horas, muitas sacolas e lojas depois, voltei para o NCIS. Sophie do meu lado, com seus óculos apoiados na cabeça. Descemos na sala do esquadrão, eu sabia que assim que a notícia da presença dela chegasse aos ouvidos da equipe, logo Abby, Tony, Ziva e McGee iriam fazer um alarde querendo saber o diagnóstico, assim, optei por contar de uma vez e deixar que todos trabalhassem.

Assim que Tony me viu, já se levantou de sua mesa, Ziva e McGee o seguindo.

— E o que ela tem? É sério? Não é nada permanente, não é? Qual é o tratamento? – Os três soltaram ao mesmo tempo.

— Não é nada sério. Não tem tratamento, mas tem controle. Sophie sofre de enxaqueca severa. – Informei para os três agentes desesperados.

Minha filha ficou parada do meu lado, olhando para os três, com cara de dúvida.

— Isso é ótimo. – Começou McGee. - Não, é... bem eu sei que enxaqueca é ruim... mas... – Ele parou sem graça.

— Eu te entendi, Tim. Dos males o menor. – Tentei tranquilizá-lo.

— É isso que eu queria dizer, Diretora. – Ele ficou aliviado ao notar que eu tinha compreendido o seu raciocínio confuso.

Nesse momento, fitei Sophie. Ela e Tony estavam em uma competição muda de olhares. Ziva também olhava em dúvida para os dois. Eles se encararam por um tempo e depois abriram enormes sorrisos.

— O que foi isso? – Perguntei curiosa.

— A Peste Ruiva tem óculos escuros agora! – Tony respondeu com um sorriso.

— Sim. – Disse sem entender o sorriso dos dois. E depois observei. Tony também estava com seus óculos no alto da cabeça. Não era possível.

— Você sabe, não é, Pestinha? Só as pessoas realmente legais usam óculos escuros... - Tony começou.

— Então somos duas pessoas realmente legais, Tony! – Sophie respondeu e como se fosse sincronizado, os dois colocaram os óculos no rosto.

McGee gemeu em desespero. Ziva olhava incrédula a atitude dos dois e eu começava a me arrepender da compra.

— Sabe mais quem fica muito bem de óculos escuros, Peste Ruiva? – Tony a colocou nos ombros, mesmo que eu já tivesse dito que não queria que ele fizesse isso.

— Deixa eu ver. – Sophie apoiou um dedo no queixo e fingiu pensar - O 007? – O sorriso da minha filha era imenso.

— Ele mesmo, e sabe que isso significa, não sabe?

— Somos dois espiões agora! – A Ruivinha respondeu feliz.

— Eu não mereço isso! – Ziva reclamou do meu lado. – Ele não vai crescer nunca?

— Acho que não. – Falei para ela. Tony era verdadeiramente uma criança grande.

— Kate uma vez o chamou de Peter Pan Depravado. – McGee comentou.

— Espero que o depravado não chegue perto da minha filha... – Disse para os dois.

— Ele não seria louco. – Os dois me responderam.

— Sei disso. – Garanti. Nessa hora, escutamos o som de que o elevador estava no andar. Muito provavelmente Jethro chegava de sua saidinha para o café.

— Sophie, vamos. DiNozzo, a coloque no chão, por favor. – Pedi. Tony a colocou com cuidado no chão e estendeu a mão para que ela fizesse um high five com ele.

— James e Jane Bond!! – Os dois disseram quando as mãos se tocaram.

Ziva revirou os olhos e tentei segurar a gargalhada que queria soltar. Esses dois seriam a pior dupla de agentes infiltrados do mundo...

Nisso, Jethro apareceu entre as mesas, e para minha surpresa, ele não tinha um copo de café na mão, junto com ele vinha uma Coronel do Exército. E eu não gostei de como eles vinham conversando.

Sophie já tinha disparado escada acima, não chegou a ver o pai. Olhei para a dupla que chegava. A Coronel me viu e veio se apresentar. Algo na forma como ela olhou para Jethro disparou um alarme na minha cabeça. O restante da equipe ficou esperando a minha reação. Me coloquei na persona da Diretora e me despedi. Minha filha já deveria estar fazendo um alvoroço ao lado de Cynthia, contando tudo que havíamos comprado. Mas Sophie não estava com minha assistente. Ela estava parada no corrimão perto da minha sala, e sem que ninguém notasse encarava a Coronel com olhos semicerrados e uma expressão fria.

— Quem é ela? – Me perguntou assim que fiquei ao seu lado para guiá-la para a minha sala.

— Coronel Mann. Temos um caso em conjunto com o Exército.

Sophie olhou por sobre o ombro para onde a equipe fica.

— Eu não gostei dela. – Disse em tom agourento.

— Nem eu, filha. Nem eu.

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Com o caso, eu não tive tempo para perguntar a Jenny como fora a consulta de Sophie, em todos os exames eu a acompanhei, mas não hoje. Assim, com tudo mais ou menos encaminhado, consegui um tempo para ir até o seu escritório.

Entrei sem bater e dessa vez, recebi não uma, mas duas encaradas sinalizando a minha falta de educação. Jenny não estava sozinha, Sophie estava na sala dela e as duas estavam sentadas na mesa de conferência, a Ruiva #01 trabalhando e a sua miniatura fazendo a tarefa.

— Posso deduzir que a notícia é boa? – Falei parado na cabeceira da mesa, enquanto as duas ainda me olhavam torto. Sophie estava ficando boa nas encaradas também.

Jenny suavizou o olhar para me responder.

— Nada grave, nada sério. Só permanente. Nossa filha tem enxaqueca. – Ela resumiu.

Foi como se tirasse o mundo dos meus ombros. Por mais que eu não quisesse admitir, temi pelo pior.

— E agora eu tenho uma dieta especial, que não inclui chocolate. – Sophie completou, completamente mal-humorada.

— Nós já conversamos sobre isso, mocinha. – Jenny zangou, mas a pequena não suavizou a encarada. Surpreso, notei que eu era o alvo das encaradas. O que eu tinha feito dessa vez?

— Eu sei, mamãe. Mas eu não gostei disso. – Ela fez um bico.

Cortar o chocolate de Sophie era a mesma coisa que cortar o café de Jenny. Um dia alguém ia perder a cabeça. Muito provavelmente eu.

— Mais nada? – Perguntei, já que mãe e filha tinham voltado suas atenções para as tarefas diante de si.

— Como vai o caso? – Jenny perguntou sem me olhar. Essas duas estavam estranhas.

— Encaminhado. Hollis está coletando uma informação... – Parei. À menção ao primeiro nome da Coronel do Exército, as duas me encararam nada felizes. Jenny voltou logo à máscara de Diretora, já Sophie fez um som estranho e baixou a cabeça para o caderno.

— Só isso?

— Quando o caso for finalizado, o relatório vai estar na sua mesa. – Disse.

— Espero que não demore. Os superiores da Coronel já me ligaram querendo saber quando tudo isso termina. – Shepard soltou em seu tom formal.

— E o que você disse?

— Que tenho minha melhor equipe no caso. E que qualquer problema eu os informaria.

Assenti. Geralmente essa era a minha deixa para sair. Não hoje.

— A equipe já sabe sobre Sophie?

— Sim. Todos sabem. Abby e Ducky saíram daqui não tem muito tempo.

—  Kelly?

— Deixei mensagem. É dia de escala do plantão dela. Com certeza vai ser a primeira coisa que ela vai fazer quando sair do hospital.

Por que ela tinha que fazer tudo?

Sophie começou a guardar os cadernos na mochila, Jen deu uma conferida no relógio.

— Vai aonde, Sophie? Eu ainda tenho que ficar por aqui mais uma hora.

— Já terminei. Tá tudo pronto. – A pequena informou. – Hoje é dia de aula com a tia Ziva!

— Aula com a Ziva? – Olhei para as duas.

Sophie balançou alegremente a cabeça me confirmando a informação. Olhei para Jenny que encarava a filha.

— Se importa de explicar, Jenny?

— Defesa pessoal. Ziva está ensinando Sophie a se defender. Nada que tenha que se preocupar.

— Desde quando?

— Desde.... – Jenny parou.

— Que o senhor saiu para o Safári da Margarita. – Minha filha soltou sem remorso algum.

— Safári da Margarita?! – Mirei Sophie, depois Jenny. – O que mais ela sabe? Ou melhor, o que mais eu não sei sobre o que aconteceu nesse período? – Inquiri.

— O senhor ainda não acabou de ler o diário? – A ruivinha perguntou, ficando ajoelhada na cadeira.

— Sente-se direito, Sophie! – Jenny a xingou e a garota na mesma hora se sentou igual a uma rainha.

— No seu diário não tem nada sobre aulas de defesa pessoal.

— Eu falei do balé que eu danço com a mamãe?

— Não.

— Então eu esqueci! – Ela deu de ombros. – Mas tá tudo bem, o senhor já sabe agora.

Mais alguma coisa?

Sophie olhou para a mãe e mordeu o lábio.

— Tem mais, mamãe?

Então, Jenny trocou um olhar cheio de significado com a filha. Tinha mais, porém elas não me contariam. Foi Jenny quem respondeu.

— Mais nada, Jethro.

— E você acha que deixar uma assassina israelense treinar a minha filha é uma coisa normal?

— A Tia Ziva não é uma assassina! Ela é minha tia!— Sophie defendeu Ziva.

Fingi que não escutei o que ela falava e foquei minha atenção em Jenny, ela não consegue esconder uma mentira de mim, eu sei o tique dela.

— Não é o fim do mundo, Jethro. Ziva sabe o que tem que ensinar. Nossa filha— ela destacou o pronome, em uma clara forma de me corrigir educadamente – não vai sair por aí armada e atirando. Tudo o que ela sabe fazer é: como fugir de um agressor e não deixar que ninguém a incapacite. O que é muito válido, tendo em vista tudo o que já aconteceu.

Não era tão ruim assim. Ziva não estava ensinando nenhum golpe mortal ou a ensinando a atirar, pelo menos não por enquanto.

— E é só Ziva quem está te ensinando algo? – Me virei para Sophie. Ela displicentemente não tinha colocado nada no diário. Na verdade, esse estava bem vazio, creio que a mágoa dela era grande demais para enchê-lo de fotos e textos dessa vez.

Mais uma vez ela olhou para a mãe. O segredo entre essas duas já estava começando a me irritar. Jenny deu o mínimo dos sinais com a cabeça e Sophie desceu da cadeira, vindo parar do meu lado.

— Vem papai. Eu vou te contar. – Ela pegou a minha mão e saiu me rebocando porta afora. Quando me virei para Jenny, ela já tinha o rosto virado para os relatórios que estavam na sua frente.

Sophie foi na frente, desceu as escadas sem soltar a minha mão e me guiou para a minha mesa, me fazendo sentar ali. Achei que ela pediria para se sentar no meu colo, mas tudo o que ela fez, foi puxar a cadeira da mesa do DiNozzo e se sentar na minha frente.

— Por que a cadeira do DiNozzo? – Perguntei descrente. Desde que tinha voltado, vi que ela tinha ficado ainda mais apegada ao Agente Sênior ou ao seu “Italiano de Araque Preferido”.

— Tony não vai se importar. Tim e, principalmente, a Tia Ziva sabem quando alguém mexe nas coisas deles.

— E o Tony não?

— Ele vai saber que fui eu! – Ela me deu um sorriso.

Encarei a minha filha e percebi que ficar cinco meses sem vê-la tinha cobrado um preço alto, ela tinha crescido e pegado algumas manias com cada um da equipe. Contudo, em algumas coisas ela era simplesmente a cópia da mãe, como esse sorriso.

— Sobre as aulas... – Comecei.

— Bem... a Tia Ziva está me ensinando defesa pessoal é tudo o que a mamãe disse. Mamãe fica sempre de olho, e às vezes participa também. Tem três meses mais ou menos que ela deu uma chave de braço no Tony que ele ficou falando engraçado por uns dois dias... – Ela divagou. E eu podia imaginar essa chave de braço, Jenny só tem a aparência de frágil.

— Mais o que?

— Como assim? – Ela me levantou uma sobrancelha.

— Que tipo de defesa pessoal?

— Ah! Eu não sou forte para jogar o Tony pelo meu ombro e tentar segurá-lo no chão, como a Tia faz..., mas já consigo me soltar de qualquer aperto. E estou aprendendo a abrir algemas e desfazer qualquer amarra! – Ela me garantiu.

Realmente não era nada mais do que ela já tinha passado.

— E os demais? – Eu sabia que não era só a Ziva.

— Kelly também participa da minha defesa pessoal. Está me ensinando krav maga. Ela luta bem. Tim está me ensinando a me orientar pelas estrelas e, também a ler um mapa e muita coisa no computador.

— Abby?

Ela abriu um sorriso ainda maior e eu rezei para que Abbs não estivesse preparando a minha filha para a primeira tatuagem.

— Sobre tudo o que se faz no laboratório. Eu sei fazer até fogo! Não sei para que, mas sei. Estou aprendendo informática com ela e com o Tim.

— Eles estão te ensinando a hackear o que?

— Até agora só o computador do Tony. Mas não me deixaram ver o que tinha lá... – Ela fez um ar de dúvida. – Os dois entraram em um desespero tão grande que me pediram segredo, ou era bem capaz da mamãe demiti-los. Nem sei o motivo, eu não vi nada!

Ou ela não entendeu o que viu...— Pensei. Ainda bem que os dois tinham tido um pouco de senso quanto a isso.

— Tony? – Perguntei, mas não esperei que ele estivesse fazendo nada, deve ter delegado tudo para McGee.

— Ele é o nosso cobaia!! – O sorriso sapeca dela foi imenso. – A Tia Ziva deslocou o ombro dele nas minhas férias de verão. Ele reclamou por todo o caminho até o hospital. Mamãe teve que levá-lo, porque ele fez um escândalo quando a tia pegou as chaves do carro, disse que preferia que eu dirigisse, mesmo não enxergando nada acima do volante.

— Quem mais viu essa cena? – Essa fiquei chateado de perder.

— Vish... todo mundo. Foi em um sábado à noite, a Tia Ziva e o Tony tinham chegado mais cedo para a minha aula, enquanto estávamos no estúdio de balé que virou academia também, o pessoal foi chegando, Abby, Tim, Jimbo, Ducky até a Cynthia! Kelly e Henry tinham ido buscar o vovô em Stillwater. Era a noite de filme, dessa vez lá em casa! Foi uma bagunça!! Mas foi legal... depois que voltamos do hospital, é claro.

Tentei imaginar toda essa gente na casa de Jenny. Não consegui.

— Tony é só a cobaia? – Perguntei de novo.

— Não. Ele é meu escravo particular também! – Ela disse. – Mas isso é brincadeira, eu não gosto disso de escravo, mas o Fornell falou que o Tony parece um fiel São Bernardo...

— Fornell?

— Sim, ele é o pai da minha melhor amiga, Emilly. E disse isso quando eu fui a festa de aniversário dela. A mãe dela, Dona Diane, ficou me olhando estranho... perguntou de quem eu tinha herdado a cor dos meus olhos... só porque no dia eles estavam azuis. Não é minha culpa se eles trocam de cor!

E agora mais essa! Diane.

— E?

— E foi só. Mamãe me deixou lá, mas ela teve que vir para o estaleiro naquela noite, e quem foi me pegar foi o Tony e a tia Ziva, eu ia passar a noite na casa da tia Ziva. Foi aí que o Fornell reconheceu o Tony e falou que ele era o fiel São Bernardo dos Gibbs... Mas não gosto de comparar o Tony com um cachorro.

— Então Tony nada mais é do que a sua cobaia e seu segurança?

— Não! Ele me ensina italiano! A tia Ziva me ensina Pashtu, e turco. – Ela parou e me encarou.

— Italiano? Pashtu? Turco? – Perguntei surpreso.

— Sim! Por que o senhor está espantado? Eu já falo francês, alemão, espanhol e hebraico. Sou ruim no árabe..., mesmo mamãe tendo toda a paciência para me ensinar. – Ela fez um beicinho. E depois trocou de assunto. – O Tony me disse que o senhor fala russo! Me ensina? - Ela pediu toda entusiasmada.

Mentalmente contei quantos idiomas já estavam sendo gravados na mente dela. Definitivamente era uma herança de Jenny. E Sophie teve que me chamar para que eu voltasse à realidade.

— Papai? O senhor pode me ensinar russo? – Seus olhos brilhavam de expectativa.

— Você já não acha que está aprendendo muita coisa ao mesmo tempo?

Sophie se ajoelhou na cadeira, apoiou os cotovelos na minha mesa para que chegasse o mais perto de mim possível e me encarou.

— O Tio Ducky disse que quanto mais cedo se começa a aprender um idioma, mais fácil é! Disse que a memória da criança é melhor ou coisa assim.

— Vai parar no russo?

— Mas é claro que não!! Ainda quero aprender japonês, mandarim, português e qualquer um que seja divertido. – Ela fez a contagem nos dedos da mão.

— Divertido?

— Sim! Tem idiomas que são divertidos de falar, outros são bonitos... outros de tão diferentes, parece que você está falando uma língua alienígena. Tipo Klingon de Star Treck.

— Tipo o que? – Perguntei assustado.

Klingon. É o idioma que se fala no filme.

— E você fala isso?

Ela deu uma sonora gargalhada.

— Não papai!!! Mas o Tim fala!

Klingon?! – Só mesmo McGee para falar algo assim.

Sophie balançou a cabeça me confirmando.

— Para que?

— Eu fiz essa pergunta para ele. Tim não soube me responder. Mas fica legal dizer que ele fala klingon quando ele assume a personalidade de Lorde Elfo durante o jogo. Todo mundo respeita o personagem dele.

— Deve ajudar muito. – Comentei.

Sophie ainda ria.

— Ninguém sabe para que ele gastou neurônios aprendendo isso, mas ele gosta de falar que sabe. – Ela deu de ombros.

Percebi que Sophie sabia mais da equipe do que eu... Ela era uma boa fonte de informações.

— Ah!! – Ela gritou. – Me lembrei. Tio Ducky está me ensinando latim e grego.

— Mas ninguém mais fala latim. – Eu disse.

— Mamãe falou a mesma coisa e o tio respondeu que eu preciso saber a origem da maioria das palavras, seu eu quiser aprender todos esses idiomas de origem latina. Ninguém discutiu. Mas ninguém discute com o Ducky...

A conversa estava interessante. Sophie tinha uma maneira única de contar cada história e me deu alguns dados para pensar.

Primeiro, Diane a conhecia e tinha feito uma associação a mim, quando soubesse a verdade... esse prédio viria abaixo. Creio que Jenny já deve saber disso, deve estar esperando a verdade vir à tona. O inferno será um local mais seguro quando essas duas baterem de frente.

Segundo: Por que raios Sophie sempre falava de Tony e Ziva como um pacote?

Ia perguntar esse detalhe a ela, quando Jenny começou a descer as escadas, já pronta para ir para casa.

— Ela te explicou tudo, Jethro? – Quis saber. Sophie, ouvindo a voz da mãe, desceu da cadeira e foi colocá-la no lugar.

— Sim.

— Algum problema com isso?

— Nenhum.

A ruivinha parou ao lado da mãe e tirou da mão dela a mochila e algumas pastas que Jenny sempre carregava, literalmente tirando um pouco do peso que a mãe levava.

— Papai, o senhor vai jantar com a gente?

— Hoje não, filha. Mas no final de semana eu te pego.

Sophie olhou para Jenny.

— Ih, mamãe, vamos ter que desmarcar o boliche...

— Você pensou em convidar o seu pai?

Sophie se virou para mim.

— Vamos jogar boliche, todo mundo, a Kells vai vir, estamos pensando e jogar o Henry pista abaixo.... – Ela tinha um sorriso sapeca.

Gostei da parte de escorregar o engomadinho.

— Por que não?

Vi mãe e filha saindo, esperei um pouco. Não queria que Sophie visse com quem iria me encontrar.


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Notas finais do capítulo

RIP Bigode!!! Graças à Sopihe e Kelly!!! ehehehe
SIM, teremos menções ao Deep Six....
Sophie é uma dramática de carteirinha, né? Parece até irmã da Kelly...
Se Jenny tivesse uma ideia de quem iria aparecer na vida dela depois desse caso, com certeza ela teria desistido das compras... só dizendo..
E sim, Coronel Hollis Mann é outra que está na minha parede de personagens odiados para todo o sempre!
Leroy Jethro Gibbs que se vire com a filha... ela não quer uma madrasta e não faz a mínima questão de esconder isso!!
Gibbs está com ciúmes do Tony perto da Sophie!! hahaha me desculpem, mas foi irresistível não escrever isso"
Imagina o desespero de McAbby quando a Sophie conseguiu hackear o computador do Tony e achou um monte de coisas impróprias para menores de 18 anos?! Surtaram e temeram por suas vidas!
Só McGee para falar klingon, não?
Sobre Fornell e Diane... é claro que eu traria mais esse "problema" para a fic...Diane X Jenny....será o embate do ano...
E sim, próximo capítulo vai ter jogo de boliche! Henry que se cuide!!

Muito obrigada por lerem e até o próximo!!

xoxo




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