Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 121
Judgment Day


Notas iniciais do capítulo

Feliz Capítulo Novo!! (O ano já tá quase velho, mas Feliz Ano Novo, também!!) Um pouquinho atrasado, mas chegou o bendito!
Nem vou falar nada sobre em qual episódio é baseado este capítulo, afinal, o título fala por si só.
Assim, antes de atirarem pedras virtuais nessa fanfiqueira, leiam todo o capítulo e se preparem para uma participação especial
Boa leitura!
P.s.: Capítulo enorme para não perder o costume!! ;)



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Mike Franks tinha ficado estranhamente calado por toda a viagem, esta ele insistiu em dirigir, já que agora não estávamos mais em um “carro de Madame”. Não impliquei, me pus a pensar no que Decker tinha para me falar e nos motivos de ele ter escondido isso dentro de um velho restaurante no meio do nada.

Ao pensar no local, não pude deixar de notar a ironia, dependendo do que acontecesse, não haveria testemunhas, nenhuma alma viva. Seria o embate final que deveria ter acontecido há nove anos em um beco de Paris.

— Acho que é aqui. – Franks informou.

Observei o tal restaurante. Era um lugar decrépito, que somente Will poderia ter a esperança de que, um dia, fosse convidativo o bastante para que pessoas viajassem por todo esse caminho empoeirado para vir até aqui almoçar ou jantar.

— O que quer fazer agora? – Mike deu uma boa olhada em volta ao me questionar isso.

— Esperar. Assim como descobrimos este lugar, eles também vão.

Sim, eu usava o plural, mas não sabia quantos viriam. E ao parar e pensar sobre isso, meu estômago deu um nó. As chances de que Svetlana aparecesse praticamente sozinha eram quase nulas, o que tornava a minha chance de sair andando de dentro daquele lugar quase zero.

Abri a porta do restaurante e não me surpreendi com a poeira nem a sujeira, para o lugar onde isso se situava, essa era a realidade. Caminhei para trás do balcão e notei algumas fotos. Fotos antigas, inclusive uma eu conhecia muito bem. Londres em 1999.

— Estas datas estão erradas. – Mike comentou olhando uma foto em particular.

— Como?

— Esta luta, não aconteceu neste ano.

E prestando atenção na foto em que eu aparecia, eu vi... o ano da foto estava errado, marcava 1972.

Seria esse um código? Um dos muitos códigos que usamos para passar as informações?

Novamente voltei no tempo, me lembrei de estar sentada em uma penteadeira, ajeitando uma peruca, Jethro atrás de mim conferia algumas fotos, e escrevia algo em um papel. Uma mensagem cifrada bem na frente de todos.

— Tem uma caneta? – Perguntei.

Mike me estendeu uma na hora. Tirei um papel da minha bolsa, junto com ele veio uma foto de Sophie, a mesma que eu sempre carregava, aquela em que ela estava parada em frente ao Big Ben, com os braços abertos e seus olhos um de cada cor.

— Ela já deve estar bem maior do que nesta foto. – Franks falou tomando a foto da minha mão. – Na verdade, ela já estava maior quando eu a vi naquele hospital.

— Sim, ela cresceu bastante nos últimos anos.

— São três, não são? Desde que você voltou? – Ele tornou a me interrogar.

— Sim. Três anos.

— Ela é a sua cópia, olhando assim, em uma foto. Mas vendo de perto, se é que eu prestei atenção suficiente na ruivinha, ela tem algo do Novato. Mais até do que a filha mais velha. Essa aqui tem a determinação e força do Novato correndo nas veias dela...

Acabei de transcrever os códigos, ainda não sabia como decifrá-los, mas tentaria. Peguei cada uma das fotos, depois o isqueiro que usei na Rússia e pus fogo em cada uma delas, me certificando de que as datas fossem as primeiras partes que sumiriam e, só então, encarei Franks.

— Onde quer chegar com todo esse papo sobre a minha filha?

— Se ela é tão parecida com você e com Gibbs ao mesmo tempo, você acha que, na hipótese de você não voltar para casa, ela vai aceitar qualquer história que contarem? A Madame acredita que, se essa tal de Svetlana sair viva daqui e sumir no mundo, a Ruiva #02 não vai atrás dela para vingar a sua morte? Isso se o Novato não a matar antes, é claro...

Me sentei no encosto de algum dos bancos, meus pés no assento, um ato que eu teria xingado Sophie só se ela cogitasse a ideia, e ponderei as palavras de Franks, enquanto observava a parte da frente por uma fresta na persiana.

— Vingança está no sangue dela. Contudo, eu espero que, se algo me acontecer aqui, Jethro saiba como domar essa parte de nossa filha.

— Por acaso conseguiram te domar na vida, Jenny?

— Não.

— Você acha que um dia, alguém conseguiu domar o Novato?

— Shannon.

— Não, ela o amaciou, mas não fez isso. Talvez você e as duas filhas tenham sido as três que conseguiram chegar perto... assim, é só fazer as contas... sua filha deixaria barato o seu assassinato?

Não respondi, não queria pensar nas consequências futuras do que eu estava para fazer. Lancei minhas pernas para fora do assento e passei por Mike, indo para trás do balcão em busca de algo para beber. Só tinha uma caixa de chá.

— Vai tomar uma xícara de chá agora?

— Não está com sede?

— Vi uma torneira lá fora, vou ver se tem água.

— Obrigada. – Respondi, e com a caixinha de chá na mão voltei para meu ponto de observação junto à janela.

Nada passava lá fora, não se tinha um mísero som, nem dos passos de Mike lá fora.

Me permiti, talvez pela última vez, fechar os olhos e voltar para poucos dias atrás. Voltar para a perfeita imperfeição que era o pequeno caos da minha vida doméstica. E me concentrei em uma única imagem, Sophie nos braços de Jethro, ela carregando o buquê de flores que ele lhe havia comprado como uma forma de agradecimento pela sua dedicação e esforço para ser a protagonista de O Lago dos Cisnes.

A imagem perfeita.

A lembrança perfeita.

Abri os olhos, Franks ainda não tinha voltado, mas algo havia mudado. Pude ouvir um som, o distinto som de um SUV se aproximando do restaurante.

Pisquei e gravei na memória a última imagem que conjurei.

Por eles, valeria qualquer esforço.

—------------------------  

— Espero que você já esteja chegando, Novato. Eu fiz tudo o que podia para tirar essa ideia louca da cabeça da Ruiva que você ama, mas ela está decidida.

— Estou quase, Mike.

— Eu não sei se temos algum tempo, Novato. Vou tentar fazer o meu melhor para mantê-la viva até que tudo acabe, mas eu vou te avisando, se essa tal de Svetlana for tão boa quanto parece...

— Ela não irá sozinha. Disso eu sei. – Respondi e automaticamente pisei mais no acelerador.

— E os dois agentes, os que estavam com ela?

— Pediram reforços ao escritório de Los Angeles. Mas estão na minha frente. Devem chegar antes de mim.

— Isso é bom. – E Franks parou.

— Mike?

— Novato, eles chegaram.

Pude ouvir o som de um tiro ao fundo.

Mas que merda, Jen! Por que você nunca me ouve? Será que pelo menos uma vez na sua vida, você poderia deixar o orgulho de lado e fazer uso da regra #28, mas não para um completo estranho para você? Custava muito você ter pedido a minha ajuda?

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Dizem que nós colhemos o que plantamos... Que se tivemos uma boa vida, na hora de nossa morte vamos recordá-la e saber que fizemos tudo certo.

Eu acredito na primeira parte, já na segunda, eu não estava pronta para deixar esse mundo...

Mas quem está?

Ninguém.

Por mais que eu não queira acreditar, cada um dos meus passos me trouxeram para cá. Meus passos de dez anos atrás me guiaram até aqui. É aqui o final do jogo.

E só agora eu percebo cada um dos erros que cometi... cada uma das escolhas erradas que fiz. Cada uma das escolhas certas que fiz.

Eu não quero fazer isso.

Mas preciso.

Se quiser que os amores da minha vida sobrevivam, se eu quiser que a minha família fique bem, é aqui que devo estar.

Dez anos. Tanta coisa mudou em dez anos. Minha carreira, minhas opiniões. Minha forma de ver a vida. Minhas intenções. Só um sentimento permaneceu.

O amor.

Pensar que quase o matei há um pouco mais de oito anos...

E é por esse sentimento que estou aqui.

Me perdoem. Eu tenho que fazer isso. Não era bem assim que imaginei que tudo acabaria, mas é assim que deveria ser. Nós não mandamos no destino, não foi isso que disse para Kelly em uma de nossas inúmeras cartas?

Não mandamos no destino, não mandamos no coração, não mandamos em nada. Nossa vida está traçada desde o momento em que nascemos. Se vamos ser felizes ou não, se vamos sofrer ou não. Se vamos ver nossos filhos crescerem ou não.

E agora eu me pergunto, eu fui feliz?

Por alguns momentos, sim. Fui. Não na minha vida inteira. Tive minhas cotas de tragédias que, por muitos anos, eclipsaram a felicidade. Mas tive meus momentos bons, se eu parar para pensar.

Minha infância. Eu fui uma criança feliz.

Meus dois anos na Europa. Poderia classificá-los como os mais felizes. Até hoje me lembro da sensação de acordar nos braços de Jethro pela primeira vez.

E, claro, minha filha. Os últimos oito anos. Foram difíceis? Claro. Mas valeram a pena. Cada dia, cada sorriso, cada lágrima. Cada manhã em que ela pulou na minha cama, me chamando mamãe. O dia em que ela finalmente conheceu o pai, o primeiro abraço dos dois... a família completa... para ser despedaçada... para ser separada... para se recompor novamente, ainda mais forte.

E por que não separar os últimos três, a minha volta à Washington. Tenho que incluir cada membro da equipe. Queria agradecê-los pessoalmente, mas temo não ter tempo.

Tempo...

Como uma palavra pode ser relativa! Quando se é criança, se tem todo o tempo do mundo, mas se quer acelerar para a melhor parte. Contudo, nunca sabemos qual é a melhor parte. Talvez ela já tenha passado. Ou ela nunca venha. Talvez a única definição de tempo que alguém vá ter seja no final.

O fim...

Eu nunca pensei muito em como iria morrer. Não era apegada a esse tipo de coisa. Porém, aqui, no meio do deserto, se torna inevitável.

Será que tenho chances? Será que me reservaram uma terceira chance? Queria ver o futuro, só uma vez, para saber o que me aguarda. Não daqui alguns minutos, mas daqui há alguns anos.

Haverá alguns anos para mim?

Vou saber agora.

Um SUV preto.

Quatro portas.

Quatro passageiros.

Um destino.

O meu.

Me escondi atrás de uma pilastra. Era o local com melhor visão para a porta.

Quatro homens pararam atrás das portas duplas.

O primeiro mal colocou o pé para dentro e levou um tiro no meio da testa. Caiu ali mesmo.

O segundo conseguiu entrar e revidar. Errou o tiro, e levou outro, no coração. Não caiu com o primeiro. Mirou de novo e me acertou. Ombro direito. Revidei.

Dois já eram.

Mas eles haviam se separado.

Dois vieram pelas portas dos fundos.

Droga, Mike, logo agora que eu precisava de você!

Dois disparos, uma dor queimando em meu lado. Mas não tive tempo de olhar onde era.

Três no chão. E eu também. O tiro viera de frente, no meio do abdômen. Logo ali, onde uma vez, há oito anos eu também fora baleada, só que naquela vez, não era só a minha vida que estava em jogo.  Hoje era só eu, não tinha problemas.

O quarto entrou. Eu não tinha mais tanta força assim, e ele tinha uma automática. O mais rápido venceria.

Minha Glock só tinha mais duas balas, ele tinha várias. Por um milésimo de segundo eu o olhei e o reconheci. Era o homem que sussurrara “Oshimaida” no funeral de Will. Era Viggo Drantyev.

Viggo mirou. Eu mirei. Por meio segundo fechei meus olhos. Vi as pessoas que eram importantes para mim. E fiz uma prece silenciosa para que tomassem conta da minha menina.

— Amo vocês. – Eu suspirei.

E apertei o gatilho.

Não vi se ele caiu. Só senti mais uma bala entrando em mim. Não vi mais nada.

Não sei quanto tempo fiquei ali, não sei se ouvi direito, mas acho que foram mais disparos. E me entreguei à escuridão que começava a me cercar.

Achava que a morte deveria ser menos dolorosa. Mas talvez eu estivesse pagando pelos meus pecados.

Uma coisa quente encostou em meu rosto. Parecia que alguém me chamava...

Me deixem morrer! Era tudo o que queria agora. Não tinha mais jeito. O frio e a escuridão já tomavam conta de mim...

Era questão de segundos agora....

—------------------------

— DiNozzo! David! – Nunca era um bom sinal quando ele chegava assim. – Onde ela está?

— Chefe, ela está lá dentro. Pulsação muito fraca. Acho que...

— Quer mudar de profissão agora, DiNozzo? Desde quando você é médico? – Ele gritou.

— Já liguei para a emergência, estão mandando um helicóptero. Assim que Jenny for levada, vamos analisar o local. Mike Franks está aqui. – Ziva veio dizendo.

O Chefe nem ouviu o que ela disse. Entrou direto para o restaurante.

— E se ela não....

— Tony, por favor, ela tem que sobreviver... Gibbs... Kelly, Sophie... todos nós...

Ziva não pode completar a sua frase. Pois um helicóptero da Marinha pousava a poucos metros de onde estávamos.

Desceram os socorristas e eles não desistiram de Jenny. Por duas vezes ela se foi, uma delas, bem na nossa frente. Gibbs jamais deixou o lado dela. Ziva olhou para todos os lugares, menos para a ruiva que lutava para viver.

Em estado crítico e nada estável, ela foi levada para o hospital em San Diego.

— O que fazemos agora? – Ziva me perguntou.

Meus pensamentos voaram para uma garotinha de oito anos que estava em casa, nesse exato momento, sem saber de nada.

— A pergunta certa, Ziva, é: O que vai ser de Sophie e Kelly se Jenny não sobreviver?

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Como eu temi a viagem inteira, eu tinha chegado tarde. Estacionei o carro e as primeiras pessoas que vi, foram DiNozzo e Ziva. E ambos tinham um olhar de culpa.

Eu não tinha tempo para perder. Não podia perder mais tempo!

— DiNozzo! David! Onde ela está? – Ordenei.

— Chefe, ela está lá dentro. Pulsação muito fraca. Acho que... – Tony começou a se explicar.

— Quer mudar de profissão agora, DiNozzo? Desde quando você é médico? – Gritei.

— Já liguei para a emergência, estão mandando um helicóptero. Assim que Jenny for levada, vamos analisar o local. Mike Franks está aqui. – Ziva interveio, pondo panos quentes.

Era o que eu precisava ouvir, não esperei que ela terminasse e entrei direto para o restaurante.

Logo na porta tinham dois corpos. Creio que um mal atravessara a porta e já tinha caído.

Vasculhei o local e a encontrei. Caída, seu corpo escondido por uma pilastra e pelo balcão, no fim, ela soube escolher o melhor local para se proteger, mas não tinha sido o suficiente.

— Novato... – Mike me chamou. Ele estava ao lado dela.

Eu não via mais nada, tudo o que importava era que ela ficasse viva. Era a Sérvia novamente.

— Jen... – Chamei-a, tocando em seu rosto.

Ela não me respondeu, sangue escorria de seu ombro, ela tinha uma ferida no meio do abdômen que sangrava muito, fiz pressão ali com a minha blusa e tornei a chamar por ela.

— Jen... se está me escutando, dê um sinal.

Ela não se mexeu.

— Jen... não faça isso! Você sabe que a Ruiva está te esperando em casa, não sabe? Você sabe que Kelly depende de você para tomar decisões importantes que ela jamais falaria comigo, não sabe?

Novamente nenhum sinal de que ela me escutava.

— Você não vai me deixar hoje, Jennifer Shepard! Eu te proíbo de morrer! – Falei em seu ouvido, ao mesmo tempo que busquei por sua pulsação, estava fraca, quase inexistente.

— Jen...

Ouvi um helicóptero se aproximando, o pouso, tão perto do restaurante, fez com que as cortinas levantassem.

Antes mesmo que os paramédicos chegassem eu não senti mais o pulso de Jen.

Eles me afastaram e começaram a tentar a reanimação. E eu percebi que não era como na Sérvia, quando ela quase morreu por conta de uma bala na perna, era muito pior.

Depois da quarta tentativa, ela voltou, mesmo que sem uma resposta motora satisfatória e foi posta na maca. Mas, ainda do lado de fora, mais uma vez o coração dela parou de bater, e outra vez ela voltou.

— Se ela parar outra vez, não sei se poderemos trazê-la de volta. – A paramédica falou, olhando preocupada para as linhas do aparelho. E diante de uma cacofonia, o som mais importante vinha dali, daquele aparelho, pois indicava que ela ainda estava lutando.

Em menos de vinte minutos, chegamos ao Hospital Naval de San Diego, uma equipe nos esperava no heliponto, e, quando desci, uma das médicas chamou a minha atenção.

Kelly.

Ela estava parada ao lado da maca que levaria Jen, séria em seu uniforme e jaleco e olhou bem no meu rosto por uma fração de segundos e depois começou a examinar os ferimentos de Jen, não trocou uma palavra comigo, tudo o que vi no breve olhar da minha filha foi determinação.

Ela não permitiria que a mãe dela morresse.

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Finalmente o meu turno estava terminando! Nem conseguia acreditar que depois das mais longas setenta e duas horas da minha vida, eu ia poder ir para casa, tomar um banho de verdade, ligar para o meu marido e cair na cama.

Fiz a última ronda, conversei com as enfermeiras e enfermeiros na estação principal, passei algumas recomendações para alguns dos pacientes que requeriam mais cuidados e já estava me afastando com destino ao vestiário, quando ouvi claramente o rádio comunicador da emergência soar alto.

Mulher, 39 anos. Paciente grave, três tiros. Já a perdemos por duas vezes. Necessita cirurgia urgente. Pouso em dez minutos.

E a correria entre os enfermeiros começou.

Eu estava tão, mas tão cansada, que pouco me movi, meu turno acabava em cinco minutos, ou seja, essa emergência era para o Doutor Taft, então, fui a única que fiquei por ali, quando o rádio soou novamente.

Atualização. Trauma 01. Estamos levando a Diretora do NCIS.

E foi como se uma carga de 360 kj passasse pelo meu corpo.

Estavam trazendo a Jenny? O que tinha acontecido? Como ela levou três tiros?

Doutor Taft passou por mim, já todo pronto para receber o helicóptero.

— Bom dia, Doutora Gibbs!

— Bom dia! Precisa de ajuda? – Respondi.

— É sempre bem-vinda. Mas não está saindo do turno de 72.

Parei e respirei fundo.

— Vamos dizer que eu conheço a pessoa que vai chegar e preciso fazer tudo o que posso para salvá-la.

— Não sabia que você conhecia a Diretora do NCIS.

— Doutor Taft... ela é praticamente a minha mãe. – Falei e o segui para o telhado.

— Só se lembre de um detalhe, Doutora Gibbs. Você está aqui para salvar uma vida, mas tem que saber que quando não há mais jeito, você deverá aceitar o resultado.

— Não vou me esquecer disso. – Tive que falar mais alto, pois nesse momento o helicóptero chegava perto.

Me preparei mentalmente para o pior dos cenários, já que as atualizações, que não paravam de chegar, não eram boas.

O pouso terminou, os paramédicos desceram, na maca estava Jenny. Pálida e ensanguentada. Engoli a vontade de começar a chorar e me concentrei em fazer o que eu sabia fazer.

Salvar Vidas.

Por sobre o ombro de um dos paramédicos vi que mais alguém descia do helicóptero.

Meu pai.

Encarei-o por alguns segundos e examinei-o por completo, ele não estava ferido, aquele sangue não era dele, era de Jen, assim voltei a minha atenção para a mulher que cuidou de mim em tantos momentos diferentes. Era a minha vez de ajudá-la com o que fosse preciso.

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Eu não posso nem morrer em paz? Achei que iria para um lugar calmo e escuro, onde lamentaria os meus erros. Ou pelo menos achei que iria para limbo e ficaria por lá pela eternidade. Mas não. Não tinha paz ou qualquer tormento de consciência que me fizesse remoer o que eu havia feito na minha vida. Só havia dor, um zumbindo irritante que ecoava em meu cérebro e uma estranha sensação de estar desligada de todo o resto, com apenas a minha mente funcionando.

Tentei me mover, fazer tudo isso parar, mas não consegui, parecia que uma bigorna me prendia à uma mesa.

Quis xingar, gritar que isso passasse, mas talvez, fosse esse o meu castigo no fim das contas. A dor insuportável e eterna.

Frustrada com isso e sabendo que seria inútil lutar contra o destino, eu apenas cedi.

Se esse era para ser o meu fim... que fosse assim. Desisti de tudo e me entreguei à sensação de estar afogando, assim me prendi à mesma imagem a que tinha relembrado mais cedo. Só que dessa vez o quadro era maior, não envolvia somente Jethro e Sophie, envolvia toda a minha família, trazia Kelly, Henry, Ducky, McGee, Abby, Tony, Ziva, Jimmy e Breena.

— É bom te conhecer, finalmente. – Uma voz que eu nunca ouvira, chamara minha atenção, me fazendo abrir os olhos e perder a imagem perfeita.

Finalmente consegui me mover e me virei na direção de quem me chamava e...

— Eu te conheço... ou pelo menos... eu já te vi.

—  Sim. E eu também sei quem você é, Jennifer Shepard.

— Shannon?!

— Sim.

— Isso quer dizer...

— Não, você não está morta, mas também não está viva, não completamente. Você está em um meio termo.

— Meio termo...

— Sim. Seu destino ainda não está completamente traçado, como você piamente acreditava quando entrou naquele restaurante.

— Mas como você sabe?

— Eu tenho visto e ouvido tudo e todos que cercam a minha filha desde que tive que deixá-la... E você é uma das pessoas mais importantes na vida dela, Jenny. Posso te chamar assim, não posso? – A ruiva parou e me encarou seriamente.

— C.Claro. Isso é...

— Estranho? Errado?

— Diria impossível. - Falei a verdade diante da situação em que me encontrava.

— Não. Não é impossível. Você chegou até aqui com suas escolhas. Mas daqui para frente, sua vida não está mais em suas mãos. Nem nas de Jethro, nem nas de ninguém do NCIS. – Ela ia me respondendo em uma voz clara e serena, como se ela tivesse o conhecimento de eras.

— Então, eu estou na encruzilhada da vida. – Constatei.

— Sim.

— Você chegou aqui também?

— Não. O meu destino já tinha sido traçado.

— Não entendo?

— Minha vida foi até onde ela deveria ter ido, Jenny. Eu morri na minha hora, apesar de não ter aceitado isso quando aconteceu. Mas era o que estava escrito para mim. E o que me restou, aqui, deste lado, era vigiar os amores da minha vida. Era torcer para que alguém aparecesse e tomasse conta deles por mim.

— Eu estou em coma. Só pode. Deve ser o peso na consciência... deve ser... – Minha mente, sempre tão analítica, tentava me dar uma explicação plausível para estar conversando com a finada esposa de Jethro.

— Venha comigo. – Shannon disse e abriu uma porta.

— Mas o que tem...

— Jenny, você só vai descobrir o que tem aqui, se vier. Eu não posso te contar a sua vida, mas posso te mostrar algo que te faça acreditar que isto é real.

Me levantei e, mesmo incerta, segui os passos da mulher que sempre ocuparia a mente do amor da minha vida.

— Não, você está errada. De novo.

— Desculpe? – Não entendi o que ela disse.

— Não sou eu quem ocupa a mente de Jethro. Eu ainda estou lá, mas ele aprendeu a seguir em frente, ele me deixou seguir em frente, Jenny. Você deveria ser um pouco mais observadora quanto a este ponto.

— Eu não estou...

— Sabe, vocês dois passaram por muita coisa, viveram situações que não mereciam ter vivido, brigaram e se desentenderam por coisas sem importância, e se esqueceram de um ponto importante. Vocês se amam. Você o ama mais do que qualquer coisa, mais do que pode admitir para qualquer pessoa que não seja você. E Jethro, ele também te ama. Da mesma forma. Na mesma intensidade. E quando ele aceitou isso, eu pude, finalmente, seguir em frente, pois ele me libertou e eu sabia que tanto ele quanto Kelly ficariam bem.

 - Shannon eu não quero te deixar...

Jenny, eu já morri!— Ela me olhou nos olhos ao dizer isso, e sorriu, um sorriso idêntico ao de Kelly. Não havia mágoas ali. Ela estava em paz. - Era você quem estava do lado dele nos últimos anos. Foi você quem segurou a mão dele quando ele entrou em coma e não desistiu quando ele não se lembrou de você; era você quem conversava e conversa com a minha filha cada vez que ela precisa; era você quem estava ali, protegendo Jethro, e a família que ele montou, de cada pessoa que tentou separá-los. Foi você quem segurou a mão dele quando ele quase desmoronou na formatura de Kelly. E foi você, e não eu, quem o manteve inteiro quando Kelly se casou. E, o mais importante, foi você quem pediu que ele voltasse para casa, depois que Jethro colocasse os pensamentos no lugar, quando Kelly foi para a sua primeira designação além-mar. E eu nem vou citar a filha de vocês. Como eu já te disse, eu cumpri a minha parte. Pedi que alguém aparecesse para continuar protegendo os dois, e você veio. Não há nada de errado nisso. Mas há algo errado.

— Errado?

—Sim. Você. Por que desistir agora? Por que abrir mão dele? De Kelly? De Sophie? — Mais uma vez eu tinha a nítida impressão de que aquela ruiva era capaz de ler os meus pensamentos.

— Eu não estou abrindo mão de nada, estou protegendo-os.

— Sabe o que Jethro sempre diz, não sabe?

— Sempre trabalhe em equipe. – Citei a já tão conhecida regra #15.

E ele é a sua equipe, Jenny, você e ele são parceiros. São uma sincronia única que sabe exatamente aonde ir, o que fazer, quando fazer. Por que você não contou para ele que Svetlana matou Decker?

— Não queria que ele viesse para cá e entrasse no modo super protetor, que, mais uma vez, ele tomasse para si a tarefa de me proteger. Além do mais, Svetlana é um problema meu. O meu erro!

— Você e ela estavam grávidas na época, Jenny. Ela já sabia, você não. Você não é capaz de matar um inocente.

— Shannon, por favor, eu ....

— Essa é a hora e o momento. Olhe...

E ela abriu uma outra porta. A sala de espera do hospital. E lá, bem no meio, Jethro, sozinho, de pé e com a roupa toda suja de sangue.

Eu me engasguei ao ver aquela cena.

— Como ele chegou aqui tão rápido?

— Mike ligou para ele, e disse a loucura que você estava prestes a fazer.

Eu dei alguns passos na direção dele. Sei que ele não poderia me ver, mas, mesmo assim, eu precisava chegar perto dele, nem que fosse por uma última vez. E ele tinha a mesma expressão no rosto de quando eu acordei no hospital em Londres, após o que aconteceu na Sérvia, eram seus olhos ansiosos esperando por notícias. Eu engoli em seco.

— O que eu fiz? – Murmurei.

— Escolhas erradas. – Shannon me respondeu, parada na porta e analisando tanto as minhas reações quanto as de Jethro.

Eu só fiz escolhas erradas. – Destaquei.

— Algumas você foi forçada a fazer.

La Grenouille?

— Ele mereceu aquela bala. O que ele fez com você...

Nesse momento, as portas se abriram, Tony, Ziva e Mike vieram se sentar perto de Jethro.

— Eu vou ter a chance de me desculpar?

— Não sei, Jenny.

 E nós duas ficamos ali para ouvir um pouco da conversa:

— Alguma notícia, Gibbs? – Ziva foi a primeira a se pronunciar.

— Nada, Kelly está lá dentro também.

— Kelly?! Meu Deus! Mas por quê? - Eu me assustei em pensar no que a minha filha mais velha poderia estar passando.

— Eu te disse. – Shannon me chamou de volta. – Não está nas suas mãos...

— Mas Kelly?! Ela...

— Ela está dobrando o plantão dela, implorou que estivesse na sala de cirurgia quando descobriu que era a Diretora do NCIS quem estava vindo no helicóptero da emergência.

— Ela não devia...

— Por quê? Quer protegê-la do que, Jenny? Você já fez mais do que isso por ela, é a vez dela de te ajudar. Kelly não é mais a menina assustada de quinze anos com quem você conversou por carta, ela é uma médica da Marinha e está fazendo o trabalho dela.

Tentei ignorar a voz de Shannon e me concentrar nas quatro pessoas na sala de espera. Pensar que Kelly estava dentro da sala de cirurgia, tentando salvar a minha vida, me dava uma agonia inexplicável. Ela não precisava passar por isso! Foi quando o celular de Jethro começou a tocar...

Silêncio enquanto ele ouvia a pessoa que estava do outro lado da linha.

— Não Abbs. Não fale nada com ela.

Então era Abby! E, pelo visto ela precisava falar algo importante.

— Abby, por favor, Sophie ainda não pode ficar sabendo!

Abby deve ter falado mais alguma coisa.

— Não Abbs. Eu não tenho notícias, não sei o que está acontecendo. – Jethro tinha a expressão fechada, taciturna, era difícil que Abby o deixasse assim.

Mas do nada mudou. Ele agarrou o telefone com mais força e vi que lutava com as palavras.

— Hei, Ruiva.... – Suas palavras, assim como seu tom de voz, eram gentis. – Não chore. – Meu coração se apertou ao ouvir isso. – A mamãe vai ficar bem. Você sabe que ela é forte, não é?

Meus olhos se encheram de água. Era isso então. Era sobre isso que Shannon falava.

Meu erro.

Eu parei de ouvir. Não aguentava saber que tinha tanta gente sofrendo por mim.

— Não é minha escolha? – Me virei para Shannon, e mesmo sabendo de todo o sofrimento que estava causando, me era difícil deixá-los ali.

— Não. Mas isso te dá uma ideia do que você pode ....

— Perder? – Eu queria gritar. Correr. Bater em alguém. Mas tudo o que fiz foi chorar. – Eu tinha oito anos quando perdi minha mãe. – Falei sem pensar. – Cresci sem ela, e ela sempre me fez falta... O que eu fiz?— Eu gritei. – O que eu fiz com a minha filha??? Com a minha família?

Eu tinha que voltar. Eu tinha que ficar. Não por mim. Mas por tudo o que eu não poderia abrir mão. Eu já tinha feito muitos sacrifícios na minha vida para deixar a minha última oportunidade passar.

— Eu vou voltar! Eu tenho que fazer as coisas certas dessa vez!

— Não esperava menos da mulher a quem Jethro ama. – Shannon me disse e voltamos pelo corredor.

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Eu andava de um lado para outro na pequena sala de espera. As imagens de dezessete anos atrás passando pela minha mente. Que maldição eu carregava que as mulheres que eu amo têm que ser tiradas da minha vida de forma repentina? Quem me amaldiçoou ao ponto de ter duas filhas lindas, mas ser obrigado a vê-las perderem as mães com a mesma idade?

Isso não poderia estar acontecendo. Não novamente.

Jen! Jen! O que você queria fazer? Você queria se matar? Se Mike não tivesse me alertado, não tivesse me ligado assim que você o procurou...

Como você pode fazer isso com Kelly? Comigo? Com a nossa Sophie?

Sophie que acha que temos um caso aqui na Califórnia.

Como contar para ela? Como tentar encontrar as palavras para dizer a ela que você pode não voltar?

Como eu vou processar tudo isso? Como eu vou esquecer a cena daquele restaurante?

Como eu vou esquecer você, lá, completamente ensanguentada, quase... o momento em que o seu coração parou...

Balancei a cabeça para tentar afastar a imagem de Jen. Nesse momento eu podia jurar que não estava mais sozinho naquela sala. Tinha mais alguém ali.  Apesar de que eu não via ninguém.

Com pouco, Ziva, Tony e Mike chegaram. Tony tinha trazido um café.

Ziva queria saber das novidades.

A única que eu tinha era que Kelly estava naquela sala de cirurgia junto com a mãe adotiva dela.

E eu não sei como ela estava lidando com isso.

Foi quando meu celular tocou. Era Abby. A essa altura, tendo em vista o fuso-horário de San Diego para Washington, ela deveria estar com Sophie.

— GIBBS!! – Ela gritou! – Alguma notícia? Sophie está me perguntando sem parar por vocês!

— Não Abbs. Não fale nada com ela.

— Mas Gibbs! Ela está aqui, chorando, diz que sente que alguma coisa aconteceu. Ela pede para falar com a mãe, com você, com qualquer um. Nem o Ducky está conseguindo distrai-la com uma partida de xadrez. Ela está desesperada, tadinha!

— Abby, por favor, Sophie ainda não pode ficar sabendo.

— Mas você tem alguma notícia? Tem alguma informação de como está indo na sala de cirurgia? Qualquer coisa, Gibbs, eu também estou preocupada com a Jenny!

— Não Abbs. Eu não tenho notícias, não sei o que está acontecendo. – Tentava não gritar com Abby, ela não era a culpada por isso.

— Abbs... – Pude ouvir a vozinha da minha caçula do outro lado. – É o papai? Posso falar com ele?

Eu ia dizer para Abby mentir, mas ela não faria isso. Não com Sophie e nem com ninguém. Foi quando eu ouvi.

— Papai, aconteceu alguma coisa com a mamãe! – A voz de Sophie era carregada de tristeza e ela não me perguntava, ela afirmava. – Eu sei que aconteceu. Mas ninguém quer me falar. Papai, eu quero você e a mamãe de volta em casa! Eu não quero outro pesadelo meu se tornando realidade!! – Ela chorava de soluçar. E eu não sabia como fazê-la se acalmar pelo telefone.

— Hei, Ruiva.... – Comecei. – Não chore. – Eu queria estar lá para abraçá-la e limpar as grossas lágrimas que com certeza caiam em seu rosto. – A mamãe vai ficar bem. Você sabe que ela é forte, não é?

Sophie fungou.

— Eu sei... mas se o senhor tá aí, o Tony tá aí, e a tia Ziva também é porque algo aconteceu. Papai... eu não quero perder a mamãe. Até hoje a Kells chora pela mamãe dela. A Tia Shannon faz falta para ela até hoje...

Eu tive que engolir a vontade que eu estava de chorar junto com a minha caçula. Ela tinha trazido até a Shannon para a conversa e eu nem sabia que ela conhecia a história de como tudo tinha acontecido.

— Sophie... – Eu a chamei. – Não fique assim. Estamos aqui porque a sua mãe precisa da gente aqui e agora. E porque somos uma família, lembra? E família se importa um com os outros. Sua mãe vai ficar bem, ruivinha.

— Isso é uma promessa, papai? Porque eu não acredito em promessas. Pessoas esquecem o que falaram... – Ela disse triste. E eu me senti culpado. Esse pensamento que ela tinha era minha culpa.

— Você confia em mim, Sophie? Confia no que eu te falo?

E ela ficou em silêncio por um tempo. E eu fiquei apreensivo, não podia ter perdido a confiança da minha caçula, isso me doía só de ser uma hipótese.

— Confio, papai. Eu confio. – Ela me respondeu depois de algum tempo.

— Então confie em mim que eu vou levar sua mãe para casa.

— Tá bom... – Ela soluçava. – Eu... eu... vou ficar esperando. Quero vocês aqui. Eu não quero ficar sozinha!! – E recomeçou a chorar.

— Sophie, me escute, eu vou te fazer uma última promessa filha, e, nesta você pode acreditar. Eu nunca vou te deixar sozinha, Sophie. Não importa onde você ou eu estejamos. Eu nunca vou te deixar, basta você me pedir e eu vou estar lá por você. E te garanto que a sua mãe pensa o mesmo.

— Eu sei... eu sei. – Minha filha parecia ter parado de chorar.

— Me faça um favor, a Abby está aí?

— Sim... quer falar com ela?

— Quero. E Soph...

— Oi papai....

— Eu te amo, Ruiva.

— Também te amo, papai. Volta logo com a mamãe, por favor.

Pude ouvir ela passando o telefone para Abby.

— Abbs?

— Oi Gibbs! – Abby tinha a voz de quem estava chorando também.

— Pergunte ao Ducky se ele pode dar qualquer coisa para a Sophie se acalmar. Ela não vai parar de chorar ou de querer que você me ligue a cada dez minutos. Então, pelo bem dela, ela tem que dormir. Você pode fazer isso, por ela?

— Sim... eu posso. E eu vou tomar conta dela direitinho. O McGee acabou de chegar aqui também e tem o Ducky e o Jimmy, sem falar no Jet que não sai de perto dela hora nenhuma. Ela vai ficar segura, Gibbs.

— Eu sei que vai Abbs. Qualquer novidade, aviso. Amanhã Tony e Ziva devem chegar aí.

— Tudo bem... e Gibbs – Ela deu uma pausa. – Eu estou te abraçando mentalmente para te mandar forças e energias positivas. A Jenny vai sair dessa. Ela tem muito o que viver ainda. Vocês dois têm muito o que viverem JUNTOS!

E depois ela desligou.

Se eu e Jenny vamos ficar juntos, eu não sei, mas se ela já sobrevier, eu ficarei feliz.

— Chefe, eu não vou voltar para Washington enquanto não tiver notícias! – Tony disse assim que eu fechei o celular.

— Nem Eu! – Ziva fez coro.

— Eu preciso de vocês dois ao lado da Sophie agora! Abby e McGee não vão conseguir controlá-la, nem a distrair o suficiente. Vocês dois conseguem isso.

— Mas e se você precisar de alguma coisa? E se a Jenny precisar? – Ziva protestou.

— Nós já estivemos em uma situação como essa antes, Ziver e saímos. Vamos sair de novo.

— Se você diz, Chefe. Eu acredito em você. – Tony disse.

— Vou olhar alguns voos diretos. Quanto mais cedo, melhor. – E Ziva nos deixou na sala.

— Chefe... me desculpe. Eu não deveria ter...

— Tony, não. Não comece. Já aconteceu.

— Mas eu preciso me explicar em um relatório, eu tenho que me explicar com você. Queria fazer o mesmo com a Sophie, mas ela não vai me entender, ou, se me entender, nunca mais vai me perdoar. E... eu não quero nem pensar em ela não conversando mais comigo.

— Quando a Jen coloca algo na cabeça dela, Tony, ela faz. Não importa quem está na frente dela. E, eu não conheço uma pessoa que consiga encobrir os seus passos melhor do que ela. Ou seja, ela queria ir até aquele maldito restaurante, sozinha. Resolver tudo sem burocracia. E ela iria conseguir, mesmo que perdesse a vida, se o Mike não tivesse me alertado.

Tony assentiu e se jogou na cadeira mais próxima, olhando para as mesmas portas que eu e Franks encarávamos.

Seria uma longa espera.

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— Ela está fibrilando. – Doutor Taft gritou. - Vamos lá, Diretora, pelas marcas que você tem aqui, você aguentou coisa pior... Aguente mais um pouco, eu estou quase lá.

A enfermeira trouxe o desfibrilador.

— Carregar em 240 kj. – Foi a ordem do Doutor.

E a primeira onda de choque veio. O corpo de Jennifer Shepard subiu e aterrissou na maca, ainda sem vida.

— Aumentar para 360 e quero uma injeção de adrenalina agora.

Foi aí que a Doutora Gibbs entrou no jogo, ela aumentou a dosagem um pouco mais, e, sem nem pensar duas vezes, injetou a agulha na perna esquerda dela.

— Você não vai morrer hoje, Jenny. Não vai. – Kelly fez uma promessa silenciosa. - Você ainda vai me aturar por muito tempo, ainda vai conseguir domar o teimoso do meu pai, vai viver para ver Sophie ser o que ela quiser.

— Afastem-se! -  Gritou um dos enfermeiros.

 E a segunda onda de choque passou pelo coração de Jenny. Essa, tão forte, que a jogou com força de encontro à mesa cirúrgica.

Nada. Nenhuma resposta. Começaram uma massagem cardíaca. Se demorasse mais, o dano poderia ser irreversível.

Kelly, por fim, pediu ajuda à única pessoa que talvez a ouviria. Em uma prece muda, pediu que sua mãe a ajudasse. Sophie não poderia ter a mesma sina da mãe e da irmã mais velha. Pelo menos a pequena ruiva tinha que crescer com a mãe do lado.

Um...dois...três...quatro...

Um...dois...três...quatro...

Um...dois...três...quatro...

Um...dois...três...quatro...

Doutor Taft não desistiu. Ele não sabia o motivo, mas aquela mulher deitada mesa cirúrgica não deveria morrer naquele momento. Ele ouvira histórias sobre a Diretora do NCIS. Ouvira boatos do que ela já tinha feito. Ele achou que ela ainda tinha muita coisa para fazer.

— Mais uma carga.

— Mas Doutor, já foram duas! – Uma enfermeira, que se preparava para anotar a hora do óbito, disse.

— Uma última vez. Ainda não é hora dessa mulher morrer.

E mais uma carga de 360 kj passou pelo corpo de Jenny.

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E, mesmo no outro mundo, eu pude sentir o primeiro choque. Senti meu corpo se levantar e bater na mesa dura e fria e permanecer inerte. E tudo o que pude fazer foi chorar. Não estava pronta para ir embora.

— Você sabia disso o tempo todo, não sabia? – Perguntei para a outra ruiva que caminhava comigo pelo corredor do hospital.

— Sim. Eu sabia.

— Então, você sabe o futuro. Já o viu?

— Algumas coisas... – Paramos na porta da sala de cirurgia e pude ver claramente a primeira tentativa de ressuscitação. Da minha ressuscitação.

— Eu posso ver? – Tentei desviar os olhos do que acontecia lá dentro. Era estranho ver o meu corpo à distância, como se fosse um filme.

— Não, mas posso te dar uma ou outra dica. – Shannon parou e, depois de sorrir misteriosamente, disse: - Cuidado com um Dia de Ação de Graças, um Navy Seal, um Marine armado com uma espingarda e uma reunião de família.

— Você sabe que eu não estou entendendo nada, não sabe?

— Sei. Mas você vai se lembrar dessas palavras um dia.

— Mas não do que conversamos aqui.

— Não. Essa conversa você vai esquecer. Foi bom te conhecer, Jenny. Espero que eu possa ter lhe ajudado, afinal, te devo muito.

— Não sei o que! – Disse espantada.

E a outra ruiva apenas olhou para dentro da sala de cirurgia em direção à Kelly que se preparava para injetar uma dose de adrenalina na minha perna e, sorrindo, respondeu:

— Você, mesmo à distância, foi uma mãe para a minha filha. Eu te agradeço por isso.  Se Kelly é quem ela é hoje, eu devo a você. Muito obrigada.

Fiquei sem graça.

— Vá, seu tempo está acabando. Duvido que vão tentar te reanimar por uma quarta vez. – E Shannon me indicou as portas da sala da cirurgia.

— Eu quem agradeço, Shannon. Você abriu os meus olhos para o que eu estava prestes a jogar fora.

Ela me lançou um sorriso idêntico ao da filha e continuou o seu caminho pelo corredor do Hospital. Antes de sumir completamente, apenas me disse:

— Cuide de Kelly por mim.

— E de Jethro? – Me vi perguntando.

— Jethro já é seu, Jenny. Vocês dois são almas gêmeas. - E então ela sumiu na luz.


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Notas finais do capítulo

E então?? O que acharam? Qual é o futuro da Jenny?
Muito obrigada a quem leu, fico feliz com comentários para começar o ano!
Até terça feira com o próximo capítulo, também imenso!
xoxo



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